Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Inspirai, ó Senhor, as nossas ações; ajudai-nos a realizá-las para que em Vós comece e para Vós termine tudo aquilo que fizermos por Cristo, o Senhor nosso. Amém. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Muito bem, é uma alegria nós estarmos no nosso programa ao vivo mais uma vez e quero agradecer a vocês por regularmente estarem conosco todas as vezes que nós lançamos um tema para o programa ao vivo. E, dessa vez, o
tema é um pedido de vocês. Por quê? Porque os nossos alunos disseram: "Olha, o site tem muita coisa para quem já está adiantado na fé, mas e para aquela pessoa que não tem fé? E como é que faz para aquela pessoa que é ateu ou não chega a dar o passo da fé? Como é que a gente pode ajudar essas pessoas?" Bom, por incrível que pareça, o primeiro passo, o passo fundamental que a gente precisa dar para que as pessoas percebam e compreendam a existência de Deus, de um ato de fé, é que as pessoas
precisam primeiro se conhecer. Já diziam os sábios gregos, naquele Oráculo de Delfos, que foi retomado depois por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Você precisa se conhecer e, se você se conhece, então verá que existe o mundo espiritual. Então, por isso, este programa quer fazer com que você veja, quase que experimentalmente, o fato de que você tem alma. Como é que a gente consegue enxergar a alma? Não é dentro de nós; qual é o processo? Porque, se você enxergar que você tem alma, você já deu um grande passo. Você deu um passo para algo que é
fenomenal, porque você está enxergando que existe o mundo espiritual. Você vê que existe o mundo espiritual dentro de você e, uma vez que você admitiu que existe o mundo espiritual, aí nós damos outros passos, que são o passo para Deus, o passo da fé, depois a revelação, Jesus Cristo etc. Aí nós podemos ir para a frente. Mas, se você nem sequer se conhece, se você não enxerga, se você não tem acesso ao mundo espiritual que está dentro de você, no mais íntimo do seu ser, então, se você não enxerga nem você, o que eu vou
fazer, né? Mas, na realidade, é muito fácil você ver a sua alma e ver a existência da sua alma. Então, como é que a gente consegue isto? Bom, antes de nós colocarmos esses passos, assim, digamos, bastante concretos, eu gostaria, porém, de dizer que isto que nós vamos falar é importante também para as pessoas que já têm fé e é importante também para as pessoas que têm uma caminhada espiritual. Por quê? Porque não somente o ateu, o gnóstico ou a pessoa que tem dúvidas precisa enxergar que tem alma para enxergar depois a existência de Deus e
a sua revelação. Também quem tem uma vida espiritual precisa enxergar dentro de si o que é a alma, porque muitas vezes as pessoas estão rezando e tendo experiências interiores e não conseguem distinguir no seu interior o que é a alma e o que é simplesmente o cérebro, ou seja, o que é simplesmente a realidade material que está dentro de nós, o organismo que está dentro de nós. Então, essas duas utilidades para esse programa, o programa de hoje. Bom, então vamos começar. Como é que eu consigo enxergar a alma, né, que está dentro de mim? Ou
melhor ainda, a alma que eu sou. Como é que eu consigo ver, né? Conhece-te a ti mesmo. Bom, a primeira coisa, gente, tem uma forma de enxergar bem o nosso mundo interior, que é a comparação com os animais. Veja, existem coisas dentro de mim, não é que eu tenho, que são idênticas, ou pelo menos semelhantes, guardam uma certa familiaridade com os animais. Por exemplo, meu cachorrinho fica alegre, não é isso? Então, quer dizer que se o cachorrinho, que não tem alma, fica alegre, então dentro de mim a alegria, a alegria do cérebro... Só uma nota
de rodapé aqui para o pessoal que estuda filosofia e teologia: todas as vezes que eu disser “cérebro” aqui, eu estou usando uma linguagem popular para falar daquilo que Santo Tomás e Aristóteles chamam de o composto. Ou seja, é evidente que aqui não é o cérebro sem alma, mas é o cérebro juntamente com a alma fazendo uma coisa que nós encontramos no reino animal e, portanto, eu estou simplificando. Muito bem! Então, quando você olha para seu cachorrinho, você chega em casa e ele está lá abanando o rabinho, alegre, feliz, isso quer dizer que a alegria existe
como uma alegria que é carnal, que é cérebro, que é material. Porque se o cachorro é capaz disso, e você é capaz de algo semelhante, então nós estamos vendo aqui o seu cérebro em ação. Quando você vê o cachorrinho triste, você está falando do cérebro; então a tristeza em mim também é cérebro. Quando eu vejo o cachorrinho com raiva, eu vejo o cachorro ansioso; coloca um cachorro ou um gato, pior ainda, não é? Fechado no ambiente, ele vai tentar sair, ele vai ficar ansioso, ele vai ficar, né, agitado. Pois bem, isso existe, e a agitação
que está dentro de mim, o que é isso? É alma, não é cérebro. Então, vejam que existem essas atividades, essas realidades que estão dentro de mim e que, na realidade, são atividades humanas simplesmente, mas que, na realidade, são o humano naquilo que ele tem de semelhante com os animais. Eu não estou aqui com isso... Depreciando esses sentimentos, tá? Não tô dizendo que eles são ruins, não tô dizendo que eles não são necessários, não tô dizendo que eles não são bons. Eu só tô dizendo que isso daí existe no mundo material; não é no mundo do
cérebro, no mundo biológico. A realidade é biológica, mas existem algumas coisas que estão em você e você vê que isso não existe no mundo animal. Por exemplo, se você, por absurdo, desce a sua vida pelo seu cachorrinho, você ama tanto seu cachorrinho que você morre por ele. Pois bem, o seu cachorro nunca saberia disso. Ele nunca saberia desse ato de amor; ele nunca iria perceber, nunca iria notar o quanto ele foi amado. Por quê? Porque nós estamos já diante de uma outra realidade, de uma realidade da inteligência, de uma realidade da alma. É importante você
notar isso, e é importante você notar que também nenhum computador é capaz disso. Por mais que você programe o computador, um computador inteligente que faz cálculos rápidos, cálculos extraordinários, muito, muito, muito rápidos, ele não seria capaz de interpretar um ato de amor e também não seria capaz de amar de volta. Veja só, eu estou aqui mostrando para você que dentro de você existe uma coisa chamada inteligência. Daqui a pouco, nós vamos dar outros exemplos, alguns exemplos, digamos assim, ainda mais claros, ainda mais patentes. Mas, antes disso, eu queria primeiro que você notasse que aquilo que
existe de mais belo no ser humano, o amor, isso é inalcançável para os animais porque o animal não consegue perceber aquilo. Ele não consegue compreender um ato de amor. E o que faz com que você entenda um ato de amor é a inteligência. Quando Santo Tomás, Aristóteles e a filosofia perene dizem que o que há de mais nobre no ser humano é o ato de inteligência, nós somos um pouco treinados, né, como plateia de auditório, a dizer: "Não, é inteligência, é uma coisa desencarnada; o importante é o coração, o importante é o amor." Não, gente,
vocês não entendem. Quando eu falo 'inteligência', eu estou falando de algo que é essencial para um ato de amor. Sabe por quê? Porque a vontade é cega. Quem realiza o ato de amor é a vontade, mas a vontade, sem inteligência, é cega. Você primeiro precisa entender que você é amado; e, se você for enxergar, em todo ser humano, existe essa interpretação do ato de amor. Quando você reflete, por exemplo, sobre o que a sua mãe fez por você e você entende que sua mãe amou você, veja, a criança, antes de amar de volta, ela primeiro
tem que perceber que é amada. Esse é um ato de inteligência fundamental, e isto está na alma. Não existe nenhum animal e nenhum computador capaz disso, capaz de enxergar o ato de amor e, não somente isso, pior ainda, incapaz de responder de volta. Então veja, por exemplo, você está com fome e, no entanto, só tem um pedaço de comida. Eu nunca vi, nunca vi um animal, não é que seja capaz de fazer um ato de amor em que ele diz: "Eu estou com fome, mas eu vou renunciar, eu vou renunciar a essa comida por amor
a você; vai, come você." Veja, não existe, sei lá, tal espécie de animal ou de orangotango ou de aranha ou de peixe que passa fome para dar comida aos seus filhotes. Sim, mas se existir essa espécie de animal que passa fome para dar de comer aos filhotes, ele faz isso por instinto. Ele faz isso porque ele está programado para isso. Eu não estou falando de programação; eu estou falando aqui de um ato que está dentro de você e que você não encontra em nenhum computador e não encontra em nenhum animal, ou seja, uma coisa chamada
liberdade. Se você não enxerga isso dentro de você, é porque você está muito alienado da realidade das coisas. Veja, não existe dentro de um animal um impulso que leve ele a ir contra a programação dele. Vamos supor, um cachorro está programado para sentir um impulso sexual, então ele encontra uma fêmea no cio e ele quer acasalar com aquela fêmea. Mas aí, de repente, aparece, sei lá, um leão, que é mais forte do que ele, que coloca sua vida em perigo. Então a programação de sobrevivência é mais forte do que a programação do instinto sexual. Então,
ele põe o rabinho entre as pernas e vai correndo. Mas veja, o cachorro não é livre. Ele não é capaz de, por ele mesmo, sem nenhum impulso ou condicionamento externo, chegar a dizer: "Não, eu estou sentindo atração sexual, mas eu não quero ter sexo. Estou sentindo atração, mas eu não quero essa atração." Ele não é capaz disso. Então veja que são coisas que estão dentro de nós e que não estão em nenhum computador e em nenhum animal. Vamos analisar mais profundamente ainda. Espero que você já esteja, né, saboreando. Ainda não chegamos ao fundo da nossa
argumentação, mas é importante você compreender as coisas. Vamos lá, eu estou mostrando para você, acabei de demonstrar para você a existência de duas coisas dentro de nós que você pode enxergar dentro de você e não pode negar que está enxergando. Você está vendo, está dentro de você e você não pode dizer que não está dentro de você: isso se chama inteligência e vontade, uma inteligência racional e uma vontade racional. Essas duas realidades não estão presentes em nenhum animal e não estão presentes em nenhum computador e, o que é pior, não poderão ser feitas por nenhum
computador, jamais, porque não é uma força que está disponível na natureza física e material. O que eu vou descrever agora com mais clareza... Ainda nenhum animal e nenhum computador pode fazer isto. Por quê? Porque as forças que estão disponíveis para um computador são as forças físicas, materiais. Você pode usar a química, sei lá, para que haja um computador; você pode usar a energia elétrica, a energia magnética. Você pode até desenvolver um computador que usa energia atômica, energia luminosa, todas as energias disponíveis no mundo físico. Você usa para um computador, e você faz esse computador um
computador genial. Você imagine agora que você tem um computador, não é de última linha, que todos os cientistas do mundo inteiro, digamos assim, daqui a 100 anos, conseguiram bolar esse supercomputador que supera em tudo a capacidade de os seres humanos calcularem, pensarem, argumentarem, etc. Mas este computador não será capaz de saber que ele existe. Ou seja, a experiência básica do ser. Esse computador não será capaz de distinguir que o ser é e o não ser não é. Se você mudar a programação, ele não vai protestar. Veja, o computador, se você programá-lo para que ele calcule
que 2 + 2 = 4, ele vai aceitar; e se você programar para que ele aceite que 2 + 2 = 5, ele também vai aceitar. Ele não tem a experiência do ser, ele não tem acesso a uma coisa que nós chamamos verdade. Santo Tomás de Aquino explica o que é a verdade: a verdade, na verdade, no fundo, no fundo, é o ser. Só que é o ser captado por mim. Quando uma inteligência capta o ser, né? Aquilo que é, nós temos ali uma coisa chamada verdade, aquilo que é. Agora, o que acontece é o
seguinte: isto é algo que não está no mundo material. O seu cachorro não sabe distinguir entre o mundo real e as emoções dele. O que ele está sentindo para ele é muito verdadeiro. O que ele está sentindo é a verdade. Se ele sente medo, aquela coisa é amedrontadora; se ele sente atração, aquela coisa é atraente; se ele sente raiva, ele está diante de uma dificuldade de realizar um desejo dele. Basta aquilo lá, é para ele a verdade. E se você for ver, os nossos filhos, quando eles nascem, essa é a grande realidade de uma criança:
uma criança é superior a um macaco, não tem dúvida nenhuma na sua inteligência, mas ela leva um tempo para fazer a experiência do ser. A experiência do ser quer dizer o seguinte: que esta criança enxergue que o que ela está sentindo não é necessariamente o que está lá fora, que o que ela sonhou não é o mundo real, que o que ela percebeu e captou, muitas vezes, precisa ser avaliado, interpretado, elaborado para entender o que é e o que não é. Essa experiência do ser, que o ser é e o não ser não é, isto
não está disponível no mundo animal e isso não está disponível no mundo das máquinas. As máquinas irão aceitar o que você disser para elas, e mesmo se você colocar uma programação dentro delas que impeça que elas aceitem essa nova programação, foi sempre você quem colocou aquilo lá. É uma coisa artificiosa; ela não teve contato com o ser das coisas, ela não teve a experiência do ser. Mas nós temos, e é isso, e ali que está a inteligência. E é por isso que nós precisamos buscar a verdade. Veja, nós que somos seres humanos inteligentes, devemos, não
é, ao usar a luz natural da razão. Veja, eu não estou fazendo catequese, você está ouvindo um padre aqui, mas eu não estou falando com você como padre. Eu estou falando com você como ser humano racional. Eu não estou te dando catequese, eu estou falando a você para que você enxergue dentro de você e não possa dizer que você não está enxergando. Você está enxergando dentro de você que você tem experiência do ser, que existem coisas que são e coisas que não são; e que, por mais que você tente se convencer que 2 + 2
é igual a 5, você não vai conseguir. E que você tente convencê-lo de que você não existe, você também não vai conseguir. Você sabe que você existe e que você sabe também que existem coisas que não são você. E você sabe também que existe este ser que está aí, que você pode investigar e buscar e ter acesso a ele e ter essa experiência que é a experiência da verdade. Isso é inteligência! Isso é inteligência! Nenhum computador faz isso. Essa primeira experiência da inteligência, eu pergunto, a inteligência é a sua alma? Não, não é a essência
da alma, mas é uma função da alma. Ou seja, você não vê a alma propriamente dita, na sua essência, mas você vê a alma em ação. Não é isso? É como o médico que coloca o estetoscópio no peito da pessoa. Ele não vê o coração da pessoa, mas ele vê o coração em ação e ele avalia como está o coração a partir da ação do coração. Ele vê o sinal, o sinal que o coração está dando. Sinal de que está funcionando. Então, quando você vê a sua inteligência em ação dentro de você, você está vendo...
não é? Vejam, eu quero que vocês compreendam o que eu estou dizendo. Eu não estou falando de uma inteligência de cálculo somente. Essa inteligência de cálculo, uma máquina pode fazer, o computador pode fazer, a sua calculadora pode fazer. E pode ser que o computador faça mais rápido e até mais exato do que você. Não é isso que eu estou dizendo, tá? Eu não estou dizendo inteligência do tipo indicativo, onde, por exemplo, uma abelha chega para a colmeia e indica para as outras abelhinhas onde é que estão as flores, onde elas vão colher o néctar. Não,
não estou. Eh, dizendo isso, isso daí, os animais fazem; isso aí, os computadores fazem. O que eu estou dizendo é que a abelha não sabe que ela existe e o computador não sabe que ele existe. Você não vai conseguir pôr todas as potências, não é, eh, físicas, químicas e todas as eh, as energias disponíveis no universo. Você não vai conseguir fazer um computador que saiba que ele existe. Essa experiência espiritual é esta inteligência que eu tô falando, tá? Quando eu falo a inteligência do cálculo, bom, essa daí tá disponível no mundo natural, no mundo da
computação. Quando eu falo a inteligência de eh, resolver uma pequena dificuldade que um animal também resolve, não é essa inteligência que eu estou falando. Estou falando da inteligência que enxerga o ser e que enxerga a natureza das coisas e enxerga como as coisas são de fato, que é capaz de investigar profundamente isto. Nós somos capazes; os animais não. Isto nós somos capazes, os computadores não, e não serão capazes, porque isso daqui é uma realidade espiritual. É o primeiro capítulo, a inteligência. Segundo capítulo da história, a vontade. Vejam, a inteligência me ilumina e diz o que
é e o que não é, que o ser é e o não ser não é. E a vontade. A vontade é aquilo que nós chamamos tecnicamente de apetite racional. Quer dizer o seguinte: existe um apetite sensual, sensitivo, sensorial. Eu olho para um prato de comida e eu quero comer; eu olho para uma caneca de chá e eu quero beber. Isso é um apetite do corpo. Mas eu não consigo fazer com que um animal que quer beber diga: "não, eu não vou beber porque, ao investigar o ser das coisas, eu enxerguei que esta bebida me faz
mal". Ela é agradável, mas está me prejudicando. Eu vou parar de beber. E, livremente, embora o meu corpo esteja me inclinando para a bebida, eu vou dizer: "não, vou beber". Isso, gente, esse fenômeno, ele não existe nos animais. Olhe para o seu cachorro, olhe para um macaco. Isso não existe. Não existe nos animais a decisão de, uma vez que eu conheço um bem com a minha inteligência, a minha inteligência investigou e eu vi que aquela bebida está me fazendo mal. Ela é muito agradável, já bebo há 10 anos, mas aquilo lá tá me fazendo mal.
Eu encontrei o que é, encontrei uma verdade com a minha inteligência, e agora então, com a luz da minha inteligência, eu decido, na minha livre vontade. E eu inclino o meu ser na direção contrária do que o meu corpo estava programado. Meu corpo quer beber e eu digo: "não, você não vai beber". Isso chama-se liberdade. Isso chama-se liberdade. Isto não está nos computadores, isto não está nos animais. E é por isso que eles não amam. Não existe amor se não há liberdade. É por isso que nós, cristãos, nós temos essa convicção de que nunca o
amor é mais verdadeiro do que quando ele mostra que ele está lá mesmo na dor. Quando nós olhamos para a cruz de Cristo, não precisa olhar para a cruz de Cristo. Vamos fazer uma coisa mais simples: olhe para a sua mãe. Pense numa pessoa que você tem certeza que amou você. Pensou? Muito bem. Essa pessoa sofreu por você, não porque eu sou adivinho, mas porque é assim que as pessoas sabem que são amadas. Então, você olha para sua mãe; sua mãe amou você porque ela passou noites no hospital, porque ela ficou sem dormir, porque ela
se sacrificou, porque ela deixou de comer, porque ela deixou de descansar, porque ela fez algo. Ou seja, ela inclinou sua vida numa direção contrária à vontade do seu corpo. Nem a mais ciumenta de todas as macacas seria capaz de fazer o sacrifício que as mães humanas fazem pelos seus filhos. Por quê? Porque elas são livres. Livres para amar. Elas podem escolher amar ou escolher não amar. Você pode escolher ser uma boa mãe ou escolher ser uma péssima mãe. Você pode escolher ser altruísta ou você pode escolher ser egoísta. Não é? Você pode escolher o outro
ou escolher você. Isso daí, gente, é uma realidade que não está nos computadores. Você não existe. Não existe computador livre. Você pode programar o computador para fazer uma ação, mas você não pode programar um computador para ele escolher livremente que rumo tomar. Não. Você pode dizer assim: "se o resultado for A, você vai nessa direção; se o resultado for B, você vai nessa direção; se o resultado for C, você vai nessa direção". Mas você não pode programar o computador e dizer assim: "ah, se o resultado for A, B ou C, você decide o que faz".
Não. Ele não vai fazer isso. E, no entanto, você decide o que faz. Você é livre. Isso não existe no mundo da natureza, isso não existe no mundo dos animais. Você está vendo, em ação, uma outra realidade dentro de você chamada vontade. Então, veja, nesse programa eu estou apresentando para você a inteligência e a vontade, e eu quero que você enxergue que é uma espécie de inteligência, uma espécie de vontade bem específicos, que não estão nos animais. Veja, o animal consegue conhecer as coisas sensorialmente. Ele enxerga cores, ele enxerga as formas, ele ouve ruídos, ele
percebe às vezes até melhor do que nós. O morcego tem uma audição muito mais acentuada que a nossa, o cão tem um olfato muito melhor do que o nosso, não é? A águia tem uma visão melhor do que a nossa. Sim, mas isso tudo é conhecimento sensorial. Tudo isso é conhecer, mas não é conhecer o ser das coisas. Conhecer o ser que o ser é e o ser e o não ser não é. Isso daí não está disponível no mundo sensorial; está disponível somente no mundo. Da alma é espírito. Você vê isso dentro de você
e verá que isso não está nos animais, isso não está nos computadores. E a vontade é uma vontade bem específica também, não é? Ah, eu tenho vontade de comer goiabada; isso não é essa vontade que eu tô falando. Isso daí, o apetite sensível: eu quero comer goiaba e eu quero beber cachaça ou fazer sexo. Isso daqui é um animal. Mas a vontade que eu estou dizendo é o seguinte: embora o meu corpo esteja inclinado naquela direção, eu escolho diferente. Essas duas realidades, da inteligência e da vontade, que você está enxergando aqui, que são espirituais, elas
nos abrem para um mundo fantástico, que é o mundo do amor, que os animais não são capazes de experimentar. Porque, já que os animais não são capazes de penetrar o ser das coisas, eles não são capazes de enxergar o amor e perceber que alguém me amou. Eu posso fazer o maior sacrifício por um animal, ele não vai saber. E, já que ele não sabe que foi amado, ele também não é capaz de amar de volta, porque ele também não tem a liberdade para ir contra os seus instintos, a sua programação, os seus apetites. Ele não
é capaz de ir contra e dizer: "não, mas meu corpo tá pedindo isso, mas por amor a você, eu vou fazer isso." Veja aqui como a inteligência e a vontade são tão necessárias para que nós façamos essa experiência fantástica de amar. Portanto, somente quem tem alma ama, porque o amor é uma realidade espiritual. O animal é capaz de fazer sexo, o computador não é capaz de ter nem apetites sensoriais, nem sensuais; é muito pior do que o animal. Mas nós somos capazes de amar, e amar espiritualmente. E se você não enxerga isso dentro de você,
é porque você está muito longe de você. Quando as pessoas querem conhecer a verdade, mas não querem se conhecer antes, não vai dar certo. Então, é por isso que o primeiro passo, a primeira experiência que os filósofos fazem, é essa experiência de realmente você conhecer você mesmo. E, quando você conhece você mesmo, você enxerga a sua alma. Você enxergou a sua alma, você entrou no mundo espiritual. Bom, uma vez que nós chegamos a esse ponto, agora eu gostaria de dar umas dicas para aquelas pessoas que já creem em Deus e têm uma vida espiritual e
já enxergaram isso que eu estou colocando. Muito bem, você enxergou que a sua inteligência existe, que a sua vontade existe, que existe uma alma. Não é? Pois bem! Claro, a filosofia não para por aí. A filosofia é capaz de deduzir que esta alma, portanto, é espiritual; ela, sendo espiritual, é imortal, é incorruptível. Portanto, a alma não morre e nós iremos... esta alma irá viver eternamente. Mas isso daí são outros passos, né, que nós poderíamos deixar para outras aulas. O que eu quero agora é pegar essas duas informações de inteligência e de vontade e mostrar para
você que quer ter uma vida espiritual o que é que você deve buscar na vida espiritual. Ok? Então, essa é a segunda parte do que eu queria ensinar no programa de hoje. Veja, em primeiro lugar, nós vimos que a inteligência conhece que é amada. Eu só recebo notícia do amor de uma pessoa através de uma inteligência; se eu não tenho inteligência, não sou capaz disso, né? Então, eu vejo o sacrifício que uma pessoa fez por mim, reflito sobre aquilo, sou capaz de penetrar, sair das aparências e penetrar no ser da coisa, e compreender: "Nossa, essa
pessoa se sacrificou por mim. Essa pessoa fez algo por mim." Pois bem, este ato que você é capaz de fazer no amor de uma pessoa é aquilo que nós chamamos de ato de fé. Isso aqui é uma fé humana, né? Mas é um ato de fé. Se você, por exemplo, não fizer um ato de fé humana, você nunca vai ser capaz de crer no amor da sua mãe. Nós temos tantas experiências, não é, de filhos... Eu sou padre há 25 anos. Quantas vezes eu ouvi, no confessionário, filhos ou filhas duvidando do amor da própria mãe!
E aconteceram algumas vezes que você vê claramente que você conhece a mãe do fulano, você conhece a mãe da fulana e sabe que ela ama, sofre e quer mostrar o amor dela para o filho, quer mostrar o amor dela para a filha. Mas a filha simplesmente é incrédula e não crê. Ou seja, se você não é capaz de um ato de fé, você não é capaz de receber amor. Nós poderíamos dizer que fé é amor passivo. Então, num relacionamento de amor, nós temos já essas duas realidades: a fé e o amor. A fé e o
amor precisam existir. A fé é amor passivo, o amor é amor ativo. Fé é a forma de eu receber o amor do outro. O amor do outro chega até a minha inteligência; eu vejo o que ele fez, observo o que ele fez, reflito sobre aquilo, interpreto aquilo e digo: "é verdade." Mas é uma verdade, no entanto, que eu não enxergo com tanta clareza como o ser é e o não ser não é. Eu enxergo, mas eu tenho que fazer um ato de fé, porque eu posso sempre duvidar. Veja, eu não posso duvidar que eu existo,
eu não posso duvidar que existe algo fora de mim, eu não posso duvidar da experiência do ser, mas eu posso duvidar de um ato de amor da minha mãe. Eu reflito sobre aquilo, chego a conclusões e termino dando um passo da fé. Humana, e digo eu: creio no amor da minha mãe e, agora, então, com a minha inteligência iluminada, não é por este conhecimento humano que vou responder de volta com amor. Eu vou responder de volta inclinando a minha vida para retribuir aquele amor e para dar de volta um pouco daquele amor que eu recebi.
É esse intercâmbio de fé e de amor. Então, veja aqui que maravilha! Isso não seria possível se não houvesse alma; isso não seria possível se não houvesse inteligência e vontade. Por isso, quando você tem uma vida espiritual, o que deve buscar dentro de você é a inteligência e a vontade. Então, quando você vai rezar, por exemplo, e você observa dentro de você movimentos, qual é o problema da maior parte das pessoas? O problema da maior parte das pessoas é que elas vão rezar e começam a ter experiências interiores e acham que tudo aquilo que têm
dentro delas, interiormente, é alma. Não! Nem tudo aquilo é alma. Muito daquilo é o composto — aquilo que eu estou chamando de cérebro, não é? Ou seja, é algo carnal. Então, eu vou aqui rezar e me encontro com este mundo dos sentimentos, dos afetos, aquilo que na filosofia clássica nós chamamos de paixões, né? O mundo passional. Então, eu me encontro com a raiva, com a tristeza, com a agitação, com a angústia, com uma dor interior, um sofrimento. Muito bem! É o que você está encontrando. Pois bem, mas se você vai rezar de verdade, você precisa
se encontrar; você precisa mergulhar mais profundo do que isso. A maior parte das pessoas não quer rezar. Por quê? Porque, quando você vai rezar e se encontrar com Deus, a primeira coisa que você encontra, quando mergulha dentro de você, é esse mundo passional. E, às vezes, o mundo passional da pessoa está muito doído, muito sofrido, porque é o mundo dos sentimentos, é o mundo do cérebro, o mundo do composto. Então, a pessoa não chegou na alma verdadeiramente. Entendeu? Veja, eu quero que vocês entendam que os sentimentos também têm algo da alma ali. Por isso que
é chamado de composto. Tem algo da alma. Por quê? Porque eu posso pecar com esses sentimentos. Se eu posso pecar, é porque ali existe uma vontade livre, uma inteligência. Advertência: a inteligência e uma vontade que livremente escolhe, consente, né? Uma realidade advertida e consentida. Opa! Engajou a alma ali, pode ter pecado. Se um jacaré me matar, aquilo não é um pecado; é só um acidente ecológico. Mas se eu matar um jacaré, aquilo é um crime ecológico e eu posso ir pra cadeia, não é isso? Por quê? Porque o jacaré não tem inteligência; portanto, ele não
tem advertência do que está fazendo e ele não tem vontade; portanto, ele não tem consentimento. Só existe pecado se houver uma realidade advertida e consentida. Então, quando eu vou rezar, eu me encontro com esses sentimentos, com essa luta interior que está dentro de mim, que muitas vezes são meus pecados, ou o mundo ao meu redor, ou o demônio lutando para que eu consinta, para que eu, advertido, consinta a esses sentimentos tremendos. Você precisa mergulhar mais longe do que isso e encontrar dentro de você a sua inteligência e a sua vontade, que não são desencarnadas. Não
somos anjos, né? Mas que encontram a verdade, e a verdade de Cristo, a verdade do Evangelho. Então, é importante sempre, na vida interior, saber onde procurar o Cristo. Onde vamos procurar, né, este encontro com Deus? Então, essa é uma segunda utilidade desta aula: para que você, enquanto pessoa, né, enquanto ser humano, experimente esta realidade de que você tem uma inteligência e de que você tem uma vontade. Tá bom? Nós vamos fazer agora um breve intervalo e voltar para um diálogo com você, onde vamos tentar responder às suas perguntas. Até já! Muito bem, nós retornamos então
para o nosso pequeno diálogo. Primeira coisa: as pessoas perguntando como podemos aprofundar isso aqui. As pessoas que quiserem conhecer um pouco melhor aquilo que estamos argumentando aqui a respeito da alma humana, você tem este curso de dois volumes de Iniciação à Filosofia de Santo Tomás de Aquino, de Henry Dominic Gardei. No volume número dois, temos aqui a psicologia e a metafísica. É o volume dois que trata da psicologia, ou seja, da alma. A palavra "psiquê", em grego, quer dizer alma; então, trata-se do estudo da alma. E aqui eu só estou dando uma pequena introdução daquilo
que é a realidade básica do estudo da alma. Tá bom? Então, para aqueles que quiserem se aprofundar, a pergunta do Jordan: em que sentido o ser humano é um microcosmos e no que isso influencia no processo de gnosiologia e da descoberta da verdade? Bem, Jordan, São Gregório Magno recorda aquilo que os antigos filósofos também sabiam: que o homem é um microcosmos no sentido em que, assim como os minerais, nós temos a existência; como os vegetais, nós temos a vida; como os animais, nós temos a sensibilidade; mas, como os anjos, nós temos a inteligência e a
vontade. Então, nesta realidade, o homem guarda esse conjunto em que isto afeta, não é?, a descoberta da verdade e a gnosiologia. Afeta no seguinte, Jordan: nós não somos como os anjos. Os anjos têm inteligência e vontade, mas eles, quando conhecem as coisas, conhecem intuitivamente. O ser humano não. O ser humano, quando conhece as coisas, precisa passar por um processo. O primeiro acesso que temos às coisas é um acesso sensorial; ou seja, os sentidos são esses instrumentos que... Captam as informações lá fora e vão abastecendo o nosso mundo interior. Até aqui, é um processo que os
animais são capazes, e às vezes até mais capazes do que nós. Ou seja, o morcego consegue ouvir mais coisas do que nós conseguimos ouvir; uma águia consegue ver mais coisas do que nós conseguimos ver; e o cão consegue farejar mais coisas do que nós conseguimos farejar. No entanto, esse processo sensorial não abastece a nossa inteligência. O ser humano é capaz de fazer coisas que os animais não são capazes de fazer. Existem nos animais um certo nível de abstração, né? É um nível de abstração bastante baixo, onde eles não conseguem perceber onde está realmente a verdade.
Eles conseguem somente perceber as impressões sensoriais e fazem aquilo que a gente nem dá para chamar de abstração; poderíamos chamar de generalizações. Eles fazem generalizações. No entanto, o ser humano é capaz de uma coisa mais profunda do que isso. O ser humano é capaz de realmente enxergar aquilo que é, o que as coisas são de verdade. Agora, vejam só aqui uma coisa interessante para o nosso dia a dia: o que são as filosofias atuais, as filosofias da moda, que fazem com que as pessoas entrem na ditadura do relativismo, onde tudo é uma construção? Não existe
experiência do ser, experiência da verdade absoluta das coisas, daquilo que o ser é e o não ser não é. São filosofias que reduzem os seres humanos ao nível animal. Por incrível que pareça, nós poderíamos traçar a história da filosofia dos últimos séculos desde o nominalismo de Ockham, onde temos a longa marcha da vaca para o brejo, em que o ser humano vai perdendo cada vez mais suas capacidades de intelectualização e vai ficando no nível animal. Não é? No nível animal, por mais que você admire, por exemplo, um Kant, já vê ali uma profunda limitação desse
grande filósofo, Emmanuel Kant, considerado um dos maiores filósofos do mundo moderno, mas com uma profunda limitação do ser humano de ter acesso à verdade. Ou seja, você vê ali que a experiência da verdade foi tomada pela suspeita de Descartes; ele cria um joguinho interior para tentar salvar a física de Newton. Mas uma coisa assim que nós poderíamos dizer é que houve sim uma queda brutal, algo realmente muito lastimável. E aí, quando você chega aos absurdos das filosofias atuais, onde tudo é jogo linguístico, você vê claramente que as pessoas perderam a experiência do ser; perderam completamente
a experiência do ser. Então, quer dizer que elas já não são mais seres humanos que estão realmente, honestamente, exercitando sua capacidade de intelectualização do ser. São simplesmente computadores que estão fazendo joguinhos programados. Eu programo de um jeito, e o resultado é um; eu programo de outro jeito, o resultado é outro. Isso é o relativismo. Ou seja, o mundo do relativismo é o mundo dos computadores, porque os computadores não têm experiência do ser e, portanto, não podem dizer que o que é, é, e o que não é, não é. Você programa de um jeito, ele faz;
programa de outro jeito, ele também faz. Então, o ser humano está fazendo o quê? Está se reduzindo ao mundo da matéria e perdendo o verdadeiro contato com aquilo que é o mundo do espírito, que é o mundo que realmente vale a pena. Luísa: Boa noite, a paz de Cristo! Como funciona o estado especial em que se encontram as almas quando, com a morte, o complexo corpo e alma é separado, e ainda não aconteceu a ressurreição dos corpos? Veja, Luís, quando nós estamos nesse estado temporário, em que a pessoa morreu, mas ainda não houve a ressurreição
final, ali está somente a alma. Esta alma tem a sua inteligência e a sua vontade, e esse ser consciente e livre continua na sua identidade; continua vivo. Como é que as almas separadas dos corpos funcionam? Nós poderíamos dizer que, de alguma forma, existe uma assimilação com a realidade angélica. Ou seja, nós precisaríamos estudar um pouco como é o conhecimento dos anjos para, dali, deduzir a realidade das almas separadas. Mas isso aí nos levaria bastante longe daquilo que é o objetivo específico do nosso programa. Mas é interessante você dizer isso, porque é importante entendermos que as
pessoas que estão no céu, no purgatório ou no inferno têm inteligência e liberdade também, embora esta liberdade não seja uma espécie que poderíamos chamar de uma espécie de liberdade consumada, onde as livres escolhas são vividas de uma outra forma. Isso vale principalmente para as almas que estão no céu, em que já consumaram seu ato de amor. Mas, assim, novamente seria bastante complexo detalhar aqui as coisas para você. Gabriel Moura: Padre Paulo, o que acontece com os condenados ao inferno? Eles perdem a alma? Não, Gabriel, eles sofrem com a alma, e na ressurreição dos mortos eles
irão também receber o corpo, e os corpos também sofrerão eternamente. Eles irão ressuscitar para a perdição eterna. Quando a gente diz que a alma se perdeu, quer dizer que ela se perdeu do céu. A pessoa não perde a alma. A alma que foi condenada ao inferno é a alma perdida. Mas a alma não morre, não. A alma não pode se corromper. Então, tanto as almas boas como as almas más permanecerão, não é, para sempre. E Deus, isso nós sabemos. Somente através da Revelação Divina Deus irá ressuscitar também Corpo e Alma aqueles que irão para a
felicidade eterna e aqueles que irão para o castigo eterno. Túlio Silva, Padre Paulo, como o ser humano pode escutar a Deus que habita no mais íntimo da alma? Túlio, é muito boa sua pergunta. Trata-se do seguinte: veja, nós temos Deus no interior da nossa alma o tempo todo; todos os seres humanos têm isso, mesmo os pagãos, mesmo aqueles que são os mais terríveis pecadores. Por quê? Porque Deus está sustentando as nossas almas no ser. Então, o que acontece é o seguinte: a criação não é uma coisa que aconteceu há 14 bilhões de anos atrás e
depois Deus largou as coisas. Não, o ato criador é um ato constante para nós. Se nós, seres humanos, fôssemos criar uma coisa para nós, seria imensamente cansativo e difícil, porque teríamos que ficar pensando naquela coisa o tempo todo, senão a cada detalhe e sustentando aquela coisa no ser. Nós não somos capazes disso, não é? Então, Deus pensa cada detalhe das coisas e sustenta aquelas coisas no ser. E o fato de que agora, de repente, o seu computador ou o seu celular não está desaparecendo na sua mão é o fato de que Deus não está dormindo.
Porque se Ele cochilasse, né? Quando Deus acordasse, nada existiria. Então, Deus está presente no mais profundo de todas as almas; Ele está lá sustentando. Ora, Deus que sustenta é o verbo criador, né? É a palavra criadora de Deus. Nós existimos porque todas as coisas que existem têm um caráter verbal, têm um caráter de palavra. É uma palavra dita por Deus, uma palavra pronunciada. Nós todos somos uma palavra pronunciada por Deus, uma palavra com P minúsculo, não a palavra com P maiúsculo, mas nós somos uma palavra de Deus. Então, Deus nos pronuncia a todo momento. Poderíamos
dizer: ora, este verbo de Deus, que é o Filho, pode a qualquer momento e fala a qualquer momento às nossas almas; portanto, Ele está sempre dentro de nós falando conosco. Quando Jesus veio a este mundo, o verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós. Ele começou a fazer pregações, contar parábolas, fazer milagres, curas etc. Na verdade, Ele se fez carne para que a palavra externa, que é Ele, que se fez carne, conseguisse chamar a nossa atenção para que ouvíssemos a palavra interior que está no nosso coração. Então, na realidade, uma pessoa se converte
quando aquilo que o pregador aqui fora está dizendo se sintoniza com uma outra palavra que já está sendo dita e pronunciada dentro da pessoa há muito tempo, mas que a pessoa nunca prestou atenção. Então, o pregador aqui fora fala uma coisa e a pessoa, então, ouve dentro dela e diz: "Nossa, é isso, essa palavra!" A pessoa tem até a impressão de que ela já sabia aquilo, porque de fato aquela palavra já falava dentro dela. Por quê? Porque Deus está presente em todos os seres humanos. E isso acontece de forma ainda mais maravilhosa nas pessoas que
estão em estado de graça, porque, por causa da graça habitual e da amizade com Deus, né, o Cristo ressuscitado. Então, Ele, a todo momento, com suas graças atuais, toca esta alma. Ele tem uma presença virtual ali na sétima morada da alma em que, através da sua ação, Ele causa a amizade com Deus. É uma outra forma da presença de Deus. O mistério da inabitabilidade está presente em todos os seres humanos, não é o mistério da inabitabilidade com toda a clareza que eu poderia me expressar. Então, é para dizer: Deus está presente em todas as almas,
inclusive das dos pecadores, sustentando essas almas no ser. Mas, quando a pessoa se converte, então o ressuscitado, o Cristo homem ressuscitado, né? Ou seja, em todas as almas dos seres humanos, o Filho de Deus está lá presente como verbo criador, mas não como verbo encarnado. Quando a pessoa se converte, o ressuscitado, Ele causa, Ele é instrumento, Ele é causa instrumental de uma presença diferenciada de Deus, que é a presença de Deus enquanto amizade. A isso, tecnicamente, nós chamamos de inabitabilidade de Deus; é uma presença de Deus como amigo e isso é causado pelo ressuscitado. É
por isso que eu disse naquela aula de Santa Elizabeth que o Cristo ressuscitado homem está na sétima morada da nossa alma, mas Ele não está lá fisicamente. É evidente que Ele não está lá fisicamente; Ele está lá virtualmente, ou seja, com a sua força, causando a presença da inabitabilidade. Eu disse que Jesus ressuscitado habita na sétima morada, não é da nossa alma, naquela aula sobre Elizabeth da Santíssima Trindade. Na verdade, o que eu estava dizendo é o seguinte: é que Jesus ressuscitado é causa instrumental desta presença de inabitabilidade. Então, num giro de simplificação, eu pronunciei
aquela frase lá: "Valmir, Padre Paulo, sua bênção". Quando na oração eu penetro para além dos sentimentos e do composto corpo e alma, o que eu encontro? Que tipo de experiência tenho? Que tipo de sentimento tenho? Veja, Valmir, não é bem que você se livra. A gente nunca se livra do composto, né? Por quê? Porque é evidente que estamos sempre trabalhando, enquanto seres humanos, corpo e alma. O que a gente faz é que a gente tem acesso a uma realidade espiritual que está dentro de nós. Quando você faz oração, a oração em que consiste? A oração
consiste em você, com a sua inteligência, aderir a uma vontade revelada. Então, Jesus, com a sua revelação, diz: "Eu te amo". Então a vontade diz para a inteligência: "Creia". É Ele quem está dizendo isso, mas este ato não é possível sem uma intervenção da graça atual divina, ou seja, é necessário que Deus... Não é ilumine a minha inteligência e convide a minha vontade. Então, quando nós rezamos, quando nós temos um ato de fé exercida, a fé exercida é o seguinte: quando você está rezando, lá você está, sei lá, lendo a Bíblia, fazendo a sua leitura
divina, ouvindo uma pregação ou meditando, sei lá, alguma verdade, você de repente vê que aquela verdade acende uma luz dentro de você. No início, essa luz é bem fraca, as pessoas nem percebem direito, mas depois você vai se habituando àquela luz e você começa a pensar: "Nossa, vi essa verdade, é uma espécie de luz". Essa luz é uma ação divina; Deus acendeu a luz. Então, ele iluminou a sua inteligência. E quando essa luz ilumina sua inteligência, existe também um ato divino que convida a sua vontade a aderir àquilo, a amar aquela verdade e a dizer:
"Nossa, é isso que eu quero, eu quero isto, eu amo isto, eu adiro, eu quero colar com isso daqui, eu quero casar com essa realidade". Até que você descobre que esta luz e essa verdade interior é o próprio Cristo, e você quer casar com ele como esposo, né? Você, que é a Igreja, esposa. Então, na realidade, o que você encontra quando você reza não é o que você tem que buscar; não é sentimentos. Pode acontecer que, quando você vê essa luz que iluminou sua inteligência e esse convite da sua vontade, isso reverbere no seu corpo
em sentimentos, em lágrimas, em sensações de consolação, né? Isso aí é... isso acontece, mas aquilo que nós devemos buscar não é o sentimento. Nós devemos buscar a verdade, né? Devemos, realmente, buscar a verdade. Quem busca a verdade não são os sentimentos; os animais têm sentimento, mas eles não têm busca da verdade. Então, a gente deve ir pra alma mesmo e é por isso que, na oração, é importante a gente distinguir. É claro que o meu composto, é claro que o meu cérebro pode me ajudar. Por exemplo, Santa Teresa d'Ávila, na busca de uma verdade, ela
usava muito a imaginação. Imaginação, o que que é? É do composto, é do cérebro. Ela usa a imaginação, então compõe a cena, vê o Cristo lá no Monte das Oliveiras etc. Ela vai vendo aquelas imagens, etc., até que, girando ao redor daquilo ali, ela enxerga a verdade. Mas aí, quando ela enxerga a verdade, já não é mais o composto em si, é a alma; é a inteligência quem está vendo. E aí, com essa iluminação da inteligência, a vontade também é convidada, porque a vontade é cega. A vontade não enxerga as coisas; precisa da inteligência enxergar.
Então, quando a inteligência vê com que amor nós fomos amados, a vontade diz: "Eu quero amar de volta, eu quero me unir a ele, eu quero estar com ele". É isso que nós devemos buscar. Tá bom? Então, espero que essa aula tenha servido para você. A primeira parte da aula foi voltada mais para as pessoas que estão ainda no vestíbulo, na porta de entrada da fé, que ainda não creem o suficiente para que conheçam a si mesmas, conheçam que a alma tem inteligência e tem vontade. A segunda parte da nossa aula foi mais voltada para
as perguntas, mais voltada para aquelas pessoas que já estão iniciadas e que têm uma vida espiritual. Espero que tenha servido. Que Deus abençoe a cada um de vocês neste ano mariano. Que Nossa Senhora seja proteção e guia para todos, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.