Uma menina de 10 anos entra no hospital segurando um bebê nos braços. Quando ela diz de quem é o bebê, todos ficam em choque, incapazes de acreditar no que acabaram de ouvir. Laura entrou no Hospital Geral São Francisco logo no início da manhã. Ela não deveria estar ali sozinha; era uma menina de apenas 10 anos, pequena e frágil, carregando um bebê nos braços. Como se fosse a única coisa que ainda a mantinha em pé, o que imediatamente chamou a atenção de todos, além de seu estado desamparado, foi a expressão de desespero no rosto dela,
misturada com uma determinação silenciosa, como se soubesse que aquela fosse a única chance que tinha. A porta automática do hospital se abriu devagar e a cena que se seguiu parecia saída de um filme de tragédia. Laura estava descalça, com os pés sujos, e as roupas eram grandes demais para seu corpo magro. Seus cabelos estavam presos de qualquer jeito, e o bebê que ela segurava estava enrolado em um cobertor velho e puído, claramente improvisado. Ela não tinha malas nem pertences; era só ela e o bebê. Bernardo. Assim que Laura cruzou a porta, a enfermeira Maria Lima,
que estava de plantão, anotou. Maria era experiente; há anos lidava com todos os tipos de emergências, mas nada a preparou para o que estava vendo: uma criança tão jovem carregando outra criança, uma imagem que, sem dúvida, ficaria para sempre marcada em sua memória. O coração de Maria apertou ao perceber o quanto Laura estava vulnerável. Ela agiu rápido, como sempre fazia, correndo até a menina. — Oi, querida, você está bem? — Maria perguntou, sua voz suave, mas carregada de preocupação. Laura não respondeu de imediato; seus olhos estavam fixos no bebê, como se ele fosse a única
coisa que importava. Maria, percebendo o estado de choque da garota, se ajoelhou ao lado dela na altura dos olhos. — Vamos cuidar de vocês, tá bom? — Maria prometeu, estendendo os braços gentilmente. A enfermeira sabia que, para tirar o bebê dos braços da menina, precisava primeiro ganhar sua confiança. Laura hesitou por um momento, apertando Bernardo contra o peito, mas, com um pequeno aceno de cabeça, ela permitiu que Maria pegasse o recém-nascido. O bebê não chorava, mas estava quieto demais, e isso preocupou Maria ainda mais. Ele parecia frágil, pequeno demais, e a enfermeira imediatamente chamou a
equipe médica. A prioridade agora era estabilizar o bebê e garantir que ele estivesse fora de perigo. Laura, por outro lado, parecia à beira de um colapso. O que mais impressionava era o silêncio dela; não houve gritos, não houve desespero explícito, apenas uma assustadora apatia. Ela ficou parada ali, sem saber o que fazer com as mãos agora que não segurava mais Bernardo. Os olhos de Laura vagavam pelo corredor e, por um momento, parecia que ela estava prestes a desmoronar. — Qual o seu nome? — Maria perguntou de novo, desta vez com mais firmeza, tentando trazer Laura
de volta à realidade. Laura, a menina, finalmente respondeu, quase num sussurro, ainda evitando o contato visual. — E o bebê? Como ele se chama? — Maria insistiu, tentando manter a conversa para que Laura não se fechasse completamente. — Bernardo, ele é meu irmão. — As palavras de Laura foram simples, mas a maneira como ela as disse mostrou que Bernardo era tudo para ela. Havia algo naquela frase que fez Maria estremecer. Uma criança de 10 anos não deveria ter essa responsabilidade e, pela expressão no rosto da menina, era claro que ela estava carregando um peso enorme.
Maria colocou a mão no ombro de Laura e a guiou gentilmente para uma sala de espera mais reservada. Ela sabia que a equipe médica já estava cuidando de Bernardo e agora precisava focar em Laura, que também precisava de atenção urgente. A menina parecia exausta, como se não dormisse há dias, com olheiras profundas e a pele pálida, quase sem vida. Mas, mais do que isso, o que mais chamava a atenção era o fato de Laura estar sozinha. Quando chegaram à sala, Maria pediu que Laura se sentasse. — Querida, o que aconteceu? Como você veio parar aqui?
Laura olhou ao redor, como se estivesse tentando organizar seus pensamentos, mas sua boca parecia travada. Ela apenas abaixou a cabeça e apertou as mãos uma contra a outra. Maria esperou pacientemente, sabia que, às vezes, essas coisas levavam tempo, especialmente com crianças. De repente, um suspiro pesado escapou dos lábios de Laura e ela finalmente começou a falar, mas com frases quebradas: — Minha mãe… ela… ela não está mais aqui. E meu pai… ele foi embora. Eu não sabia mais o que fazer, não tinha ninguém para ajudar, então eu trouxe Bernardo para cá. Maria sentiu o coração
apertar. Uma menina tão jovem com uma história tão grande parecia confusa, e Maria percebeu que Laura estava em estado de choque. As palavras vinham com dificuldade, mas havia verdade nelas. A enfermeira então pediu um copo de água para Laura, que aceitou com as mãos trêmulas. Ela bebia devagar, como se cada gole fosse uma batalha contra a própria fraqueza. Nesse momento, o Dr. Leonardo, o chefe da equipe médica, entrou na sala. Ele tinha sido informado sobre o caso e, embora estivesse acostumado com situações difíceis, aquela cena mexeu com ele de uma forma diferente: um bebê recém-nascido
em estado crítico e uma criança de 10 anos, sozinha. Ele sabia que precisariam de mais do que cuidados médicos naquele caso. — Laura, eu sou o Dr. Leonardo. Vamos cuidar de você e do seu irmão, está bem? — ele disse com a voz calma, enquanto se aproximava. Laura não respondeu imediatamente, mas havia algo na postura dele que a fez sentir um pouco mais segura. Ela sentiu, sem dizer uma palavra, mas seus olhos mostravam o medo profundo que sentia. Ela não sabia o que viria a seguir, mas, por enquanto, tudo o que importava era que Bernardo
estava em boas mãos. Maria e o Dr. Leonardo saíram da sala por um instante para discutir o que... Fazer. Eles sabiam que havia algo de muito errado naquela situação: onde estavam os pais da criança? Por que ela estava tão sozinha e o que havia acontecido para ela chegar até ali com o irmão nos braços, completamente desamparada? O hospital estava prestes a se transformar no centro de uma história muito maior e mais sombria do que eles poderiam imaginar, mas, por enquanto, o foco estava em garantir que Laura e Bernardo estivessem bem. O silêncio da menina, a
maneira como ela se agarrava ao bebê e a calma assustadora em seu olhar, tudo isso apontava para uma verdade muito mais dolorosa do que eles poderiam prever. Na pequena sala reservada do hospital, Laura estava sentada em uma cadeira de plástico, o olhar fixo no chão. Mesmo depois de algumas horas, ela ainda não parecia à vontade, não como uma criança de 10 anos deveria estar. Sua respiração era baixa, quase imperceptível, como se estivesse tentando se esconder do mundo ao redor. Mas, ao mesmo tempo, sua presença carregava um peso enorme. Parecia ter uma história presa em sua
garganta, algo que precisava sair, mas que ela não sabia como contar. Do outro lado da sala, Maria Lima, a enfermeira que tinha acolhido Laura no momento em que ela entrou no hospital, estava sentada à frente da menina. Ela tentava ser paciente, dar espaço para Laura respirar e processar tudo. Ao lado de Maria, o Dr. Leonardo também aguardava. Ambos sabiam que tinham que agir. Laura já tinha passado por muito; agora, eles precisavam fazer com que ela confiasse neles o suficiente para contar o que realmente estava acontecendo. Depois de algum tempo em silêncio, Laura finalmente ergueu o
olhar, seus olhos escuros mostrando mais cansaço do que uma criança de sua idade deveria carregar. Ela parecia hesitar, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. Maria tentou mais uma vez: — Querida, você se lembra do que aconteceu? Estamos aqui para te ajudar, você e seu irmão. Ninguém vai te machucar, eu prometo — disse Maria, com a voz baixa e tranquilizadora. Laura olhou para ela e, depois de um longo e tremido suspiro, começou a falar. A voz dela era suave, como se cada palavra estivesse sendo forçada a sair, e seu corpo parecia encolher a
cada frase que formava. — Minha mãe... — Laura começou, mas as palavras morreram antes de serem concluídas. Ela respirou fundo, apertando as mãos uma na outra. — Ela morreu. Essas palavras pesaram na sala. Maria e o Dr. Leonardo trocaram um olhar rápido, mas nenhum deles interrompeu; sabiam que aquela era a primeira peça do quebra-cabeça, mas estavam longe de entender o todo. — Morreu? Como assim? — Maria perguntou com cuidado, tentando manter a voz o mais tranquila possível. — Você estava com ela quando isso aconteceu? Laura balançou a cabeça, seu olhar ficando mais perdido conforme ela
se esforçava para lembrar. Os olhos da menina começaram a ficar vidrados, como se as lembranças fossem difíceis demais de acessar. — Foi logo depois que Bernardo nasceu. Mamãe, ela estava doente, ficou muito fraca... — Laura pausou, engolindo em seco. — Ela não estava bem, e um dia ela simplesmente não acordou. O Dr. Leonardo sentiu um arrepio. A morte de uma mãe logo após o parto era algo que ele já tinha visto, mas, por alguma razão, a forma como Laura descrevia aquilo não parecia totalmente natural. Havia mais naquela história; ele sentia isso. — E o seu
pai? — Laura, ele estava com vocês? — perguntou o doutor, mais direto; era importante entender onde o pai se encaixava nisso tudo. Laura ficou em silêncio por um momento, como se tentasse decidir o que dizer. Então, com uma expressão de tristeza profunda, balançou a cabeça. — Ele... ele foi embora logo depois que a mamãe morreu — disse ela, a voz se tornando mais baixa. — Eles brigavam muito, o tempo todo, antes de Bernardo nascer. Mamãe chorava muito e papai gritava. Eu não sabia o que fazer. Aquelas palavras fizeram a sala ficar ainda mais pesada. Maria
sentiu um nó se formando em seu peito. O pai deles tinha ido embora, deixado Laura e o bebê sozinhos. Como alguém poderia fazer isso e por quê? Era uma situação complicada e, claramente, Laura estava confusa, ainda tentando entender o que havia acontecido. — Você disse que seus pais brigavam muito, Laura. Você se lembra sobre o que eles brigavam? — Maria perguntou com cuidado. Laura mordeu o lábio, suas mãos trêmulas, como se estivesse revivendo aquelas brigas em sua mente. Ela fez uma pausa longa antes de responder. — Eles gritavam sobre coisas que eu não entendia. Mas
mamãe falava que papai tinha feito algo ruim, algo que ela não podia perdoar. Ela falava que ele a tinha traído. Laura olhou para Maria e seus olhos estavam cheios de tristeza. — Eu acho que ele estava com outra mulher, e isso deixou a mamãe muito brava. Ela expulsou ele de casa antes do Bernardo nascer. Maria sentiu o peso daquela revelação. O marido tinha traído a esposa enquanto ela estava grávida, e isso levou a brigas intermináveis, até que ele foi expulso de casa. A história começava a fazer mais sentido, mas também trazia à tona uma série
de outras perguntas: como Laura tinha sobrevivido todo esse tempo sozinha? E por que ela decidiu ir ao hospital naquele momento? — E depois que ele foi embora, o que aconteceu? — Dr. Leonardo perguntou, mantendo o tom calmo, mas atento a cada detalhe. Laura olhou para ele, suas mãos se contorcendo no colo. Ela respirou fundo novamente, como se estivesse reunindo coragem para continuar. — Depois que ele foi embora, a mamãe ficou ainda mais triste. Ela ficava na cama o dia todo, chorando. Eu cuidava dela e do Bernardo, tentava ajudar do jeito que eu conseguia, mas... —
Laura parou e, pela primeira vez, as lágrimas começaram a brotar em seus olhos. — Eu não consegui cuidar dela. Eu tentei, mas um dia ela não acordou. A sala ficou em silêncio. Era difícil imaginar o fim do que... Aquela criança estava carregando perder a mãe e ser deixada sozinha para cuidar de um recém-nascido. Maria se aproximou mais de Laura, tentando confortá-la. "Laura," Maria disse com a voz doce, tentando encontrar as palavras certas para consolar a menina, "você fez tudo o que podia. Isso não é culpa sua, tá? Você é muito corajosa, trazendo seu irmão para
cá. Você fez a coisa certa." Laura não respondeu; ela apenas olhou para Maria com aqueles olhos cheios de dor e culpa. Parecia que, no fundo, ela acreditava que poderia ter feito algo para mudar o que aconteceu, embora todos naquela sala soubessem que isso era impossível. Dr. Leonardo sabia que não adiantava pressionar Laura para obter mais detalhes agora; eles precisavam de uma investigação mais aprofundada sobre a morte de Simone, a mãe de Laura. A maneira como a menina descreveu os últimos dias da mãe não parecia apenas uma doença comum; havia algo estranho ali, algo que exigia
atenção médica e talvez até policial. Mas, por enquanto, a prioridade era garantir que Laura e Bernardo estivessem seguros. "Laura, nós vamos cuidar de você e do Bernardo agora, tudo bem?" Dr. Leonardo disse. "Você não precisa mais se preocupar com nada disso sozinha." Laura sentiu-se lentamente, ainda em estado de choque, mas pelo menos parecia aliviada por não estar mais sozinha. Ela estava longe de estar bem, mas o primeiro passo tinha sido dado. Agora, a equipe do hospital precisava garantir que ela recebesse toda a ajuda necessária, não apenas médica, mas também emocional. Enquanto Maria e Dr. Leonardo
saíam da sala, Maria não conseguiu evitar o pensamento de que Laura tinha passado por algo muito mais sombrio do que eles ainda sabiam. Uma criança de 10 anos não deveria ter que lidar com tudo isso; o que quer que estivesse por trás da morte da mãe e da fuga do pai ainda estava por ser revelado. O clima no Hospital Geral São Francisco tinha mudado; o ambiente, que normalmente já era carregado de urgências e tensões, parecia ainda mais pesado desde a chegada de Laura e Bernardo. Enquanto a equipe médica fazia o possível para estabilizar o bebê
e cuidar de Laura, havia uma sensação de que aquela história estava longe de ser algo normal. Estava errado, muito errado. A enfermeira Maria Lima, depois de passar um bom tempo com Laura, conversou com o Dr. Leonardo e não teve dúvidas: era hora de chamar a polícia. Laura tinha mencionado a morte da mãe de uma forma que não parecia normal. A mulher, Simone, havia morrido logo após o nascimento de Bernardo e o pai dos dois, Pedro, simplesmente desapareceu. As peças não se encaixavam, e os dois profissionais sabiam que, além dos cuidados médicos, aquela situação precisava de
uma investigação séria. Foi aí que o policial Carlos entrou em cena. Carlos era um daqueles policiais que já tinham visto de tudo. Anos de serviço o deixaram calejado, mas ele tinha algo raro: empatia. Ele conseguia olhar além dos fatos frios e perceber as histórias que as pessoas não contavam. Quando recebeu o chamado do hospital sobre uma menina sozinha com um bebê e uma história suspeita envolvendo a morte da mãe, soube imediatamente que aquilo precisava ser tratado com cuidado. Ao chegar ao hospital, Carlos foi recebido pela enfermeira Maria; ela parecia agitada, mas ao mesmo tempo aliviada
por ele estar ali. Levaria algum tempo até que a equipe médica conseguisse todas as respostas de Laura, e eles precisavam de alguém que soubesse fazer as perguntas certas. "Obrigada por ter vindo tão rápido, Carlos. Acho que estamos lidando com algo sério aqui," disse Maria, com olhar preocupado. Carlos assentiu, já preparado para o que viria a seguir. "Onde está a menina?" perguntou ele, direto. "Ela está em uma sala reservada com o Dr. Leonardo. O bebê está estável, mas precisa de cuidados. E quanto a Laura? Ela está claramente abalada. Algo muito ruim aconteceu e ela não consegue
explicar tudo ainda." Carlos respirou fundo; aquilo soava como uma das histórias mais difíceis, aquelas que envolvem crianças em situações trágicas. Ele se preparou mentalmente antes de ir até Laura. Sabia que não podia ser agressivo, mas precisava de respostas; algo não batia e ele precisava descobrir o que era. Ao entrar na sala onde Laura estava sentada, Carlos viu a menina pequena com os olhos ainda vermelhos e o rosto pálido. Ela estava encolhida na cadeira, segurando uma boneca que alguém do hospital havia dado para distraí-la. Ela não parecia estar brincando, no entanto; apenas segurava a boneca como
se fosse um pedaço de segurança no meio de todo o caos. Carlos se sentou à frente dela, se apresentando com uma voz calma: "Oi, Laura. Eu sou o Carlos, trabalho com a polícia. Sei que você já passou por muita coisa, mas eu estou aqui para te ajudar, tá bom? Só quero entender o que aconteceu para que a gente possa cuidar de você e do seu irmão. Podemos conversar um pouquinho?" Laura olhou para ele desconfiada, no início, mas a voz suave de Carlos parecia não ameaçá-la. Ela assentiu devagar, sem falar nada de imediato. O silêncio se
alongou por alguns segundos, até que Carlos decidiu começar. "Eu fiquei sabendo que sua mãe... bem, que ela não está mais aqui. Sinto muito por isso, Laura. Mas você pode me contar o que aconteceu? Quando foi que ela morreu?" Laura apertou a boneca contra o peito, respirando fundo antes de começar a falar novamente. Sua voz estava trêmula e ela parecia estar lutando contra as próprias memórias. "Foi depois que Bernardo nasceu. Mamãe ficou doente... ela... ela não conseguia levantar da cama." Carlos inclinou a cabeça, ouvindo cada detalhe com atenção. Ele sabia que não podia apressar Laura, mas
precisava de mais informações. "Ela estava doente antes do Bernardo nascer?" perguntou ele com cuidado. "Não, quer dizer... não tanto. Eles brigavam muito antes de ele nascer. Papai... ele ficava muito bravo, gritava o tempo todo. Mamãe chorava." Fez uma pausa como se estivesse revivendo as brigas em sua cabeça. Eu tentava ficar no meu quarto, mas dava para ouvir o policial. Anotou mentalmente cada detalhe: brigas, gritos, uma mãe doente que de repente não conseguia sair da cama, e o pai? Onde ele estava nessa história? E o seu pai, Laura? Onde ele está agora? Laura olhou para ele
com os olhos cheios de tristeza, como se estivesse esperando por essa pergunta. Ele foi embora depois que a mamãe morreu; ele não voltou mais. Não sei onde ele está. Carlos sentiu o estômago revirar: um pai que some logo após a morte da esposa. Isso não cheirava bem; ele precisava investigar melhor essa história. Mas, por enquanto, havia outra coisa que o preocupava. Laura, quando sua mãe ficou doente, ela disse o que estava sentindo? Ela foi ao médico? Laura balançou a cabeça lentamente. Não, ela só ficou na cama. Disse que estava cansada e que precisava descansar, mas
depois ela parou de comer. Eu tentei dar comida para ela, mas ela disse que não queria. Eu não sabia o que fazer. Carlos sentiu uma onda de compaixão por aquela menina. Ela tinha feito o possível para cuidar da mãe, mas claramente não tinha como entender o que estava acontecendo. Ele sabia que a situação era grave e as palavras de Laura soavam estranhas: uma mulher saudável não deveria piorar tão rápido logo após o parto, a não ser que algo mais estivesse em jogo. O policial agradeceu a Laura por conversar com ele e prometeu que faria de
tudo para ajudar. Saindo da sala, ele encontrou Maria e o Dr. Leonardo do lado de fora, esperando por notícias. — E aí, o que achou? — perguntou o doutor. — Algo não está certo, — respondeu Carlos, sombrio. — A mãe dela morreu logo depois de dar à luz e o pai desapareceu. Ela diz que a mãe ficou muito doente, mas não procurou ajuda; isso não parece normal. — Acredito que temos que investigar mais a fundo, — Maria cruzou os braços, visivelmente preocupada. — Você acha que o pai dela tem algo a ver com isso? Carlos
olhou para Maria, mas não tinha uma resposta definitiva. No entanto, seus instintos estavam gritando que havia mais nessa história. — Não posso afirmar nada ainda, mas o que me incomoda é o desaparecimento dele logo depois da morte da esposa e o jeito como Laura descreveu a doença da mãe... Não sei. Acho que temos que fazer uma perícia na casa deles, ver se encontramos alguma pista. O Dr. Leonardo concordou com um aceno de cabeça. — Também senti que tem algo errado; a maneira como a mãe dela adoeceu tão rapidamente me deixou com a pulga atrás da
orelha. Vou encaminhar para o médico legista; precisamos de respostas. Carlos sabia que essa investigação estava apenas começando. Ele já tinha visto muitos casos difíceis, mas algo naquele caso deixava particularmente desconfortável: a combinação de uma morte suspeita, o abandono de um pai e a vulnerabilidade de duas crianças pequenas indicava que aquele caso podia se revelar muito mais sombrio do que parecia. Antes de sair do hospital, Carlos fez algumas ligações organizando a perícia na casa da família de Laura. Ele sabia que precisava de evidências concretas para avançar na investigação, mas seus instintos lhe diziam que algo muito
ruim havia acontecido ali. Talvez o pai tivesse sido responsável pela morte da esposa; talvez houvesse outro envolvimento. Mais de uma coisa ele tinha certeza: não deixaria Laura e Bernardo sem respostas. Naquela noite, enquanto o hospital começava a ficar mais quieto e Laura adormecia de cansaço, Carlos reuniu sua equipe para ir à casa de Simone. Eles precisavam de provas e, se houvesse algo errado, ele sabia que encontraria. Depois da conversa com Laura no hospital e da perícia inicial na casa da família, ele sabia que havia algo muito mais profundo acontecendo naquela história. A casa de Laura
e Bernardo, onde Simone morava antes de sua morte, parecia normal à primeira vista, mas Carlos e sua equipe perceberam rapidamente que havia sinais de uma vida conturbada. O lugar estava desorganizado, como se tivesse sido abandonado às pressas; os móveis estavam fora de lugar, as paredes pareciam desgastadas e havia um tipo de silêncio que carregava um peso invisível. Era como se a casa guardasse segredos, segredos que ninguém ousava mencionar em voz alta. A equipe da perícia começou a vasculhar cada canto. Na cozinha, encontraram pratos acumulados, o que indicava que as últimas semanas de vida de Simone
tinham sido caóticas. Laura havia dito que sua mãe estava muito doente e que não conseguia comer, mas algo sobre essa informação ainda dava a Carlos um certo desconforto. Ele havia pedido para os legistas examinarem tudo com muito cuidado e não demoraria muito para que a resposta começasse a surgir. O resultado preliminar da autópsia revelou algo perturbador: Simone havia sido envenenada. A substância encontrada em seu organismo não era algo comum, algo que se tomaria por acidente; era claramente um envenenamento intencional, administrado em doses lentas, o que explicava porque ela ficou doente gradualmente até não resistir mais.
O choque dessa descoberta fez com que a equipe de Carlos intensificasse a investigação. Quem poderia ter feito isso e por quê? Com o envenenamento confirmado, a suspeita sobre Pedro, o marido de Simone, aumentou ainda mais. Ele havia desaparecido logo após a morte dela, deixando Laura e Bernardo sozinhos. Mas algo ainda não fazia sentido. Carlos sabia que, se Pedro realmente havia envenenado a esposa, ele teria planejado isso com muito cuidado. No entanto, ainda não havia sinais claros de como ele poderia ter feito isso e o motivo ainda estava nebuloso. Carlos decidiu seguir uma nova pista. Ele
começou a conversar com os vizinhos da família em busca de qualquer detalhe que pudesse explicar o que estava acontecendo. E foi aí que as primeiras revelações chocantes começaram a aparecer. Uma vizinha, Dona Zélia, uma senhora que morava na casa ao lado da de... Simone parecia relutante em falar no início, mas depois de muita insistência, ela revelou algo que mudaria completamente o rumo da investigação. "Eu não queria me meter, sabe?" disse Dona Zélia, suas mãos tremendo levemente enquanto segurava uma xícara de chá. "Mas eu vi coisas estranhas. Eles brigavam muito. Acho que o Pedro não era
um homem bom." Ouvi Simone chorando várias vezes, principalmente entre depois que ela expulsou ele de casa. Carlos ficou atento a cada palavra; aquilo batia com o que Laura havia dito sobre os pais brigarem antes da separação. "Expulsou? A senhora tem certeza disso?" perguntou Carlos, tentando entender melhor. Dona Zélia assentiu com convicção. "Tenho sim, eu vi com meus próprios olhos. Simone jogou as roupas dele para fora, gritando que não o queria mais ali. Ela disse que ele tinha traído ela, que ele era um traidor." O coração de Carlos acelerou. Uma traição? Isso poderia ser a chave
para entender o motivo por trás de tudo. Mas a história não parava por aí; Dona Zélia parecia ter mais a dizer. "E não sei se você já ouviu falar de um homem chamado André. Ele apareceu algumas vezes por aqui, logo depois que o Pedro saiu." Franziu a testa. "André? Esse nome era novo. Ele não havia sido mencionado por Laura nem nas investigações anteriores. Quem é André?" perguntou Carlos, sentindo que estava se aproximando de algo importante. Dona Zélia olhou ao redor, como se estivesse com medo de ser ouvida. "Ele era bem... eu não sei os detalhes,
mas ouvi rumores de que Simone e ele estavam se encontrando depois que Pedro saiu. André começou a aparecer com mais frequência. Eu os vi juntos algumas vezes, sempre à noite; ele vinha de carro e ficava lá por um tempo. Não sei o que acontecia, mas dava para perceber que eles tinham alguma coisa." Aquela era uma revelação importante: Simone, que havia sido traída por Pedro, começou a se envolver com outro homem logo após a separação. Isso mudava completamente o cenário. Agora, havia um novo personagem nessa história, alguém que poderia estar envolvido ou, no mínimo, sabia mais
do que estava contando. Carlos, determinado a descobrir a verdade, encontrou o tal André alguns dias depois. Ele não foi difícil de localizar, já que trabalhava em uma oficina mecânica nas redondezas. Quando Carlos chegou lá, André parecia desconfiado, mas concordou em conversar. "Eu já esperava que alguém fosse me procurar depois de tudo o que aconteceu," disse André, enquanto limpava as mãos sujas de graxa. "Mas vou ser direto: sim, eu tive um envolvimento com a Simone. Não vou negar isso." Carlos permaneceu em silêncio, esperando que ele continuasse, mas não foi nada sério. "Ela estava machucada, entende? Depois
de descobrir que o Pedro a traía enquanto ela estava grávida, ela me procurou. Acho que queria se vingar dele ou algo assim, mas não durou muito. E você sabia que ela estava doente?" perguntou Carlos, diretamente. André balançou a cabeça. "Não, dessa forma. Ela me disse que estava se sentindo mal, mas nada além disso. Nunca pensei que fosse algo tão grave. Quando soube que ela tinha morrido, eu fiquei chocado." Carlos observou de perto; André parecia sincero. Mas Carlos já tinha visto esse tipo de comportamento antes. Pessoas que escondem segredos geralmente tentam parecer calmas e colaborativas. No
entanto, André não parecia ter muito mais a oferecer. Ele admitiu o caso com Simone, mas negou qualquer envolvimento com sua morte. E pela maneira como falava, parecia que ele realmente não sabia da gravidade da situação. Ainda assim, essa nova informação complicava a situação. Simone tinha sido traída por Pedro e, em resposta, havia começado um relacionamento com André. Isso explicava as brigas constantes entre ela e Pedro. Talvez o ciúme ou a raiva de Pedro por ser substituído tivesse levado ao envenenamento, mas sem mais provas, tudo isso ainda era especulação. Enquanto Carlos deixava a oficina, com as
revelações de André ainda frescas em sua mente, ele sabia que estava se aproximando da verdade. Agora, a principal pergunta que o atormentava era: até onde Pedro estava disposto a ir por vingança? O desaparecimento de Pedro tinha se tornado o maior ponto de interrogação no caso. Com a descoberta de que Simone havia sido envenenada, todas as atenções estavam voltadas para ele. A equipe de investigação, liderada pelo policial Carlos, sabia que encontrar Pedro não seria apenas uma questão de justiça, mas também a peça-chave para desvendar o mistério que rondava a morte de Simone. Carlos estava determinado. As
revelações sobre o caso extraconjugal de Simone com André só serviram para aumentar suas suspeitas. Pedro tinha um motivo claro: a traição. Ele havia sido traído por Simone e, logo depois, ela começou a adoecer misteriosamente. Pedro desapareceu no momento exato em que Simone morreu. Tudo parecia encaixar, mas havia uma coisa que Carlos não conseguia entender completamente: se Pedro realmente tinha envenenado Simone, por que ele simplesmente fugiu? Se ele tivesse planejado isso tão bem, por que não ficou para tentar encobrir melhor o crime? Essas dúvidas pairavam sobre a mente de Carlos enquanto ele organizava as buscas. As
primeiras tentativas de rastrear Pedro foram frustrantes. Ele parecia ter desaparecido do mapa. Nenhum sinal de uso de cartões de crédito, nenhuma movimentação em contas bancárias, nem mesmo registros de chamadas no celular. Pedro parecia ter sumido completamente. A cada novo dia, a pressão para encontrar o pai de Laura e Bernardo aumentava. Laura, por sua vez, estava começando a se abrir um pouco mais. A menina ainda estava abalada, mas a equipe médica e os assistentes sociais estavam fazendo o possível para garantir que ela e Bernardo recebessem o apoio necessário. Em uma das visitas de Carlos ao hospital,
Laura chamou-o de canto. Havia algo que ela precisava contar. "Eu... eu lembrei de uma coisa," disse ela, a voz ainda baixa e um pouco hesitante. "Antes de tudo isso acontecer, meu pai costumava me levar para um lugar. Era a casa dos meus avós. Mas eles já..." Morreram há muito tempo. Ninguém mais vai lá. Só o papai. Carlos prestou atenção; essa era a primeira pista concreta que ele tinha em dias. — Onde fica essa casa? — Laura perguntou, tentando não parecer muito ansiosa para não assustá-la. Laura parecia estar revivendo as memórias enquanto falava. — Fica longe
daqui, em uma área mais afastada da cidade. Eu lembro que tinha uma porteira amarela na entrada; papai costumava me levar lá quando eu era mais nova. Ele dizia que era um lugar especial onde ele ia quando queria ficar sozinho. A inscrição foi o suficiente para acender uma luz na cabeça de Carlos: uma casa isolada que ninguém mais usava era o esconderijo perfeito para alguém que queria desaparecer por um tempo. Pedro podia estar ali, longe de tudo e de todos, esperando que as coisas esfriassem. Imediatamente, Carlos reuniu sua equipe e organizou uma operação de busca. O
endereço fornecido por Laura não era exato, mas, com base na descrição e nas informações que conseguiram de registros, eles tinham uma boa ideia de onde essa casa poderia estar. Era noite quando Carlos e sua equipe se dirigiram para o local. Eles sabiam que Pedro podia estar armado ou desesperado, então precisavam ser cuidadosos. A estrada era longa e mal iluminada, um caminho de terra cercado por árvores altas e sombrias. O silêncio era cortado apenas pelo som dos pneus no chão de cascalho e pelo rádio da polícia, que emitia atualizações breves. Conforme se aproximavam, Carlos notou a
porteira amarela mencionada por Laura. — Lá está ela — disse ele para a equipe, sentindo um aperto no estômago. Eles desligaram os faróis dos carros para evitar alertar Pedro, se ele realmente estivesse lá. Aproximaram-se em silêncio, usando lanternas para iluminar o caminho. A casa ficava mais ao fundo, uma estrutura quase esquecida pelo tempo. As janelas estavam fechadas e não havia nenhuma luz visível, mas isso não significava que a casa estivesse vazia. Carlos fez um gesto para que os outros policiais ficassem atentos e se preparassem para entrar. Eles cercaram a casa por todos os lados, prontos
para qualquer situação. Quando finalmente chegaram à porta da frente, Carlos respirou fundo e bateu forte. O som ecoou no silêncio da noite. — Pedro! É a polícia! Abra a porta! Por alguns segundos, nada aconteceu, apenas o som do vento nas árvores. Carlos bateu de novo, dessa vez com mais força. — Pedro, sabemos que você está aí! Abra agora! Então ouviram um barulho vindo de dentro da casa: passos arrastados e pesados. Alguém estava lá. A tensão aumentou e os policiais se prepararam para o pior. Carlos fez sinal para a equipe que estava ao redor da casa,
avisando que algo estava prestes a acontecer. A porta finalmente se abriu, mas muito devagar. A figura de Pedro apareceu na escuridão; ele estava visivelmente abatido, mais magro do que as fotos mostravam, com o rosto cansado e os olhos vermelhos. Parecia que não dormia há dias. Quando viu Carlos e os outros policiais com as armas apontadas, ele levantou as mãos de forma lenta, sem oferecer resistência. — Acabou, Pedro, você está preso — disse Carlos, mantendo a voz firme. Mas calma... Pedro não disse nada; apenas se ajoelhou no chão, como se o peso de tudo que ele
havia feito estivesse finalmente caindo sobre seus ombros. Não houve gritos nem tentativas de fuga; ele sabia que não havia mais para onde correr. Carlos ordenou que o algemassem, mas o rosto de Pedro continuava impassível, como se ele já estivesse esperando por aquilo. Enquanto os outros policiais faziam a revista na casa, Carlos olhou para Pedro, ainda de joelhos no chão. Havia tantas perguntas que ele queria fazer, mas sabia que o momento para isso seria mais tarde, na delegacia. — Por quê? — Pedro perguntou Carlos, quase como uma reflexão em voz alta, sem esperar uma resposta imediata.
Pedro levantou a cabeça lentamente, seu olhar vazio. — Porque eu já não tinha mais nada — respondeu ele com a voz rouca. Nada. As palavras de Pedro ficaram ecoando na cabeça de Carlos enquanto o levavam para a viatura. Havia algo de perturbador na calma de Pedro; não era o comportamento de alguém que estivesse desesperado ou arrependido. Era o comportamento de alguém que já havia aceitado o seu destino, como se tudo aquilo fosse inevitável. A casa, como suspeitavam, estava praticamente abandonada. Havia poucos mantimentos e sinais de que Pedro tinha vivido lá de forma improvisada. Ele estava
escondido, mas não estava preparado para ficar ali por muito tempo. Carlos sabia que a busca pelo pai de Laura e Bernardo tinha terminado, mas a parte mais difícil do trabalho estava apenas começando. Agora, Pedro teria que explicar exatamente o que aconteceu com Simone e por que ele tomou a decisão de envenená-la. Pedro foi levado diretamente para a delegacia após ser encontrado naquela casa abandonada. Durante o trajeto, ele manteve o olhar fixo na janela do carro da polícia, sem dizer uma única palavra. Parecia estar em outro mundo, distante do que estava acontecendo. Carlos, no entanto, sabia
que aquela calma era apenas a superfície; Pedro carregava algo muito sombrio dentro dele e agora era a hora de tirar a verdade. Assim que chegaram, Pedro foi colocado em uma sala de interrogatório; aquele tipo de sala pequena e fria, com uma mesa de metal e duas cadeiras desconfortáveis, iluminada por uma luz forte no centro. Carlos sabia que aquele ambiente fazia as pessoas se sentirem pressionadas e, muitas vezes, era ali que a verdade finalmente vinha à tona. Carlos entrou na sala e se sentou na cadeira de frente para Pedro. Ele ficou em silêncio por um momento,
observando o homem à sua frente. Pedro estava com as mãos algemadas, as mesmas mãos que supostamente haviam preparado o veneno que matou Simone. Ele parecia cansado, exausto, como se não tivesse mais energia para lutar ou argumentar. — Pedro, chegou a hora. Você precisa me... Contar o que aconteceu, nós sabemos que Simone foi envenenada, começou Carlos com a voz firme, mas sem ser agressivo. A única coisa que eu quero agora é a verdade. Pedro não levantou os olhos; imediatamente, ficou encarando a mesa como se ela tivesse todas as respostas. Por um momento, Carlos pensou que ele
ficaria em silêncio, como muitos fazem em situações assim, mas então Pedro suspirou, um suspiro longo e pesado, e começou a falar com uma voz baixa, quase como se estivesse confessando para si mesmo: “Eu envenenei Simone”, disse ele, sem rodeios, sem drama, apenas a dura verdade. Carlos sentiu um arrepio subir pela espinha. Ele já sabia que Pedro era o principal suspeito, mas ouvir a confissão da boca dele tornava tudo mais real. Era isso: Pedro estava admitindo o que havia feito, mas o porquê ainda era um mistério. “Por quê?”, perguntou Carlos, tentando manter a calma. “Por que
você fez isso?” Pedro ficou em silêncio por um momento antes de finalmente erguer os olhos para Carlos. Havia um olhar vazio em seus olhos, como se ele estivesse em paz com o que havia feito, o que era ainda mais perturbador. “Porque eu não aguentava mais”, disse Pedro lentamente. “Eu não aguentava mais ser humilhado. Tudo estava desmoronando, e ela me traiu. Ela me traiu quando eu mais precisava dela.” Carlos observou. Com atenção, a voz de Pedro não carregava raiva ou arrependimento; era quase como se ele estivesse relatando algo que já havia processado há muito tempo. Mas
havia algo mais profundo ali. “Ela te traiu com André?”, perguntou Carlos, tentando ligar as peças. Pedro deu um leve sorriso amargo, algo que parecia mais uma careta do que uma expressão de alegria. “Com ele? Com outros? Talvez nunca consegui provar, mas sabia. Eu sabia que ela me desprezava.” Ele fez uma pausa, respirando fundo. “Eu estava tentando consertar as coisas. Estava tentando ser o homem que ela queria, mas nunca era o suficiente. Nunca fui o suficiente.” Carlos percebeu que, naquele momento, Pedro estava desmoronando; não fisicamente, mas mentalmente. Ele estava expondo suas feridas mais profundas, aquelas que
o levaram a tomar uma decisão impensável. “E como isso te levou a matá-la?”, Carlos pressionou, ainda tentando entender o ponto de ruptura. Pedro olhou para o chão, balançando a cabeça devagar. “Depois que Bernardo nasceu, eu achei que as coisas iam melhorar. Eu achei que, com um filho novo, ela se acalmaria, que as brigas iam parar, mas não pararam. Ela continuava me afastando, me culpando por tudo. E então, eu descobri sobre André. Foi a gota d'água. Eu sabia que não havia mais volta; ela tinha escolhido ele, e eu... eu não suportava mais viver naquela casa sendo
tratado como um estranho.” Carlos ouviu atentamente cada palavra de Pedro, pintando um quadro mais claro, mas ao mesmo tempo mais sombrio. “Então, você decidiu acabar com tudo?”, disse Carlos, tentando manter a conversa fluindo. Pedro assentiu, sem olhar para ele. “Eu sabia que não podia simplesmente sair. Não queria deixar Bernardo com ela; ela era uma mãe terrível.” Ele parou, como se estivesse tentando justificar suas ações. “Ela não se importava com nada, Carlos. Nem comigo, nem com as crianças. Eu pensei que, se ela não estivesse mais ali, as coisas seriam melhores, mais fáceis. Eu poderia cuidar de
Laura e de Bernardo sozinho. Um dia, eu fiz.” Carlos percebeu que Pedro estava tentando racionalizar, havia feito incontáveis justificativas para o injustificável. Era como se, na mente dele, o envenenamento fosse a solução. “Como você fez isso?”, Carlos perguntou, direto. Pedro respirou fundo, como se estivesse aliviado por finalmente poder contar. “Comecei aos poucos, colocando o veneno na comida dela, no feijão, porque sabia que só ela comia aquilo. Laura não gostava, e Bernardo, bem, ele tomava leite na mamadeira, não teria problema. Simone começou a ficar doente, a cada dia um pouco mais fraca, e eu fingia que
estava preocupado, que queria ajudar, mas eu sabia o que estava acontecendo. Eu sabia que logo ela não estaria mais ali.” Carlos sentiu um nó no estômago ao ouvir aquilo. Pedro tinha planejado cada detalhe. Ele sabia que Laura não comeria o feijão e que Bernardo era um bebê, então ele se certificou de que o veneno afetasse apenas Simone. A frieza com que ele descrevia o crime era assustadora. “E quando ela finalmente morreu?”, perguntou Carlos, sem desviar o olhar. Pedro deu de ombros, como se estivesse falando de algo sem importância. “Foi rápido. No final, ela já estava
tão fraca que não aguentou. Eu sabia que ia acontecer; só não sabia exatamente quando, mas quando aconteceu, eu saí. Deixei Laura e Bernardo lá. Não sabia o que fazer, fiquei com medo. Então fui embora.” Carlos olhou para Pedro, tentando processar tudo o que ele havia dito. Era uma confissão completa, sem arrependimento, sem remorso. Pedro acreditava que tinha feito o que era necessário para acabar com sua dor, sem pensar nas consequências para Laura, Bernardo ou qualquer outra pessoa. “E você acha que isso foi o certo?”, perguntou Carlos, com a voz firme. Pedro olhou para ele, dessa
vez com um leve brilho nos olhos, mas não de arrependimento. Era algo mais como resignação. “Não sei se foi o certo, mas foi o que eu consegui fazer. Eu não tinha mais saída.” Carlos ficou em silêncio por um momento. Ele havia ouvido confissões antes, mas aquela era diferente. Pedro não parecia sentir o peso do que havia feito. Para ele, a traição de Simone, a humilhação que sentiu, era justificativa suficiente. A verdade finalmente estava ali: Pedro havia envenenado Simone por vingança, por raiva, por uma mistura de ressentimento e ciúmes, mas o pior de tudo era que,
no fundo, ele parecia acreditar que não tinha outra escolha. Depois de tudo o que aconteceu, Laura e Bernardo foram levados para um abrigo temporário. Era um lugar simples, mas acolhedor, com outras crianças em situação de vulnerabilidade como eles. A equipe de assistentes sociais estava atenta e... Todos faziam o possível para que os irmãos se sentissem seguros, mas, apesar dos esforços, Laura ainda parecia carregar o peso de tudo o que havia vivido. Ela não falava muito sobre o que tinha acontecido com seus pais, não mencionava o pai, agora preso, nem o envenenamento da mãe. Era como
se quisesse enterrar aquelas memórias o mais fundo possível. Com apenas 10 anos, Laura estava cuidando de Bernardo, que ainda era um bebê, e sentia que precisava proteger o irmão de qualquer coisa que pudesse lembrá-lo do passado. Os dias no abrigo eram difíceis, mas a equipe logo percebeu que Laura tinha uma maturidade que não era comum para sua idade. Ela se levantava cedo para ficar com Bernardo, alimentá-lo, trocá-lo e garantir que ele estivesse bem. As outras crianças, embora fossem amigáveis, não pareciam entender completamente o que Laura estava passando. Enquanto elas brincavam no pátio, Laura ficava ao
lado do berço de Bernardo, observando-o dormir ou cantando para acalmá-lo quando ele chorava. Foi nesse cenário que Clara e Eduardo apareceram. Clara e Eduardo eram um casal simples, sem grandes luxos, mas com um coração enorme. Eles sempre sonharam em ter filhos, mas, após anos de tentativas frustradas e tratamentos médicos, descobriram que não podiam. Foi um golpe difícil para os dois, mas, em vez de desistirem do sonho de formar uma família, decidiram que o caminho para eles seria a adoção. Quando Clara soube da história de Laura e Bernardo, seu coração se apertou. Ela sentiu uma conexão
imediata com aqueles dois irmãos. Mesmo sem conhecê-los, havia algo na força de Laura e na vulnerabilidade de Bernardo que a fez sentir que eles eram as crianças que ela e Eduardo estavam esperando. O processo de adoção não foi simples. A assistente social explicou que o histórico traumático dos irmãos exigiria tempo para garantir que eles estivessem prontos para uma nova família. Além disso, Clara e Eduardo precisariam entender o que estavam assumindo, especialmente com Laura, que já havia passado por tanto em tão pouco tempo. Mesmo assim, Clara e Eduardo estavam determinados. Eles começaram a visitar Laura e
Bernardo no abrigo, inicialmente como parte do processo de adaptação. A primeira visita foi tensa. Laura, desconfiada de estranhos, manteve-se afastada, observando os dois com cautela. Ela segurava Bernardo no colo como se quisesse protegê-lo de qualquer ameaça. — Oi, Laura — disse Clara, com um sorriso gentil. — Esse é o Bernardo. Ele é lindo. Laura apenas assentiu, apertando o irmão contra o peito, sem dizer nada. Eduardo, percebendo a tensão no ar, também se aproximou devagar, mas sem invadir o espaço da menina. Ele se agachou para ficar na altura de Laura e perguntou, suave: — Posso segurar
o Bernardo por um minuto? Eu adoraria conhecê-lo. Laura hesitou. Durante meses, ela fora a única que realmente cuidava de Bernardo. Deixá-lo nos braços de alguém que ela mal conhecia era assustador para ela, mas havia algo nos olhos de Eduardo, uma gentileza que a fez confiar, mesmo que apenas por um momento. Lentamente, ela estendeu o bebê para ele, sem dizer uma palavra. Eduardo pegou Bernardo com cuidado, como se segurasse algo precioso. O bebê, com seus olhos grandes e curiosos, olhou para Eduardo e deu um sorriso tímido. Eduardo, que estava visivelmente emocionado, olhou para Clara e sorriu.
— Ele é incrível! — disse Eduardo, com a voz levemente embargada. Clara também se aproximou e olhou para Bernardo com ternura, mas sem forçar a aproximação com Laura. Ela sabia que ganhar a confiança daquela menina levaria tempo e estava disposta a esperar o quanto fosse necessário. As visitas continuaram por semanas. Cada vez que Clara e Eduardo iam ao abrigo, Laura se abria um pouquinho mais. No começo, ela apenas observava de longe, certificando-se de que Bernardo estava seguro, mas, com o tempo, ela começou a se sentir mais confortável ao lado do casal. Eles nunca pressionaram, nunca
forçaram nenhum tipo de vínculo. Eles apenas estavam ali, oferecendo apoio e carinho quando ela estivesse pronta para aceitá-los. Clara trouxe alguns presentes para Laura e Bernardo em uma das visitas, mas sem exageros: um livro de histórias para Laura, que adorava ler, e um chocalho para Bernardo. Ao ver o presente, os olhos de Laura brilharam por um instante. Não era pelo valor material do presente, mas pela sensação de ser vista, de alguém se importar o suficiente para conhecer o que ela gostava. — Posso te contar uma história desse livro? — perguntou Clara, sentando-se ao lado de
Laura. Laura olhou para o livro, depois para Clara, e assentiu devagar. Foi a primeira vez que ela deixou Clara se aproximar de verdade. Clara começou a ler e, enquanto lia, Laura relaxou um pouco mais. Não era apenas o livro, mas a voz de Clara, suave e reconfortante, que a fazia se sentir, pela primeira vez em muito tempo, segura. Depois de algumas semanas de visitas, os assistentes sociais sentiram que havia um vínculo sendo formado. Clara e Eduardo estavam prontos para a adoção, e Laura, embora ainda silenciosa e reservada, começava a demonstrar que também estava pronta para
essa nova etapa. O dia em que a adoção foi oficializada foi marcado por uma mistura de emoções. Laura, ainda com seu jeito sério e responsável, segurava Bernardo no colo enquanto Clara e Eduardo assinavam os papéis. Eduardo, visivelmente emocionado, olhou para Laura e disse: — A partir de hoje, somos uma família. Eu sei que vai levar tempo, mas eu quero que você saiba que estamos aqui para você e sempre. Laura olhou para ele, seus olhos cheios de uma mistura de medo e esperança. Ela sabia que a vida com Clara e Eduardo seria diferente, mas ainda não
sabia se podia confiar totalmente. Mesmo assim, pela primeira vez em meses, ela sentiu uma leveza que não sentia desde a morte de sua mãe. Já na casa nova, a adaptação foi gradual. Clara e Eduardo não forçaram Laura a chamá-los de mãe ou pai. Eles sabiam que esse tipo de coisa aconteceria no tempo certo, se fosse acontecer. O que importava, para eles, era o amor que estavam construindo juntos. Era criar um ambiente seguro e amoroso para Laura e Bernardo. Aos poucos, Laura começou a participar mais da casa. Ela ainda cuidava de Bernardo, como sempre fazia, mas
agora havia Clara e Eduardo para ajudar, algo que Laura começou a apreciar com o tempo. Eduardo e Clara eram pacientes; eles sabiam que Laura tinha uma história de dor e, por isso, nunca pressionaram nada. Tudo foi acontecendo naturalmente. Bernardo crescia saudável, e Laura começava a mostrar pequenos sinais de que finalmente estava encontrando algum tipo de paz. Ela ainda tinha suas noites difíceis, acordando de pesadelos, mas agora, quando isso acontecia, Clara estava lá para acalmá-la. Um dia, enquanto brincava com Bernardo no quintal, Laura olhou para Clara e Eduardo, que estavam sentados perto dela, observando os dois
com sorrisos nos rostos. Ela sentiu algo diferente, algo que há muito tempo não sentia: segurança. Foi então que ela se aproximou, segurando Bernardo pela mão, e perguntou tímida: "Eu posso, posso chamar vocês de mãe e pai?" Clara e Eduardo se entreolharam, os olhos já cheios de lágrimas. Eles haviam esperado por esse momento, mas sabiam que precisava vir de Laura, quando ela estivesse pronta. "Claro que pode, Laura! Você sempre pode", respondeu Clara, a voz embargada pela emoção. E, naquele momento, Laura deu o primeiro passo para recomeçar sua vida. Os primeiros meses na nova casa foram um
período de adaptação para Laura e Bernardo. Depois de tudo o que haviam passado, estar em um lar estável era uma experiência nova e, de certa forma, assustadora para Laura. O medo de confiar nas pessoas ainda estava lá, assim como a sensação de que tudo poderia mudar de uma hora para outra, como já havia acontecido antes. No entanto, Clara e Eduardo tinham uma paciência infinita; eles não apressavam Laura, não forçavam nada, apenas estavam ali, presentes, dia após dia, garantindo que ela e Bernardo soubessem que aquela era sua casa agora. Bernardo, por ser ainda muito pequeno, parecia
se adaptar mais rápido; seu mundo ainda girava em torno de Laura, Clara e Eduardo. Ele estava crescendo bem e, sempre que Eduardo brincava com ele ou Clara o balançava para dormir, ele dava risadas de pura alegria. Ver Bernardo feliz começava a fazer a diferença em Laura; ela sabia que, se Bernardo estava bem, talvez as coisas pudessem realmente estar mudando para melhor. Mesmo assim, para Laura, o processo era lento. Ela ainda dormia mal algumas noites, acordando no meio da madrugada com pesadelos sobre o que tinha acontecido com sua mãe. Às vezes, ela se sentava no escuro,
segurando seu travesseiro e olhando para a janela, lembrando dos dias difíceis em que sua mãe ficou doente e em que Pedro desapareceu. Mas agora havia uma diferença: quando esses pesadelos vinham, ela não estava mais sozinha. Clara tinha percebido rapidamente que Laura era uma menina que guardava muito para si. Ela não era o tipo de criança que pedia ajuda facilmente, então Clara começou a tomar a iniciativa. Algumas vezes, durante a madrugada, ela ia até o quarto de Laura, sentava-se ao lado da cama e apenas ficava lá em silêncio, até Laura voltar a dormir. Não era preciso
dizer nada; a simples presença de Clara fazia com que Laura soubesse que alguém estava lá para ela. E, com o tempo, aquelas noites de insônia começaram a diminuir. Eduardo, por sua vez, foi um ponto de apoio diferente para Laura. Ele não tentava ocupar o papel de pai logo de cara, mas sempre que podia, ele a incluía nas atividades diárias. Se ele ia consertar algo na casa, convidava Laura para ajudar. Se ia ao mercado, a chamava para ir junto. Ele fazia isso de forma natural, sem forçar uma conexão, mas, aos poucos, Laura começou a se acostumar
com essa nova rotina. Eduardo era paciente e não se importava em esperar até que Laura estivesse pronta para confiar nele de verdade. Um dia, algo pequeno, mas significativo, aconteceu. Laura estava no quintal, cuidando de Bernardo, enquanto Clara e Eduardo estavam dentro da casa preparando o jantar. Bernardo engatinhava pela grama, rindo, e Laura observava com um leve sorriso. De repente, Eduardo saiu de casa com uma bola nas mãos e foi até eles. "O que acham de uma partida?" perguntou ele, com um sorriso animado. Laura olhou para ele, surpresa; até então, ela sempre tinha se mantido um
pouco distante dessas brincadeiras, mas naquele momento algo mudou. Talvez fosse o fato de que, pela primeira vez, ela estava começando a se sentir parte daquela família. Ela olhou para Bernardo, que parecia mais interessado na bola do que nunca, e deu um pequeno aceno de cabeça. "Tudo bem", disse ela, com a voz baixa, mas com um leve brilho nos olhos. Eles passaram a tarde jogando a bola de um lado para o outro, e cada risada de Bernardo parecia preencher o espaço ao redor deles. Clara se juntou a eles mais tarde, e, por um breve momento, todos
se esqueceram do passado doloroso que Laura carregava. Era como se, naquele instante, fossem apenas uma família normal, sem traumas ou feridas. Com o passar do tempo, Laura começou a entender que não precisava carregar tudo sozinha. Bernardo estava seguro e ela também. Aos poucos, ela se permitia ser uma criança de novo, algo que tinha sido tirado dela por muito tempo. Ela começou a pedir ajuda com Bernardo quando precisava, algo que antes nunca fazia, e a confiar mais em Clara e Eduardo para estarem ali quando as coisas ficassem difíceis. Mas o verdadeiro recomeço aconteceu de forma mais
sutil, em pequenos gestos e momentos do dia a dia. Um desses momentos aconteceu durante um café da manhã. Era uma manhã ensolarada, e Clara estava na cozinha preparando panquecas, enquanto Eduardo lia o jornal na mesa. Laura estava ajudando Bernardo a comer, e tudo parecia normal. Mas, de repente, Laura olhou para Clara e Eduardo e sentiu algo que não sentia há muito tempo: pertencimento. Um sentimento inesperado. Depois de meses de dor e de cuidar de Bernardo sozinha, ela finalmente estava em um lugar onde não precisava ser a única responsável. Clara e Eduardo estavam ali, compartilhando o
fardo e, mais do que isso, oferecendo amor incondicional. Naquele momento, percebeu que havia uma diferença entre sobreviver e viver e, agora, pela primeira vez em muito tempo, ela estava vivendo. Logo após o café da manhã, Clara se sentou ao lado de Laura e, com um sorriso carinhoso, perguntou: "Está tudo bem, querida? Você parece pensativa." Laura, normalmente quieta, olhou para Clara por um momento. Havia tantas coisas que ela queria dizer, tantas perguntas que nunca fez, mas naquele instante, tudo que ela conseguia sentir era gratidão. "Eu estou bem", respondeu Laura, com uma leveza na voz que Clara
nunca tinha ouvido antes. Clara sorriu e acariciou o cabelo de Laura, sentindo que algo realmente estava mudando. A partir desse dia, Laura começou a expressar mais suas emoções, não de forma exagerada, mas de um jeito sincero. Quando algo a incomodava, ela falava, e quando estava feliz, também mostrava. Foi um progresso imenso para alguém que, meses antes, mal falava sobre seus sentimentos. E então, um dia, quando Clara estava de saída para o trabalho, Laura chamou, algo que nunca fazia. Clara se virou surpresa e viu Laura se aproximar com Bernardo no colo. "Eu só queria dizer obrigada",
disse Laura, com os olhos brilhando. Por tudo. Clara ficou emocionada, mas tentou não deixar as lágrimas aparecerem; ela apenas sorriu e puxou Laura para um abraço apertado. "Você nunca precisa me agradecer por isso, meu amor. Nós somos uma família", respondeu Clara, com a voz suave. Foi nesse momento que Laura soube, sem sombra de dúvida, que estava segura. O recomeço que ela tanto temia já havia acontecido de forma natural e sem pressa, e agora, mais do que nunca, ela sabia que podia redescobrir o afeto, o amor e a segurança que ela e Bernardo tanto mereciam. Laura
havia encontrado seu lugar.