Olá seja bem-vindo ao página 99 eu sou a Carolina e eu sou a Lívia e hoje a gente vai falar sobre as meninas da Lígia Fagundes Telles bom gente esse é o quarto livro que a gente tá lendo na nossa releitura em ordem cronológica da obra da Lígia os primeiros foram de pedra depois verão no aquário depois antes do baile verde que é de contos e agora chegou enfim a vez de as meninas que é uma obra muito importante na bibliografia da Lígia Ela ajudou a dar continuidade a consagração na carreira dela que já tinha
começado com as primeiras romances mas principalmente com o antes do baile Verde em 1970 e se tu quiser saber mais sobre essas outras obras que nós já Lemos tem vídeo aqui no canal sobre elas os links estarão na descrição as meninas aí então o terceiro romance da escritora brasileira Lígia Fagundes que aliás estaria fazendo aniversário hoje dia 19 de abril e esse livro recebeu alguns prêmios importantes como o Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e o jabuti ali já começou a planejar esse livro em 1970 mas ele só foi publicado em 19 ou seja
bem na época da ditadura militar Aqui no Brasil tem duas coisas que sempre são mencionadas quando se falam sobre as meninas e elas estão intimamente relacionadas a primeira é sobre a dificuldade desse livro Devido as técnicas narrativas que a Lígia usa e a segunda coisa é sobre a camada política desse livro porque ele não só foi escrito e publicado durante a ditadura militar mas também faz da ditadura militar o seu contexto e um dos seus temas centrais o livro foi publicado um ano depois da instalação oficial da divisão de censura aqui no Brasil e isso
é até curioso né que as meninas foi publicado porque tem até um relato de tortura aqui no livro que ali já incluiu se eu não me engano é até um relato real que ela recebeu através de um panfleto E aí a gente fica se perguntando né como que deixaram as meninas passar como que os sensores deixaram esse livro passar e aí a gente volta para a questão da complexidade da narrativa porque a escrita da Lígia aqui é mais metafórica às vezes é bem prolixa é uma escrita mais truncada mais experimental e tudo isso talvez tenha
sido empregado na intensidade que foi aqui justamente para ter uma chance de burlar os sensores tem muitas coisas que ficam somente nas Entrelinhas e é necessário uma leitura mais atenta para realmente entender tem até uma história que se conta por aí eu não encontrei a Lígia falando sobre isso mas tem uma história que circula aí pela internet de que ali já teria dito que o sensor que estava analisando as meninas achou o texto tão enfadonho que ele não passou das primeiras 40 páginas e assim as coisas mais polêmicas e mais sérias do livro acontecem bem
mais para o final Então realmente isso vai ler só o começo Talvez isso não entenda né do que que se trata esse livro para quem quiser saber mais sobre esses aspectos da obra né de como linguagem pode ter sido usada para burlar a censura a gente vai deixar um artigo na descrição do vídeo que se chama porque a ditadura militar não censurou as meninas e junto ali na descrição estarão as outras fontes de pesquisa que a gente usou para fazer essa resenha também eu vou dar um spoiler foi por incompetência bom as meninas se passam
em 1969 e o livro narra dois dias na vida de três amigas três jovens universitárias que moram no condicionado católico Nossa Senhora de Fátima elas estudam na USP só que no momento da narrativa a USP está de greve Então os dois dias que a gente vai acompanhar só na verdade os dois dias que precedem o fim dessa greve e a retomada das aulas o título do livro faz uma referência irônica a uma obra infantil do século 19 chamada as meninas exemplares esse livro é mencionado aqui as meninas é mencionado em verão no aquário também e
é uma referência irônica porque as meninas que a Lígia cria aqui não são lá o que se pode entender como muito exemplares nos padrões cristãos conservadores etc que a gente pode ver em as meninas exemplares lá do século XIX para quem quiser saber mais sobre a referência que é feita essa obra relação entre elas uma comparação né entre as ideias de feminilidade que tem aqui as meninas irem as meninas exemplares a gente vai deixar um artigo na descrição que se chama a educação de meninas em três atos ali já certa vez disse ao jornal O
Globo que com esse livro ela queria dar o depoimento dela sobre a ditadura militar e aí ela queria fazer isso usando essas três meninas e cada uma seria um ponto de vista diferente da mesma realidade então a gente teria a burguesinha a drogada e a guerrilheira segundo as palavras da própria Lígia o ponto de vista que ele já menciona é muito importante aqui porque é através da personal do ponto de vista da perspectiva de cada uma dessas meninas e também do arquétipo ideológico que cada uma representa que o romance de fato acontece as próprias meninas
as suas subjetividades os seus conflitos a sua humanidade são o veículo que a Lígia usa para fazer o desenvolvimento do romance e para abordar os vários temas que ela escolheu abordar por isso nesse vídeo a gente vai falar muito mais sobre as personagens sobre o que elas podem significar enfim a relação que elas têm com o contexto em que elas estão inseridas do que tentar fazer um resumo de uma Trama até porque pouca coisa acontece no exterior muita coisa acontece no interior desses personagens então é muito mais interessante falar desse ponto de vista para entender
o romance Então vamos começar com a Lorena que seria a cauda burguesia né a mocinha privilegiada a Lorena é descendente de Bandeirantes ela vem de uma família burguesa dona de que tinham uma fazenda só que no momento a família dela está numa decadência moral e econômica que é algo que a Lígia também aborda em outros livros seus né a infância da Lorena foi marcada por uma tragédia ela tinha dois irmãos o Remo e o Rômulo e numa brincadeira acontece um acidente o remo acaba matando o Rômulo Acho que com uma espingarda então a infância dela
é marcado por essa tragédia e também o pai dela acaba sendo internado numa clínica psiquiátrica eventualmente a mãe precisa vender a fazenda e todos esses acontecimentos vão marcando a decadência dessa família a Lorena Corcel Direito na USP e ela tem um amante um tal de mm que é um cara mais velho casado com muitos filhos e a linha da Lorena é basicamente eficaz esperando uma ligação Desse amante o livro inteiro só que essa ligação nunca vem e a gente começa perguntar se esse relacionamento é recíproco ou se a Lorena só imagina que ele vai ligar
imagina que eles estão no relacionamento enfim e como ela tá esperando essa ligação pelo livro inteiro Esse é um dos motivos pelos quais ela não pode sair da sua Concha do seu quarto do seu local seguro só que na verdade para mim isso é muito mais para mostrar o afastamento dela da realidade exterior da realidade material a Lorena é a única virgem das suas três meninas que são protagonistas aqui ela acaba reproduzindo umas ideias conservadoras de Pureza casamento etc mas apesar de ser virgem ela pensa muito em sexo justamente por ser virgem e ao mesmo
tempo ela afasta qualquer possibilidade de perder a sua virgindade né justamente porque ela reproduz essas ideias de pureza de só fazer sexo após o casamento etc então a gente vê que como esse é um assunto meio delicado ela né que ela realmente não faz parte dessa ideia de liberação sexual feminina que a gente vai ver nas outras personagens a narrativa dela acaba deixando escapar isso sabe é onde ela consegue dar vazão a isso então acaba sendo uma narrativa muito sensual só que ali já fazer isso de uma forma velada Então nem sempre vai ficar explícito
que é nisso que a Lorena tá pensando a Lorena é muito ligada a religiosidade mas eu fiquei com a impressão de que a religião para ela é muito mais uma estética do que pelos valores religiosos mesmo ela é muito ligada filosofia Ela só fica ali no quarto dela pensando em várias coisas super abstratas ela é muito individualista muito Idealista ela tem muito interesse e faço acesso à cultura as artes só que ela tem uma visão muito despolitizada das coisas bem alienada mesmo do contexto social e político muitas vezes até parece que a Lorena não vive
no mesmo no Brasil que as outras duas meninas vivem parece que para Lorena não tá acontecendo uma ditadura não tava acontecendo nada justamente porque ela tem esse privilégio ela pode se dar o luxo de se fechar na sua concha e se afastar de tudo isso e como ela representa a burguesia aqui ela acaba meio intocada certo enquanto os outros lados outras pessoas é que sofrem as consequências a Lorena poderia ser vista como a narradora principal de as meninas eu acredito porque ela tem de fato mais espaço na narrativa a voz dela a voz que mais
aparece e também porque ela acaba sendo como um centro um ponto de apoio para as outras duas meninas principalmente quando elas precisam de ajuda financeira então a Lorena Ela é bem Generosa essas outras precisam de dinheiro de coisas emprestadas de enfim qualquer coisa a morena abre o quarto dela empresta todas as coisas empresta dinheiro sem saber das vezes que ela não vai receber de volta então ela acaba sendo esse de apoio mas eu acho muito interessante também que ela seja a narradora principal e que a voz dela apareça mais que tenha mais predominância na narrativa
e considerando que ela representa burguesia porque isso acaba refletindo também a predominância da ideologia burguesa na sociedade então a gente vê isso acontecendo aqui na forma do livro mesmo depois nós temos a Lia que é a guerrilheira aqui do grupo de amigas ali é filha de pai alemão ele é um ex nazista na verdade a história que a conta daqui é que quando ele percebeu que eram nazismo de fato ele fugiu da Alemanha ele fugiu para o Brasil Aí ele acabou conhecendo essa mulher baiana e tendo a Lia ela parece vir de um contexto de
classe média ela parece ter uma família mais estável eu acho que ela é que vem de um meio mais estável dentre as três meninas só que ela prefere manter distância da sua vida cômoda da sua vida estável de classe média para assumir os riscos de ser uma né de história Envolvida com um grupos revolucionários que se posicionam contra a ditadura militar ali a cursa Ciências Sociais na USP mas aqui no momento da narrativa ela tá com um curso trancado Porque ela vinha faltando demais então ela preferiu trancar e ela tem um namorado que se chama
Miguel que também é guerrilheiro e que quando começa que o livro está preso justamente por Esse envolvimento né se posicionamento contra a ditadura militar Então esse sofrimento pela prisão do Miguel e também de outros amigos dela acaba sendo algo que fica bem marcado na sua narrativa ali acaba sendo a nossa janela aqui no livro para os problemas sociais políticos e culturais que o Brasil enfrentava na época né no final da década de 60 e início da década de 70 justamente porque ela é a personagem aqui que tem mais consciência social Então ela acaba também representando
a mudança de costumes a mudança de mentalidade que tava se dando ali na época porque ela vai questionar várias coisas que estavam esta como o colonialismo cultural imperialismo patriarcado ela se posiciona sobre alguns assuntos aqui como homofobia a liberação sexual das mulheres a fome no país e ela sempre está consciente dos grupos marginalizados da sociedade eu acho que a caracterização dali aqui no romance também acaba servindo para mostrar alguns dilemas ou impasses que a própria esquerda tava passando no momento né Na época então por exemplo tem um momento aqui que ela vai falar sobre a
necessidade que ela percebe da chamada nova esquerda se unir com outros grupos de oposição a ditadura para que não haja uma divisão e enfraquecimento da Resistência né a ditadura outro exemplo que pode mostrar um dilema que acontecia dentro da esquerda na época na verdade uma contradição que ali é tem ela diz que ela tem nojo de intelectuais que Ela detesta a arte que arte é inútil eu não sei se é exatamente essas palavras que ela usa não me lembro agora mas é algo nesse sentido sabe desprezando intelectuais desprezando artistas e valorizando a ação pegada em
armas esse tipo de coisa só que ao mesmo tempo nas partes que aparece aqui ela conduzindo esse grupo de Esquerda do qual ela faz parte esse grupo militante o que que eles fazem eles estudam eles estudam intelectuais Eles leem Então ela diz que tem hoje de intelectuais mas na verdade eles consomem esses intelectuais só que Claro São intelectuais de esquerda para ter um embasamento da posição deles e ela também diz que o detesta arte só que ela nutre essa ambição de ser escritora inclusive ela já começou a escrever um romance mas quando começa aqui ela
tinha Rasgado o romance inteiro eu acho que essa caracterização dela Pode mostrar como havia uma pressão por causa do contexto né de tudo que tava acontecendo a repressão torturas Enfim uma pressão para quem era de esquerda para quem se colocava contra a ditadura se Mobil de maneira prática através de ações e não tanto através de ideias então parece que há uma desvalorização de ocupações como ser escritor ser intelectual ser artista como se essas ocupações não fossem tão úteis quanto outras opções como por exemplo pegar em armas na literalmente Inclusive tem uma citação aqui no depoimento
que ali já deu que foi incluído nessa edição e ela fala o seguinte lutar com a palavra é a luta mais vã no entanto lutamos mal rompe amanhã os versos são do poeta e valem para sempre uns lutam com o cimento armado com as leis outras com as bisturiços com as máquinas tantas e tão variadas lutas eu luto com a palavra é bom é ruim não interessa a minha vocação e por fim nós temos a Ana Clara que é referida pela Lígia como a drogada do grupo mas eu acho que um termo mais adequado é
marginalizada a Ana Clara teve na infância muito marcada pela pobreza pela negligência e pelo abuso ao que tudo indica que a mãe dela era prostituta ela nunca conheceu o pai e desde muito cedo ela conviveu com homens que se aproveitaram dessa situação de fragilidade dela ela cursa psicologia só que assim como ali ela está com um curso Trancado No momento e eu acho até meu irônico que ela curte psicologia porque ela é mais turbulenta dentre as três ela é a que mais tem questões a serem resolvidas entre as três ela já fez alguns trabalhos como
modelo isso aqui fica muito Claro na narrativa que ela é linda ela é deslumbrante e no momento aqui da narrativa ela está noiva de um cara muito rico Só que ela odeia esse cara uma das formas de demonstrar esse desprezo e ódio que ela tem por esse noivo dela é o relacionamento paralelo que ela mantém com um Max O Max é um traficante e os dois são usuários de drogas então a linha dela consiste basicamente em ela ficar num quarto com o Max os dois usando drogas e conversando enfim ali no delírio deles o que
até torna a narrativa dela a mais é tortuosa dentre as três é mais difícil de acompanhar e entender mas eu acho que talvez essa tortuosidade da narrativa da Ana Clara e a dificuldade que a gente tem como consequência de compreender tudo no primeiro momento seja talvez intencional porque é através dessa personagem que os assuntos mais polêmicos do livro são abordados como por exemplo prostituição sexo drogas aborto na narrativa da Ana Clara algo que também fica muito marcado muito visível o desejo que ela tem de acender economicamente Então ela tem origem mais difícil das três é
muito marcada pela pobreza na infância dela e em vez de assim como a Lia ela se contra burguesia ela se revoltar e ela tem ódio de classe na verdade ela quer ser a burguesia para gente esse objetivo dela esse desejo dela que norteia todas as suas decisões acaba mostrando só mais uma camada na qual ela é dominada no caso a camada ideológica porque ao desejar ser a burguesia ela tá dedicando todos os seus esforços a concretizar essa promessa que a classe burguesa da classe trabalhadora de mobilidade social então do jeito dela a Ana Clara também
é bastante individualista ela não se dedica muito a causa ela não vê porque se preocupar com o contexto do país como social etc então acaba sendo bastante individualista também como a Lorena Como eu disse Mas a grande diferença entre as duas é que uma é muito privilegiada e a outra é muito marginalizada e por causa dessa origem marginalizada ela ainda sofre consequências físicas psicológicas enfim bom gente depois dessa incursão nas personagens e nos temas centrais que são abordados aqui em as meninas vamos falar um pouco sobre a forma sobre as técnicas e recursos que alisa
usou para construir essa narrativa como vocês puderam perceber cada uma das Três Meninas é muito diferente né uma da outra é até meio difícil de acreditar que elas são amigas Em alguns momentos aqui E esse contraste entre elas é ainda mais acentuado através do uso do fluxo de consciência no fluxo de consciência a gente entra na mente do personagem a gente acompanha os pensamentos dele ao passo que esses pensamentos acontecem isso costuma dar origem algumas narrativas mais desafiadoras porque é uma narrativa que é um fluxo mesmo então passa a impressão de que não tem nenhum
polimento prévio não tem nenhum filtro e também não tem muita atenção a regras de coerência de sintaxe de pontuação enfim as meninas a gente então acesso a voz particular de cada uma dessas três meninas as três são narradoras em primeira pessoa em momentos diferentes aqui e a Lígia dá em comum para elas a linguagem coloquial então todas elas têm uma linguagem informal a linguagem do cotidiano mesmo mas tirando isso cada uma tem um estilo bem específico e quando a gente está lendo a gente consegue diferenciar e saber quem é que tá narrando porque é só
através do estilo e de algumas referências que a gente vai saber quem é quem né quem tá narrando No momento não tem nenhuma marcação dizendo agora é ali que está narrando agora é a Lorena além dessas três vozes em primeira pessoa né de cada uma das protagonistas ainda tem uma quarta voz narrativa que é em terceira pessoa então é um narrador onisciente que aparece só pontualmente mais para estabelecer uma cena estabelecer uma atmosfera do que para avançar o enredo ou desenvolver temas é como se não bastasse peso de quatro vozes narrativas a Lígia ainda faz
uso de uma frequente alternância entre essas vozes Como eu disse não vai ter nenhuma marcação quando as suas mudanças acontecem e ali já faz essas mudanças de uma maneira muito Sutil eu diria até sorrateira teve vários momentos aqui em que eu só fui perceber que mudou de narradora várias linhas ou até parágrafos depois da mudança acontecer mas é estranho porque tu pode demorar para perceber que aconteceu a mudança só que tu entende quem é que tá narrando tu vai viajando mesmo entre as consciências delas isso é muito incrível e tudo isso junto né o contraste
entre elas o uso de fluxo a alternância de vozes tudo isso passa uma sensação muito forte de polifonia é um termo que vem Originalmente da área da música mas o filósofo Russo me caiu aplicou a literatura falando da obra então na polifonia o que acontece é que existem várias vozes no texto de um autor E essas vozes e consciências elas parecem ter uma Independência com relação a voz do autor elas parecem não estar submetidas a voz do autor a consciência dele as opiniões dele então passa a impressão de que cada personagem cada voz cada consciência
da narrativa é um ser autônomo com uma visão própria de mundo a subjetividade fica muito em evidência E também o choque entre as várias subjetividades que compõem o mundo compõem os discursos né da vida eu acho que essa escolha da Lídia é muito interessante a maneira como ela conduziu a técnica que para dar essa sensação de polifonia de várias consciências e vozes coisas existindo e se chocando porque isso quer dizer que não tem nenhuma voz que está submetida a outra não há essa figura de tutorial essa figura autoritária como um narrador que acaba jogando a
voz de todas as outras e pegando esse curso delas incluindo na sua própria voz como acontecem muitos romances não que esses romances sejam autoritário as pessoas entenderam certo é só que como tem uma relação muito forte com o contexto em que foi escrito é muito interessante ver essa camada política complementando e sendo complementada pela camada formal do livro pela camada literária mesmo outro recurso do qual ali já se vale aqui que é importante mencionar é o recurso da memória ela faz isso não só em as meninas mas em vários outros escritos seus a memória e
a invenção também e como a gente passa boa parte da narrativa dentro da mente dessas personagens acompanhando a voz delas e a consciência delas a visão de mundo delas acaba que o tempo psicológico se sobrepõe ao tempo cronológico ou factual sabe então tem muitos flashbacks tem muito uso de memórias tem o uso de invenção também Ana Clara principalmente de vaga muito sobre as suas esperanças para o futuro então ela vai ter muito dinheiro etc e é como eu disse antes né só dois dias são narrados aqui da vida dessas meninas mas há muita coisa para
ser narrada porque há esse foco no tempo psicológico e também né comprovando aí a prosa intimista da Lígia a um foco na interioridade na subjetividade na intimidade dessas personagens bom gente agora a gente vai entrar na parte com spoilers do vídeo a gente vai falar sobre o desfecho dessa história então citou ainda não leu É melhor parar por aqui dá uma chance Talvez para o livro Apesar dele não ser dos mais simples Eu acho que é uma leitura que vale a pena e se tu já leu vamos conversar então sobre esse final aqui para mim
foi muito surpreendente Como eu disse acontecem poucas coisas ao longo da maior parte do livro E aí na reta final começa a acontecer muita coisa ao mesmo tempo e é muito interessante porque ele já consegue manter essa atenção e construindo ela cada vez mais então quanto mais a gente se aproxima do final mas a gente tem a sensação de que uma tragédia prestes a acontecer apesar de a gente não conseguir saber prever muito bem o que é que vai acontecer bom então falando sobre esses vários acontecimentos do final ali recebe a notícia de que o
Miguel não é o namorado dela vai ser solto e isso é uma referência ao sequestro do embaixador estadunidense shows Através disso dessa informação indireta aqui que a gente sabe que a história se passa em 1969 aliás então o Miguel vai ser solto e ele e outros presos políticos vão ir para Argélia então ali eu decide que ela vai ir para Argélia também para ficar com o Miguel e aí na madrugada que precede o final da greve na universidade essa madrugada é o último momento que a gente vai acompanhar que da vida dessas meninas a Ana
Clara surge no quarto da Lorena né lá no Pensionato em que elas moram e a Ana Clara tá numa situação deplorável a Lorena não sabe da onde ela veio Ela tá toda suja tá com hematomas enfim sabe Sei lá onde ela andou sabe sei lá o que aconteceu com ela e ela passou a noite inteira provavelmente a tarde inteira também usando muitas drogas bebendo com o Max né que foi a parte da vida dela que a gente acompanhou aqui então ela tá realmente muito mal quando ela chega no quarto da Lorena ela tá falando de
uma forma muito confusa também ela não tá conseguindo se comunicar de uma maneira coerente e aí a Lorena resolve dar um banho de banheira na Ana Clara então ela dá esse banho deixou na Claro toda limpa perfumada lavar o cabelo dela coloca um roupão nela para ela ficar bem confortável e deixa ela dormindo ali no seu quarto né no pensamento aí mais tarde ali vai chegar também no quarto e isso foi interessante porque a primeira vez no livro inteiro em que a gente vê as três juntas e isso é estranho porque é só quando elas
se juntam que tu percebe que elas não estiveram as três juntos durante a maior parte do livro é só no finalzinho mesmo que elas ficam juntas E aí a Lia vai então visitar a Lorena para se despedir eu acho que para devolver a chave do carro que ela tinha pegado emprestado também e é trágico pensar que essa é a primeira vez no livro que elas vão estar juntas porque essa também a última vez em que elas poderão estar às três juntas Porque nessa madrugada Ana Clara morre provavelmente de overdose ou de alguma outra complicação causada
pelo uso excessivo de drogas e aí o que se segue é bem insólito e até macabro talvez a Lorena consegue um plano na cabecinha dela e começa a arrumar Ana Clara Então arruma ela como se fosse para uma festa coloca vestido coloca jóias coloca sapato coloca maquiagem nela e Ana Clara já estão morta sabe então é bem sinistro assim e a urina fazia isso com toda calma do mundo acaba transformando a morte da Ana Clara em algo muito ordenado muito belo muito limpo e é isso que a Lorena faz sabe ela mol desse mundo para
ela e tudo que é feio tudo que é trágico tudo que é ruim ela ignora sabe e ela morde esse mundo para ela através das aparências né tanto que ela tá ali modificando a aparência da Ana Clara nesse momento que foi sim feio e foi sim trágico o plano dela é que ela e ali a vão deixar a Ana Clara numa pracinha que tem ali por perto para que a polícia não encontre o corpo no quarto dela não encontro o corpo no pensionato não vai incomodar as freiras ali então A ideia é passar a impressão
de que a Ana Clara morreu na praça voltando de uma festa algo que me chamou muito atenção sobre esse final é como a Ana Clara acaba se revelando já dá para perceber isso ao longo do livro mas no final fica assim estampado na tua cara não tem como tu não ver isso ela acaba se revelando essa grande vítima trágica do capitalismo da burguesia do contexto da ditadura da maldade da negligência da impotência humanas ela é a grande vítima desse livro e as outras duas meninas a Lorena e a Lia diante desse fato elas parecem só
se preocupar consigo mesmo ali sofre mais eu acho pela Ana Clara a Lorena parece que não tanto ela se preocupa mais moldar essa Morte Mudar As aparências mas as duas parecem pensar antes em si mesmas em como isso ia afetar a vida delas do que na Ana Clara então no final elas não agem como Amigas mesmo eu acho ali até passa por um momento que eu acho que de Revelação mas não sei também como forte essa revelação para ela pode ser algo que ela simplesmente falou no calor do momento mas ela se lamenta sobre a
sua própria impotência né para ajudar a Ana Clara ela se pergunta Poxa eu devia ter ajudado ela e o que eu fiz discursos eu só fiz discursos essa minha vocação para discursos e isso novamente parece ser um comentário sobre a esquerda né E ali no fundo eu acho que o que ela realmente pensou que ela ficou preocupada é que ela tinha que ir para Argélia para reencontrar o Miguel para escrever os seus diários eventualmente ser publicado Enfim então acaba meio que cedendo para um individualismo no final mesmo e a Ana Clara acaba sendo negligenciada mais
uma vez e aí no fim é realmente muito trágico porque a impressão que fica que todas elas falham de alguma forma a Lorena ela tem então essa morte trágica e feia manchando ali o seu mundinho perfeito no final ela tá considerando Até voltar a morar com a mãe sair do pensionato Então ela meio que é uma eterna criança parece aí a Lia tem essa revelação sobre a impotência dela né como todo o ativismo dela toda militância dela não foi capaz sequer de salvar alguém que era tão próximo dela né uma amiga e a Ana Clara
Óbvio falha miseravelmente porque desde o início esse futuro que ela idealizava então ia ser muito rica que ela ia fazer parte da Classe A professora e não mais da oprimida não era uma possibilidade e no final isso simplesmente se concretiza sabe Ela sonhava com esse futuro impossível e ele se revelou realmente impossível e inalcançável bom gente agora eu vou comentar algumas outras coisas aqui que me ocorreram sobre esse final ao longo da Leitura também foi algo que a gente comentou no vlog que a gente gravou terminando de ler as meninas que saiu no início desse
mês é que durante a leitura eu acabei atribuindo um tempo a cada uma das meninas então eu percebi que a Lorena ela representaria o passado teria essa conexão passado justamente porque ela representa a burguesia o conservadorismo e ela meio que se afasta da realidade material e cria um mundo estagnado para si mesma e fica sonhando né em reviver esse paraíso perdido essa volta para uma essência que algo que a gente veio muito na mentalidade da direita já ali a representaria o presente loteria essa conexão mais forte com o momento presente tanto porque ela faz ela
se entrega ao que o presente político social cultural exige dela certo e também porque ela não se entrega muito a devaneios a ficar perdida em memórias ou idealizando um futuro né como Ana Clara faz e por fim a Ana Clara teria ligado então ao futuro só que é um futuro impossível né como eu falei antes é um futuro que nunca esteve disponível para ela então acaba sendo algo bem e para mim acaba passando essa ideia de um futuro estilhaçado uma esperança estilhaçada no final tem um lar muito desolador assim de que para Lorena e para
Lia nada mudou tá tudo bem ali vai viajar mas parece que nada daquela morte afetou elas de fato principalmente a Lorena o que faz todo sentido pensando que ela representa a burguesia né de novo ela é menos afetada por qualquer coisa que aconteça e a Ana Clara por outro lado representa justamente essa Esperança estilo assada e eu acho que ela acaba sendo também uma advertência uma advertência de todos os pontos que levaram ela a esse destino né todos esses fatores que acabaram determinando a vida dela para esse final trágico é estranho pensar nisso hoje em
dia pensar que o final desse livro passa uma desesperança tão forte uma sensação de impotência tão porque realmente o problema que estava envolvendo naquela época Ainda não foi resolvido sabe a gente pode ver isso pelos acontecimentos do final do ano passado por exemplo a gente pode ver isso pela mentalidade de quase Metade dos brasileiros Então realmente todos os valores que acabam criando essas vítimas como a própria Ana Clara essa mentalidade ainda existe hoje ela tá sempre ali tentando forçar a entrada de novo no meio político para entrar de novo no que já aconteceu lá na
ditadura militar nos anos 60 até 80 Ou seja no final a gente fica com uma sensação realmente amarga Mas no geral eu acho que é um bom livro eu não gostei muito de ler as partes da Ana Clara eu não gostei muito da escrita nas partes dela da maneira que o fluxo foi conduzido mas no final eu consegui ver a importância dessa personagem centralidade dela né Por causa desse destino E de tudo que ela representa sobre tudo que tem de errado com a sociedade então é isso gente é um livro que definitivamente vale a leitura
Apesar de que eu não recomendaria ele para começar a lelija ele tem essa narrativa mais complexa então não acho que seja bom começar por ele mas definitivamente vale a pena e vale a pena pensar também em como a Lígia conseguiu mesclar o artístico e a responsabilidade social de se posicionar certo nós gostaríamos de agradecer os nossos apoiadores o apoio de vocês essencial para a gente manter esse canal no ar e continuar trazendo conteúdo para cá então muito obrigada de verdade e se tu que tá assistindo gostaria de receber com todas exclusivos e ainda apoiar o
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