Especial José Pacheco - Escola da Ponte

[Música] quem escuta falar da ponte creio eu associa à ideia da desorganização Pelo menos foi aquilo que me pareceu em certos momentos e ela com todo o respeito que eu por outras escolas a ponta é a escola mais estruturada mais organizada que eu conheço porque ela se fundamenta sobretudo na coerência entre um projeto que contém valores não é escolas São pessoas e os seus valores e uma Praxis e que pressupõe a introdução de dispositivos muito vivir ISO até que controlam toda a atividade ela organiza-se em em trabalho de equipe fundamentalmente é uma escola que é

autónoma a única no mundo aliás escola pública autónoma com contrato de autonomia avaliada todos os anos pelo Ministério da Educação saiu agora a relatório de 2012 enfim eu sou muito vaidoso não é a excelência tá lá excelência académica inclusão social tá lá porque efetivamente ela vive de um modo em que quem quem entra naquela escola não consegue parar de aprender tem no último levantamento de dispositivos organizacionais foram inventariados 74 dispositivos criados na ponte eu encontrei um deles Há uns meses atrás numa escola em São Francisco nos Estados Unidos curioso Fui a uma sala de aula

e quando eu vejo a professora a mostrar um dispositivo eu achei curioso que era o dispositivo do eu já sei e posso ajudar ou preciso de ajuda e posso ajudar achei curioso né que passasse o oceano Mas eu sabia que havia Então tudo se estrutura de modo a centrar na relação entre pessoas toda a aprendizagem partindo de desejos de sonhos que traduzem dificuldades problemas que refletem necessidades pessoais ou ou de grupo Tudo parte idade local ou glocal então todos os dispositivos têm a natureza por natureza são locais ou glais eu poderia dar uma lista imensa

não é desde a caixa dos segredos da Assembleia passando pelo preciso de ajuda passando pela comissão de ajuda passando e todos esses dispositivos e são eu considero constrangedores porque uma criança que chega à ponte habituada a estar noutra escola onde esteja escutando aula ela sente o choque porque ela não pode ficar passiva tem logo um primeiro eh embate digamos assim desse estar passivo no na sua equipa de trabalho na sua equipa Ou seja a equipe aje como um todo e portanto requer de cada um que faça a sua parte no trabalho de equipe e Portanto

ele não pode ficar passivo Depois tem os professores que estão ali à disposição permanentemente ajudando a criar guiões de pesquisa a estrutura básica da pesquisa ensinando a pesquisar que é importantíssimo a saber selecionar a informação saber analisar e criticar saber sintetizar comparar avaliar formação a informação Depois temos dispositivos que TM a ver com a transformação da informação recolhida em conhecimento e é todo um processo enfim que agora não não daria para explicar e finalmente ou finalmente que é o recomeço e tudo está estruturado para que essa informação transformada em conhecimento passa a ação em projetos

concretos transformação social e pessoal então aí acontece a geração de competências básicas os nossos alunos são conhecidos Por isso mesmo temos ex alunos com mais de 50 anos e TM sido feitas histórias de vida que eu não vou narrar porque eu sou muito vaidoso muito presunçoso diz mas que me orgulho muito eles têm a marca da ponte da ponte e das outras escolas por onde eles passaram porque a ponte é o fundamental só e certamente foram ótimas escolas para eles porque não os destruíram ainda que não tenham esses dispositivos noutras escolas mas também tem outra

característica aos alunos é que enquanto nós os educamos no contexto de uma de uma de uma aprendizagem eh com o outro em relação ao outro em que ele gera o seu tempo seu espaço os seus recursos ele quando vai para uma escola onde não há nada disso onde há a aula onde há a série onde há o ciclo ele respeita os rituais sabe gerir o tempo mas também obedece ao toque da campainha sabe planejar-se mas obedece ao planejamento do professor porque aprende a respeitar o outro é o eu e tudo Martin buba não é que

nós cultivamos dentro da escola então isso é uma escola muito estruturada em termos de gestão tem uma gestão horizontal de conselho e em que a decisão é sempre consensual não não há maiorias ali se se tu discordes de mim eu tenho que tentar entender porque é que tu discordes de mim e ao tentar essa aproximação ao aceitar que tu tens direito de pensar diferente eu aprendo então para além desse conjunto essa panóplia de dispositivos que são 74 a última acho que já são mais agora e há outros que foram desaparecendo mas a par disso há

todo um sistema de relações baseado na relação de agrado de Max para teoria por trás não éo toda a prática tem teoria leva que os nossos alunos realmente aprendam aprendam rápido aprendam bem Eu gostaria que todos aprendessem quando me dizem Então os vossos alunos são os melhores nas provas fico triste Gostaria que todos fossem [Música] melhor eu andei 7 anos dando aula cumprindo tudo aquilo que uma escola normal assume como prática de ensino Mas no fim de cada ano eu perguntava por é que eu ensino tambem dando aula e há sempre alguns alunos que não

aprendem porque é que há alguns alunos que reprovam naquele tempo havia exame em todos os anos e portant o que me levou para modificar a minha prática ou a minha Praxis foi exatamente isso eu cheguei a momento que eu pensei de uma forma que qualquer português percebe como eu costumo brincar se eu dava aula eles não aprendiam eles não aprendiam porque eu dava aula é reversível o raciocínio então eu senti o chão fugir me debaixo dos pés Porque eu só sabia dar aula e sabia dar bem aula aliás eu prefiro o professor que dê aula

e ensine do que alguns pseudo inovadores que há por aí que fazem da criança Cuba baia e não ensinam não é respeito muito a criança e a infância Então a partir dessa pergunta fiquei muito incomodado porque só me restavam Dois caminhos ou mudar de profissão porque eu não poderia tomando consciência disso continuar fazendo o que fazia ou mudar mas eu não tinha nada em que me suportar estava no tempo do fascismo em Portugal da ditadura de 48 anos de Salazar não entrava um livro de vigot lal b não entrava nada nem nem piag entrava nem

nada então eu tinha problemas em ir pegar algo vamos chamar teoria que me pudesse ajudar entretanto cheguei à escola da ponte e na escola da ponte encontrei duas pessoas que Fari que faziam as mesmas perguntas e não desistiam de fazer as perguntas já com 20 ou 30 anos de profissão dando aula então eu juntei-me com elas e foi muito bonito o que aconteceu descobrimos o valor do trabalho em equipe descobrimos o valor da pesquisa partilhada em livros que nós encontrávamos lá no fundo das bibliotecas no index porque ninguém podia ler enfim a partir daí foi

todo um trabalho de perseverança humildade respeito pelo ritmo com que nós aprendíamos preparando muito bem tudo aquilo que fazíamos porque não Iríamos deixar de dar aula iríamos procurar outros modos aliás Nós também damos aula não tenho nada com contra mas quando nós compreendemos a origem da escola que era a nossa aí nós compreendemos tudo percebemos que este modelo de escola que aí está e que no Brasil se traduz numa tragédia de 30 milhões de analfabetos eu quando falo este número eu pergunto se algum educador consegue dormir tranquilo as raízes dessa escola que ainda está aí

que desperdiça 56 bilhões de reais por ano que mantém 4 milhões fora do do sistema e onde não se aprende praticamente nada nós compreendemos a origem e foi a partir daí sobretudo a partir da sociologia e da etnologia da educação e um pouco da antropologia que nós compreendemos que teríamos mesmo de mudar porque não faz sentido que hoje os alunos do século XX sejam ensinados por professores século XX com o modelo epistemológico do século X porque foi aí que as coisas começaram não é temos como ros a didática Magna é possível ensinar a todos como

se fosse um só e aí surge a Prússia Militar do século XVI a necessitar de homens uniformizados a toque de Clarim vem a França dos Conventos que cria a cela de aula com a tia não é o símio que não procria para vigiar as crias doos que morrem não é a tia e vem a Inglaterra da Revolução Industrial quando nós deslindar to isso Nós pensamos faz sentido que haja uniformizaç células de aula padrões de tempo único e tudo mais mas não faz sentido no século XX nem XX então aconteceu que as últimos últimos estudos feitos

na ponte começam todos da mesma maneira eu li um em francês um pdoc francês que dizia assim quando for feita a história da educação do século XX teremos de considerar dois períodos distintos antes da escola da da ponte depois da escola da ponte e quando me perguntam como foi possível eu respondo respeitando quem não queria ouviste bem respeitando quem não queria porque é preciso dar tempo às pessoas para elas entenderem e depois dar-lhes possibilidades de elas se modificarem e essa reelaboração da cultura pessoal e profissional é muito violenta é sofrimento há um lado obscuro da

ponte o lado da fragilidade humana que eu não conto porque susta então aconteceu ass exatamente assim com pessoas normalíssima mesma pergunta e que tiveram a ousadia se quiser a loucura de respeitando quem não queria reservar o seu espaço o que fez foi considerar que é preciso uma tribo para educar uma criança provérbio africano o que fez foi levar em conta o contributo do Paulo freiro que diz que se aprende uns com os outros mediatizados pelo mundo o que fez pegarem Agostinho da Sil Laura de Oliveira Lima eu só estou a falar de brasileiros todos os

projetos que eu acompanho no Brasil são mais de 100 tem um referencial teórico apenas brasileiro não quero estrangeiros muito menos aponto muito menos eu nem os fósseis como a Mont sor e outros queis eu quero Brasil eu não sou fista É em vez de ler um piag Vamos ler o Lauro em vez de ler um di Vamos ler o Anísio em vez de ler um um um um clapar red vamos ver o Lourenço Filho em vez de ver o Ferrier vamos ver o Fernando Azevedo percebem porque eles reinterpretar então no Brasil Essa é a novidade

eu resolvi esquecer a ponte e Sexagenário voltei à escola com uma ponte no Brasil feita por brasileiros sem o mínimo contributo da ponte é totalmente brasileiro e tem a mesma estrutura a mesma organização de uma escola que rompe com a chamada escola prussiana ou [Música] tradicional quando eu assumi no Brasil acompanhar esse projeto que é o Projeto Âncora os professores perguntaram vamos ter formação assim para quê Ah mas é que nós só sabemos fazer aquilo que nos ensinaram no Magistério faculdade disse ótimo ah mas nós só sabemos dar aula e ótimo ah mas nós exigimos

que de curar a taboada ótimo nós não Não jogamos fora a criança com água do banho Nós aproveitamos a pessoa como ela é e damos-lhe as condições dela se transformar foi muito interessante nós só nos reunimos uma semana antes de começar o projeto el estavam em Pânico e se quiserem eu explicarei porque é que eles estavam em Pânico e no primeiro uma semana na segunda-feira eles estavam prontos com o papel para a formação de professores eu percebi que eles estavam ansiosos eu disse vamos então começar vamos lá então eu disse escrevei nessa folha os 10

valores que comandam as vossas vidas Eles olharam para mim como para um extraterrestre o que é que ele quer fazer disto escolas São pessoas as pessoas dos professores são os valores que comandam as suas vidas e o que eles são fora da escola são dentro da escola um professor não ensina aquilo que diz um professor transmite aquilo que é então eu quero saber quais são os valores para ver se há valores comuns eles fizeram 5 minutos eu disse então paradinha para café já é vão passear um pouquinho deixar-me aqui peguei no quadro dupla entrada cruzei

e não é que apareceram cinco valores em todos os papéis Eu fiquei encantado a ponte tinha três porque este exercício foi feito há quase 40 anos na ponte resultou em pleno então nós dissemos se estes são os nossos valores que dispositivo que práticas que metodologias são compatíveis coerentes com estes valores que dispositivos então nós começamos a perceber que teríamos de mudar só que eles iriam mudar passado uma semana eu pensei eles têm de começar a partir daquilo que são daquilo que sabem daquilo que é seguro nós não podemos criar insegurança nas pessoas quando chegou a

sexta-feira à tarde na última meia hora eu perguntei então amigos como é que vamos começar o projeto Âncora pela Via soft ou pela Via hard eu tinha explicado né soft é começar dando aula certo e ir mudando aqui além grandes metas pequeninos Passos criança não é caia tudo isso bem fundamentado cientificamente eu pensei que aquela gente que tinha dado 20 30 anos de aula fosse dier vamos pelo soft não hard eu comecei rir estás a brincar comigo não vamos já diretos Mas porquê tu estás connosco aí eu levei um susto estás connosco mas eu não

vou ter eu eu impeço de trabalhar com criança e até trabalho com criança mas Pronto Muito discretamente Quem faz o Brasil é o brasileiro não é um portuguesinho agora então foi foi muito bonito porque eu disse então segunda-feira eu só tenho dois ombros para chorar dois de cada vez mais não dá segunda-feira toda a gente chorava porque e agora importa dizer esse projeto Âncora ele foi composto com crianças e jovens jogados fora de outras escolas crianças de três favelas das mais violentas de da periferia de São Paulo jovens que não sabem quem é o pai

jovens violados que não controlam es finta jovens que viram a mãe ser assassinada jovem que tá no tráfico com aviãozinho jovem líder de gang jovem com 13 14 anos que não sabe ler nem escrever jovem percebem jovem na prostituição juvenil como é que esses jovens que vinham de outras escolas expulsos se comportaram lógico só que ao fim de 15 dias ao fim de 15 dias foram duas semanas in aqueles jovens responderam de uma maneira tão linda tudo que era pagem desapareceu não há um risco não um papel no chão não há um caso de disciplina

e as crianças que não sabiam ler agora com 11 12 anos estão a trabalhar conteú e ano tão simples porqu porque aqueles professores foram respeitados naqu que eles eram claro que eles arriscaram demasiado ou eu também eu aceitei ir lado Hard porque sou louco eu não deveria ter aceito Mas correu bem e quando foi apresentado um público tão difícil como aquele era eles entraram em Pânico por duas razões pelo público pelas crianças e jovens que eles iam receber e porque eles tinham entendido no fim daquela semana que teriam de fazer algo correspondente aos valores em

que acreditavam e que não tinha nada a ver com a organização da escola tradicional foi isso foi uma semana decisiva eu eu digo que fiquei muito emocionado no fim daqueles 15 dias eu recordo-me que reunimos com os pais foi muito bonito um uma das regras que nós com eles estabelecemos foi que quando alguém tá a fazer barulho zoeira que prejudica ninguém dis chu nem ameaça nem diz ah não chama atenção levanta a mão faz um sinal foi difícil da primeira vez eles começaram Estavam todos a fazer zoeira eu lembro que levantei o braço e fiquei

5 minutos à espera mudei de braço ao fim de 5 minutos e tive assim mudando de braço à espera mas disciplinei eu não poderia deixar de fazer aquilo 15 dias depois fizemos uma reunião numa Ágora centenas de crianças com as famílias mas zooeira Total a nossa coordenadora levantou o braço as crianças olharam levantaram o braço os pais olharam levantaram o braço foi 1 hora e meia de conversa em que ninguém falou para o lado reparai A transformação como é que ela se opera Não é magia é um outro conceito de escola um outro conceito de

educação se quiserem chamemos comunidades de aprendizagem que o nosso amigo Paulo e o nosso amigo Lauro e o nosso amig Agostinho e Aisa Silveira e a Maria Nil mas e outros fizeram inscrito há mais de 50 [Música] anos eu tenho por hábito de dizer que o Brasil tem os professores certos a trabalhar de modo errado quando se pretende ter o Ideb 6 em 2022 considero isso pífio miserável qualquer escola brasileira pode alcançar o Ideb 10 em dois ou TR anos e se duvidam coloca-me lá e não sou eu que vou fazer então como eu vejo

eu vejo costumo brincar de modo estrábico não é Ou seja chama metáfora vejo com um olhar externo que me leva a crer que o Brasil ainda compactua com velhas tradições e heranças históricas sociais é preciso saber que senhor é que nós estamos a servir quando estamos numa sala de aula e um olhar interno porque eu partilho a vida o dia a dia de muitas escolas brasileiras o que eu vejo é que há mais de 100 Escolas no Brasil e haverá muitas mais que eu não conheço que mostram que é possível sair desse ciclo vicioso da

reprodução escolar social da reprodução de uma sociedade injusta não é que nós temos de uma produção não é o termo é esse que vs uzais e de assassina do analfabetismo funcional e literal hoje a prática da Leitura continua restrita ao livro O que é ótimo mas muito pouco e a uma internet consumida do modo céfalo não é tudo o que é web deveria contribuir para a humanização da escola e não é isso que eu vejo eu acredito eu gosto gosto mais de ver não é do lado positivo gosto mais de ver o copo cheio do

que meio copo vazio então eu falo sempre em dois registos o primeiro um apelo um apelo à política pública aos titulares do Poder das secretarias eu tenho muitos amigos secretários de Educação do ministério para que olhem para esses mais de 100 projetos então eu prefiro ver do lado positivo que se tomem atenção esses mais de 100 projetos e muitos mais que deve haver por aí para que cada qual a seu modo e com autonomia partindo daquilo que está escrito no artigo 15º e no 23 da lei de diretriz e bases possibilitar essas escolas que sejam

não é modelo não há modelos mas referências que possam levar a educação do Brasil para um patamar que ele Pode ocupar não é inevitável que esteja no não sei quanto do Pisa ou que esteja não é tava aliás eu não quero saber do Pisa para nada isso é uma coisa que não não me atrai os rankings portanto mas é sintomático não é então o que eu vejo é que o Brasil tem tudo o que precisa tem é que mudar a política pública tem é que mudar o modo como hoje se vê a [Música] educação