oi gente meu nome é Cristina mas podem me chamar de Cris a baiana arretada que vive aqui na roça no interior da Bahia minha vida é simples mas cheia de histórias que deixam o povo daqui com a boca aberta e os olhos arregalados eu moro numa casinha pintada de azul bem no meio do nada cercada por mato verde galinhas ciscando e um céu que à noite fica tão estrelado que parece um tapete de brilhantes sou magrinha de pele morena queimada de sol mas ó minha bunda é daquelas que faz barulho quando passa na feira e meu botãozinho da flor do jardim da casa para não dizer aquela palavra que começa com c e termina com u é o meu maior tesouro dedo apertadinho quente que nem fornalha e dizem que quem experimenta não esquece nunca e tudo isso por causa do meu forró especial que eu ofereço por apenas R$ 30 quem diria que uma coisinha assim ia virar o falatório das redondezas tudo começou numa tarde daquelas bem quentes em que o sol castiga até as pedras do caminho eu tava em casa mexendo um vatapá na cozinha o cheiro de dendê subindo e enchendo o ar na varanda minha rede balançava sozinha com o ventinho fraco e o ventilador velho zumbia como se tivesse reclamando da vida de repente ouvi um barulho de bicicleta chegando era um rapaz magrelo todo suado com a camisa grudada no corpo e a cara vermelha de vergonha ele parou na porta coçou a cabeça e perguntou meio gaguejando: "É aqui que o pessoal vem para abrir as portas do fundo da casa para não dizer aquela palavra que começa com c e termina com u? " Eu dei uma gargalhada porque o coitado estava parecendo um pimentão de tão encabulado e respondi: "É aqui mesmo meu rei mas para entrar no quintal dos fundos são R$ 30 ele ficou quieto por um segundo mas logo enfiou a mão no bolso tirou o dinheiro amassado e me entregou todo desajeitado levei o rapaz que disse que se chamava Zé pro quartinho dos fundos lá tem uma cama simples com um lençol de florzinha desbotado uma cadeira bamba e uma janela que dá pro mato o Zé estava nervoso tremendo que nem vara verde mas eu com meu jeito arretado tratei de botar ele à vontade relaxa Zé que aqui a dança é boa e o ritmo é quente ele deu um sorriso tímido mas ficou sério rapidinho quando eu comecei a mostrar o botãozinho da flor gente não deu nem 20 segundos e o Zé caiu da dança só como a gente diz por aqui saiu do quartinho com as pernas moles o olho arregalado e ainda perguntou: "Ô gente Cristina como é que teu jardim é diferente assim nunca vi nada igual na minha vida. " Eu só sorri dei uma piscadinha e disse: "Segredo da roça meu bem coisa que a cidade não ensina" depois desse dia a coisa tomou proporção primeiro apareceu o seu Manoel o dono da vendinha da esquina ele chegou todo pomposo com uma camisa social bem passada e um cheiro de perfume barato que se sentia de longe disse que queria experimentar o forró especial porque ouviu falar que era coisa de outro mundo levei ele pro quartinho e o homem coitado achou que ia aguentar o tranco mas ó durou só 5 minutos no meio do pá pá pá pá que é o som do ritmo quente viu ele começou a gritar: "Cristina pelo amor de São Jorge não para eu imploro!
" Mas o corpo dele não obedeceu e logo a fonte jorrou uma chuva de bênçãos que nem cachoeira no inverno ele saiu de lá com as calças tortas o cabelo bagunçado e um sorriso bobo prometendo voltar na próxima semana outro dia apareceu um rapaz metido a valente desses que falam grosso e andam com o peito estufado disse que ia dançar até o sol raiar e que ninguém aguentava mais que ele eu ri por dentro mas deixei ele entrar gente o coitado mal começou o pá pá e já tava no chão com a cara branca e as pernas tremendo ô meu filho tu não aguentou nem o primeiro compasso eu disse segurando o riso ele ficou todo envergonhado jogou os R$ 30 na cama acrescentou uma nota de 10 de gorgeta e saiu rapidinho sem nem olhar para trás mas o caso mais engraçado foi o do seu Jorge um senhor de 60 anos que chegou aqui com um chapéu de palha na cabeça e um frango vivo debaixo do braço "cristina trouxe esse presentinho para você fazer um ensopado" ele disse com um sorriso cheio de dentes tortos eu achei graça e pensei: "Esse velho tá querendo me conquistar com frango? " Mas aceitei né afinal um frango é um frango e eu não sou de desprezar no forró o homem me surpreendeu ele aguentou o ritmo por mais tempo que os outros dançando direitinho e no final saiu todo feliz dizendo que o botãozinho da flor era o melhor tesouro que ele já tinha encontrado quero te dar casa comida tudo só para dançar contigo sempre zrenia lhe falou sério eu ri e disse: "Ô seu Jorge não precisa disso não basta trazer os R$ 30 que a gente se diverte" teve também uma vez que eu tava meio indisposta de manhã tinha aparecido um cliente que o brinquedo de dança dele era grosso demais e meu botãozinho da flor ficou meio aberto demais se é que vocês me entendem aí à tarde chegou outro rapaz e eu avisei: "Olha hoje o jardim tá meio molhado da chuva mas se tu quiser pode entrar" ele deu um sorriso malandro e disse que adorava dançar na chuva foi corajoso viu no final saiu todo satisfeito limpando o suor da testa e falando que nunca tinha visto um forró tão animado na vida e assim os dias foram passando na roça eu continuava cuidando da minha casinha fazendo meu vatapá com o cheiro de dendê tomando conta do ar ouvindo ventilador velho zumbi e vendo as galinhas ciscarem no terreiro o frango do seu Jorge estava lá cacarejando feliz e eu seguia minha rotina com um sorriso no rosto e o coração leve aproveitando a simplicidade da vida e as histórias que ela me trazia depois daqueles primeiros dias atendendo os clientes que vinham experimentar meu forró especial a fama do meu botãozinho da flor do jardim da casa se espalhou como fogo em mato seco o povo da roça é assim basta um sussurro na venda do seu Zé pra notícia correr mais rápido que cavalo em disparada não demorou nada para começar a chegar gente de fora das cidades vizinhas todo mundo curioso para saber se era verdade o que estavam falando por aí eu que antes levava uma vida simples cuidando das galinhas e do quintal agora tinha uma fila de espera que parecia a da feira de domingo mas como diz o ditado nem tudo são flores e teve dia que a coisa quase virou bagunça de verdade uma manhã dessas o galo mal tinha cantado e eu já ouvi um barulho na porta quando abri dei de cara com um grupo de cinco rapazes da cidade todos metidos a espertinhos achando que iam fazer farra na roça o mais falante um magrelo de bigode fino que parecia saído de novela antiga chegou todo cheio de pose e disse: "Cristina ouvi dizer que teu forró é o melhor da região quero ver se aguento mais que os outros" eu segurei o riso porque já sabia o fim dessa história levei ele pro quartinho dos fundos acendi a luz fraquinha e deixei o som imaginário do pá pá pá pá aquele ritmo quente que mexe com o corpo todo tomar conta o coitado mal começou a dançar e já tava pedindo água oxente mulher que calor é esse tô derretendo ele gritou com a voz tremendo que nem vara verde saiu de lá com as pernas bambas o rosto vermelho e os amigos dele que estavam esperando do lado de fora caíram na gargalhada um deles ainda zoou ô Zé Maria tu não disse que ia aguentar até o sol raiar ele só balançou a cabeça me deu os R$ 30 com a mão trêmula e foi embora prometendo que voltava para tentar de novo eu duvido mas a clientela não parava de crescer outro dia quem apareceu foi dona Rosa uma mulher da fazenda ali do lado ela chegou toda desconfiada com um chapéu de palha enorme para esconder o rosto e coxixou cristina é verdade que teu forró faz milagre até para casamento que tá meio morno? " Eu arregalei os olhos mas respondi com um sorriso maroto olha dona Rosa milagre eu não garanto mas o povo jura que o botãozinho da flor reacende até fogueira apagada ela deu uma risadinha tímida e disse que queria experimentar só para aprender uns passos novos pro marido levei ela pro quartinho e a mulher saiu de lá com um sorriso que não cabia na cara cristina tu é uma santa vou dizer pro meu Zeca que aprendi a dançar forró como ninguém swing ela exclamou toda empolgada eu ri baixo e pensei: "Se ela soubesse o que o forró realmente faz?
" As surpresas não paravam por aí teve um dia que apareceu um político da capital todo engravatado descendo de um carro preto com vidros escuros que parecia coisa de filme ele tirou os óculos escuros me olhou com ar de quem manda no mundo e disse: "Cristina ouvi dizer que teu forró tá trazendo até político pra roça quero ver se é tudo isso mesmo eu que não sou de me intimidar já saquei que ele queria sigilo então levei ele pro quartinho mais escondido lá atrás da casa onde nem o vento entra direito o homem era todo pomposo mas na hora do pá pá pá pá não durou nem 10 minutos saiu de lá suado com a gravata pendurada no pescoço e o cabelo bagunçado mas com um sorriso de quem tinha achado ouro "cristina tu é um tesouro nacional vou mandar uma emenda para consertar essa estrada para cá. " "Logramos" ele disse ainda ofegante eu riuquei "ô doutor deixa de emenda traz os R$ 30 que a gente se entende. " Ele riu pagou e foi embora feliz da vida mas nem tudo era só alegria teve um dia que eu quase entrei numa fria daquelas apareceu um rapaz que era casado com a filha do coronel da cidade um homem ciumento que dava medo só de ouvir o nome o cliente chegou escondido todo nervoso e disse: "Cristina se meu sogro descobre que eu vim aqui ele me bota para dormir com os peixes.
" Eu tranquilizei ele "fica calmo meu bem aqui ninguém abre o bico mas no meio do forró a gente ouviu um tropéu de cavalo do lado de fora era o coronel que tinha seguido o genro rápida que nem raio joguei o rapaz debaixo da cama botei um pano por cima e abri a porta com cara de quem não deve nada ô seu coronel que surpresa boa veio comprar um frango pra janta ele olhou para dentro desconfiado com aqueles olhos de águia e disse: "Cristina ouvi dizer que tem uns forrós esquisitos por aqui cuidado hein? " Eu sorri bem calma aqui só tem forró de respeito seu coronel quer dançar um tiquinho ele ficou vermelho como pimenta balançou a cabeça e foi embora resmungando quando o barulho do cavalo sumiu o rapaz saiu debaixo da cama branco que nem cera me agradeceu umas 10 vezes e jurou nunca mais voltar eu só riu nem o cheiro do vatapá e assim os dias foram passando com a fama crescendo e o povo chegando de tudo que é canto teve cliente que trouxe presente esquisito como uma galinha pintadinha para eu criar e lembrar dele eu aceitei claro galinha é lucro na roça teve outro um rapaz magrinho que quis pagar os R$ 30 com 10 cocos cristina não tenho dinheiro mas trouxe coco para trocar pelo forró ele disse todo sério eu olhei para ele e soltei meu filho aqui não é feira de escambo não traz os R$ 30 ou vai dançar com os passarinhos ele ficou sem graça mas prometeu voltar com o dinheiro teve também um dia que eu quase não dei conta de tanta gente era um sábado de sol quente e parecia que todo mundo tinha combinado de aparecer na mesma hora primeiro veio um vaqueiro que estava de passagem com a pele queimada de sol e um chapéu de couro na cabeça ele disse que ouviu falar do meu forró na estrada e não resistiu cristina me disseram que teu botãozinho da flor é mais quente que o sol do meio-dia tô aqui para conferir componente placement ele falou com um sorriso safado levei ele pro quartinho e o homem até que aguentou bem o ritmo o papá páapá eou por uns 15 minutos e ele saiu de lá suado mas feliz mulher tu é um presente dos Santos componente placement ele diz me dando os R$ 30 e uma nota extra de cinco de gorgeta eu agradeci já fui atender o próximo porque a fila tava grande logo depois apareceu um rapaz que disse que era estudante de Salvador todo cheio de papo ele chegou com um caderno na mão dizendo que estava fazendo um estudo sobre a cultura da roça cristina quero conhecer teu forró para entender melhor o povo daqui ele falou todo sério eu riudo é esse ele pro quartinho e o coitado não aguentou nem 5 minutos o pá pá mal começou e ele já estava tremendo com o caderno caindo no chão cristina nunca vi um forró assim tô até tonto zrenia ele disse com a voz fraca eu ri e disse: "Ô estudante tu precisa estudar mais resistência" ele pagou os R$ 30 pegou o caderno e saiu ainda meio zonzo mas com um sorriso bobo na cara a roça parecia mais animada do que nunca a fama do meu forró especial tinha chegado tão longe que até o pessoal de Salvador estava dando um jeito de vir para cá nem que fosse só para passar o dia eu continuava a minha rotina cuidando das galinhas mexendo meu vatapá na cozinha e ouvindo o ventilador velho zumbir sua música de sempre mas agora com um sorriso ainda maior no rosto o botãozinho da flor do jardim da casa tava fazendo história e eu com meu jeitinho arretado tava adorando cada momento mas como tudo na vida tem seu lado bom e seu lado ruim nem todos os dias eram só de risada e dinheiro no bolso teve um dia que apareceu um cliente que quase me fez perder a paciência era um rapaz da cidade todo metido a rico com uma camisa de marca e um perfume que se sentia de longe ele chegou com um sorriso convencido e disse: "Cristina vim para dançar teu forró mas R$ 30 é muito caro que tal vente? " Eu olhei para ele com uma sobrancelha levantada e soltei meu filho aqui não é feira de pichincha não ou paga os 30 ou vai dançar com as galinhas no terreiro ele ficou sem graça coçou a cabeça e tentou argumentar mas R$ 20 já tá de bom tamanho né eu sou estudante tô sem grana eu cruzei os braços e disse: "Estudante ou não aqui o preço é fixo e se tu é tão esperto devia saber que não se regateia com quem tem o melhor forró da região.
" No fim ele acabou pagando R$ 50 porque disse que não queria passar vergonha eu ri e pensei: "Esse aprendeu direitinho" outro dia quem voltou foi o seu Jorge aquele senhor de 60 anos que tinha vindo com um frango vivo da primeira vez dessa vez ele chegou com um saco de farinha e um sorriso ainda maior cristina trouxe mais um presentinho para você tô falando sério quero te levar para morar comigo zrenia ele disse com os olhos brilhando eu ri peguei a farinha e respondi: "Ô seu Jorge já disse que não precisa disso traz os R$ 30 que a gente dança um forró bem animado. " Ele insistiu: "Mas mulher teu botãozinho da flor é um tesouro que não tem preço eu te dou casa comida roupa lavada tudo que tu quiser só para ter esse forró todo dia eu ri novo porque o homem tava mesmo apaixonado mas expliquei: "Seu Jorge eu gosto da minha liberdade aqui na roça eu sou rainha do meu terreiro mas se tu quiser dançar é só entrar. " Ele aceitou claro e a gente foi pro quartinho dos fundos o seu Jorge era um dançarino de respeito isso eu não posso negar ele entrou no ritmo com uma energia que eu não esperava de um homem da idade dele e a dança foi tão animada que até o chão da casa parecia balançar ele saiu de lá suado com o chapéu de palha torto mas com um sorriso que ia de orelha a orelha cristina tu é um presente dos Santos nunca senti um calor assim na vida component placement ele disse me dando os R$ 30 e mais uma nota de 10 de gorgeta eu agradeci volta quando quiser seu Jorge mas traz os R$ 30 que de farinha eu já tô cheia teve também um dia que apareceu um cliente que me fez rir até a barriga doer era um rapaz magrelo com cara de quem nunca tinha saído da roça e ele chegou todo tímido segurando um chapéu de palha nas mãos cristina eu vim para dançar teu forró mas nunca fiz isso antes ele disse com a voz tremendo eu achei graça e respondi: "Não tem problema meu bem aqui a gente aprende rapidinho levei ele pro quartinho e o coitado tava tão nervoso que começou a falar sem parar enquanto a gente dançava cristina tu já viu o céu hoje tá muito bonito e as galinhas estão botando ovo direitinho e o vatapato faz com muito dendê eu não aguentei e soltei ô meu filho cala a boca e dança direito ele ficou quieto na hora mas no fim saiu de lá todo feliz dizendo que nunca tinha dançado tão bem na vida cristina tu é um anjo vou contar pros meus primos zren ele disse me dando os R$ 30 eu só ri e pensei: "Esse vai espalhar a notícia mais rápido que rádio.
" Mas nem tudo era só diversão teve um dia que eu quase me meti numa confusão daquelas apareceu um cliente que disse que era amigo do padre da cidade e eu que sou desconfiada já fiquei de olho ele chegou todo sério com uma bíblia debaixo do braço e disse: "Cristina vim para ver se esse forró é mesmo de Deus eu ri e disse: "Ô meu amigo aqui o forró é abençoado sim mas são R$ 30 para entrar no terreiro. " Ele pagou a gente foi pro quartinho e o homem que parecia tão santo se revelou um dançarino de primeira a dança foi tão animada que ele saiu de lá com a Bíblia esquecida na cama e o rosto vermelho de felicidade "cristina que bênção foi essa nunca senti nada igual swing ele disse me dando os R$ 30 e mais uma nota de cinco eu peguei a Bíblia entreguei para ele e disse: "Leva a tua bênção ao meu bem e volta quando quiser. " Ele saiu rindo mas eu fiquei pensando: "Se o padre souber disso eu tô frita" e assim os dias foram passando com o sol castigando a roça e o povo chegando de tudo que é canto teve um dia que eu tava tão cansada que quase disse não para um cliente era um rapaz que veio de moto todo suado com a camisa colada no corpo cristina vim de longe só para dançar teu forró não me diz que não vai me atender zrenia ele implorou eu suspirei mas como sou de bom coração levei ele pro quartinho o rapaz era animado e a dança foi tão intensa que até o ventilador parecia balançar com a energia ele saiu de lá com um sorriso bobo me deu os R$ 30 e disse: "Cristina tu é um presente da Bahia pro mundo" eu ri e disse: "Ô meu bem sou só uma baiana arretada que gosta de um bom forró.
" Eve também um dia que apareceu um cliente que trouxe um presente bem esquisito era um rapaz da roça com cara de quem trabalha na lavoura e ele chegou com uma sacola cheia de milho cristina trouxe esse milho para tu fazer uma canjica é para te agradecer pelo forró ele disse todo orgulhoso eu aceitei claro mího é sempre bem-vindo e levei ele pro quartinho o rapaz era tímido mas na hora da dança se soltou todo saiu de lá com o rosto vermelho e um sorriso que não cabia na cara cristina teu botãozinho da flor é mais doce que canjica ele disse me dando os R$ 30 eu ri e pensei: "Esse sabe agradar" o botãozinho da flor do jardim da casa tinha virado lenda e o povo não parava de chegar trazendo histórias presentes e claro a vontade de dançar meu forró especial mas como tudo na vida tem seu lado bom e seu lado de aprendizado os dias que vieram depois me ensinaram que nem todo mundo entende o valor de um bom forró e que às vezes a gente precisa botar o pé no chão para manter o respeito teve um dia que apareceu um cliente que me fez rir até a barriga doer era um rapaz da cidade todo metido a galã com um cabelo cheio de gel e uma corrente de ouro no pescoço que brilhava mais que o sol ele chegou com um sorriso convencido e disse: "Cristina vim para dançar teu forró mas não quero fila me atende logo. " Eu cruzei os braços e respondi: "Ô meu rei aqui todo mundo espera a vez se tu quer pressa vai dançar com o vento ele riu achando que eu tava brincando e disse: "Mas eu sou bonito Cristina isso não vale um privilégio? " Eu olhei para ele com um sorriso de canto de boca e soltei bonito ou não aqui o terreiro é meu e quem manda sou eu ele ficou sem graça mas acabou esperando levei ele pro quartinho e o coitado estava tão preocupado em provar que era o cara que se atrapalhou todo a dança foi mais desajeitada que galinha cega e ele saiu de lá com o ego mais machucado que o corpo "cristina tu é braba" ele disse saindo com o rabo entre as pernas eu ri aqui é assim meu bem outro dia quem voltou foi o seu Jorge aquele senhor de 60 anos que já tinha vindo com frango farinha e milho dessa vez ele chegou com um saco de feijão e uma proposta que me fez parar para pensar cristina tô falando sério agora quero te levar para morar comigo de verdade te dou casa comida tudo que tu quiser só para ter esse forró todo dia ele disse com os olhos brilhando de esperança eu peguei o saco de feijão coloquei na mesa e respondi: "Ô seu Jorge já te disse que gosto da minha liberdade aqui na roça eu sou rainha do meu terreiro mas se tu quiser dançar é só entrar.
" Ele suspirou mas aceitou e a gente foi pro quartinho dos fundos o seu Jorge como sempre era um dançarino de respeito a dança foi tão animada que até a cama rangeu e ele saiu de lá com o chapéu de palha na mão suado mas com um sorriso que não cabia no rosto cristina teu botãozinho da flor é um presente dos céus nunca senti um calor assim logos ele disse todo feliz eu agradeci volta quando quiser seu Jorge mas traz mais feijão que esse aqui já tá acabando teve também um dia que eu quase me meti numa confusão daquelas era um rapaz que disse que era primo do prefeito da cidade e ele chegou com um ar de quem manda no mundo cristina vim para dançar teu forró mas quero exclusividade não quero ninguém na fila enquanto eu tô aqui ele disse com a voz cheia de autoridade eu ri e disse: "Ô meu rei aqui não tem isso de exclusividade não tu espera a tua vez como todo mundo. " Ele ficou vermelho de raiva e disse: "Tu sabe quem eu sou posso mandar fechar esse teu terreiro? " Eu cruzei os braços e respondi: "E tu sabe quem eu sou?
" "Sou Cristina a baiana arretada que não leva desaforo para casa se tu não gostou a porta tá ali ele ficou quieto entrou pro quartinho mas estava tão nervoso que a dança foi um fiasco saiu de lá resmungando mas não teve coragem de fazer nada eu ri e pensei: "Aqui quem manda sou eu" outro momento que me marcou foi quando apareceu um cliente que trouxe um presente bem esquisito era um rapaz da roça com cara de quem trabalha na lavoura e ele chegou com uma sacola cheia de milho cristina trouxe esse milho para tu fazer uma canjica é para te agradecer pelo forró zrenia ele disse todo orgulhoso: "Eu aceitei Milho é sempre bem-vindo" e levei ele pro quartinho o rapaz era tímido mas na hora da dança se soltou todo saiu de lá com o rosto vermelho e um sorriso que não cabia na cara "cristina teu botãozinho da flor é mais doce que canjica. " Zrenia ele disse todo encantado eu ribe agradar teve um dia que eu tava tão cansada que quase disse não para um cliente era um rapaz que veio de moto com a camisa colada no corpo de tanto suor e ele disse: "Cristina vim de longe só para dançar teu forró não me diz que não vai me atender eu suspirei mas como sou de bom coração levei ele pro quartinho o rapaz era animado e a dança foi tão intensa que até o ventilador parecia balançar com a energia ele saiu de lá com um sorriso bobo e disse: "Cristina tu é um presente da Bahia pro mundo.