[Aplausos] tem uma família grande aí queria pedir desculpas eles deu um tumulto aí na porta tanta gente não caberia tantas pessoas aqui no teatro e mas acho que agora tudo se acalma nãoé acho que podemos o pessoal aí de fora peço desculpas teatro tá completamente lotado nós não teríamos como acomodar tanta gente isso nós devemos à popularidade e ao reconhecimento que o Sebastião Salgado tem aqui no Brasil e fico muito feliz de ver que maioria da das pessoas presentes são jovens para as quais provavelmente Sebastião representa um modelo e você começou a sua vida Sebastião
como fotógrafo sua vida como fotógrafo sempre fazendo as fotos e os outros fazendo os textos né e agora você tem esse livro aqui no qual você fez o texto muito difícil trocar de lado assim né olha eu eu nunca nunca falei muito do da minha vida às vezes Fali o pouco do meu trabalho em algumas entrevistas mas foi primeira vez que eu falo em bloco né que eu conto desde de onde eu vim e o meu comportamento de vida transformando virando fotógrafo não foi muito fácil e foi muito fácil ao mesmo tempo porque na realidade
não foi não foi uma entrevista foi uma conversa que eu tive com com a escritora que é uma uma grande amiga nossa e eu na realidade não queria fazer essa entrevista porque foi no momento muito difícil da nossa vida foi o momento que a gente estava preparando para fazer AES presentação do do Gênesis a lélia desenhando os livros preparando as Exposições a gente editando preparando eu não tinha o tempo mas como era uma amiga muito amiga eu não podia dizer não e aí nós fizemos eh quatro longas entrevistas e que o resultado foi esse livrinho
Contando um pouco da minha tem muitos detalhes que eu que foram importantes na minha vida mas depois seend puxa esqueci disso esqueci daquilo mas um dia talvez a gente faça um outro Quando eu ficar eu ficar mais velho ainda quanto mais velho mas tem vontade de contar as coisas contador de história então talvez a gente faça mas mas é no fundo é interessante você ver o conjunto da sua vida não é isso resumido num livrinho que você vê e aí para você mesmo dis puxa eh realmente eu ocupei meu tempo não é na na na
na minha vida eu o tempo foi bem ocupadinho né quando a gente olha e esse detalhe Fala um pouquinho da da da da história da família de onde você foi criado em Amores no Vale do Rio Doce eu nasci no campo e e quando eu nasci 90% dos brasileiros ou mais viviam no campo então era a minha o que eu vivi o que eu conto nesse livro eu tenho certeza que uma grande parte das pessoas da minha geração vão se identificar porque tiveram a mesma história saíram do mesmo lugar eu lembro que eu fiz parte
da primeira geração de jovens da minha cidade que saiu para estudar que normalmente o pai era trabalhava no campo tinha uma Fazenda não importa Você trabalhava no campo você ficava no mato você ficava no no interior e naquela época que eu era criança não tinha Estrada Eh o meu pai tinha fazenda de gado e a gente saía com gado da minha cidade para chegar ao matadoro a gente levava 45 dias e na realidade deve ser no máximo em linha reta uns 300 km mas o conceito de distância naquela época e de tempo né era outro
conceito de distância a distância muito ligada ao tempo eu acho que Possivelmente fazendo essas viagens vivendo naquele interior que para visitar as pessoas a gente levava semanas antes da gente mudar para essa fazenda que era perto da cidade nós levávamos 6 8 horas a cavalo para chegar na cidade então eu acho que são essa preparação que eu tive de ter a paciência de viajar de ter a paciência de esperar que Possivelmente eh fui organizando a preparação para eu ser fotógrafo Eu acho que o fotógrafo é uma pessoa que precisa ter muita calma muita paciência precisa
saber esperar e a gente sabe o que vai acontecer você não sabe que hora que vai acontecer nem a forma que vai acontecer você precisa ter esse esse tempo lento não é e que na realidade é o tempo da vida é o tempo que as coisas acontecem você assimila como fotógrafo então eu comecei a apertar o dedo para fazer realmente as fotografias já bastante tarde eu já tava em Paris fazendo preparando um doutorado em economia quando a lélia a minha esposa que tá aqui presente comprou uma câmara para fazer fotografi de arquitetura e eu pela
primeira vez na minha vida eu fiz uma fotografia mas na realidade toda essa experiência acumul só tava esperando aquele momento para continuar não é para para virar fotógrafo virar Fotografia tudo isso então eu acho que é um pouco isso você entende que eu vendo esse livrinho eh eu também compreendi muito dessas coisas e você diz que tava em Paris fazendo mestrado de Economia n você de onde veio essa ideia de ser economista na verdade você fez direito antes não é eu fiz direito eu realidade você veio desculpa você veio para São Paulo com que idade
não mas eu eu vim em São Paulo eu vim só fazer o mestrado em São Paulo só mestrado eu eu na realidade eu fiz economia no Espírito Santo e em Vitória na Universidade Federal do Espírito Santo e eu fiz um ano de direito que meu pai queria De toda forma que eu fosse advogado mas eu não gostei eu abandonei e fiz o vestibular de economia e fiz o curso de Economia eh eu gostava de Economia realmente gostava gostava do que eu fazia até hoje eu gosto de Economia mas o momento na França como eu tava
preparando o meu doutorado de Economia eu quis mudar antes de ser fotógrafo eu quis ser engenheiro mecânico são as coisas tremenda coerência né advogado economista Quase que eu descobri a fotografia antes no Espírito Santo fazendo o meu curso de economia e que eu e a n namorávamos o seu nepo que era um colega de pensão que eu morei muito em pensão muito em república quando você vem do interior é isso República ou pensão e o seu Neco já era um senhor idoso ele fazia o fotoclube do Espírito Santo Então ele me entusiasmou falou que eu
tinha que fazer fotografia eu falei por que não S vamos lá e marcamos encontro eu e a lélia i encontrar com o soneco no foto Clube do Espírito Santo um sábado às 10 horas da manhã e nós somos chegamos às 10 nada do seu Neco é um meio-dia nós fomos embora falamos amor ele não vem mais e pronto eu talvez tivesse encontrado com a fotografia um pouco antes e não Aí fui encontrar bem mais tarde já quando eu tava em Paris agora quando eu encontrei a fotografia fez uma invasão na minha vida primeira fotografia que
eu fiz a Lelia sentada numa janela numa casa que tinha emprestado pra gente no mês de junho de 1970 a gente comprou era próximo à Suíça na na alta Savoia nós somos até Genebra L precisava comprar uma câmera fazer fotografia de arquitetura e compramos a câmara e eu peguei aquela câmara quando coloquei nos olhos eu vi a relação que eu comecei a ter com todas as coisas através da lente eu te juro que a minha vida mudou naquele momento eu comecei a ter um entusiasmo tão grande com a fotografia eh qu C dias depois nós
amos um pouquinho de dinheiro voltamos em janeir compramos mais duas lentes que eu sabia que aquela só lente 50 mm lente normal não cobria tudo que eu poderia ver de uma forma diferente Compramos uma 24 MM uma 200 mm E aí a minha vida começou de Fatal antes de de gente entrar na fotografia fala um pouco da sua chegada em São Paulo porque eu acho que a sua participação no movimento Universitário o fato de ter ido embora do Bras e isso sim estabelece uma coerência muito grande com o seu olhar depois através das lentes né
Fala um pouquinho dessa fase de São Paulo do movimento Universitário Pois é olha eu vou falar um pouquinho antes dessa fase para chegar aí eu na realidade quando eu saí do do campo pra cidade eh a gente vivia no campo onde tudo era equilibrado meu pai tinha uma fazenda grande tinha 35 famílias nessa Fazenda onde todo mundo vivia da mesma forma todo mundo tinha uma casa não é tinha uns meiros tinha quem trabalhava com o gado e tudo nós todos os meninos estavam juntos ia na mesma escola a gente comia mais ou menos as mesmas
coisas naquela época no interior não tinha miséria aí quando eu vi pra cidade fui paraa Vitória estudar aí eu comecei conhecer as coisas muito diferente eu comecei foi na época do início não é 58 começou a indústria automobilística no Brasil a industrialização uma constução de estrad e começou uma emigração muito grande eu fazia parte desse fluxo só que eu vinha já de um filho de fazendeiro que eu tinha que trabalhar meu pai não podia pagar tudo para mim eu trabalhei como auxiliar de mecânico numa numa numa oficina da Ford depois eu fui cobrador de uma
livraria eu tinha que completar um pouco do que meu pai me ajudava mas eu já vi noutra estrutura que só as pessoas bem pobres que saiam do campo que vinham pra cidade para começar a ser a base do do proletariado brasileiro então ali eu comecei a ver uma série de coisas morando em pensões com estudantes de esquerda eu comecei a fazer uma preparação na realidade a minha preparação política começou ali comecei a fazer parte de partidos de esquerda de jovem da eh eh Então eu fui preparando a minha conscientização e quando eu vim para São
Paulo eu vim para São Paulo para fazer o Instituto de Pesquisa Econômica da USP que fazia um concurso em todo o Brasil para selecionar 20 jovens para fazer o único curso realmente de Master que tinha no Brasil e que todos esses jovens eram preparados já para entrar na economia brasileira tanto que nós estamos falando há pouco o Felipe regu que foi o presidente da Petrobras que era um jovem na realidade da minha geração naquela época quando eu abandonei a Organização Internacional do café para virar economista para virar fotógrafo foi ele que me substituiu como jovem
economista na orização o Luciano Coutinho que hoje é o o presente presidente do BNDS o Luciano nós fo um colega de faculdade entende o Pastore que foi ministro o Ieda que foi foi trabalhou junto ao Delfim nós somos todos colegas Ou foram ou professores mas professores jovens simultâneos todo mundo fazia parte dessa geração era um momento que você tinha uma oferta muito pequena de Quadros no Brasil Uma demanda muito grande e uma necessidade dessa preparação e nós viemos dentro do movimento de esquerda por exemplo nós conhecemos o Zé deceu eu conheci Zé deceu aqui em
São Paulo na época eu era estudante nós fazíamos parte do mesmo grupo a gente era militante nos movimentos de esquerda e e chegou um momento que foi necessário sair do Brasil ou entrar na clandestinidade Foi um momento muito duro depois do A5 em dezembro de 68 A situação ficou muito dura e muito tensa a reparação foi muito dura no Brasil então eu ela linha que eram bem novinhos nessa época ficamos fora do Brasil durante muitos anos que a gente era considerado também subversivos os grandes subversivos quando na realidade nós eram crianças né er crianças e
aí chegando na França olha chegando na França foi muito especial porque nós não tínhamos bolsa de estudo nós tivemos que trabalhar eu trabalhava numa cooperativa de estudantes que eu descarregava caminhões que chegavam com os produtos a lélia trabalhava nessa cooperativa mas como caixeiro né era na hora principalmente no jantar que a gente morava na Cidade Universitária eu fazia meu curso de economia no no ensae que era escola nacional de estatística de administração Econômica era um dos cursos mais difícil da França mais duro porque era aplicação de modelos matemáticos na economia e eu tinha que estudar
muito realmente muito e a gente também participava em em grupos de Formação marxista então era a época a França era o lugar para isso e eu tinha um professor excelente chamado anuar bidel malek que era da Universidade do Cairo que dava aula pra gente de geopolítica então nós tínhamos uma aula de Sociologia a gente estudava seriamente e olha isso me deu uma base fenomenal quando eu vim pra fotografia porque na realidade eu trabalhei em várias grandes agências de fotografia no mundo e que meus colegas fotógrafos eram excelentes fotógrafos quadra muito bem e tudo mas eles
não conseguiam se colocar dentro de uma perspectiva histórica da sociedade que eles viviam então eu comecei a trabalhar como fotógrafo então quando eu ia sei lá pra África do Sul fazer uma reportagem eu eu tinha uma noção exata G política qu eram as forças que estavam em movimento na África do Sul não é eu tinha uma capacidade de fazer uma uma uma análise rápida da sociedade da economia e tinha uma capacidade de síntese que essa preparação em economia que eu tive no Espírito Santo em São Paulo em Paris me ajudou demais e Essa militância política
também então isso permitiu Possivelmente na minha vida de fotógrafo ter uma espécie de coerência eh ideológica ética eh e que me permitiu levar a minha vida do início até hoje dentro de um comportamento não é acho que você teve uma decisão que você coloca com muita clareza no livro que foi momento de sair da organização internacional do café e deixar um emprego seguro e que pagava bem para se tornar fotógrafo Fala um pouquinho das características desse emprego na o iic Pois é eu eu trabalhava no oic na realidade eu não trabalhava com café eu trabalhava
num banco de investimento que a organização tinha era um fundo muito grande porque existia o acordo internacional do café depois esse acordo Acabou então a Organização Internacional do café perdeu o o o a importância que ela tinha eh no mundo mas cada saco de café exportado cada país exportador deixava ó no fundo nesse fundo de diversificação que era esse banco que a gente trabalhava e cada país importador deixava um dólar também você quer dizer que cada saco de café produzido no mundo geravam ó e a produção de café considerava no planeta a gente acabou tendo
um fundo imenso e esse fundo era utilizado para manter a oferta do café para para poder manter o nível de preço de forma que a oferta nunca fosse maior que que a demanda para equilibrar o preço ou uzia um pouquinho a oferta para que o preço sempre fosse interessante do café Então o nosso trabalho nós éramos um grupo de de economista eram trabalhar na identificação de produtos que pudessem diversificar o café no mundo então nós trabalhávamos por área a minha área de trabalho era Ruanda burundi Congo belga eh o Kênia e a Uganda eu era
o responsável o primeiro responsável por por essa p eu era segundo na Tanzânia e e em outros países da África então a minha região de trabalho era África Então eu tinha que viajar para esses países nós viajamos normalmente com a missão do Banco Mundial porque era um projetos de de investimento bem elevado eh eu lembro que no Ruanda um dos projetos que a gente financiou a gente empregou diretamente 32.000 famílias Então eu tinha que fazer o análise do retorno econômico desse projeto fazer todos os C cálculos e tá seguro que era um projeto que ia
atuar na diversificação do café Então nós fazíamos missões imensas e quando você identificava nós fazíamos a contrapartida do país normalmente no investimento do Banco Mundial os países colocam 10% e o Banco Mundial coloca 90% e os países não tinham os 10% para colocar era Organização Internacional do café que colocava então a gente fazia essas missões e e era muito interessante por exemplo Ruanda eu conheci quando ainda não tinha 1 km de estrada asfaltada os belgos tinham abandonado H muito pouco tempo com guerras terríveis que aconteceram por lá então eu tive um uma experiência Fabulosa se
entende no Congo a mesma coisa no Uganda no burundi então foi essa a minha vida e eu levava comigo a máquina fotográfica que eu já tinha descoberto a fotografia eu comecei a fotogra fazer fotografia na França tive a oportunidade de fazer de ir paraa Organização Internacional do Caf fé aí nesse momento eu falei não agora vou ser economista vou ser economista me preparei para isso tenho realmente um bom posto de trabalho e e comecei a fazer fazer eh esse trabalho mas eu levava minha máquina fotográfica e quando eu voltava para Londres as fotografias me davam
10 vezes mais prazer que os relatórios econômicos que eu tinha que fazer então começou realmente a a a a fazer uma invasão na minha vida né e eu e a lélia começamos a discutir Olha a gente ia pro serpentine que aquele laguinho que tem lá no centro do hde Park em Londres pegava um barquinho remava parava lá no meio deitava no barco e discutia horas se eu abandonava ou não abandonava Ou se eu ia para Washington que eu tinha uma proposta do Banco Mundial para ir embora para trabalhar no Banco Mundial Washington um cargo ainda
melhor muito interessante como economista e eu jovenzinho eu tinha 27 28 anos realmente era um momento forte da minha vida até o momento que a gente tomou a decisão de abandonar abandonar tudo eu lembro que o Alexandre Beltrão que era o presidente da oic que era um brasileiro Brasil maior produtor de café Então tinha presidência Eu vim falar pro Beltrão falei ó Beltrão eu resolvi eu vou vou abandonar a organização aí falou é salgada eu sei você tem uma proposta você vai embora pro Banco Mundial eu falei não V fotógrafo aí el olou para mim
falou assim olha eu quero ser fotógrafo minha Muler quer ser fotra minha filha que ser falal vou ser um estúpido sentei abandonar um trabalho desse para ser fotal eu ele abandonei realmente abandonei e voltamos para Paris aí eu comecei e a situação econômica se agravou aí como é h a situação econômica familiar a sua a minha totalmente porque totalmente porque nós tínhamos um bom emprego nós tínhamos um carro fabuloso nós tin um triunfo speit Fight era um carro fabuloso um apartamento um excelente apartamento Londres a Léia estudava em Paris quando eu viajava ela continuava fazendo
Arquitetura em Paris ela aí a gente já ela já viajava de avião ia Realmente nós tinham outro nível né outro nível e voltando para Paris para começar minha vida de fotógrafo nós alugamos um quartinho de Empregada de 12 m qu não tinha banheiro e nós começamos para guardar um pouco do dinheiro para mim começar a fazer e a lélia trabalhava em projetos de arquitetura Por exemplo quando você tem um lá na França você chama de charretes fazer uma charretes é quando um projeto tá terminando Eles contratam a quantidade de de estudantes de jovens eh eh
eh arquitetos para terminar os desenhos né da época então a lélia ia trabalhar nas charretes para conseguir um pouco de dinheiro e assim foi o início da nossa vida de fotógrafo você entend e e como é que você bom tudo bem Você é fotógrafo você começou por onde Pois é aí eu eu tentei fazer tudo em fotografia eu que eu fiz nu eu fiz paisagem eu fiz esporte eu eu tentei de tudo retrato você batia na porta das agências você tinha amigos que te facilitar cont eu eu ia nas redações das revistas eu ia nas
redações da revista eu eu tinha uma uma motinha uma toquinha eu chegava nas redações e e perguntava o que que eles precisavam eles eu era jovem chegando com entusiasmo de fazer e eles me davam o que que eles tinham durante a semana que eles precisavam então tudo que eu podia fazer em torno Eu tentava na época da França por exemplo eu tinha uma imigração muito forte de Portugal dos países árabes tinha uma situação social muito difícil na periferia de Paris tinha favelas na região de inan terra em torno de Paris se eu ia para lá
não tava a ver eu também era Imigrante eu tava totalmente integrado você fazia minhas fotografias a gente vinha revelava L ajudava a copiar preparar e dois dois dias depois eu estava na revista com minas fotografi e eles publicavam publicavam e me pagavam direitinho e foi olha e foi foi foi você entende teve problema nenhum houve uma grande Seca no nja na África eu já sabiao foi isso que ano foi mais ou menos 73 e eu sabia que essa seca ia acontecer porque na organização a gente já discutia não é a precipitação já vinha reduzindo na
área muito tempo e quando começou nós fomos embora tínhamos um amigo brasileiro Marcos guerra que hoje é do Rio Grande do Norte voltou ele era responsável por uma organização de ajuda à África e que tava baseada em niame na capital do niga nós fomos para lá com um um outro jovem brasileiro que na época foi um amigo nosso em Paris Antônio Luiz Mendes suares que virou fotógrafo de cinema tem um filme que talvez as pessoas lembram como é que é a Ópera do Malandro a fotografia do Antônio Luiz excelente fotógrafo brou mas na mesma idade
nós éramos jovenzinhos e foi a lélia ele e eu fomos pro nja e lá meu o Marcos guerra conhecia todo o sistema de distribuição de alimentação colocava a gente naqueles caminhões que iam levar alimento dentro do Saara dentro do deserto nós íamos embora e passavam uma semana no lugar duas em outro aviões da Força Aérea belga que fazia distribuição de alimentos eles arranjavam carona pra gente Nós iamos embora avião deixava a gente lá no fundo do do deserto voltava uma semana depois para buscar nós fos uma história fantástica Quando cheguei em Paris com aquelas fotografias
eu fiz preto e branco Ant luí fez cor e a Lelinha ajudou a gente a editar e fomos Olha foi ali que foi realmente o meu primeiro e eh a minha primeira entrada na grande imprensa francesa foram com essas fotografias eu publiquei nos grandes jornais franceses e eu comecei a aparecer um pouco como fotógrafo você a tua paixão sempre foi a foto branco e preto né numa época que as fotografias coloridas dominaram o mercado praticamente você sempre se Manteve fiel Isso foi uma decisão eh premeditada ou foi acontecendo no decorrer desse processo profissional foi acontecendo
foi acontecendo e eu fui naturalmente em direção ao preto e branco não é que eu fiz só preto e branco no início eu fiz cor fiz bastante cor E mesmo quando eu tava trabalhando com profissional na Gama na Magnum as revistas me encomendavam reportagem e encomendavam em cor a maioria das reportagens que me encomendava em cor então eu eu tinha que fazer cor para sobreviver mas eu levava comigo uma câmara preto e branco e eu fazia o meu trabalho preto e branco quando eu passei para Magnum e que eu pude começar a escolher as minhas
histórias aí eu trabalhava em histórias em coj contava dinheiro e ia fazer a minha história exclusivamente em preto branco aí eu pude começar realmente investir a fundo nas histórias que eu queria fazer em preto e branco mas tinha uma diferença muito grande TR porque hoje os fotógrafos trabalham em em cor com as câmeras digitais Você tem uma sequência da sua fotografia quando a gente trabalhava em cor na época do do slide do diapositivo você colocava numa mesa daquelas luminosas o seu filme as 36 fotografia você tirava Essa é boa essa é boa tirava três ou
quatro as outras você colocava numa caixinha você falava eu vou ver depois mas você já quebrava a sua sequência aquilo você não via mais na realidade eu sempre fui um contador de história eu não podia contar história com a cor porque eu não tinha sequência e o preto e branco eu fazia minha prancha de contacto uma ligada à outra eu vivia minhas histórias todinhas entende e a emoção que você tem fotografando é a mesma que você tem quando você tá editando você vive de uma maneira muito intensa tua vez aquilo tudo que você viveu então
eu já tinha esse fator de de de ligação com preto e branco depois o preto e branco eu revelava eu copiava eu entrava no laboratório eu adorava fazer o meu laboratório e tudo e a cor não a cor eu tinha que pagar para fazer o processo em cor era muito caro não dava pra gente fazer como amador ao passo que o preto e branco dava eu poderia fazer e e teve uma outra coisa por exemplo olha essa sala tem um senhor com a camisa verde outro com a camisa vermelha são os esports eu fotografando aqui
aqueles esportes eu tinha certeza que na hora que eu devolver essa fotografia eles iam aparecer muito mais que qualquer outra coisa aqui do que a personalidade de cada uma dessas pessoas que eu queria fotografar então sabendo que eu fotografando em preto e branco eu tinha aquele verde forte e aquele vermelho e aquele azul mais clarinho ia ter tonalidades de Cinza que me permitiam fazer uma passagem muito doce e me concentrar no ponto que eu queria dentro da fotografia na realidade nada é preto e branco preto e branco é uma abstração mas essa abstração me permitia
devolver todas as Gamas de cores que eu queria você entende e concentrar onde eu queria Então eu acho que naturalmente eu eu fui em direção ao preto e branco a última História preto e branco que eu cor que eu fiz foi o o 70 anos da do aniversário da Revolução Russa da da revolução Soviética em 1987 eu fiz uma reportagem para Life em Moscou e foi a última reportagem em cor a partir daí as revistas me respeitaram com fotó preto e branco e só me encomendaram preto e branco aí eu pude me dedicar a fundo
ao meu trabalho preto e branco você falando assim a gente vê os fotógrafos tem aí gente fotografando e tal sempre no meio das pessoas no movimento das ruas e é o trabalho Solitário na verdade não é é trabalho do Fotógrafo é um trabalho Solitário Olha eu lembro quando eu fiz o meu primeiro grande projeto eh foi aqui na América Latina eu fiz o primeiro livro foi o meu primeiro livro primeiro livro da lélia que ela desenhou um livro foi chamado outras Américas eu não tinha muito dinheiro para vir e passar duas TR semanas depois voltar
eu tinha que vir passar 2 3 meses às vezes 4 meses para eu rentabilizar a minha viagem então eu ia para essas comunidades indígenas nos Andes no Equador no peru não é e eu passava na Bolívia eu passava meses com esses indígenas entende e só você entende só não não é verdade eu passava com a comunidade eh O homem é um animal gregário quando quando você cha só numa comunidade você é assimilado tudo que eu tinha de essencial é com eles que eu falava não é isso eu tenho saudade da minha mulher falava que eu
tinha soldade da minha mulher do meu filho eh tudo que eu tinha eu eu comunicava e aquela sociedade me assimilava e eu passava a ser a minha sociedade mas tinha momentos rapaz de isolamento de saudade Olha era tão difícil era tão duro sabe e você tinha que ter uma certeza do que você estava fazendo de que você tava fazendo porque você gostava de fazer porque era a fotografia que tava essas fotografias no fundo para mim elas têm um valor muito grande porque foi um valor de um isolamento muito grande de uma saudade muito grande de
momentos difíceis então Eh fotógrafo é muito só realmente muito só mesmo se você tá no meio de uma multidão imensa fotografando cada um tá fotografando de uma forma porque a intervenção do Fotógrafo ele faz com o passado dele ele faz com a ideologia dele com todos o aparato de ideias que ele tem nesse momento naquela fração de segundo tudo isso tá concentrado naquele ponto e você precisa de muita concentração você precisa viver não é você mesmo naquele momento fazer aquela intervenção Então não é uma profissão que você exerce em grupo Você pode até explorar em
grupo como era o caso da agência magn que era uma cooperativa de fotógrafos mas a realização individual você diz H 4 meses e esse tempo todo fora de casa é e e a lélia segurava bem essa solidão segurava L segurava era muito difícil né a solidão dela minha solidão de de criar os filhos que nós temos dois filhos e a lélia que praticamente criou sozinha nossos filhos mas mas tinha a gente olha nós somos juntos des 1964 nós começamos já tem 50 anos que nós estamos juntos então a gente construiu uma vida junto na realidade
difícil saber quem eu sou quem a l então nós fizemos junos construímos tivemos momento difícil na na vida você viu a reação das mulheres então sa eu acho que isso uma coerência de vida sabe são todas a gente isso foi construído né foi feito então e mas engraçado que hoje eu tô aqui falando por um grupo de pessoas tem um livro que foi publicado você passa a ser eh uma pessoa quase pública não é isso aberta mas tudo isso não foi feito para ser publicado nada disso foi feito Foi simplesmente uma vida que foi vivida
não é foi os dramas que tiveram uma família foi as dificuldades que tiveram e e foi foi construído uma coisa dessa forma você entende as minhas fotografias que foram feitas para ser publicadas que foram feitas paraas Organizações humanitárias e tudo hoje adquiriram um valor imenso no mundo da entre aspas da arte né arte fotográfica e toda essa coisa então são as coisas meio inexplicáveis né que hoje é dessa forma mas que na realidade não foi construído para ser dessa forma nem da for desse livro Foi simplesmente construído para ser vivido você fala no livro de
um dos filhos você tem dois filhos e você fala no menino que tem trissomia que é a síndrome de Down e diz que graças a esse menino você adquiriu uma outra compreensão da vida e que isso te trouxe uma experiência que você não seria o homem que é hoje Se não tivesse tido esse filho não é verdade o nosso filho ninguém tá preparado para ter um um filho que tem um síndrome de Down ou que tem uma anomalia qualquer o nosso foi o síndrome de Down e quando esse filho chegou Foi um transtorno na nossa
vida não é até você eh encontrar a a solução existe uma solução a solução é que não tem solução que você tem que amar seu filho né E que você tem que viver e a partir daí você é uma riqueza muito grande e claro que as coisas mudaram na nossa vida di que só na minha você tá colocando no meu porque eu que tô aqui em frente a você mas é minha da lélia do nosso outro filho eh de todos entorno da gente da nossa família mais próxima então Eh mas foi a escola nosso filho
primeiro a gente sendo uma pessoa do mundo dito normal você só deu os normais raramente você vê na rua um anormal e quando você tem um filho anormal Quando você vai numa escola que só tem anormais e que você começa a conviver você já tem uma riqueza muito grande de sair na rua e de ver uma quantidade de anormais não é tem muito mais que a gente pensa n é muito grande eh esse filho ajudou a gente a a viver mais em comunidade não é isolou a gente muito porque nós tivemos que viver para ele
eh muitos do nossos amigos afastaram outros se aproximaram mais a gente teve que houve uma reorganização da nossa vida e a gente começou a participar no mundo de solidariedade porque quando você entra no mundo desse é um mundo fabuloso você encontra um grupo de professores que são que dão a vida para essas crianças né você encontra os outros Pais você encontra todos os os os os que TM os as deficiências entre eles existe uma solidariedade tão grande entre eles um amor entre eles e na realidade na realidade uma outra normalidade que é uma normalidade também
então foi uma coisa no fundo foi riquíssimo na nossa vida agora mudou toda a nossa vida né toda a nossa vida nós por exemplo tínhamos muita vontade de voltar pro Brasil eh naquela época que foi ele nasceu naquela época de de de retorno ao Brasil época de anistia e nós não não voltamos porque as possibilidades que tinham para uma criança deficiente na França eram muito maiores do que as que tinham no Brasil aqui tinha sim mas para uma alta burguesia não é e que não era o nosso caso então na França era para todo mundo
então nosso filho teve uma grande assistência e tudo então nossa vida a partir do Nascimento dele foi construída muito em torno dele e hoje ele tem ele tem já já ele nasceu em 1979 Rodrigo vai fazer 35 anos então foi muito rico a nossa relação nós estamos nessa conversa milhar você no livro fala do seu pai diversas vezes e e com muita admiração foi uma figura muito forte na sua vida não Sebastião meu pai foi uma figura muito forte muito estrita meu pai foi um um homem como a gente dizer no interior dos antigos sabe
meu pai nunca contou uma mentira jamais eh ele era eu tenho sete irmãs Olha era tão estrito com as minhas irmãs e comigo mesmo e foi foi pai foi muito interessante mas agora eu não falo muito nesse livro mas minha mãe foi muito interessante também minha mãe foi uma personalidade fantástica Eu adorei minha mãe tem uma coisa que eu não contei nesse livro e quando eu descobri minha mãe descobri que eu gostava da minha mãe eu eu antes de querer ser fotógrafo de querer ser engenheiro mecânico de querer ser advogado eu quis ser piloto então
é impressionante né é eu em 19 59 eu me preparei para ser Cadete da Aeronáutica então eu estudei encomendamos as as apostilas que vinha da Aeronáutica diretamente eu me preparei para ser Cadete de aeronáutico eo aí mas um amigo meu da minha do interior de minha pegamos o trem eram 9 horas de trem até chegar em Vitória no Espírito Santo e pegamos um ônibus pro Rio de Janeiro e f pro Rio de Janeiro fazer o concurso e fizemos o concurso e tivemos que esperar uma semana no Rio de Janeiro para saber se passamos ou não
fomos aprovados ou não olha me deu uma saudade da minha mãe uma saudade tão grande que até hoje eu não sei se eu passei ou não eu voltei eu fui embora quat C dias depois daquela prova eu peguei o ônibus e fui embora olha eu lembro que eu cheguei na minha cidade um domingo o trem chegava às 11 horas da manhã eu fui na minha casa minha mãe e meu pai não tavam eu tinha ido paraa fazenda fazenda próximo à cidade eu fui a pé eu lembro quando eu abri a porteira da Fazenda minha mãe
me viu devia a casa da da Fazenda devia estar mais ou menos 800 m 1 km um pouco mais a minha mãe veio correndo me deu um abraço naquele momento eu descobri descobri minha mãe o amor pela minha mãe olha foi um negócio assim tão forte sabe então Eh sei lá são esses os momentos da vida né deixa fazer uma pergunta que eu fiquei muito intrigado no livro porque é uma uma coisa tão interessante você fez esse trabalho em Ruanda primeiro foi para lá conheceu pessoas fez amigos lá né um amigo especialmente que ao qual
você se refere no livro eu não vou ser capaz de repetir o nome dele por razões óbvias e E aí todo esse trabalho de importância social para aquela gente toda e depois você voltou para Ruanda na época da tragédia entre entre os tuttis e os utus nãoé comenta faz um paralelo entre essas duas viagens para quem não leu o livro Pois é o Ruanda para mim foi um país muito importante na minha vida tant issso porque a minha primeira missão como economista foi no Ruana e tinha um senhor que chamava José munha quind ele era
responsável pelo Ofício de Cultura industrial de randa que era a a a o o escritório das culturas industriais do Ruanda e ele ele que vinha em Londres representar a organização na o país dele na organização na época dos grandes meetings que tinha na na organização internacional do café e quando eu fiz minha primeira viagem no Ruanda ele que foi o meu guia no Ruanda então nós viajamos juntos alugamos tinha um um um um Fusquinha naquela época alugamos um Fusquinha no Ruanda e viajamos Ruanda inteiro Passamos um mês juntos Olha foi uma coisa fantástica e depois
quando o José monha quind de ia em Londres ia comer lá em casa nós ficamos muito amigos entende e passado muitos anos eu quis fazer eu fiz um livro que foi publicado aqui pela companhia das leas chamado trabalhadores e eu resolvi voltar ao Ruanda e integrar no livro a plantação industrial de de chá que nós tínhamos desenvolvido a cultura do chá no Ruanda né empregando 32.000 família e eu voltei no Ruanda para para fotografar integrar o chá nesse trabalho no no trabalhador encontrei o José muí que me ajudou muito nessa época já tinha uma atenção
muito M grande no randa muito muito forte a mulher dele era Tutsi ele era utu e a mulher dele estava presa foi muito difícil que a guerra já estava se preparando e ele conseguiu que um amigo dele me alugasse um carro e e nós fizemos uma viagem e foi uma viagem muito dura Porque Nós já tínhamos controle do exército do Ruanda nós tivemos 16 controles em 250 km de estrada um negócio difícil complicado mas fiz o trabalho so buch e um dia Eu telefonei para mha lá de onde eu tava porque eu não conseguia falar
com o senhor que tinha me alugado o carro e ele falou olha o senhor que te alugou o carro ele era um Tut e o exército er utu vieram na casa dele e assassinaram então a tão já estava muito forte Eu lembro quando nós chegamos em em kigali capital do Ruanda ele me deu uma carta para me levar paraa Europa para fazer pressão ele trabalhava muito com aer que era uma uma grande organização humanitária alemã e ele já não estava mais trabalhando com o governo porque a mulher dele era Tutsi ação estava muito grande e
depois na guerra na guerra que houve no Ruanda em 1900 904 95 eu ele foi assassinado ele a mulher todos os filhos então foi um negócio assim muito difícil mas eu voltei no Ruanda fiz meu trabalho fiz o trabalho durante a guerra e fiz depois da guerra engraçado Até recentemente quando eu fiz esse novo livro que saiu agora o gênesis que eu tive que fazer todas as coisas pristinas eu voltei no randa voltei nos mesmos lugares eu sempre voltei no Rana então Rana para mim é uma espécie de de centro do mundo sabe onde eu
eu rodei muito em volta porque lá que você tem o a última reserva no mundo dos Gorilas de montanha eh e tem uma cadeia Fabulosa de de de vulcões que eu pude trabalhar lá também então o randa para mim sempre foi alguma coisa muito muito especial Você tem uma foto que eu confesso na minha ignorância não sabia que essa foto do do da tentativa de assassinato do rean você Man tem essa foto meio secreta Sebastião não é olha eu eu tava trabalhando na Austrália eu queria voltar pros Estados Unidos então eu troquei meu bilhete tinha
um fotógrafo chamado Ward Ward era um fotógrafo inglês que ele ele tinha uma passagem via São Francisco Nova York Londres e a minha passagem era Sydney Londres ele precisava voltar muito rápido então nós tocamos ele voou como Sebastião Salgado eu volei voei como naquela época você não tinha não existia essa segurança né você bilhete você entregava o bilhete o cara de canima e era polícia que via seu passaporte e você embora então voei no nome dele e ele voou no meu nome então eu cheguei em Nova York eu e um amigo nosso Fred Rich que
era editor de fotografia do New York Times ele pediu para mim fazer um retrato do presidente eu eu já tava na Magno nessa época então eu falei por não e eu mas só que eu tava trabalhando na Austrália eu tava fotografando Canguru você entende fazendas de canguru e fotografava a noite trabalhei numa mina de como é de Opala né de Pedras de Opala e E voltei para eu não tinha roupa Então os fotógrafos da magre juntaram um emprestou um palitó outro uma calça uma camisa porque a a a a a a esposa do presidente heagan
ela era muito estrita você tinha que se apresentar muito bonitinho na na Casa Branca Então eu fui equipadinha dos outros soldos da máquina eu lembro que o Bruce Davison me prestou uma calça o Henrique artman prestou um palitó mas ele tinha uns braços muito curtinho eu tinha que estar com o braço assim se eu fizesse assim a manga do palitó dele tinha Cairo Mas enfim foi e foi minha primeira viagem em Washington nunca tinha estado em Washington eu cheguei em Washington um sábado eu fui à Casa Branca me preparar no domingo pela manhã o presidente
Reagan saiu especialmente para mim fazer as fotografi porque que ele não estava bem nas pesquisas de opinião New York Times maior Jornal dos Estados Unidos ia dar uma capa e 10 páginas Então eu tinha a responsabilidade de fazer essas fotos e fiz e no segunda-feira pela manhã el me apresentaram ao presidente eu estava trabalhando na Casa Branca fiz algumas fotografias e à tarde ele ia fazer uma conferência pros líderes da indústria de construção americana no Hotel Hilton de de Washington dos hotéis Hilton de Washington eu falei pro pro pessoal da Casa Branca que eu queria
ir eu precisava de fazer porque realmente eu precisava eu tinha que ter todas as possibilidades para fazer uma capa e 10 págin eles fal ó salgado aqui dentro da casa branca nós te você pode fazer o que você quiser mas fora da Casa Branca nós não podemos te acreditar eu falei mas eu tenho que fazer essas fotos t aí che de de de reportagem de comunicação da casa branc falou olha Encontramos uma solução Você vai no carro de segurança e e nós vamos te dar um agente do FBI e ele vai te proteger você vai
viajar andar com ele onde ele for você vai falei perfeitamente aí eu encontro o agente ele me põe dentro de um caminhão um desse caminhão baú entramos no camião ba lá tinha mais de 30 agentes todos em civis com Uzi com pistola outras metralhadoras dentro da roupa com capa de chuva aquela coisa cheio de arma e gozando da minha cara o tempo todo né né porque o meu inglês de brasileiro eles morriam de rir e o meu agente era muito popular que era o agente da principal próximo do presidente que estava me trazendo e naquela
viagem da da da Casa Branca ao hotel eu fiz uma relação com aquele grupo de policiais todo bom entramos no Hotel Presidente falando eu fotografando um momento próximo do fim eu vi três fotógrafos saindo por dentro do hotel por trás e eu perguntei meu agente onde é que esses caras estão indo falou olha tão indo pra porta esperar o presidente sair eu falei eu também quero ir falei não esses aí tem autorização para ir por ali você não pode passar porque eles estão de Pool um fotógrafo de Pool eh é um fotógrafo que quando um
presidente tá você não pode ter 200 presidentes então 200 fotógrafos em volta e eles tinham que fotografar e dar de graça as fotografias dele para todos os outros jornais eles distribuíam então eles estavam autorizado eu falei pro meu agente mas como é que que eu faço tá na porta el falou assim olha você tem que passar por dentro do hotel eu falei vamos embora eu comecei a correr e ele correndo atrás de mim falava assim olha salgado quando tem um presidente dos Estados Unidos perto Se você correr a gente risca de te atirar atirar em
você eu falei ah mas tem você me protegendo aí ele botou uma placa do FBI na mão eava FBI FBI eu correndo correndo atrás quando mais louco do que você né É E ele era muito gordo ele corria com muita dificuldade mas tava palitó gravata aí quando nós fomos chegando na porta do hotel o presidente tava saindo eu tava com a laica M5 na mão e um flash porque eu tava trabalhando em cor a minha encomenda era em cor e aí rapaz quando eu vi o presidente sair eu ponho a a a laica com 50
mm forou fazer minha foto eu escuto os ti mas eu pensei imediatamente acostumado com o nosso Presidente latino-americano africano pensou que aquele era foguete foguete foguete mas imediatamente você sente que não é foguete é muito seco o tiro a diferença de foguete dá uma diferença imediatamente eu notei que não era falei Putz tá vendo alguma coisa errada então eu tirei aquela foto eu tenho uma foto do Presidente o momento que o cara tá tirando nele e como eu tava correndo eu continuei quem tava fazendo a segurança eram meus colegas do caminhão baú eles me permitiram
entrar eu fui o único fotógrafo que fotografou a cena todinha porque os outros três estavam de p estava atrás do carro do presidente eles ficaram preso ali a segurança não deixou eles mover e eu era colega deles entrei praticamente um agente n eu fiz tudo meu fotografei eu eu tinha a minha 28 mm eu fotografei fiz tudo tive tempo de tirar a 28 e passar para para outra outra Câmara de luz artificial aí as cor das as cores já não foram mais a mesma eu tenho uma foto do Brad que é o o assessor de
imprensa que levou um tiro na cabeça ele tinha caído eu tenho uma primeira foto ele tá caído no chão um pouco de sangue e eu vou fotografar quando eu volto eles viram que ele não tava morto Colocaram um lenço mas já tinha uma poça de sangue em torno da cabeça dele eu voltei fotografei outra vez mas já com luz artificial e as fotos ficaram um negócio terrível surrealist o sangue ficou Violeta porque o filme tinha era 3200 G Kelvin é um filme muito azul que é um filme para interior para compensar essas luzes vermelhas Então
foi uma coisa especial e eu tinha a impressão que a cena tava indo uma velocidade incrível que eu tava fotografando em câmara lenta depois um médico me falou que era o tempo que a ordem ia no cérebro que eu executava eu tinha uma defasagem entre mas na realidade Olha tudo durou um minuto foi um minuto atentado porque tinha uma câmera fixa e depois eu vi todo o atentado através dessa câmera F cronometrei foi um minuto eu fiz 76 fotografias no minuto então eu tava fotografando uma velocidade incrível eu usei Praticamente tudo que eu tinha e
o atentado acabou entende e E aí todo mundo foi embora eu perdi meus agentes perdi o pessoal da casa branca seus colegas osgas desculpa uma per você saiu atrás do Autor do atentado por acaso não não eu o ator tava ali eu tenho foto dele eu tenho tudo ali tudo aconteceu aí quando todo mundo foi embora eu não tinha um tustão no bolso porque eu não precisava eu tinha deixado meu dinheiro no hotel eu tava na casa branca acos com os caras e naquela época você não tinha você não podia com cartão tirar dinheiro né
porque não existia isso A então eu tive que vir a pé desse hotel até a Casa Branca levei mais de hora de 1 hora e meia caminhando perdendo dentro de was e cheguei mas quando eu cheguei na Casa Branca Eu telefonei para New York Times e falei pro nosso amigo pro Fred eu falei Fred mataram a nossa história porque hoje com esse atentado não vão me deixar viajar no avião do presidente que dois dias depois eu tinha que viajar no No Air Force Number One com o presidente pro Will nois para fazer as fotografias e
ele falou Sebastião você fez as fotos eu falei fiz Olha então você fez uma grande história com o presidente foi atingido ele tá entre a vida e a morte no hospital aí eu falei Será que as minhas fotos tão boas s e aquela questão né e eu tinha dois filmes cod Chrome o cod Chrome é um filme complicado porque você tinha que entrar num num sistema de revelação da Kodak que levava no mínimo uma semana para revelar pro New York Times eu tinha tempo que a minha história I sair dois meses depois e eu falei
como é que eu vou fazer aí o Fred telefonou pra Kodak a Kodak parou toda a revela ação e revelaram em uma hora revelaram meus filmes foi todo o sistema Industrial dele parou para revelar os dois filmes e o filme luz artificial fui pro laboratório do New York Times revelaram eu tive uma sorte muito grande porque e o eu tava trabalhando pra revista e o e o revista do New York Times do New York Times o suplemento o New York Times Magazine e o da o cotidiano precisavam das fos para outro dia então eles fizeram
o negativo do meu das minhas cores e publicaram no outro dia porque naquela época os cotidianos era todo em preto e branco e fazendo isso legalmente eles me liberaram do do meu contrato que eu tinha com a revista eles já tinham publicado as fotos então a Magnum eu uma pessoa da magn veio a Washington levou levaram levou os originais para para Nova York e à noite os originais já estavam em Nova York eles fizeram as duplicatas e distribuíam para todas as revistas no mundo inteiro mas foi uma coisa para mim financeiramente foi fabuloso para Magnum
também você entende mas foi uma história perigosíssima porque eu lembro quando eu voltei paraa Casa Branca aí eu era o único fotógrafo mas o fotógrafo do presidente que andava por lá mas um fotógrafo outro perdido tinha mais de 600 fotógrafos todas as televisões do mundo já estavam lá entende então eu não tinha mais nada para fazer e eu encontro um fotógrafo que tirou um cartão bolso que dizia fulano de tal presente no atentado de um dos regans eu não sei se foi o John ou se foi o Robert aí imediatamente eu realizei Olha eu risco
de ser marcado carimbado como a pessoa que mais fotografou atentado do presidente Reagan bom as fotos foram publicadas voltei para para Paris discuti com a lélia e nós resolvemos tirar essas fotografias de circulação ninguém nunca mais Viu essas fotografias fo fotog graias de um minuto que nós ganhamos uma quantidade razoável de dinheiro mas que tinha um risco brutal de me carimbar pro resto da vida de uma certa forma então quase ninguém sabe que eu fiz essa fotografi foi só na época resolveu os problem você visitou 120 países eu vou te confessar uma coisa que eu
eu não sinto inveja dos outros porque sei lá fiz muita coisa na vida que queria eu fiz E continuo fazendo e eu sempre tinha em mim que eu às vezes me analisava profundamente mesmo para saber não tem nenhuma pessoa assim que eu inveje que eu gostaria de fazer o que aquela pessoa faz Talvez um artista de cinema eu não gosto também E aí mas lendo o seu livro eu fiquei morrendo de inveja tá bom não de fotografar porque não não tenho esse esse barato da fotografia mas de andar pelos lugares que você andou sabe eu
tenho muita curiosidade mesmo sabe essa coisa das periferias dos ambientes marginais das pessoas marginalizadas são 120 países você fez isso um sonho que eu tenho de fazer no Brasil e que eu vou fazendo assim devagarinho e tal você nem sei se eu vou ter tempo de vida para fazer você fez pelo mundo inteiro não é isso é me deixou muito invejoso mesmo essa possibilidade né você faz planos ainda para Tem coisas que faltam na sua carreira deixa eu te falar eu tive em mais de 120 países é verdade mas eu nunca saí da minha cidade
do interior de Minas ainda vivo lá até hoje de uma certa forma porque eu sou muito ligado sabe o meu interior a nossa cidade eh nós temos uma casinha aqui no Brasil é lá em Vitória lá onde a lélia nasceu nosso projeto é lá onde eu cresci então eu na realidade o meu umbigo tá ligado a isso aqui de de mas e viajando esses anos todos eu descobri uma coisa muito importante é que a gente criou umas coisas artificiais que a gente chama Fronteira não é porque qual a diferença que você tem saindo da fronteira
do Brasil entrando na Bolívia é o mesmo planeta são as mesmas pessoas não é isso são as mesmas coisas e é o mesmo ser humano e não tem diferença nenhuma a gente muda um pouquinho a cor da pele sabe mas o que é essencial para um é essencial para outro eh tem uma diferenc de língua Olha eu fui trabalhar uma vez na Indonésia numa mina de enxofre no vulcão no car e eu fiquei lá com equipe tirando enxofre que o vulcão cpia aquele enxofre toda a noite manhã sedo com aquelas aquelas barr de Ferro quebrar
transportar ninguém falava uma palavra de inglês de nenhuma língua que eu podia me comunicar eu não falava nada de de de javanês e olha eu fiquei tão amigo daqueles caras que o dia que eu fui embora eu saí chorando e eles ficaram chorando você entende então Olha nós somos um animal gregário Nós somos o mesmo animal no planeta inteiro então talvez isso de eu viajar todos esses anos de eu frequentar todas essas sociedade frequentar mesmo porque eu passar três 4 meses no interior de um país você vê muita coisa você conhece muita gente me me
permitiu ver que que não existe estrangeiro que não existe diferença que África Brasil Ásia o comportamento básico é o mesmo todo mundo ama da mesma maneira todo mundo sofre da mesma maneira o que é essencial para um é essencial para outro olha nessa viagem que eu fiz pro Gênesis eu descobri que nós sou muito mais velho que nós imaginamos eu encontrei sociedades que são como nós fomos há 9.000 anos 10.000 anos o zoé que eu encontrei aqui no norte do na Calha Norte do Amazonas a uns 300 km dentro da Mata de Santa aré Esses
zoir foram contactado relativamente pouco tempo mas olha Eles amam os filhos deles do jeito que eu amo os meus Eles amam as mulheres deles as mulher deles amam os homens da mesma maneira que eu amo a minha você entende O que é essencial continua sendo essencial 9.000 anos 10.000 anos depois você entende eh eles têm a tecnologia que nós temos hoje olha eu aprendi uma coisa Fabulosa com esse zoia eu tava com anelia ruda que era a linguista de Brasília que veio comigo a Ana ali viveu a lélia veio depois nós ficamos juntos lá um
tempão naquela mata e um dia nós estavam caçando e o hipó o o meu amigo nós ficamos amicíssimo o hipó ia tirar uma flecha e eu tava uns 15 M dele fotografando aí ele pediu anç ali para mim sair de lá que a flecha dele ia cair lá aí eu vol teri su ali ele tá seguro que ela vai cair aí ele me explicou queria botar inclinar a pena dele um pouquinho mais um pouquinho menos que a flecha dele ele ia tirar se ele errasse o macaco a flecha dele ia fazer um movimento ia entrar
ali aí eu falei merda é a técnica que nós temos de lançamento de foguete a gente já conhecia a balística perfeitamente nós lançamos um foguete ele sai da estratosfera e ele Vent ele penetra outra vez você calcula e ele cai naquele lugar assim e a gente já fazia a mesma coisa 10.000 anos atrás e nós conhecíamos a balística perfeitamente nós só fizemos quantificar colocar matemática dentro daquela trajetória para calcular o movimento o que a gente fazia antes você entende instintivamente eu vi esses índios atiraram uma flecha ela caía ele atirava a segunda dentro da trajetória
da primeira se ela não caísse ao lado e cruzasse o alto com a outra a flecha estava com defeito ele pegava flecha ele esquentava outra vez ele atirava de novo ele Calculava a trajetória matematicamente esses índios tem antibiótico eles têm antiinflamatório tudo que nós temos nós só fizemos eh em grande quantidade fizemos sintetizamos uma quantidade de produtos naturais para atender uma grande população mas o que é básico O que é essencial nós sempre tivemos nós somos a mesma espécie há 10 a 50.000 anos nós mudamos muito pouco e esse conceito de Fronteira eu perdi você
entende a viagem de Gênesis que eu fiz eu fiz durante 8 anos eu rodei 32 regiões o país no mundo mundo inteiro mas a maior viagem que eu fiz no Gênesis foi dentro de mim mesmo Descobrindo a minha relação comigo mesmo através dessas populações que fui eu mesmo há 10.000 anos 50.000 Anos Atrás a relação com o meu planeta que o meu planeta é todo completamente vivo eu descobri que se eu tivesse a capacidade de ver o mundo não nos 80 90 anos da minha vida muito curta se eu tivesse capacidade de ver em 10.000
anos em 100.000 anos eu ia ver que aquelas montanhas que eu pensava que era natureza morta Elas são tão vivas quanto eu eu vi árvores de 4.000 anos que um cientista mostrou olha essa árvore foi queimada desse lado há mais ou menos 2.000 anos ela lá produzindo folha produzindo fruto abrigando pássaro Sabe aquela árvore tão forte como um ser humano sabe então nós fazíamos parte de um todo e e e e na realidade não existe Brasil não existe França existe um nosso planeta não é isso e que isso eu descobri para mim para mim é
isso entende por isso que eu nunca saí da minha Téo [Aplausos] obrigado n