No vídeo de hoje, eu vou revelar uma das maiores farsas da saúde no Brasil. A farsa dos suplementos. Pílulas, cápsulas, misturas para bebidas e até balinhas contendo vitaminas, minerais, e outros nutrientes à vontade.
Produtos que prometem melhorar a saúde e oferecem beleza e bem-estar de forma 100% segura e natural. Mas que na verdade estão enganando milhares de pessoas. Me conta aqui nos comentários se você tem costume de tomar alguma vitamina ou suplemento para cuidar do corpo e da mente.
Eu vou te contar como a indústria das vitaminas está te enganando sem você perceber e como você mesmo pode identificar falsas promessas para não cair nessa armadilha. Será que todos esses suplementos realmente cumprem o que prometem? Foi essa a pergunta que deixou Lucrécio e Lucrécia pensativos.
Lucrécio, sempre atento às novidades do mundo fitness, reparou que todos os seus amigos tomam creatina, para acelerar os resultados da academia. Ele também descobriu que dormir bem é fundamental pra saúde dos músculos. Enquanto pesquisava sobre isso na internet, apareceu na tela um anúncio de melatonina prometendo um sono mais restaurador.
Lucrécio nem pensou duas vezes, comprou creatina e melatonina. Algo parecido aconteceu com a Lucrécia. Ela viu uma influenciadora que tem a pele impecável falar bem do colágeno, dizendo que ele é um verdadeiro milagre para a pele.
No mesmo dia, a Lucrécia viu na televisão que uma empresa famosa tinha suplementos de colágeno em promoção. Ela aproveitou para comprar colágeno e um pote daqueles multivitamínicos de A a Z buscando aumentar a imunidade. Afinal, é sempre bom cuidar da saúde né?
Tanto o Lucrécio quanto a Lucrécia perceberam a variedade de suplementos que existem por aí. Eles vêm em forma de comprimidos, cápsulas, sachês, balinha de goma e até como mistura para bebida sabor chocolate. E é cada promessa mais tentadora que a outra.
Me diz aí se você não adoraria ter mais energia e disposição só tomando um chocolate cremoso pela manhã, como diz esse anúncio? Agora olha este. Quem não quer evitar a queda de cabelo, fortalecer as unhas ou quem sabe perder peso tomando uma cápsula sabor morango por dia?
Vendo anúncios de suplementos, parece que obter esses benefícios é algo simples, afinal, bastaria tomar o suplemento. Mas a verdade é que o benefício que o suplemento oferece depende muito da sua saúde, da sua rotina e até o ambiente onde você vive. Os fabricantes de suplementos sabem que nenhum suplemento faz esse milagre todo.
Mas eles se aproveitam de brechas da lei e estratégias baixas para enganar pessoas como eu e você. Pessoas que só querem mais qualidade de vida mas não têm tempo de fazer grandes mudanças na rotina e na alimentação. Uma das estratégias é distorcer informações verdadeiras sobre a ação de uma substância no corpo para parecer que o suplemento que contém aquela substância é a oitava maravilha do mundo.
E a partir de agora eu vou usar o exemplo do colágeno que a Lucrécia comprou para entender como essa estratégia funciona na prática. O colágeno é uma proteína que o nosso organismo produz para dar suporte, firmeza e elasticidade à pele e outras estruturas do corpo. 80% da pele é colágeno, mas essa quantidade diminui aos poucos com o passar dos anos, o que contribui para a flacidez e para as rugas que aparecem com o envelhecimento.
Agora, se a sua pele está mais flácida e enrugada pela falta do colágeno, a solução mais óbvia seria dar ao corpo o colágeno que está faltando, né? Não importa se essa suplementação de colágeno vai vir em cápsulas, balas de goma ou misturas para bebida, o importante é que estamos dando colágeno pra quem precisa, nossa pele, certo? Pelo menos é isso que as marcas de colágeno dizem.
Muitas inclusive afirmam que é cientificamente comprovado que tomar colágeno melhora a aparência da pele. Faz sentido na teoria. Apesar do colágeno ser uma proteína que dá suporte à pele, não tem garantia nenhuma que o colágeno que você tomou vai ser direcionado para a pele ao invés de ser usado para produzir proteínas mais importantes que o corpo precisa naquele momento.
Principalmente se você tem uma alimentação pobre em proteínas, como a maioria das pessoas. Uma cápsula de colágeno vai servir mais como suporte nutricional, não como suplemento para a beleza da pele. E se você já consome a quantidade ideal de proteínas todo dia, também não dá para garantir que o colágeno vai gerar algum benefício na pele.
Essa história da ineficácia do colágeno pra pele é tão real que a Anvisa proíbe suplementos de dizerem que eles melhoram a pele ou façam qualquer alegação nesse sentido. Isso vale para o colágeno tipo I, tipo II e o colágeno hidrolisado que são os mais comuns por aí. Nas propagandas, o fabricante pode colocar no máximo, afirmações como “Fonte de proteínas” ou “As proteínas auxiliam na formação de músculos e ossos”.
Afinal, colágeno é um tipo de proteína. E você pode checar essas informações acessando o sistema de alegações da Anvisa, que eu deixei no primeiro comentário fixado. É lá que você vai ver o que cada suplemento pode afirmar ou não pode.
Mas se os suplementos de colágeno não podem dizer que fazem bem para a pele, por que tem tanto suplemento de colágeno que promete isso por aí? Agora vocês vão entender a estratégia. Para continuar usando essa promessa sem receber uma multa da Anvisa, sabe o que muitos fabricantes fazem?
Eles colocam dentro desse suplemento de colágeno uma outra substância que a Anvisa permite dizer que contribui para a manutenção da pele. Um exemplo é a substância biotina também chamada de vitamina B7, uma vitamina produzida pelas bactérias do seu intestino e presente em vários alimentos que você come, como carnes, leite, ovos e frutas. A biotina é tipo uma assistente que ativa reações vitais do corpo, incluindo a de produzir energia.
Ela também ajuda a produzir alguns componentes da pele, daí a indústria dos suplementos se aproveita disso para colocar ela dentro dos produtos e alegar benefícios para a pele à vontade. Mas mesmo a biotina não faz milagre. Ela é só uma vitamina que contribui para a MANUTENÇÃO da pele, de acordo com as alegações que a Anvisa permite.
O que é bastante diferente de ter um efeito de melhorar a aparência da pele. Mas no fim das contas, até isso é distorcido. Me conta aí se não tem suplemento prometendo “diminuir rugas” ou “combater a celulite” Faria até mais sentido vender a biotina pura, já que ela realmente tem alguma ação na manutenção da pele.
Mas o fabricante sabe que o que vende é o colágeno. Tanto que a biotina fica pequena na lista de ingredientes, enquanto o colágeno aparece em letras bem grandes no rótulo, mesmo sem benefícios comprovados para a pele. Ou seja, nessa confusão toda, a nossa amiga Lucrécia que só queria ter uma pele bonita comprou biotina, um nutriente que provavelmente ela não precisa.
E pagou pelo preço de colágeno, que é a substância famosa que chama a atenção das pessoas. A Lucrécia foi enganada pela indústria dos suplementos e gastou dinheiro atoa, infelizmente como acontece com milhões de pessoas. Ela é só mais uma entre muitas pessoas que confiam nas recomendações de influenciadores.
Mas não é culpa dela. Usar influenciadores é parte da estratégia dos suplementos também. Quando você acompanha toda a rotina de um famoso nas redes sociais e vê ele falando bem de um suplemento, aquilo não parece uma propaganda.
Parece uma dica dada por um conhecido que você admira. E é muito mais fácil a marca colocar um influenciador para dar um depoimento de que o produto melhorou a pele, melhorou o cabelo do que colocar isso no rótulo do produto e correr o risco de tomar uma advertência da Anvisa. Eu sei que é impossível você mergulhar nos estudos científicos sobre cada produto que você usa no seu dia a dia.
Até para mim, que tive uma formação científica e já estou acostumado, é uma tarefa trabalhosa. Eu já vou contar outras estratégias sujas dessa indústria, mas calma que existe solução. Eu e a Bruna, roteirista aqui do canal, pesquisamos a fundo, conversamos com especialistas da Anvisa e até com pessoas do Direito para expor essa e outras estratégias pesadas da indústria dos suplementos.
Nós contamos tudo de forma bem completa em um episódio dedicado a isso do podcast Ciência Suja, um dos maiores podcasts sobre ciência do Brasil. Eu vou deixar o link do episódio sobre suplementos na descrição para você ir lá conferir depois do vídeo e ficar tão chocado como eu fiquei com os absurdos desse mercado. Mas continua aqui comigo porque você não precisa quebrar a cabeça tentando adivinhar qual suplemento vale o seu dinheiro ou não.
Bora para as dicas que vão salvar o seu bolso e a sua saúde. A primeira coisa que você precisa saber para não cair em furada é que os suplementos estão dentro da categoria de alimentos. Suplemento não é medicamento, pessoal.
Sejam eles vitaminas, minerais, proteínas ou qualquer outro tipo de substância, os suplementos servem para te dar acesso a nutrientes com alta pureza e qualidade e, assim, suprir uma coisa que está faltando na sua alimentação. É isso que o Lucrécio vai ter com o suplemento de creatina, uma molécula que comprovadamente dá energia aos músculos e que nem sempre nós ingerimos de forma suficiente. Já a melatonina que ele comprou… não vai melhorar o sono como os anúncios falavam.
Ela está em uma dose baixa que não tem nenhum efeito comprovado no tratamento de insônia. A verdade, galera, é que por mais que vários suplementos, incluindo a melatonina, falem aí que melhoram o sono, nenhum suplemento vai prevenir, tratar ou curar problemas de saúde. Se a melatonina realmente resolvesse distúrbios do sono e se as vitaminas de A a Z que a Lucrécia comprou realmente aumentassem a imunidade, eles seriam medicamentos, não suplementos.
A regulamentação da Anvisa é bem clara quanto a isso… medicamentos passam por avaliações rígidas de dosagem, composição, eficácia e risco de eventos adversos. Já os suplementos, nem precisam de registro. Depois que uma substância entra na lista de suplementos da Anvisa, qualquer empresa já pode fabricar e vender com pouquíssima burocracia.
E se você está chocado que a melatonina foi aprovada sem qualquer eficácia como suplemento, eu reforço a importância de ouvir o episódio completo do ciência suja pra entender a história história realmente, porque não dá pra explicar em um vídeo de 10 minutos aqui. Mas existe esperança. A partir de setembro de 2024, entra em vigor a nova regra da Anvisa que vai balançar a indústria de suplementos.
Ela exige que todos os fabricantes entrem em contato com a Anvisa avisando que pretendem vender um suplemento. Provavelmente vai ser preciso enviar o site, enviar as propagandas de venda, enviar todos os materiais de anúncios e assim a Anvisa vai saber exatamente quais produtos estão à venda e o que eles estão alegando. E eu realmente espero que essa medida diminua a quantidade absurda de propaganda enganosa que tem por aí.
Mas enquanto isso não acontece, fica ligado nos suplementos que prometem benefícios para a saúde, tipo emagrecimento, potência sexual ou maior atenção e foco. Toda vez que um suplemento falar que ele melhora algum aspecto da sua saúde, corrige algum defeito, corrige alguma doença, te previne de alguma coisa, tá errado! Os suplementos estão aí pra suplementar o que falta na sua alimentação e pensa como um alimento.
Assim como qualquer alimento, eles não são capazes sozinhos de fazer nenhuma diferença. Eles só vão repor o que está faltando. Eles são indicados em casos de deficiência de nutrientes ou caso você precise de uma dose maior daquela substância, como por exemplo quem busca proteína através de um whey protein para obter hipertrofia muscular.
Nesses casos funciona porque a pessoa vai precisar de mais proteína. Muito cuidado porque inclusive aqui no YouTube, nós não conseguimos controlar tudo o que aparece de anúncio para você e é bem provável que alguns de vocês já tenham recebido anúncios de suplementos aqui nos vídeos do canal. Se você está na dúvida sobre um suplemento que parece fazer sentido, procure um profissional da saúde para te orientar, não compre por conta própria.
Da mesma forma que você, que sofre de dores nas articulações, não deveria procurar um quiroprata sem antes ver este vídeo aqui. Nele eu explico porquê. Um grande abraço, suplemento não é medicamento e diga Olá Ciência.
Tchau.