Seres humanos são fascinados por teorias da conspiração. A ideia de que existe um grande segredo sendo escondido pelos poderosos e que ele pode ser revelado a qualquer momento. Isso é algo que atiça a nossa curiosidade.
Mas como você já deve ter percebido, a maior parte das teorias da conspiração, no fim das contas, é sempre uma grande mentira. É o caso, sei lá, das teorias que dizem que o homem nunca pisou na lua. Por outro lado, algumas teorias realmente se provam verdadeiras.
Durante muito tempo, por exemplo, houve quem dissesse que o governo dos Estados Unidos espionava cidadãos americanos e também de outros países. No fim das contas, o ex-agente da CIA, Edward Snowden, revelou o programa Prism e provou para o mundo que isso realmente acontecia. Isso mostra que nem sempre é fácil cravar se uma teoria da conspiração é só fruto de uma imaginação criativa ou se ela pode realmente ter um fundo de verdade.
Mas e se eu te dissesse que existe um cálculo que ajuda a trazer essa resposta? Eu estou falando realmente de uma conta matemática que busca descobrir se os teóricos da conspiração podem ter razão ou se eles inventaram uma história tão mentindo pra você. Pode parecer estranho, mas essa equação existe.
E é essa daqui. Só antes de te mostrar como essa equação funciona, você sabia que a Alura está com desconto de 15% pra você que acompanha o Ciência Todo Dia? A Alura tem mais de 1400 cursos pra você aprender novas habilidades que vão te fazer uma pessoa mais completa.
Eu fiz esse curso aqui pra melhorar os meus prompts do chat GPT e valeu a pena cada minuto. Não perca tempo porque um desconto bom assim não dura pra sempre. Clica logo no link da descrição.
E agora, de volta à equação. Pra você poder entender como funciona a equação, primeiro nós precisamos definir o que exatamente é uma teoria da conspiração. Basicamente é qualquer história que diz que algumas poucas pessoas escondem um grande segredo do resto da humanidade.
Ou seja, é o pensamento de que um governo ou uma empresa ou qualquer outro grupo de indivíduos está por trás de algum tipo de trama misteriosa. E os assuntos são os mais variados possíveis. Existem teorias da conspiração ligadas à ciência, à política, à cultura, ao esporte, mas seja qual for o tema, todas têm em comum a ideia de que, atenção, você está sendo enganado.
Quanto mais enigmática é uma teoria da conspiração, mais sucesso ela tende a fazer. Quer ver um exemplo? Você certamente já ouviu falar dos Illuminati, a sociedade secreta mais conhecida do mundo, tá?
Isso é meio paradoxal. Mas o fato é que muitos livros e filmes já retrataram a história desse grupo que teria como objetivo estabelecer a nova ordem mundial, uma espécie de governo global formado por uma pequena elite misteriosa. E há uma ideia parecida com a de outra teoria em alta nos últimos anos, o Q-Anon, que denuncia um suposto grupo de políticos, artistas e empresários que se reuniria para praticar rituais satânicos e outros crimes abomináveis.
Outra teoria ainda mais bizarra é a dos reptilianos. Em resumo, é a ideia de que algumas das pessoas mais poderosas e influentes do mundo, como presidentes americanos ou monarcas europeus, são todos. .
. lagartos. É literalmente.
. . é isso.
Lagartos em forma de ser humano. Tá bom. Outro tema que atrai muitos teóricos da conspiração é a música.
Você certamente já ouviu falar que o Elvis não morreu, ou que o Paul McCartney morreu, ou que se você ouvir alguma música da Xuxa, ao contrário, sei lá, você vai invocar um espírito maligno. Isso obviamente é uma mentira. Mas assim, eu também não me responsabilizo se você ouvir de trás pra frente.
Enfim, um outro terreno fértil para teorias de conspiração são os campos de futebol. Desde a final da Copa do Mundo de 98, um famoso textão volta a circular de tempos em tempos dizendo que os jogadores venderam o resultado e que o Brasil perdeu o título de propósito. Se as pessoas soubessem o que aconteceu, elas ficariam enojadas.
Mas entre todos os temas que inspiram os conspiracionistas, talvez o mais popular seja a astronomia. Da farsa sobre a Ida Lua, até o fato de a Terra ser plana, da Área 51 até o ET de Varginha, todo mundo já ouviu alguma história bizarra envolvendo um grande mistério espacial mantido em segredo pelas autoridades. Esse tipo de teoria faz tanto sucesso porque o universo em si já é muito misterioso.
A gente se acostuma com essa ideia, mas pare pra pensar. É realmente assustador lembrar que nós estamos todos numa minúscula rocha viajando há milhares de anos pelo espaço sideral e que nós estamos cercados por uma infinidade de segredos muito além da nossa compreensão. Isso cria um ambiente perfeito para histórias enigmáticas de conspiração.
Mas o que explica o fato de que tanta gente acredita, por exemplo, que a Terra não é redonda? Afinal, por que existiria um esforço internacional das maiores autoridades do mundo pra simplesmente fingir que o planeta tem um formato diferente do que ele realmente tem? Eu sei lá, pergunta pra quem é terrapanista!
Mas alguns motivos ajudam a gente a entender por que as teorias da consideração fazem tanto sucesso. E um deles é a chamada necessidade de pertencimento. É aquela busca dos seres humanos por se sentir parte de algum grupo.
Isso pode se dar através da torcida por um time de futebol, da paixão por algum artista, ou, para algumas pessoas, através de teorias da constelação. Ao fazer parte de um clube de terraplanistas, por exemplo, muita gente deixa de se sentir sozinha e se vê como integrante de um movimento maior, formado por pessoas que pensam de um jeito parecido. E isso nos leva a outro conceito importante aqui, que é o efeito manada.
É o que faz muitas pessoas seguirem as ações de um grupo de maneira irracional, sem analisar direito os fatos. Então se todo mundo ao meu redor está dizendo que o remédio não funciona, sei lá, deve ser porque ele não funciona mesmo. E isso tem tudo a ver com um outro fator que explica o sucesso das teorias da conspiração.
É o chamado viés de confirmação. É a nossa tendência de buscar argumentos que embasem aquilo em que a gente já acredita previamente. Quem pertence a um movimento anti-vacina, por exemplo, vai se apegar a algum efeito colateral raro das vacinas para dizer que elas fazem mal.
Ele não vai levar em conta todos os benefícios comprovados cientificamente. E isso mostra que, por mais que existam algumas teorias da conspiração inofensivas e até mesmo divertidas, algumas outras podem ser bem perigosas. Especialmente as que se envolvem à saúde.
Por isso é tão importante que as pessoas saibam identificar se uma teoria tem chance de ser verdadeira ou se é uma beceira completa. E foi pensando exatamente nisso que um pesquisador irlandês teve uma ideia, a de substituir a subjetividade inerente ao ser humano pela objetividade intrínseca da matemática. Falei muito bonito, mano.
Em outras palavras, ele quis criar um cálculo que nos ajudasse a descobrir qual que é a chance de uma teoria da conspiração ser verdadeira. Eu estou falando do físico David Grimes, da Universidade de Oxford. Presta atenção que eu vou explicar passo a passo qual que foi o caminho do raciocínio dele.
Ele partiu do princípio de que numa suposta conspiração, todas as pessoas envolvidas estariam comprometidas a manter o tal segredo protegido. Mas que dois riscos podem colocar tudo a perder. Um é a possibilidade de alguém deixar a verdade e vazar sem querer, por algum descuido com aquela informação.
E outro risco é uma das pessoas envolvidas denunciar a conspiração de propósito para divulgar a grande farsa para o mundo. E aí um desafio se impôs para esse pesquisador. de de que o governo americano espionava os cidadãos através de um programa de vigilância chamado PRISM.
O caso foi revelado pelo Edward Snowden, ex-agente da CIA e da NSA, Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. Outro caso foi o do experimento de Tuskegee. Essa história, confirmada pelo médico Peter Buxtun, dizia que centenas de homens negros com sífilis tinham sido deixados sem tratamento de propósito para que fosse estudada a evolução natural da doença.
E por fim, um escândalo envolvendo o FBI. O cientista Frederick Whitehurst revelou que erros e exames forenses da Polícia Federal americana tinham levado várias pessoas inocentes para a cadeia e que algumas delas tinham sido inclusive executadas por engano. O pesquisador de Oxford analisou esses três casos e calculou para cada um deles quantas pessoas estavam envolvidas na conspiração e quanto tempo levou para que a verdade fosse revelada.
No caso da espionagem americana, por exemplo, ele observou que cerca de 30 mil pessoas teriam acobertado a história durante 6 anos até que Edward Snowden jogasse tudo no ventilador. No caso do experimento da sífilis, foram cerca de 6. 700 envolvidos durante 25 anos.
E no caso do FBI, 500 envolvidos ao longo de 6 anos. E com essas informações em mãos, Grimes calculou que a frequência com que uma conspiração é revelada é de aproximadamente 4 em 1 milhão por pessoa envolvida por ano. Ele então chamou esse número de P.
E com base nisso ele criou uma função para o número médio de fracassos de uma conspiração por unidade de tempo. Ele chamou de Φ, que pode ser expresso como 1 menos 1 menos P elevado a Nt, que representa o período de tempo. E aí, finalmente, ele chegou àquela equação que eu trouxe no início do vídeo.
L é a chance de uma conspiração fracassar ao longo de um determinado período de tempo. Essa chance pode ser calculada como 1 menos a constante E, que é a base dos logaritmos naturais, elevado a menos T, que é o tempo em anos, vezes Fi, que é aquela função que eu mostrei agora. Quanto mais alto é o valor do resultado, L, maior é a chance de uma conspiração fracassar.
Para ficar mais fácil de entender, vamos ver uma situação prática. O próprio David Grimes desenvolveu alguns exemplos para descobrir quanto tempo uma conspiração poderia durar até que o vazamento dela fosse iminente, com um valor de L acima de 0,95. E para isso ele aplicou a equação em algumas teorias da conspiração famosas, como a de que o homem nunca foi à Lua.
Considerando que 411 mil pessoas, que era o total de funcionários da NASA nos anos 60, precisariam fazer parte da conspiração, que supostamente mentiria sobre a ida do homem à Lua, isso significa Isso significa que a farsa provavelmente seria descoberta em aproximadamente 3,7 anos. Ou seja, depois desse tempo, o valor de L superaria 95%, o que indicaria que alguns desenvolvidos iriam quase com certeza revelar a mentira. Vale lembrar que até hoje, mais de 50 anos depois, nenhum funcionário da NASA fez essa anúncia.
Ou seja, o fato de ninguém ter divulgado a suposta farsa é mais uma corroboração de que sim, seres humanos foram pra Lua. E aí ele aplicou o mesmo cálculo para outras teorias. A de que o aquecimento global é fake, por exemplo, teria sido revelado em um período entre 3 e 26 anos, dependendo de quais órgãos internacionais saberiam da fraude.
Já teorias de que vacinas causam autismo teriam sido descobertas entre 3 e 34 anos, também dependendo de quem participaria da farsa. E a teoria de que as indústrias farmacêuticas escondem a cura do câncer teria sido descoberta em pouco mais de três anos. Ou seja, se essas teorias da conspiração fossem verdadeiras, é praticamente certo que a verdade sobre ela já teria vindo a público, levando em consideração o tempo que já se passou e a quantidade de pessoas supostamente envolvidas.
Em resumo, qualquer conspiração que envolva muitas pessoas durante muito tempo está fadada ao fracasso. E o interessante é que o cálculo pode ser utilizado com qualquer teoria da conspiração. É só considerar quantas pessoas estariam envolvidas e quanto tempo teria se passado desde o início dela.
Mas caso você não esteja disposto a fazer tantas contas para descobrir se uma teoria da conspiração é verdadeira ou não, tudo bem. Existem algumas outras dicas que podem ajudar. Primeiramente, se uma ideia é tão absurda que parece mentira, então provavelmente ela é mentira.
Então desconfie de tudo que é esquisito demais e que seja além do limite do bom senso. Por exemplo, humanos lagartos. Também vale sempre ter um pé atrás com histórias que envolvam planos malignos, ou pactos sombrios, ou qualquer outra narrativa que parece a saída de um livro bizarro de ficção.
Até porque hoje em dia, com toda a cobertura da mídia, presença massiva das redes sociais e tecnologias de câmeras escondidas, qual que é a chance de governantes mundiais estarem se reunindo secretamente para fazer rituais macabros? Além disso, teorias falsas costumam não apresentar provas. É tudo na base do confia.
Elas também deixam pontas soltas e possibilidades em aberto, dizendo que talvez a gente nunca vai saber a verdade. É um jeito de plantar uma desconfiança mesmo sem nenhum embasamento. E outro detalhe é que normalmente nas teorias falsas, as pessoas que supostamente comandam a conspiração não têm a identidade divulgada.
É sempre o sistema, os governantes, os poderosos, ou simplesmente eles. Eles não querem que você saiba a verdade. Ou seja, é tudo sempre atribuído a algum grupo genérico deixando margem para que cada pessoa interprete do jeito que quiser.
Por fim, pense no seguinte, se a tal conspiração é super secreta, guardada a sete chaves e restrita somente a pessoas super influentes e poderosas, como é que o seu tio Walter ficou sabendo? Mas eu também não quero parecer ingênuo. É claro que é possível que existam sim muitas conspirações secretas.
Mas justamente por serem secretas, a gente não faz ideia. Se uma história sigilosa já é tão conhecida de todo mundo, mais provável que ela seja falsa. Que a tal denúncia bombástica, na verdade, seja uma grande mentira.