Hoje, as locadoras brasileiras são donas de 1,3 milhão de veículos. O setor cresceu e se manteve firme mesmo durante a pandemia, em uma das maiores crises da indústria automotiva. Em 2020, pela primeira vez na história, a frota total das locadoras chegou a mais de 1 milhão de veículos.
Elas foram responsáveis pela compra de 360 mil carros zero, 20% do que foi vendido no ano inteiro. Segundo a Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, o faturamento líquido das locadoras foi de 15,3 bilhões de reais em 2020, na época, o setor já era responsável por empregar mais de 77 mil pessoas. Mais recentemente, em 2022, o faturamento bruto das locadoras chegou a 36,8 bilhões de reais, representando um crescimento de 109% sobre 2020.
Que elas ganham muito dinheiro é óbvio, mas a questão é que 60% do faturamento dessas empresas não vem da locação de carros. Então: - Como as locadoras realmente ganham dinheiro? - É através de uma prática legal?
- E o que você tem a ver com isso? Pode parecer irônico, mas as locações não representam nem metade do lucro das locadoras. São, na verdade, entre 40 a 50% da margem de lucro.
E a grande sacada dessas empresas começa na hora da compra. Locadoras de carro, em sua maioria, são empresas muito grandes. Elas pagam muito mais barato porque aproveitam de benefícios que o consumidor final não tem: comprar carros direto das fábricas e em grandes lotes.
Esses descontos podem variar entre 15 e 30% do valor do automóvel, no caso de modelos com vendas mais fracas. Além disso, elas são o principal público da venda direta, que é quando a montadora vende diretamente para quem consome. Dentre os consumidores diretos estão o grande público em geral, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência ou doença crônica que comprometa sua mobilidade, e taxistas.
Por isso, elas podem comprar direto das montadoras com benefícios fiscais como ICMS e IPI mais baixos. Depois da compra, as concessionárias alugam esses carros pra diferentes tipos de público: - Pessoas como eu e você, que precisam pra uma viagem, temporada, emergência ou simplesmente não quer ter que lidar com a burocracia de um carro próprio; - Órgãos públicos e privados, que muitas vezes preferem alugar ao invés de comprar, porque o aluguel sai muito mais barato e dá menos dores de cabeça com manutenção; - E motoristas de aplicativo, que muitas vezes preferem dirigir carros alugados do que seus próprios veículos, para evitar seu desgaste e consequente depreciação. .
Então tá, locadoras compram carros mais baratos e alugam. A gente já imaginava, onde tá a novidade nisso? Bem, agora que começa a ficar interessante.
Justamente pela facilidade que elas têm para comprar carros novos e até para manter sua frota sempre atualizada e atraente, as locadoras acabam renovando seu portfólio com muita frequência. E os carros usados precisam ir pra algum lugar. É aí que as locadoras realizam a maior parte do seu lucro.
Muitas delas possuem lojas próprias, onde vendem esses veículos que deixam em seus catálogos. Em 2021, lojas de locadoras venderam cerca de 250 mil carros. Esse número não corresponde nem a 3% das vendas totais de seminovos e usados no país, mas ainda é um número significativo.
Pra você ter uma ideia, até algumas lojas de usados compram em grandes lotes das próprias concessionárias de locadoras. É comum as pessoas terem preconceito em comprar carros que já foram locados, principalmente por acharem que eles já virão cheios de problemas, pela quantidade de quilômetros rodados. O que muitas delas não sabem é que seu carro comprado em uma concessionária de usados comum pode muito bem ter vindo de uma Localiza da vida.
Segundo a Abla, em 2021, 50% das vendas das locadoras foram destinadas às concessionárias e lojas de bairro. Ou seja, mais 97% dos carros dessas concessionárias de veículos semi-novos e usados não vieram de locadoras, e sim de pessoas comuns. Mas uma pequena parte deles, sim.
Estas concessionárias fazem isso pra manter o estoque e ter uma boa variedade de modelos. E os seminovos das locadoras são um prato cheio porque chegam a preços muito atraentes, já que foram adquiridos por um valor muito mais baixo. E é assim que as locadoras de automóveis ganham dinheiro: Primeiro, elas compram os veículos bem mais baratos.
Depois, elas lucram com o aluguel dos carros durante 1 ou 2 anos. E, finalmente, revendem esses carros com uma margem de lucro muito boa. Daí, elas podem renovar a frota e o ciclo recomeça.
Mas todas essas operações são legais? Já faz um tempo que os benefícios fiscais das locadoras têm incomodado as outras empresas do setor. A Fenabrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, diz que por venderem usados a preços mais baixos, graças aos descontos que têm, elas acabam pressionando as margens do setor inteiro, o que seria excelente para o consumidor final.
Contudo, sabendo que os usados vindos de locadoras representam uma fração tão pequena, de apenas 3% dos usados à venda no mercado, provavelmente a federação está superestimando esse poder de pressão dos carros das locadoras sobre os preços dos seminovos. Em 2020, o STF decidiu que é válida a cobrança de ICMS sobre a venda de automóveis por locadoras, mas apenas se for antes do prazo de um ano da compra. Agora, existe um projeto de lei em discussão que quer ampliar esse tempo pra dois anos.
O que pode parecer muito bom para o consumidor, já que a redução de impostos faria com que o preço na ponta também caia, mas pode ser um problema caso as locadoras decidam praticar arbitragem fiscal, ou seja, comprar com ICMS muito baixo, como em São Paulo, onde ele é 90% menor, e vender o veículo por um preço acima do que pagou por ele. Para evitar que isso ocorra, foi realizado o Convênio ICMS nº 64 de 07/07/2006 do Confaz. Sua cláusula primeira define que se o veículo for vendido antes de 12 meses da data da aquisição junto à montadora, deverá ser efetuado o recolhimento do ICMS pelo estado do domicílio do comprador.
A cláusula segunda do mesmo Convênio define que a base de cálculo do imposto será o preço de venda ao público sugerido pela montadora. Mas a regra é o contrário. O normal é que a locadora revenda os carros por um valor inferior ao valor que os proprietários comuns, já que pagaram menos por eles.
E isso é muito bom para o comprador de semi-novos e usados. O deputado Mário Heringer do PDT de Minas, que foi quem sugeriu o projeto, diz que no Brasil não existe nenhuma lei que restringe a venda sem um prazo mínimo, só um acordo. Mas a Fenabrave é contra o projeto e defende que o prazo de 12 meses continue, mas que os estados fiscalizem para que esse tempo seja cumprido.
A Abla defende que as locadoras precisam vender os carros para renovar a frota e que essa venda é feita pela tabela Fipe. Mas o valor recebido pela venda da frota pra renovação, que no último ano foi 10% menor que o valor gasto na compra, hoje é apenas 5% menor que o gasto na compra. Por isso, muitos especialistas ainda defendem que, como o lucro das locadoras já vem em sua maioria e cada vez mais das vendas, não das locações dos carros, é preciso fazer uma revisão do modelo de negócio e dos privilégios que essas empresas recebem.
A Abla defende ainda que essa ideia de que o setor de locação atrapalha o mercado de compra e venda e traz impacto nos preços do varejo. Mas realmente, 3% do volume de carros vendidos podem exercer tanta influência sobre os preços no geral? Enquanto os rivais argumentam que as locadoras estão se aproveitando das isenções graduais de impostos, de acordo com cada estado da federação, elas alegam que a venda não é um negócio de fato, mas uma forma de renovarem suas carteiras de veículos.
Bem, pelo que já expusemos aqui, os dois modelos de negócios geram bastante lucro para as montadoras. Mas confusões à parte, a pergunta que mais interessa pra você consumidor é: vale a pena comprar um seminovo que pertenceu a uma locadora de veículos? Existem vantagens e desvantagens em comprar um carro de locadora.
A variedade de modelos é muito boa e como elas renovam suas frotas com muita frequência, a maioria dos veículos são novos, com 1 ou 2 anos de uso. Os carros também, em sua maioria, aparentam ser bem conservados e completos, mesmo os modelos de entrada, apesar da quantidade de quilômetros rodados. Com exceção dos utilizados por motoristas de aplicativos, o que já é de se esperar por rodarem mais.
Os veículos ficam nas lojas à pronta entrega e já são revisados pelas próprias locadoras. As concessionárias de locadoras também trabalham com financiamentos, então é possível ir até uma delas, fazer sua análise de crédito e já sair de lá com seu novo carro. Muita gente se sente mais segura ao comprar um veículo de uma pessoa comum, com a ideia de que essa pessoa cuidou bem do carro, afinal de contas, era dela.
Agora um carro de locadora já foi utilizado por várias pessoas, para fins diversos. E muitas vezes essas pessoas que alugam não ligam muito pra deixar o carro bem cuidado. É claro que há um contrato entre o locatário e a locadora, para que os danos sejam mínimos.
Mas nada, além da ética pessoal, impede ninguém de fazer uma maquiagem e devolver o veículo com a quilometragem adulterada, por exemplo. O mesmo ocorre com a pessoa física que vai vender seu carro usado, ou o dono da concessionária de seminovos e usados. Ou seja, você pode se dar bem ou mal, independente de onde compra o carro.
Tem gente que compra um carro zero e se dá mal, e tem gente que compra carro de locadora e faz um ótimo negócio. Então o importante é sempre se informar bem sobre o carro e levar ele em algum mecânico, especializado, ou levar o mecânico até a revenda, para ter certeza de que se trata de um bom negócio. E você, comprou carro de locadora ou conhece alguém que comprou e fez um bom negócio?
E o mal negócio, já aconteceu? Comenta aqui abaixo. Agora, se quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode usá-lo pra levar um canal no youtube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code que tá na tela antes que essa aula saia do ar.
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