Blocos | Podcast Rádio Novelo Apresenta

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Rádio Novelo
O bloco de uma família, e o bloco de um homem só. No primeiro ato: a família Anunciação, fora e den...
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novel novelo novel bem-vinda ao rádio novelo apresenta eu sou a Branca Viana essa semana a gente tem duas histórias sobre blocos e não não tô usando bloco como metáfora pras formas como nossa sociedade se divide e se junta nem vai ter história sobre o bloco soviético muito menos sobre bloco de concreto a gente até gosta de brincar com palavras mas essa semana o assunto é mesmo bloco de carnaval se você estava procurando se distrair com qualquer assunto menos purpurinado desculpa esse ano não teve jeito de con essa Alega Infernal como diz o hino do Bola
Preta mas para compensar um pouco a primeira história de hoje começa bem longe do Confete e da folia começa no espaço sideral eu vou começar a história do jeito que ela chegou para mim com alre meu nome é alre anunciação Sou ator diretor escritor e roteirista começando do começo do aldre Ele nasceu em 1973 porque o segundo homem pisar na lua meu pai ficou encantado com aquela história no dia 21 de julho de 1969 o ne Armstrong foi o primeiro ser humano a pisar na [Música] Lua e 19 minutos depois foi a vez do buz
aldr não sei se você já ouvi falar nele os segundo lugar os lado B da história normalmente caem nesse buraco da memória coletiva eu fiquei me perguntando se os pais do aldre queriam dizer alguma coisa com isso sobre o valor de chegar em segundo lugar você tinha alguma admiração específica pelo Buzz Aldrin cujo primeiro nome real aliás eraa Edwin mas não ele não quis botar o primeiro porque era muito estranho o nome né Armstrong é realmente Armstrong da Anunciação é mais complicado mas teria sido chique também e tem uma coisa assim eles também era um
período da ditadura Então tava quase que proibido nomes internacionais assim sabe e o Aldrin inclusive ele tem um n no final né o original e na hora Eles foram tentar registrar ele falou não n não pode porque n classifica como nome estrangeiro E aí minha mãe falou então tá então tira o n aí ficou aldre e ficou brasileiro eu preciso dizer que segundo IBGE teve um pequeno Boom de Armstrong e Aldrin na década de 70 no Brasil mas pelo jeito aquele cartório de Salvador foi um pouco mais riguroso e sou Baiano moro em Salvador trabalho
no Brasil todo mas minha cama fica eh realmente aqui no Rio Vermelho bairro onde eu cresci praticamente Assim na verdade foram dois bairros né que eu tive vivências um bairro mais periférico G Velho de Brotas e Um Bairro Talvez assim de classe média mais que eu chamo de vaidosa né que é o bairro do Rio Vermelho e Itapuã Também meus pais quando separaram cada um ficou num bairro diferente mas ambos bairros bem vaidosos adorei isso dos bairros vaidosos Aposta que você conhece vários onde quer que você more essa história tem tudo a ver com essa
mudança do aldre da Periferia pro epicentro da vaidade soteropolitana uma troca abrupta de cenários pela qual ele não passou sozinho a meus irmãos né tem idade muito próximas né acho que é um ano um ano e um mês de diferença imagine né meu pai e minha mãe três crianças em casa quase que da mesma idade três crianças três irmãos tanto que Teve uma época que achavam que eram trigêmeos assim para afastar quaisquer possíveis confusões de identidade eu pedi pro aldre me explicar a personalidade de cada um dos irmãos o papel que cada um ocupava naquele
Trio que eu era o cabeça no sentido de eu sempre fui sempre fui o mais intelectual Zinho assim sempre fui o CDF Zinho sabe e por isso mesmo que namorava menos o que brincava menos mas eu sempre fui muito observador muito cronista então o aldre é do meio o mediador O Observador até por isso quando rolava treta ele era sempre convocado para relatar o que exatamente tinha rolado eu não era dedo duro não mas eu sei eu sou aquele que tinha uma boa memória eu me me considero mais um um sonhador né esse é o
irmão mais velho albre Alves da Anunciação sim albre com b e y audri com D e i não eu não sei como é que os pais não trocavam o nome deles o tempo inteiro o al hoje é bibliotecário e também um entusiasta do carnaval né meu nome é o segundo H que pisou na lua mas eu acho que sempre achei albre muito mais na lua assim albre o mais velho o sonhador aldre do meio o cronista e tinha o Caçula assim como os dois na mesma Essência né er umas pessoas eram as cabeça pensante junto
com o pai era muito o que botava em prática esse ao Alcindo Júnior meu irmão Júnior é mais intempestivo né Ele é o mais aquele que toma à frente das coisas né tanto que ele é advogado nome é Alcindo da Anunciação Júnior tenho 48 anos sou advogado e carnavalesco Resumindo seria o bagunceiro mais novo o do meio o mais observador ali que tava relatore tudo e o albre aquele que não sabia o que tava [Música] acontecendo na virada dos anos 80 para os 90 a situação financeira dos Pais desse Trio melhorou bem e eles entraram
numa escola nova no bairro da Barra parece o começo de uma piada meio críptica um sonhador Um observador e um bagunceiro entram num colégio chique e a gente se empolgou muito tipo assim vida nova né ascensão social e Escola Nova também na verdade tá mais pra cena de abertura de um filme de sessão da tarde o nosso trio intrépido de adolescente está prestes a desbravar um mundo novo uma sala nova colegas novos um refeitório novo e tudo isso num bairro bem chique ou vaidoso mas muito além da sala de aula tinha uma coisa no ar
o cheirinho de pré-carnaval o próprio colégio era no bairro carnavalesco de trio diga-se de passagem né de bloco de trio não de bloco afro Pera aí só um segunda que eu pedi pro aldre explicar isso direitinho os anos 80 carnaval de Salvador ele era ele era dividido basicamente em blocos de trio trio de trio elétrico ou seja blocos com uma banda tocando em cima de um carro de som você deve ter ouvido falar de alguns desses blocos de [Música] [Aplausos] trio tinha o bloco beijo que tinha a banda beijo aí tinha o bloco Eva que
tinha a Banda Eva tinha esses blocos de trio aí eu diria já que eu comecei a falar dos bairros de classe média vaidosa são os os carnavais do da Galera classe média vaidosa dos bairros mais vaidosos e tem os blocos afro que eram as turmas mais da Periferia os blocos afro mais famosos eram e são os filhos de gande o ilae o Olodum araqueto mal de balê dentro a a coisa do bloco afro também tinha uma uma umas subdivisões dos blocos de índio que eram blocos formados por pessoas negras Olha que interessante que assistiam os
filmes de West americanos e vi os indígenas perdendo do homem branco e eles criavam bloco de índio para poder eh fazer o contrário né fazer ganhar de alguma forma que se você tá com dificuldade de separar na sua cabeça a música de bloco de trio da música de bloco afro tem um motivo para isso o que rolava de engraçado na a década de 80 e 90 é que as músicas dos das bandas dos blocos de trio né desses blocos ã de bairros vaidosos a música Era inspirada nos blocos afro é o bloco Ilê é um
bloco afro né um bloco de comunidade e as músicas do Bloco do bloco afro fizeram sucesso na voz de Daniela Mercury que era uma cantora de bloco de [Música] trio Ache que nada mais é do que esse encontro né um bebendo do outro e um divulgando o outro esses blocos são meio como mistura de bloco de rua com desfile de escola de samba tem um circuito determinado E vai um bloco desfilando atrás do outro no mesmo cuito que acaba passando por um corredor de camarotes mas ao contrário do Sambódromo não tem jurados não tem avaliação
e não tem rebaixamento é só para se divertir mesmo mas tem um detalhe não é só aparecer lá na hora para cair dentro nisso também é parecido com a escola de samba tem que se cadastrar com antecedência comprar o Abadá do Bloco E aí tá liberado curtir a folia então era assim que funcionava basicamente eh sei lá em um minuto carnaval dos anos 80 do 80 e 90 é pronto carnaval de um minuto encerrado na verdade deu um pouquinho mais de 1 minuto mas dá um desconto aí vamos voltar pro colégio vaidoso no bairro vaidoso
que acontece de ser o bairro onde os blocos de trio passam e o nosso trio de irmãos tá a fim de entrar num bloco desses o ano é 1990 como é que funcionava na década de 90 para entrar nesses blocos a gente tinha que passar por uma ficha eles recebiam uma proposta da gente para se inserir no bloco para ser um integrante um fião se preenchia uma ficha com todos seus dados nome sexo data de nascimento Foto 3 por4 escambal e tinha um endereço de casa também ah é o endereço que corta viu gente endereços
de Periferia eles não topam o trio aspirante a Trio ficou ficou sabendo no boca a boca que nesse processo era ruim ter um endereço de Periferia um endereço tipo do bairro Onde eles moravam antes Engenho Velho de Brotas Mas tudo bem né que eles não moravam mais lá então a gente falava não então pra gente tranquilo porque a gente botou o endereço de mãe no Rio Vermelho Anderson de pik é Itapuan onde a gente mora bom eles preencheram as fichas e mandaram lá e no primeiro bloco não rolou e de cara assim não foi aprovado
assim muito rápido bola pra frente a gente pensou Ah deve tá cheio vamos tentar outro só que e novamente foi reprovada assim e a gente tentou mais um outro e também foi reprovado enf depois naquele carnaval o trio de irmãos ficou sem Trio mas eles nem estranharam tanto então a gente entendia que os blocos estavam cheios e que a gente não deu sorte a gente não conseguiu a tempo mas os nossos colegas que que tava coisa estranha a maior parte deles conseguia assim Será que é porque eles já saem há muito tempo e eles privilegiam
os filões mais fiéis né quem sabe ano que vem aí como costuma acontecer o ano que vem chegou 1991 mesmo esquema ficha nome data de nascimento endereço Foto 3 por4 reprovado reprovado reprovado Eu sabia que que tava rolando tem uma coisa que eu não expliquei direito antes quando os pais do albre do aldre e do Júnior conseguiram trocar de endereço botar os filhos no colégio chique era como se eles tivessem passando por um portal de uma Salvador pra outra a gente vai para um bairro de pessoas vaidosas como eu falei né com menos Negritude do
que no bairro que a gente morava antes então era um bairro mais branco então talvez nessa passagem ali do início dos anos 90 a gente começa a perceber a diferença de classe e de raça se antes eles eram três meninos agora eles começam começa a se perceber enquanto negros três rapazes negros no bairro mesmo isso já tinha começado a ficar claro mas no colégio era difícil de ignorar na sala do aldre por exemplo basicamente só tínhamos eu e um outro colega Marcos Paulo negros Os três irmãos falaram a mesma coisa que a experiência deles no
colégio era boa o diretor era negro os colegas brancos eram bem legais mas o carnaval chegou como um raio x para revelar o que que estava logo ali debaixo da superfície tô sendo excluído dessa história é tudo maravilhoso a gente estuda na mesma sala mas na hora de sair no bloco Sua Ficha não vai passar a gente não conversava entre si mas todo mundo tava percebendo ali que a coisa tava apertando então eles ouviam bloco tal é bloco de gente bonita e quando você não passa e quando você percebe que esse critério de beleza é
um critério de outra coisa tem um uma uma frase até que eu vovô delê fala né se você não não diz que é preto um dia o sistema vai dizer que você é preto mas eu sentia que a gente nunca ia sair no bloco beijo a gente nunca ia conseguir sair no bloco Eva nunca ia conseguir sair nesses blocos Você tá no bairro do Gu vermelho você tá estudando no colégio de classe média alta você tem um poder econômico de classe média Mas você é melanina acentuada você é preto e e a coisa vai mostrar
e o sistema vai mostrar você que você é preto essa questão da racialização na criança negra é muito grave porque lida com autoestima sabe então assim como é que eu vou conversar com os meus amigos assim sabe do tipo ser o que eu sou me impede de est com vocês no bloco você entende assim não era algo do tipo não tô com uma roupa legal vou trocar roupa não tô com endereço Bacana Então tá vou mudar para endereço não assim seria os irmãos não conseguiam tocar muito nessa ferida nem entre eles muito menos com os
amigos brancos talvez era melhor a gente não pensar sobre Mas eles contaram para uma pessoa e aí a gente dividiu isso com o pai o meu nome você já sabe é aino da Anunciação né meu pai já era um cara meio politizado meio politizado é meio pouco para entender como é que essa história bateu no Alcindo vale a pena conhecer ele melhor nasci e fui criado no bairro da saúde no Beco São José da Paz quem manda quem grita mais era um B 10 casas cinco de um lado cinco do outro e um sanitário você
imagine fui logo batalhar muito cedo fi o Alcindo foi camelon baixo de sapateiro eu vendia essas bugigangaz né vendeu enciclopédia britânica uma enciclopédia de de marca né ele fez concurso trabalhou numa petroquímica foi estudando se formou em Direito e acabou virando perito criminal da Polícia Civil só que quando ele chegou na Polícia Civil conv que às vezes o poder público não D O que precisa para você desenvolver atividade então por exemplo eu saí num fusquinha os pneu careca imagine eu ia fazer a perícia no local de crime se esse pneu fura no caminho bato com
Não posso nemr ele acaba entrando mesmo para melhores condições de trabalho para essa classe não só a classe dele dos peritos como também dos policiais civis o alindo bateu de frente com andar de cima e fundou uma associação dos peritos criminalistas Asbac Associação Baiana de criminalista e eu fui o fundador e fui o primeiro presidente depois ele fundou a Associação dos policiais civis depois vir o sindicato e daquele sindicato ele virou Presidente também fez greve na época que ainda era contravenção sem outra alternativa os policiais civis se rebelaram deflagrando a greve chegou ao ponto de
me prender né u um forte aparato da polícia militar para atacar os policiais civis e prender o líder anção Aí vejo tem assim uns 200 policiais de um lado uns 100 100 do outro a gente viu ele sendo preso minha mã desmaiou enfim e a gente almoçando a gente viu eu minha mãe e os meninos é eles me arrastando n tinha tiros né tiro foi de um lado ti sab estava pegando em Você El já ti era pro alto o Alcindo não se machucou foi solto no dia seguinte e eles encerraram a greve logo depois
mas a vingança veio a galó e ali eles abriram um processo para me exonerar e eu Aproveitei tudo isso e do Limão fiz a limonada porque aí era 1986 iam rolar as primeiras eleições abertas depois da ditadura tinha uma penca de candidatos na praça mas a prisão espetaculosa do Alcindo deu destaque suficiente pro PMDB apostar nele mesmo que ele não ganhasse ele ia trazer atenção pra legenda na Bahia aí eu me elegi deputado estadual me exonerar me promoveram o Alcindo virou Deputado est constituinte ou seja ele participou da elaboração da Constituição do Estado da Bahia
Foi uma guerra para esse capí do negro na constitução sabe isso a Bahia de longe o estado mais Negro do país também é o único que tem um capítulo do negro na Constituição o capítulo coloca racismo como crime inafiançável proíbe relações com países que praticam discriminação racial oficialmente inclui uma visão afrocentrada da história brasileira no ensino público garante mais participação Negra em propagandas oficiais do estado e consagra o dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra mas na lembrança do Alcindo pros colegas dele não foi uma decisão tão óbvia incluir tudo isso na constituição
estadual Por que Capítulo do negro Por que Capítulo do negro Foi uma guerra mas eu consegui colocar Capítulo do negro na Constituição do Estado da Bahia olhando os retratos dos deputados constituintes dá para ter uma noção da solidão do Alcindo se o aldre só tinha um colega negro na sala dele o pai dele não tava muito melhor foi nesse momento que você coloca a gente na escola melhorzinha né ah foi foi aí nesse momento é a gente aí tem bota gente vai pra escola que aí é outra batalha pra gente né pronto a gente chegou
de volta onde a gente estava os irmãos sendo rejeitados nos blocos de trio que acabam comentando disso com o pai tô trazendo esse contexto para dizer que a gente contou para esse cara né que esse cara que é um cara sensível à às questões sociais que os três filhos há dois anos ali naquela escola particular de um bairro de classe média vaidosa de um bloco também vaidoso que há do anos nega assim a possibilidade dos filhos dele comprarem uma badá para sair no bloco de trio 90 os meninos não passam 91 os meninos não passam
em 92 meu pai vem com com essa proposta a proposta era a seguinte gente vamos fazer um bloco de trio simples assim né e não tinha estrutura nenhuma para fazer bloco de trio né Ah mas vai distribuir aonde os abadis ah embaixo da casa de sua avó lá no bairro de Brotas lá tem um galpão a gente pode ser o local onde a gente vai distribuir as abades Ah mas e o trio a gente aloca onde Ah eu eu sei a gente conhece as pessoas que podem a gente pode negociar e contratar um trio e
a banda a gente contrata uma banda então assim tudo ele tava mão sabe pra parte da segurança o Alcindo tinha os contatos dele da polícia e o mais importante de tudo ele já tinha alguma expertiz carnavalesca ele foi um dos fundadores do bloco ap patota lá no bairro da Saúde até a música patota chegou ligava tinha até música bindo cresceu ali do lado do Pelourinho com um carnaval praticamente batendo na porta eu comecei gostar do carnaval né porque eu já via meus tios saindo no frio de gande mas o batismo dele de carnaval de rua
foi um pouco mais ruts um pouco mais pungente aí eu saí eu não com lixo na saúde com lixo era um bloco da época Virgem Maria como é que surgiu com lixo com lixo surgiu a limpeza pública era ruim né ou ainda não ela essas coisas mas naquela época a coleta já não era boa durante o ano aí chegava o Carnaval O pessoal passava rasgando pelo Beco E o lixo ficava espalhado que nem confete você botava o lixo na porta camão de lixo não vinha pegar aí ficava tudo lá jogado Dizem que o com lixo
é o segundo bloco mais antigo de Salvador só atrás do filho de gande então dá para dizer que o carnaval soteropolitano Tem protesto na raiz o bloco que Alcindo fundou em 1992 com e para os filhos não era um bloco protesto era um bloco de trio mesmo mas a própria existência do bloco não deixava de ser um tipo de protesto porque ia ser um bloco de trio de Periferia a comunidade da Periferia ela trabalhava nos blocos de trio ela não curtia tinha uma barreira de acesso ali porque bloco de trio tinha muito mais infraestrutura mais
infraestrutura mais custo abadar mais caro a equação era essa e o resultado era periferia de fora da corda segurando a corda no caso ou vendendo água do lado de fora elétrico é um equipamento caro então os blocos periféricos não tinham condições de ter esse equipamento é caro mas o Alcindo tem muitas conexões e ele tinha uma relação com um trio chamado Realce um trio chamado Realce um trio elétrico mesmo um caminhão de som que até animava festas participava de comícios e tal Nordeste afora o trio era conhecido mas ele não tinha um bloco para chamar
de seu até então vamos criar o bloco realse o bloco realse o Alcindo combinou de alugar o trio pros Três dias do carnaval e começou a mobilização era panfleto Eu lembro que ele imprimia ele já tinha esse esquema de panfleto mesmo que ele imprimia para fazer as greves esse bloco não ia ter ficha muito menos processo seletivo e você ia na sede que a sede ficou embaixo da casa de minha avó e pagava uma taxa o valor era infinitamente menor porque ele não estava fazendo para ganhar dinheiro né valor bem simbólico Eu não consegui achar
os valores dos abadis no carnaval de 1992 mas em 96 o abadar mais caro do circuito era do Chiclete com Banana R 550 já naquela época e o do Real se tava R 80 que a gente fazia a gente não ganhava dinheiro a gente ganhava dor de cabeça os meninos tinham começado querendo pular carnaval né mas para fazer isso acontecer o Alcindo botou eles para trabalhar o aldre pegou uma função mais executiva gente eu fiquei numa área meio administrativa do tipo de meio RP assim porque eu não sabia me relacionar com as pessoas o albre
ajudava a costurar parcerias e controlava quem que podia subir no tril elétrico e o Júnior do alto de seus 18 anos cuidou de contratar os Cordeiros no caso os carregadores de cordas que eram centenas e fazer todo o esquema de segurança dois meses antes de carnaval a sée já ficava funcionando a gente botava um manequinho lá pronto para quando chegasse é fantasia e os fules como os fulão do reals ele é ele é fulão mesmo é fulão e amigo era fulão e amigo ele sempre passara na Sé aí passava de moto passava no ônibus ol
o motorista parava na porta Júnior já tem fantasia eu quero saber como é que vai ser não não chegou ainda dava para perceber que tinha uma demanda reprimida forte tinha foliões que que pagavam abadá em prestações a perder de vista eu me lembro que teve um rapaz que também não tinha um dinheiro para pagar taxa E aí ele chegou Pegou o microsystem dele microsistem no caso é um daqueles aparelhos de som de estéreo um equipamento fundamental paraouvir música naquele deserto tecnológico dos anos 90 pego o meu aparelho mas não vou deixar de sair no real
aparentemente isso não era tão incomum porque o Alcindo lembrou de outro caso o cara levou uma televisão deixou para pegar o abadá para ir pagar depois nesse caso a penhora não foi tão tranquila eu me lembro que o cara levou a televisão levou a fantasia dia de manhã chega a mulher do cara lá parece que faltou combinar com os russos a mulher não tava sabendo de nada e ela queria a TV dela de volta devolvi Coitada o aldre ia vendo tudo isso e ficando um pouco assustado eu não era pessimista mas eu ficava muito curioso
eu falei gente eu não tinha noção de quantos carnê estavam na rua tinha muito carnê de abadá sendo vendido e o carnaval chegando meu Deus que que vai acontecer e aí como costuma acontecer o carnaval chegou a ordem do desfile é a ordem de fundação do bloco então a gente foi o último a desfilar naquele ano 92 né no primeiro ano Ou seja a gente desfilou bem tarde na Avenida era quase 11 da noite me estava numel crucial por exemplo era aquele cara quando havia engarrafamento de trio ou um bloco da frente estava muito devagar
eu que tinha que lá né Entrar no outro bloco dizer olha acelera um pouquinho porque nosso bloco tá tá apertando muito nossos foliões eresse Car eram milhares de foliões na Avenida o Júnior estava ali nos Cordeiros o albre estava monitorando o pessoal do Trio eles estavam bem ocupados tentando gerenciar a multidão toda mas teve uma hora que deu para parar e apreciar era um dos maiores blocos na Avenida e eu lembro da Alegria de vocês e de meu pai lá em cima do trio nesse nessa nessa primeira vez que saiu vocês comentando meu Deus Olha
quanta gente era o maior bloco tem uma imagem bem clássica do carnaval baiano talvez você já tenha visto se você botar na internet vai ver várias fotos aéreas de carnaval baiano ão de dentro do bloco é completamente branco e fora assim nas margens completamente negro não tinha Drone em 1992 para fazer um registro daqueles mas se você fizesse uma falta aérea do bloco real você ia ver que era Praticamente todo negro assim tanto fora da corda quanto dentro não era somente negros que nem o Ilê né que não entra brancos até porque na periferia você
tem um componente de branquitude muito muito alto também então recorte do Real sen não não era um recorte racial era um recorte de classe também qual é o poder de uma imagem dessas ah não aí a gente se sentia eh satisfeito né em ver o povo todo brincando pulando né são momentos assim o Carnaval São momentos de felicidade que você não tem durante o ano tem pess eu ficava alegre porque eu via que quem tava ali era eu o um fulão daquil arilha é eu essa imagem do bloco com cordas mas sem uma linha de
cor logo ganhou um apelido o bloco do povão Ah ele era conhecido como bloco do povão povão no linguajar do carnaval bloco do povão era meio que o contrário de bloco de gente bonita ou seja para muita gente não era elogio é o bloco do povão é o aquele bloco que incomodava muita gente que tava lá em cima o albre lembrou de um dia em que ele estava com abadá bloco indo em direção ao Trio um pouco antes do file eu me lembro que eu tô com a fantasia né e aí eu tô passando pelo
Campo Grande aí tem um rapaz vendendo e água aí ele bate no meu ombro e FZ Oli daqui a pouco eu tô lá viu Olha só que coisa louca é esse bloco né é assim quem saía no bloco era Unos vedores ambulantes do Carnaval nós não éramos donos do bloco nós só éramos ali representantes Mas quem é o verdadeiro dono do bloco real é o fião o bloco saiu durante uns bons anos tempo suficiente para acumular muitos causos e os foliões do Real iam surgindo nessas histórias como um personagem coletivo teve a vez em que
o próprio trio elétrico não consegui chegar em Salvador a tempo do desfile e os Fes tudo ali BR real ali na avenida né passar Air E cadê o trio quandoo Viu umas foliã mais proativas tinam ido até o trio de outro bloco que tinha acabado de desfilar os fhes pegou um trio que tava lá parado chamou o rapaz do Trio foram lá e pediram para eles puxarem o Realce que depois o pessoal do bloco ia acertar a banda desse outro Trio que não era bobo nem nada topou os foliões botaram o bloco na rua aí
teve a vez do carro o trio da realsa estava dobrando a esquina para entrar no circuito dos blocos quando o nosso trio começa a andar aí tem um carro de um morador de um prédio na curva aí o o trio não consegue né o trio ficou travado sem conseguir fazer a curva o Júnior estava correndo para lá e para cá tentando resolver tentando descobrir de quem queera o carro olho para trás que olho para cá tá os fules do realf tudo com carregando o carro carrega o carro bota o carro me fio disse Júnior é
só isso Bora desfilar já tô meu horário Bora desfilar que me vou trabalhar aí meu irmão ess essas coisas assim me dá uma alegria de cada vez mais brincar carnaval era assim que o Júnior lembrava quando o aldre pediu pro pai recontar essa história o bagulho ficou ainda mais doido como é que foi essa história o povo carregou o carro empurrou o poste Ah foi o poste ou foi o carro não o poste não acredito na lembrança do Alcindo era a mesma situação o trio tentando entrar no circuito e não conseguindo fazer a curva mas
o empecilho dessa vez não era um carro era um poste de luz tinha que fazer a curva ali para ir pro Campo grande aí o poste não deixava porque o trio era muito grande quando passava aí P aí o pessoal subiu no trio e entortou o poste não sei se o carro e o poste foram anos diferentes ou se na contação da história o folião do Real se foi crescendo e ganhando superpoderes de qualquer forma gostei de ouvir empurrou o poste mesmo para porque eu TR muito grande para fazer o o gente a destruição do
patrimônio público aí o poste ficou too realmente o filando no ELS não tinha limite eles que nem saí o que dependesse deles meu amigo acontecia se o bloco não tivesse corda ele seguravam uma corda Se não tivesse o trio eles iam puxar eles iam arrumar um outro [Música] Trio Eu acho assim o o o Realce ele foi um abre alance e o Realce além de abrir as portas pro povão o Real abriu as portas para essa banda que se chama Gera Samba o primeiro bloco de trio que samba tocou foi com a gente naquele ano
o Alcindo tinha resolvido fazer diferente e não era comum ter banda de pagode era banda de Aché music eu conhecia né o o Beto Jamaica né aquele pessoal todo né o Beto Jamaica tinha fundado essa banda Gera Samba junto com o amigo dele o compadre Washington uma banda que depois [Música] virou outro dia o al estava conversando com amigo sobre os dias áureos do bloco e o amigo soltou essa el Ah aquele bloco de vocês que loucura vocês lançaram a Carla perz eu falei Como assim no desfile do bloco era difícil prestar atenção em tudo
ao mesmo tempo mas parece que no circuito Campo Grande onde o bloco real se desfilava numa determinada altura tinha uma danando em cima de uma laje os blocos iam passando e ela ia dançando mas o trio do Real parou ali aa perz ela dançava em cima de uma laje na Avenida e o bloco de vocês parava na frente e ficava meio que conversando com ela e aí menina dança aí e já era a banda já era samba que era o betato Jamaica enfim que depois virou Elan e ele lembra da banda convidando ela para sair
da laje e também da s cima do trio naquele dia nasceu a loira do tchan E assim a história se [Música] fez se eu conseguir confirmar essa história com o pessoal da Carla perz não porque ninguém me respondeu mas depois de ouvir tantas histórias sobre o realse eu não tava estrando minimamente o surgimento de um capítulo da pré-história tânica quando você abre né esses e por movimento popular muita coisa acontece assim muita coisa Brota pro amigo do aldre essa história era mais um testamento do que fazia o Real ser tão diferente se não fosse o
bloco de trio de periferia de seu pai aquela p não teria sido lançada ninguém ia chamar aquela menina da laje para dançar em cima do trio assim a não ser um bloco como o de vocês assim bloco banda Beijo bloco beijo ninguém fazia isso ninguém desse espaço enquanto existiu o bloco real se não deixava de Ser Um Estranho no Ninho que nem o Alcindo na constituinte e os meninos na escola e apesar de arrastar tanta gente não era fácil conseguir Patrocínio os irmãos todos se lembravam de um certo boicote na hora do desfile dizia agora
não pode entrar não no circuito segurava a onda pra gente não entrar aí com razões burocráticas né acabava que a gente passava no horário em que eh as TVs não estavam mais lá a Rede Globo SBT todo mundo já tinha ido embora era como se fosse não queriam mostrar aquela imagem eu adoraria dizer que o Realce foi um terremoto um meteoro que baixou na Avenida e Bagunçou o Coreto todo mas em 1999 saiu uma série de reportagens no jornal à tarde que mostrou o qu pouco as coisas tinham mudado tinha duas amigas por exemplo que
queriam sair num dos maiores blocos de trio a barca elas fizeram exatamente que os meninos tinham feito lá em 1990 preencheram a ficha com nome endereço trx4 uma das amigas passou a outra não adivinha qual que era branca e qual que era Negra logo depois do Carnaval naquele ano a câmara de vereadores de Salvador teve uma comissão especial sobre o racismo para investigar essa e outras denúncias ainda tinha muito bloco usando esse sistema das fichas e o resultado não poderia ser mais claro mas no fim só um bloco a barca recebeu um castigo exemplar o
resto que inclui eu Eva o beijo pinu ficou por isso mesmo e mesmo que hoje em dia já não tenha mais ficha com foto 3 por4 tem muitas outras formas de segregar por exemplo um abadá que custa mais que um salário [Música] mínimo alguns anos depois do Realce a família Anunciação botou outro bloco na rua papai criou o bloco real e depois hois a gente consegue criar o bloco Tô ligado no circuito Nobre da Avenida no meio deles no circuito nobre que é o circuito barr onino o circuito onde tá os grandes as grandes atrações
o carnaval Business né quem criou o nome tô ligado é audri audri cria porque é para assim o nome tô ligado é assim a gente que é da Periferia aí dizer Olha nós estamos ligado o carnaval também é nosso então cria essa esse nome Tô ligado vamos tá ligados também tipo uma uma forma até de protesto né durante uns anos eles tocaram os dois blocos juntos vários blocos tinham esse esquema um bloco A e um bloco B ou bloco alternativo o Realce saía de domingo a terça e eu tô ligado de quinta a sábado mas
depois de uns anos esse ritmo ficou meio insustentável ninguém sabia dizer em que ano que foi mas depois de um tempo o Realce ficou pelo meio do caminho e o o Tô ligado ficou para carregar a bandeira pra frente esse ano vai sair vai sair o o o tô ligado vai sair né vai vai sair tô ligado né tá já tá definido né e é mesmo nendo vocês vão sair é estão articulando aí para botar na rua vamos articulando você sempre tá articulando mas vezes nem sai o bloco de trio não nasceu com cordas Na
década de 50 quando Dodô e Osmar inventaram o gênero não tinha corda não tinha camarote não tinha abadá era tudo pipoca um pessoal aglomerado em torno de um bom som o trio na verdade foi uma revolução Popular naquilo que tinha sido um carnaval de desfiles elegantes da Elite e hoje em dia parece que o pêndulo da história tá voltando para esse lado ainda tem os blocos de corda mas tem cada vez mais 100 é difícil medir o impacto de um um único bloco em tudo isso acho que é mais fácil entender o impacto que ele
teve nos irmãos Anunciação e isso de chavouet dos filhos porque a gente esqueceu completamente dessa história de que a gente havia sido rejeitado pelo bloco aumentou muito a nossa autoestima a gente ficou assim a gente tinha um bloco e que quando eu falava para meus amigos que era que era Don de bloco as pessoas não acreditavam você é Don de bloco Não sou dono de bloco sou Don de bloco sou Don de bloco Mas é óbvio que o Alcindo não fez o bloco só pros filhos dele né sendo cara político como ele era Sindicalista eu
acho que ele agiu assim Vou defender me minha cria mas também vou criar um barulho aqui vou botar 3.000 pessoas na rua negras de comunidade para desfilar no circuito oficial do bloco de trio foi uma escola pra gente de letramento racial né também essa coisa de você se poder est em todos os lugares né você tá numa escola de Elite mas ao mesmo tempo você tá num bloco com 3.000 pessoas da Periferia era um bloco que arrastava muita gente muita gente hoje em dia o aldre vê a marca do bloco na escrita dele tanto que
as coisas que eu faço eu sou acabei me tornando escritor né e artista escritor de ficção as minhas histórias falam de exclusão eu fiz um livro chamado Namíbia não que foi adaptado pro cinema virou Medida Provisória que fala de uma lei né que exige que todos os negros e negras retornem para África em pleno século XX quer dizer é um pouco essa história que a gente vive que a gente viveu ali no car naval né essa convocação de sair daí saia daí da Avenida essa avenida não lhe pertence né esse bloco não lhe pertence eu
acho que essa experiência com real me me deu muito assim acionou vários gatilhos na minha cabeça para entender essa coisa de ser preto numa sociedade que se quer branca como é possível né você continuar com com otimismo de vida ainda que as pessoas te excluam assim e para onde você pode ir existe uma realidade outra que é a do realc por exemplo 3.000 pessoas que te querem ali não é fácil materializar Essa realidade isso fez parte do aprendizado também é dá um trabalhão isso né É porque eu quer é porque eu queria só curtir comandar
3000 pessoas é a gente faz por amor né nem curtia É isso aí essa história foi produzida pela Flora Thomson Dev diretora de pesquisa da novel a gente agradece o Eduardo reck de Sá pela sugestão da história além de Namíbia não audre Anunciação acabou de lanar outro livro chamado pretores biografia Não autorizada de um ex branco pro segundo ato do episódio de hoje a gente vai passear um pouco pelo carnaval do Rio mas não é exatamente o carnaval do Rio que eu ou você ou qualquer pessoa viva hoje tenha conhecido de novo a história começa
num lugar um tanto inusitado bem longe da marqu de Sapucaí quem conta É a Evely argenta numa edição de terça-feira de 1929 o jornal diário carioca trazia na página 4 a notícia De um acontecimento que movimentava Nova York naquele dia centenas de pessoas estavam nas ruas buscando qualquer tipo de informação sobre uma notícia que já vinha sendo anunciada Ou pelo menos prevista pelos jornalistas que acompanhavam o assunto de perto e não eu não tô falando do Crash da bolsa em outubro de 1929 aquele que ajudou a mergulhar o mundo M todo numa grande depressão a
notícia do Diário carioca era de 15 de Janeiro uns bons meses antes do colapso na economia mundial a nota dizia que naquela madrugada um enorme grupo de pessoas tinha ido até a estação telegráfica da cidade para acompanhar com muito interesse as notícias que os correspondentes americanos estavam mandando direto do Rio de Janeiro Todos estavam ansiosos para finalmente saber o resultado de uma reunião super importante que tinha acontecido no rio uma reunião que ia dizer sim ou não para um empréstimo oferecido por banqueiros americanos para financiar um mega evento no Brasil a ansiedade das pessoas era
tanta que navios já tinham sido tomados por turistas esperando para a zarpar rumo ao Rio de Janeiro bastava o Sim e ele veio às 4 horas da manhã sim os banqueiros americanos iriam emprestar uma boa quantia de de dólares para bancar um magistral e Triunfal bloco de carnaval se você achou essa notícia estapafúrdia eu preciso te dizer que eu até omiti alguns detalhes para deixar ela um pouquinho mais verossímel tipo os 100 navios sendo tomados no porto ou então informação de que a Neve tinha transformado algumas pessoas em sorvete mas tem coisas verdadeiras aí tá
a primeira delas é que sim essa notinha tá publicada na página 4 da edição 157 do jornal diário carioca numa sessão dedicada a dar os informes de carnaval a segunda coisa verdadeira é a existência do tal bloco de carnaval só que esse bloco não era grande o suficiente para precisar de um empréstimo de banqueiros americanos para sair nem tinha tamanho para arrebatar pessoas suficientes para encher uma centena de navios Na verdade ele não conseguiria encher nenhum bote salva-vidas de um navio é que o tal bloco era composto por uma única pessoa era o bloco do
eu sozinho você já deve ter ouvido essa expressão em algum lugar Normalmente quando a gente quer falar de alguém que não se mistura muito ou então que prefere fazer as coisas sozinho talvez também você conheça bloco do eu sozinho como sendo o álbum do Los irmanos né inclusive é basicamente só isso que aparece nas buscas no Google mas o bloco do eu sozinho de fato existiu e saiu com uma única pessoa pelas ruas do Rio de Janeiro por 59 carnavais quer dizer muito antes do Marcelo Camelo e Companhia levantarem a bandeira dessa sensação de não
se encaixar muito bem no mundo teve um cara que levantou um estarte de isopor segurado por um cabo de vassoura fazendo a mesma [Música] coisa O nome desse cara era Júlio Silva um Pernambucano que se considerava carioca já que tinha mudado pro Rio com do meses de idade e esse que se ouviu é um dos raríssimos registros da voz do Júlio uma voz já fraquinha de um homem de 84 anos eu encontrei ela num curta de 1978 chamado eu sozinho dirigido pelo Breno cooperman o Antônio César Costa e o Tonico Amâncio narrado pelo Tonico Pereira
eu achei esse curta na página da cena Tropical lá no site da rádio novelo tem o link para você assistir foi em Vila Isabel que começou sua vida de fulão de lá saí em automóvel alugado para os cursos da Avenida para os concursos de humorismo ou para os desfiles das grandes sociedades suas primeiras apresentações foram em bloco os carnavalescos Até que em 1919 Até que em 1919 aquele famoso carnaval depois da primeira guerra e da gripe espanhola o Júlio cansou de esperar pelos outros ele resolveu abandonar os amigos que saíam com ele em dois blocos
o tatu subiu no pau e o Baratinha para fundar o próprio bloco um bloco onde ele seria o presidente o diretor o compositor o puxador o músico enfim um bloco de um homem eu ando só por companhia tenho minhas bugingangas que me são Leais sozinho vivo bem até convenho feliz me corre a vida de rapaz contas não dou se tarde ou cedo entro reclamações no lar não se me faz contas não tenho nem despacho empenho senão de mim por mim e ninguém mais entra a hora que quero ou me é preciso sai a hora que
entendo ou me Convém se como ou não Como passo bem prefiro a vida assim sem isolado melhor é andar sozinho tem o Ciso em companhia do outro mascarado esse poeminha um Ode a liberdade Solitária é o que o Júlio respondia paraas pessoas que questionavam a escolha dele de sair sozinho no carnaval e até aí nada demais né é uma pessoa que resolveu curtir a sua festa sozinha sem depender de ninguém nada diferente de alguém que hoje em 2024 pega sua pochete o seu glitter e sai pela rua encarnando uma fantasia qualquer só que eu ainda
não te contei um detalhe importante sobre o Jú no começo dos anos 20 o Júlio era repórter e escrevia para alguns jornais do rio tipo O Correio da Manhã O Imparcial A Gazeta de notícias e por conta disso ele tinha certa facilidade em conseguir publicar algumas notas sobre o carnaval se não nos jornais onde ele trabalhava então nos jornais onde os amigos dele trabalhavam e ele era um cara super bem relacionado chegou até ser dirigente do Flamengo e defendia com unhas e dentes que a frase uma vez Flamengo sempre Flamengo era a criação dele mas
isso aí por razões assim bastante particulares não me interessa a aprofundar aqui então Segue o baile bom foi assim graças a essa intimidade com os jornais e com os jornalistas que o bloco do eu sozinho por pura piada aparecia nos informes carnavalescos de um jeito bem diferente do que ele era na realidade tipo essa nota do jornal O Imparcial de 20 de janeiro de 1923 ela dizia que a equipe de repórteres tinha conseguido com exclusividade acesso ao barracão do bloco do eu sozinho onde eram confeccionadas as fantasias no plural e onde tinha conversado com inúmeros
Operários que trabalhavam no ensaio geral na verdade a única pessoa que ajudava a fazer a fantasia do palhaço tipo um Pierrot do Júlio era a mulher dele a Amélia e tinha umas outras notas que até ultrapassavam demais o limite da credibilidade teve uma no Diário carioca que falava que se ouviram gritos de 10 milhões de pessoas pelas ras do Rio para comemorar o tal empréstimo dos americanos para início de conversa o rio tinha um pouco mais de 1 milhão de habitantes na época Mas além disso O jlio não gostava que ningém ficasse perto afinal não
era o bloco do mais ou menos sozinho né só que ao mesmo tempo que o Júlio era extremamente radical quanto à presença de mais gente no bloco ele sempre se referia ao eu sozinho no plural o nosso bloco os nossos foliões as nossas músicas tipo nessa marchinha cantada por ele no curta de 1978 tem uma abertura o bloco eu sozinho comprazia brincar no Carnaval com muita alegria mantém a sua linha Alegre sempre original neste desfilo apresentamos o nosso bloco A todos os corações sempre contente nós começamos por ser os mais foliões agora somos de São
Cristóvão saímos contente a passear nosso bloque atraente o eu sozinho já vai [Música] [Aplausos] andar a confusão dos poemas e marchinhas se juntava às notinhas de jornal incluindo aquela dos navios de Nova York e todas essas notas eram publicadas num tom de brincadeira de gozação mesmo só que elas ficavam no meio de outras notícias reais do jornal O que acabava confundindo muita gente o Júlio disse que o auge dessa confusão foi quando ele escreveu uma notícia dizendo que o bloco do eu sozinho faria um grande desfile nas ruas de Vila Isabel um bairro da Zona
Norte do Rio daí O inspetor da Light a companhia que operava os bondes elé desou Bondes extras atender os fules e o Júlio B Júlio ficou na rua rindo e olhando os Bondes vazios indo e voltando todo orgulhoso de mais uma peça que ele tinha conseguido pregar em nome do [Música] carnaval foram muitas notinhas reais Pero nos jornais da época além dessas que eu te contei tinha nota falando de Assembleia paraa eleição da direção do bloco paraa prestação de contas de datas de ensaio com centenas de músicos de confecção de carros alegóricos outras até descrevendo
os carros alegóricos tudo fantasia só que nessa realidade paralela com o passar do tempo o bloco de eu sozinho foi ficando cada vez mais conhecido e o Júlio foi ficando cada vez mais conhecido e foi ficando cada vez mais manter a fantasia de solitário Até que em 1970 o Júlio Silva dispensou as centenas de músicos guardou os suntuosos carros alegóricos e anunciou o último desfile do bloco do eu sozinho no que seria o seu carnaval e a justificativa pro fim foi justamente o fato de ter se tornado conhecido demais o jornal do Brasil um melancólico
e saudosista Júlio disse que a gota d'água aconteceu no carnaval de 1969 dois amigos dele um que morava no Rio Grande do Sul e outro em Pernambuco ligaram para contar que tinham visto ele na TV e aquilo fez ele sentir que tinha cruzado um limite um ponto de não retorno ia ser impossível ser sozinho a partir daí o mais curioso dessa história é que o Júlio que sempre prezou pela solidão e não prestava contas a ninguém como ele mesmo escreveu no poeminha escolheu o maior Jornal do país na época para sair de cena com direito
a fotão e tudo eu fiquei um bom tempo pensando nisso no porquê de uma despedida tão midiática eu cheguei à conclusão que talvez essa justificativa numa página inteira de jornal não foi tão surpreendente assim talvez ele quisesse era aparecer se fazer conhecido desde 1919 Afinal quem não quer aparecer não sai por aí vestido de palhaço segurando uma placa né Será então que essa despedida do Júlio todo saudosista dizendo que o bloco do eu sozinho Nunca mais sairia no carnaval era mais uma pegadinha [Música] dele Tudo indica que sim em 1970 de fato bloco do euzinho
não saiu pelo menos não com o Júlio vestido de palhaço mas o bloco do euzinho voltou a sair em 19 1971 em 72 deu uma pausa porque um genro morreu mas ele tava lá na rua em 73 74 75 76 77 e em 1978 quando Júlio escreveu mais uma nota no jornal do Brasil agradecendo o apoio da Imprensa e se despedindo de uma vez por todas do carnaval a partir daquele ano ele só ia visitar amigos e parentes em [Música] Copacabana até o ano seguinte quando ele voltou a desfilar pelas ruas do centro do Rio
do mesmo jeito vestido de palhaço segurando uma placa de isopor distribuindo poesias marchinhas e doces para quem tava na rua e estava na rua naquele fevereiro de 1979 testemunhou o último desfile do bloco do eu [Música] sozinho 5 meses depois daquele carnaval aos 84 anos o Júlio Silva morreu e dessa vez ele não teve como avisar ninguém nem colocar uma nota no jornal se despedindo dessa vez foi a rua a grande companheira do Júlio que acabou pregando uma peça nele o palhaço Júlio Silva foi atropelado no dia 10 de julho de 1979 no bloco do
eu sozinho sou faz tudo e não sou nada sou samb a folia de fantasia cansada sou novo e o antigo sou surdo e o entrudo visto Farrapo e viludo faço um breque depois sigo o carnaval do bloco do eu sozinho não existe mais porque aqueles dias não existem mais na verdade a gente nem sabe direito como foram aqueles dias né O que a gente sabe é o que alguém contou a história que alguém escolheu contar o Júlio escolheu contar um monte de histórias umas verdadeiras outras não e o que ficou foi uma imagem que parece
ao mesmo tempo uma visão do passado distante e uma realidade meio espelhada do nosso tempo um palhaço com uma placa fingindo se esconder na própria fantasia fugindo das câmeras e a fantasia feita justamente para ser encontrada por elas e se o carnaval é essa festa da inversão uma festa que sempre andou no fio da navalha entre a realidade e a fantasia quem sabe a história do Júlio e do seu gigantesco bloco do eu sozinho esteja aí só para lembrar a gente disso mesmo soinho C su multidão Deserta pé na dança e mão aberta em busca
da vida cheia no bloco Essa foi a Evely argenta produtora sor da Rádio novelo Obrigada por ter ficado com a gente até o final de mais um episódio do rádio novelo apresenta no post desse Episódio no nosso site tem algumas fotos da família Anunciação e dos primeiros anos do bloco Realce também dá para ver o curto do Júlio Silva além das lorotas que ele conseguiu emplacar nos jornais cariocas sobre o bloco do eu sozinho você pode aproveitar que tá no site para assinar a nossa newsletter que desfila pelos inboxes dos ouvintes fiéis toda quinta-feira e
se você quiser mandar alguma sugestão de história pra gente lá no site tem uma sessão chamada envie uma pauta onde tem bem explicadinho Que tipo de formato funciona melhor no programa você já sabe mas não custa lembrar que os episódios do rádio novela apresenta estão disponíveis nos principais aplicativos de áudio você pode seguir a gente no Spotify no Apple podcast e no Amazon music na deer é só favoritar e também dá para se inscrever no Google podcast no cast box e no canal da Rádio Novel no YouTube segue a gente também no Twitter e no
Instagram no @ rovelo e marca a gente sempre que for recomendar ou comentar algum episódio o rádio novela apresenta é um original da Rádio novelo a gente tem o apoio da Open society foundations tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paula escarpim e da flora Thomson Dev e a produção executiva É do Guilherme Alpendre a executiva é da Marcela e a gerência de produto é da Juliana heer nossos produtores sor são o vitorugo Brand a Evely argenta a Bia Guimarães e a Sara zel as produtoras da nossa equipe são a Bárbara rubira
a natlia Silva e a Júlia Matos a checagem desse Episódio foi feita pela Denise Ribeiro e pelo PL Lopes a mixagem é do pipoca sound o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela o design das nossas peças é do Gustavo nascimento e a nossa analista administrativa e financeira é a tain Nogueira obrigada e até a semana que [Música] vem
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