[Música] dançar dançar a derrota do meu adversário dançar na festa do meu aniversário dançar sobre a coragem do inimigo dançar no funeral do ente querido dançar a volta da fogueira na véspera do grande combate dançar é orar Eu também quero dançar a vida é uma grande dança [Música] Paulina ama aspecto na sua literatura que é interessante que você diz que não se considera uma romancista mas uma contadora de histórias que a sua paixão é encontrar histórias e a leitura dos seus livros demonstra isso né recorrentemente o enredo ele se desvia um pouco para contar um
pouco mais da Cultura moçambicana como é que você dá esse processo na sua no seu trabalho como escritora [Música] tenho uma parte da Cultura Tem uma parte da cultura Portuguesa que a outra herança e Então chegou a hora de escrever Qual é a estética que eu vou usar vou usar só a europeia e deitar fora o lado banto vou usar os dois e a outra pergunta é o que é essa coisa de estética como é que eu posso chamar estética como é que eu posso entender estética Será que existe Será que foi estudado então um
escritor africano ou um escritor negro tem sempre negro africano tem sempre este conflito Esse é um dos aspectos o outro eu venho de um background social que não é propriamente o mundo europeu que não é propriamente o mundo acadêmico eu sou aquela pessoa que sai do chão e da Aldeia então os outros começam a olhar a perguntar mas quem é essa aí que aquela Juca que sabe o que que ela é capaz de escrever e o terceiro é uma mulher escrevendo o que que ela pode escrever uma mulher só sabe escrever cartas de amor então
eu venho de um contexto cheio de conflitos e preconceitos escreveu os primeiros testes públicas em jornais e lá vinham aqueles que sabem o bom português assim realmente foi bom neste está escrito mais não é não está escrito num bom português publiquei outros testes Ah tudo bem os textos estão bem mas a estética não é propriamente esta e um dia publiquei o livro A que chama o romance é considerado o primeiro romance escrito é Moçambique então lá vieram de novo é muito interessante Este texto de quem copiaste mas olha isto aqui para ser um romance não
é bebê assim tem que ser desta forma ouvir tanta coisa que eu disse basta não me tragam a vossa autoridade sobre a minha liberdade eu não estou a escrever romance não está escrevendo nem na minha língua nacional para fazer aquilo que acontece então recusei o título é alguma coisa que vem com a Europa com essa academia E se eu dissesse sim sou romancista lá vinham entre as herói Eu Sou professora não gosto disso então de fato eu sou essa pessoa que conta histórias e uma das grandes críticas que eu sofri na altura e acho que
até tem razão é que a minha escrita é muito oral então devia aprimorar os meus testes e fazer uma leitura escrita de acordo com os canos confesso que experimentei mas depois quando fui ler não me deu prazer eu não quero saber mais nada o que quiser porque eu a partir de hoje vou escrever o que eu quiser pronto o Jorge Amado quando a esposa dele resolveu escrever um livro ele deu um conselho a ela olha só não faço a literatura escreva né E você tem uma grande professora né você teve uma grande professora que é
a sua avó que era uma grande contadora de história como é que foi essa convivência com a avó e o que ela lhe contava é preciso dizer que no contexto africano as avós quase todas as avós ocupam Este Lugar privilegiado de no fim do dia ou no fim de semana contar histórias para entreter para educar os netos às vezes não são várias Os homens imigram vão trabalhar na cidade ou vão trabalhar sobretudo na minha região ou vão trabalhar na África Sul e o cuidado da família fica nas mãos das mães que as mães prontos estão
no trabalho de campo e arrumar a vida e essa voz são aquelas que tem mais tempo para socializar as crianças então é um fenômeno quase comum pelo menos na região onde eu venho ver as avós a tomar conta dos netos e transmitir vai nos sociais e culturais porque o homem está ausente agora os homens os avós de vez em quando apareceram mas isso gera várias vezes mas esse é ainda hoje o lugar do feminino essa história é todas são mas há uma particularidade as histórias tinham sempre este lado o bem e o mal então aquele
que fazia o mal recebeu castigo etc fazer o bem tinha um benefício e o que é que se fazia avô conta a história e dentro dessa história a personagem que faz o mal é uma de nós que não cumpriu com os seus deveres Então essa é a personagem amada história e depois já havia um bom aquele que se comportou bem e havia sempre esta competição entre nós quem é que vai fazer melhor as coisas para vencer um lugar Nobre na história que a vó vai contar e no fim aquele que se portão bem se tornou
o herói ou heroína da história recebia são os mesmos que era um jaqueta de amendoim torrado pela avó coisas bonitas que me dão saudades de certa forma subverte um pouco essa questão do maniqueísmo né dessa luta entre o bem e o mal porque todas as suas personagens são muito fortes Elas têm os dois lados elas lutam com essa dualidade né a protagonista Alegre canto da perdiz ela tem essa dualidade e o livro começa com a cena belíssima daquela mulher nua se banhando ao Resgate muito profundo dessa alma moçambicana né dessa uma certa Liberdade Como é
trabalhar com esses elementos na sua Lite ratura eu acho que não vou responder absolutamente nada o que eu vou dizer é o seguinte trabalhei com a história uma Delfina ou o delfinas que eu encontrei ao longo do meu trajeto trabalhei muito no campo trabalhei várias cidades conheci pessoas diferentes o que eu vi ao longo do tempo é que de fato Todos nós somos doais eu aqui sou uma santa aviso desde já mas quer me provoca saberá que eu sou um verdadeiro demônio então a maior parte dos livros mesmo as nossas histórias em volta da fogueira
Colocam um personagem bom do princípio ao fim e o outro que é mal do princípio ao fim mas o ser humano é este é como as estações do ano é como a noite um dia hoje somos uma coisa amanhã eu trabalhei a história dessa defina deixa-me dizer que é uma mulher que eu conheci e o meu encanto pela Delfina porque eu gosto muito desta mulher foi ter conversado com ela Claro que na vida real ele nos chama de afina eu tive que ir por este nome ela me deu uma grande lição de vida que é
o racismo é uma mulher escura uma preta escura muito bonita e muito escura que casou com preto e casou com branco e todo esse enredo isto é uma coisa real tanto eu comecei a perguntar como é que uma mãe preta é capaz de educar os filhos do próprio ventre com essa diferença com essa hierarquia e encucando o valor do racismo e depois aparece o velho branco que foi o segundo marido dela que não queria nada com racismo o branco mas estava preta que se melhoracismo não sei da família isso me encantou e foi de fato
esta grande lição que eu tive Deus até hoje até a altura em que eu conheci estabelece a senhora eu acreditava que o racismo era aquela aquele monstro que são os brancos que praticam mas foi aprender pela prática que Afinal nós pretos por vezes somos racistas contra nós próprios bem não sei qual é a pergunta que me fez eu não sou dualidade e essa essa dualidade é que domina adelfina né mas que de certa forma é um encanto dela né é um livro muito poético né E muito preenchido com Imaginário porque a gente percebe ali o
lendário né a certa mitologia até moçambicana permeando a vida dessa mulher e dando sentido a vida dela né quer dizer houve também esse seu interesse e fazer Delfina uma espécie de representatividade do imaginário moçambicano de certa maneira assim mas ao mesmo tempo enquanto eu trabalhava eu comecei a perceber que há muita coisa muitos a mitologia moçambicana e ouvindo um momento aqui outro mito ali então ia fazendo essa salada para dar corpo a esta história e um dos mitos que mais me encanta é o mito da criação do mundo que eu fiquei muito Encantada porque não
sabia nem sabia sequer que existia na minha educação que eu cresci no tempo Colonial estudei uma secundário no tempo Colonial Nós aprendemos tudo que é mitologia grega sobretudo portuguesa nem tanto não me lembro mas me diz portugueses mas a mitologia grega era obrigatória então todo o indivíduo que se julgaram dentro tinha que saber algo sobre Apolo Sobre aquelas confusões todas de Portugal não me lembro talvez tenha aprendido e quando eu comecei a falar de Mitos moçambicanos os doutores mais uma vez Ah não Paulinha como é que nós tradicionalista qual a importância do medo então isso
trouxe-me um conflito Eu gosto muito de questionar costumo fazer muita bagunça Como disse Os brasileiros eu sou daquelas pessoas que nunca aceita um prato feito por muito saboroso que seja eu como e depois pergunto como é que foi feito Qual é a receita e vascuro para perceber o que está por dentro então isso levou a conhecer muitas coisas e ouvir muitos mitos que usei para temperar para fazer um tempero e construir este livro para Além de que a vida é da própria filha que é real é uma mulher real tem um aspecto também da sua
do universo que me chamou também muita atenção Nisso porque você De certa forma nos surpreende muito nesse livro também quando você inicialmente nos mostra uma mulher muito submissa o marido vai embora o marido é autoridade da cidade e tá sempre ausente e ela se submete a isso e no final ela quem toma sua história ela que é a dona da sua própria história ela que constrói o seu destino é um certo sentido do de reconstrução da alma de seu próprio povo não é de certa maneira mas ai que um preconceito que o mundo tem de
que as mulheres são submissas e às vezes alguns homens chegam acreditar que de facto as mulheres são tão Rasa não pensam sobre tudo quanto esse vive numa numa sociedade de poligamia as pessoas que acreditam nisso e foi para mim um encanto descobrir que aquelas mulheres caladinhas guardam Segredos incríveis Então como sempre a seguir a história e tentar perceber Afinal quem são as mulheres uma das coisas que eu puder aprender Porque de fato quando as esposas do mesmo homem se entendem o homem é o julguete nas mãos delas elas fazem e desfazem Então guarda os seus
segredos sem a rua com umas santas Mas elas conhecem as malandragens assim do tipo olha somos três esse velho aí é capaz de viver me incomodar tu toma conta deste homem durante toda a noite não deixa que ele saia porque eu quero sair da janela Então as três vão Armando as suas histórias tem segredos os podres como se costuma dizer e então o homem fica ali com a imagem às vezes fica todo orgulhoso porque você controlar as minhas mulheres ai porque eu as minhas mulheres me respeitam mas quando as mulheres do homem do mesmo homem
sem entender ele não sei se posso dizer isso ele é um cornudo pronto isso é muito comum fui ouvindo essas histórias Não mesmo eu pensava que elas só diziam sim senhor e não pensava em mais nada e não havia malhar disse e não passavam de umas santas umas bestas usadas Não não é isso então eu fui descobrindo alguns segredos algumas vivências algum algumas loucuras até das mulheres e fui escreveu o livro Como escrever mas é um livro curioso porque não há julgamento né além das mulheres eles próprios homens né quer dizer é aquela história de
da contadora de história disse olha aí tá um fato né quer dizer o julgamento não me cabe né mas você narra isso de uma maneira tão poética que consequentemente ele não se torna agressivo também é uma história até de certa forma lírica né como é que a mudar isso também como é a magia sem fazer Qual o segredo da Paulina eu não sei se tem algum segredo Mas por que que os livros tem que julgar e será que esse julgamento é justo bem as nossas sociedades nós que viemos da colonização vem cheios de preconceitos da
Europa sobre sobre África cheios de preconceitos da igreja de a da região de b e onde cada um entendo que o sagrado segundo as suas fantasias O que é profano segundo a chance e nós escritores muitas vezes quando julgamos em Literatura às vezes nos transformamos num canal ou num veículo de propagação de preconceitos que afinal se calhar Então pensa nisso eu disse não não gosto de julgar porque às vezes julgamos errado Está correto o que julgamos sagrados neste livro O enquete é uma história que me encanta é um capítulo que me encanta que é as
duas mulheres juntas lutam primeiro depois de entender e depois partilham mesmo amante e depois Na aparência são todas muito amigas vão juntas à igreja e dar uma imagem social de mulheres castas Mas afinal tornaram-se amigas porque partilham o mesmo marido e partilham o mesmo amante claro que o marido não sabe que as duas partiram o mesmo amante será isso bom será isso mal se eu tivesse a ideologia cristã ou ocidental ia me colocar em diretamente a condenado porque estas mulheres são adúlteras mas se eu sou humana e sou Africana e imediatamente eu digo não essas
mulheres de certeza tinham carências afetivas E então enquanto o marido se distraia com uma elas foram se distraindo com outro Portanto o direito à sexualidade então não sei é muito complicado é o sentido da Igualdade não é agora uma coisa também muito que chama muito a atenção na sua literatura além de toda essa questão poeta digamos assim uma certa falta de hierarquias né a um patamar onde todos se encaixam inclusive sentimentos religiosos né os sentimentos mais profundo da religiosidade tanto né que que a sua tradição Ela tá no mesmo patamar da religiosidade você Judaica Cristã
que o que o que os colonizadores trazem para Moçambique né também em todos os sentidos homem e mulher o próprio os seus padres são sempre de certa forma meio que assustados com toda essa realidade que ele não consegue compreender Eles não conseguem compreender com seu com a sua ideologia a ideologia deles não não conseguem compreender essa esse sentido pleno da Igualdade né também é uma coisa muito forte da sua literatura não é sim porque é preciso para mim a literatura é este espaço onde eu tento negociar a minha própria identidade negociar a minha própria cultura
e às vezes fazer um diálogo vou dar um exemplo muito muito não sei se é que conhece as mulheres do Norte de Moçambique são todas muito bem vestidas aquelas mulheres celebram a vida uma mulher do Norte não vai ao mercado sem estar maquiada Esse é o norte as mulheres do Sul São como eu assim roupas sóbria e meio desarranjadas assim mais para máquinas de trabalho e o que que a religião diz ah porque as mulheres do Norte são pecaminosas e as mulheres do Sul parece que são mais santas mais fiéis mais próximas do Cristão Ok
tudo bem até aí não te escuto um desses dias eu fui trabalhar viver no norte e foi muito interessante conversar com tanto com os homens e com tanto como as mulheres Perguntei mas por que que vocês estão sempre enfeitados e a resposta foi tão romântica eles dizem Olha nós temos que Celebrar o corpo porque é no corpo de uma mulher onde Deus colocou as sementes da eternidade então o corpo da mulher no norte é sagrado eu olhando bem tava com um homem também perguntei Mas qual é a sua opinião ele onde é que você vem
de venda da minha mãe e a sua mãe do vento da mãe dela e a mãe dela do ventre da mãe dela então onde reside as sementes da Eternidade no corpo da mulher ora isso é tão verdade isso é tão natural é tão bonito mas quando a gente vai para o pensamento ocidental para a região Cristã a islâmica o corpo da mulher é um lugar do pecado que que há então eu digo mas esses tipos parece que não entenderam bem o que a vida é portanto tenta negociar isto e fazer ver que nem tudo que
se diz religioso Sagrado é religioso é sagrado na casa deles entre nós a realidade é outra e outro assunto interessante também tem a ver quando não deixa as literaturas as crônicas aquelas coisas sobre nós diziam que Ai que povo criminoso os negros são um povo novo coitados todo mundo sabe disso muito bem teste é a província mais quente do nosso país nos 38 40 45 graus lá vem a senhora europeia toda Sagrada com o marido para trabalhar em teto leva Chapéu do Sol luvas aqueles vestidos não sei não sei de quantas saias meias botas espartilho
claro que os negros admiram Jesus Mas onde é que ela pensa que vai com tudo aquilo mas o que é bonito OK passado um tempo é a senhora que sai ai que calor que eu sinto Ô Maria Ô Preta leva o meu Lego Ô Maria agora Tira esta sai dos séculos de colonização o povo não é que se veste e aquele que vem vestido é que anda quase no veja nas imagens do mundo os africanos os africanos são aqueles que vestem mais roupa os europeus ou os filhos dos europeus Os descendentes dos europeus são os
que usam menos roupa as cinco séculos mais ou menos 5 nós éramos os selvagens que não sabemos vestir mas os ocidentais quando chegaram se tivessem dialogado teriam percebido que é uma razão para se estar no e que estar num clima de 45 graus é tão bom tem uma cena da sua vida que eu acho tão bonita você recebeu a notícia de que ganhou o prêmio Camões de literatura A Beira Da Fogueira representatividade disso Paulina como é isso porque tava diante do mais importante prêmio de língua portuguesa e diante tá mais tradicional forma de contação de
história da África isso é muito significativo E por que que as pessoas recebem para brincar mas ao mesmo tempo eu digo Olha eu sou o que sou nós africanos muitos somos o que somos porque recebemos os valores à volta de uma fogueira Então por que que eu não posso receber o prémio nem pensar o jornalista realmente foram simpáticos comigo chegaram e disseram Olha a Paulina agora para o passo porque vamos transmitir eu escrevi aqui aprendi aqui crescer Aqui é aqui que eu vou receber a notícia deste prédio pronto então os nossos mais velhos os nossos
ancestrais não sabia ler não sabia escrever não tinham escolas formais mas sabiam educar o seu povo eu digo às vezes sou assimétrica é essa educação portanto para mim não é uma educação maior numa educação menor lá porque aprendi a escrever não vou me desprezar aquele ponto de origem Esse é o primeiro aspecto o segundo tem a ver mesmo com conforto não sei porque eu cresci com fogueiras desde a minha infância e eu quando olho para a fogueira aquelas Labaredas no fumo de vez em quando aqueles espirais me inspiram Parece que levou a minha alma para
uma outra dimensão então dá mais se magia e finalmente está na fogueira é relaxante problema muito obrigado pela sua participação aqui no leituras através da maravilhosa Muito obrigado obrigada mas podemos continuar a conversar [Risadas] [Música]