Por que AVIÕES pararam no tempo?

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Ciência Todo Dia
Desde o dia em que voaram pela primeira vez, aviões se tornaram sinônimo de transporte rápido e efic...
Video Transcript:
Paris, 21 de janeiro de 1976. Meio-dia e quarenta no horário local da França. Na pista do aeroporto internacional Charles de Gaulle, um avião decolava para a história.
Era o primeiro voo comercial do primeiro avião de passageiro e supersônico de todos os tempos. O destino, do outro lado do oceano Atlântico, era o Rio de Janeiro. Exatamente no mesmo dia e na mesma hora, mas em Londres, outro avião do mesmo modelo partia em direção ao Bahrein.
Não era uma coincidência. A Air France e a British Airways combinaram de estrear ao mesmo tempo aquela que era uma das grandes obras-primas já construídas pelo ser humano até então, o Concorde. A primeira aeronave a transportar passageiros na velocidade do som prometia inaugurar uma nova era na aviação civil.
A expectativa no mundo inteiro era de que estava começando uma revolução na forma de se viajar, um sonho de uma nova fase duradoura em que as distâncias ficariam cada vez mais curtas. Atravessar a Terra em questão de horas parecia uma possibilidade cada vez mais real. No entanto, não foi bem o que aconteceu.
A esperança deu lugar à frustração. O Concorde durou poucas décadas e acabou saindo de operação. E mais do que isso, nenhuma outra aeronave ocupou esse lugar.
Hoje em dia não existe nenhuma aeronave comercial capaz de viajar em velocidades supersônicas. A impressão que ficou é de que os aviões pararam no tempo. Mas afinal, por quê?
Por que isso aconteceu? Se você gosta das camisetas que eu uso nos vídeos, a melhor promoção do ano chegou. É a caixa surpresa.
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Pra gente entender como o ser humano conseguiu criar um avião mais veloz do que o som, e porque ele deixou de existir, a gente precisa voltar lá pro início da história da aviação. O desejo de voar sempre permeou a imaginação do ser humano, e a primeira tentativa de que se tem registro de construir uma máquina voadora aconteceu na Grécia Antiga. Quase 2.
500 anos atrás, o matemático Arquitas de Tarento desenvolveu um protótipo que ele apelidou de O Pombo. Não existem muitos detalhes, mas o que se sabe é que era um objeto não tripulado, possivelmente impulsionado a ar comprimido, que teria planado por cerca de 200 metros. No século seguinte, foi a vez dos chineses criarem um objeto voador, e que você certamente conhece até hoje como pipa, ou papagaio, ou cafifa, ou arraia, ou pandorga.
Enfim, é muito difícil de fazer um vídeo para um país do tamanho do Brasil, porque tem nomes diferentes para cada região, mas você já entendeu do que eu estou falando. O fato é que ao longo dos séculos foram surgindo novos objetos criativos capazes de voar, mas nenhum deles era uma boa ideia para se transportar um ser humano. Eu queria que o padre do balão soubesse disso.
Até que no século XV, um inventor se dedicou a criar um projeto capaz de fazer o homem finalmente decolar. O nome dele, Leonardo de Serpiero da Vinci. O gênio renascentista projetou não só um, mas vários objetos voadores.
Ele foi o responsável por desenhar os primeiros esboços do helicóptero, do planador, e até de uma geringonça chamada onitóptero, que é uma espécie inusitada de avião que bate asas que nem um pássaro. Infelizmente, na época, a engenharia e a tecnologia de materiais não permitiram que os objetos saíssem do papel, nem que o ser humano saísse do chão. Mas se hoje em dia todas essas máquinas existem, é preciso agradecer a Leonardo da Vinci de alguma forma.
E sim, todas essas máquinas existem! Até o ornitóptero! O piloto fica numa cabine, pressionando um pedal que faz as asas baterem suavemente.
Tudo bem que ele não voa mais do que uns 100 metros, mas já dá pra, sei lá, fazer um leve percurso enquanto treina a perna. Mas voltando pra nossa breve história da aviação, o primeiro voo com seres humanos só veio acontecer no século XVIII, em um veículo bem famoso hoje em dia, o balão de ar quente. Essa história começou quando os irmãos franceses Montgolfier perceberam que uma fogueira era capaz de inflar um saco de seda.
E aí eles tiveram uma ideia. E aí em 1783 eles lançaram o primeiro balão tripulado. Os passageiros foram um carneiro, um galo e um pato.
Só depois que eles viram que deu tudo certo é que eles decidiram colocar um ser humano no balão. E foi aí que o professor Jean-François de Rozier entrou pra história. O lado bom é que ele se tornou o primeiro ser humano a voar.
O lado ruim é que ele se tornou o primeiro ser humano a morrer em um acidente aéreo. Mas não foi no voo inaugural. No primeiro voo deu tudo certo, mas aí ele se empolgou e quis atravessar de balão o Canal da Mancha, que fica entre a França e a Inglaterra.
E aí deu ruim. Enfim, outras máquinas voadoras foram sendo desenvolvidas nos anos seguintes, como, por exemplo, o dirigível. Ele tem uma estrutura parecida com a de um balão, mas ele pode ter as direções de voo controladas através de lames e motores.
Mas a verdadeira revolução nos ares surgiu mesmo com o avião. Como a gente sabe, ele foi inventado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont. Eu digo a gente porque em muitas partes do mundo essa invenção é atribuída aos irmãos Wright, dos Estados Unidos.
Rivalidades à parte, a disputa pelo título de pai da aviação depende do que você considera como o primeiro voo de avião. O flyer desenvolvido pelos irmãos Wright realmente decolou primeiro, em 1903, mas ele dependia do vento, de trilhos ou de uma catapulta para decolar. Já o 14 bis do nosso Santos Dumont decolou três anos depois, mas com propulsão própria.
E é por isso que, no fundo, a decisão sobre quem foi o pai da aviação fica a cargo de cada pessoa. Mas que foi Santos Dumont foi. De qualquer maneira o século 20 marcou a proliferação dos aviões.
As tecnologias foram sendo desenvolvidas cada vez mais rapidamente e os principais motores para isso foram as guerras. O uso de aeronaves para traçar estratégias militares, lançar ataques, espionar os adversários, transformou a maneira de travar batalhas e as batalhas transformaram a maneira de voar. Para se ter uma ideia, antes da Primeira Guerra Mundial, nenhuma aeronave passava direito dos 100 km por hora.
Ao final, muitas já chegavam aos 230 km por hora. E isso aconteceu por uma série de motivos. A madeira deu lugar ao alumínio, os motores ficaram mais potentes e os aviões foram aumentando de tamanho, permitindo que mais pessoas estivessem a bordo.
Por isso, no período entre guerras, surgiram as primeiras grandes linhas aéreas. Algumas delas, inclusive, operam até hoje, como a Air France, a holandesa KLM e a alemã Lufthansa. Já os anos 1930 marcaram a era de ouro da aviação.
Avanços na aerodinâmica permitiram a criação de aeronaves mais eficientes. Tecnologias de navegação e de comunicação aumentaram a segurança dos voos. E as cabines pressurizadas permitiram que os aviões voassem cada vez mais alto, enfrentando menos turbulências e tornando as viagens muito mais tranquilas.
Até que o mundo se viu, novamente, em meio a uma grande guerra. O lado triste é que foi nessa época, nos anos 40, que as aeronaves foram utilizadas para provocar um dos ataques mais brutais da história da humanidade, o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas morreram nos bombardeios, sem falar dos danos à saúde de outras milhões de pessoas.
Por outro lado, a Segunda Guerra Mundial foi um período que impulsionou ainda mais o desenvolvimento dos aviões, com muitas novidades importantes, como por exemplo o motor a jato. Nesse tipo de motor, o ar externo é captado, comprimido, queimado com combustível e transformado em gás, que é expelido em alta velocidade. E essa tecnologia levou a velocidade das aeronaves a quase mil quilômetros por hora.
E foi mais ou menos essa velocidade que passou a ser utilizada nos grandes voos comerciais ao longo dos anos seguintes. Mas o desejo de transportar mais pessoas para mais lugares mais rapidamente fez com que novos planos começassem a surgir. E foi assim que, na década de 1960, nasceu um projeto mais ousado do que todos os outros até então.
Empresários, engenheiros físicos e uma série de outros profissionais se reuniram para revolucionar a ciência mais uma vez. A ideia era criar uma aeronave capaz de viajar mais rápido do que o som, ou seja, a cerca de 1. 200 km por hora.
Vale lembrar que nessa época a Guerra Fria dividia o mundo entre os blocos capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, capitaneado pela União Soviética. Ambos disputavam a hegemonia global na política, na economia e em diversos outros aspectos. Alguns são bem conhecidos, como a corrida espacial, mas o que muita gente não sabe é que eles também disputavam, vamos dizer assim, uma corrida supersônica.
Enquanto o bloco ocidental planejava o Concorde, que eu falei no início do vídeo, os soviéticos também desenvolviam o seu projeto de avião supersônico, o Konkorski. Não, é sério, piadas à parte, algumas pessoas realmente chamavam o avião assim, mas obviamente era uma piada. O nome verdadeiro era Tupolev Tu-144.
E assim como na corrida espacial os soviéticos conseguiram uma série de vitórias importantes, como o primeiro satélite, o primeiro ser humano no espaço, na corrida supersônica eles também largaram na frente. Em 5 de junho de 1969, em um voo de teste, o Tupolev se tornou o primeiro avião da história a quebrar a barreira do som. E no ano seguinte a aeronave ainda dobrou a meta.
Ela chegou a alcançar duas vezes a velocidade do Sol, impressionantes 2. 500 km por hora. Mas então, por que até hoje todo mundo fala do Concorde e muita gente nem conhece o Tupolev?
O avião soviético apresentou muitos problemas. Na verdade, a história dele já começou cercada de polêmicas, com suspeita de que os piões soviéticos teriam roubado projetos do Concorde, o que nunca foi realmente comprovado. Mas o Tupolev enfrentou ainda algumas outras turbulências muito mais graves.
Em 1973, antes de entrar em operação comercial, um voo de exedição terminou em tragédia. O avião se desintegrou no ar, matando os seis ocupantes e também outras oito pessoas que estavam no solo. Os soviéticos nunca foram totalmente claros quanto às investigações do acidente, mas eles reconheceram a necessidade de fazer adaptações ao projeto.
E por isso, durante os anos seguintes, o Tupolev ficou sendo utilizado somente para o transporte de cargas. Foram pouco mais de 50 voos desse tipo, até que o Tupolev finalmente começou a transportar pessoas. Mas o total de voos com passageiros também não passou da casa dos 50.
Isso porque o custo de cada voo era muito alto. E além disso, os voos eram extremamente desagradáveis. Os passageiros relatam que o barulho dentro da aeronave era ensurdecedor e que mal era possível de ouvir a pessoa que estava sentada ao lado.
E esse era só mais um dos problemas do ConcordeSky. Na verdade, foram registrados oficialmente 226 falhas, durante um total de 181 horas voadas. Isso tudo fez com que a operação dele se tornasse inviável e assim o projeto acabou sendo abandonado ainda nos anos 70.
Enquanto isso, o primo ocidental dele, o Concorde, teve uma outra trajetória bem diferente. O projeto começou no início dos anos 60. E nessa época a indústria aeroespacial norte-americana esrava todo o vapor.
Por isso, duas nações europeias decidiram unir esforços para tentar alavancar suas economias e fazer frente aos Estados Unidos. E eu estou falando da França e da Inglaterra. Cada país tinha conhecimento avançado em uma determinada área.
Os franceses eram especialistas em projetar sistemas, enquanto os ingleses tinham expertise na produção de motores. Eles então se juntaram para criar um avião supersônico e, para celebrar a união, decidiram batizar a aeronave com o nome de Concórdia. Mas aí já surgiu o primeiro impasse.
O nome deveria ser em inglês, Concorde, ou em francês, Concorde? O desentendimento foi tão grande que quase levou ao cancelamento do projeto, ou seja, dava mais pra discord. No fim, a Inglaterra aceitou colocar a letra E no final, alegando que ela representaria E de England.
Alguém conta pra eles? Superada essa questão realmente muito importante, os engenheiros se debruçaram sobre os desafios tecnológicos de construir um avião tão rápido. Afinal, na velocidade do som, a fricção com o ar deixa as temperaturas muito altas.
Então a escolha dos materiais precisou ser super cuidadosa para que nenhuma peça pegasse fogo durante o voo. Mas uma das principais inovações foi o chamado sistema Fly-by-Wire. Essa tecnologia é usada até hoje na maioria dos voos.
E graças a ela, o controle de todas as partes móveis do avião é feito através de impulsos elétricos, no lugar das molas e das polias que eram utilizadas antigamente. E o resultado de todo esse investimento em tecnologia ganhou os ares em 2 de março de 1969. Nesse dia, o Concorde decolou pela primeira vez, ainda sem passageiros.
Foram sete anos de testes até que em janeiro de 1976 decolaram os primeiros Concordes com passageiros, aqueles que eu citei na apertura desse vídeo. Mas esses dois Concordes não foram os únicos. Ao todo foram produzidas 20 aeronaves desse modelo, seis protótipos e 14 aviões comerciais operados pela British Airways e pela Air France.
Um ex-CEO da companhia francesa, inclusive, definiu o Concorde como o mais belo objeto desenhado e construído pelo homem. Pelo menos, foi o que ele disse. Você concorde ou não?
Desculpa, prometo que eu não vou fazer piada com o nome Concorde. Mas o fato é que viajar nesse avião era uma experiência fascinante. Quer dizer, eu não tinha oportunidade, mas quem já embarcou em um Concorde garante que as memórias são inesquecíveis.
As cadeiras eram até meio apertadas, mas o serviço de bordo era um verdadeiro luxo. O cardápio era assinado por chefes de alto padrão e incluía pratos como lagosta e caviar. As bebidas não ficavam para trás, com direito a vódica e champanhe para os passageiros.
Mas o maior diferencial era a velocidade. Por isso o avião tinha uma tela que ficava visível para os passageiros como uma espécie de velocímetro. O número ia subindo, subindo, até que em determinado momento, um comissário de bordo fazia o anúncio mais esperado por todos.
Sejam bem-vindos ao voo supersônico. E isso acontecia no momento exato em que o avião atingia Mach 1, ou seja, a velocidade do som. Esse número varia de acordo com a altitude e outras coisas, como, por exemplo, a densidade do ar.
Mas o em média é algo como 340 metros por segundo, o que equivale a cerca de 1. 200 km por hora. E pra se ter uma ideia, o trajeto mais tradicional do Concorde entre Londres e Nova York era feito em menos de 3 horas e meia.
Se a gente considerar que a diferença de fuso horário entre as duas cidades é de 5 horas, isso significa que o passageiro chegava no destino mais cedo do que a hora de partida, levando em conta os respectivos horários locais. Ou seja, dava pra almoçar em Londres meio dia, pegar o Concorde e só depois tomar café da manhã em Nova York às 10h30 da manhã. Ou ainda, quem sabe, jantar duas vezes na mesma noite.
As possibilidades eram infinitas. O voo Paris-Rio também era muito mais rápido do que um avião convencional. Enquanto essa rota demora quase 12 horas hoje em dia, no Concorde durava só cerca de 6 horas.
E olha que ainda tinha uma parada pra abastecer no Senegal. Mas se as viagens eram tão rápidas assim, por que o Concorde chegou ao fim? Um dos primeiros obstáculos foi a própria velocidade.
Isso porque sempre que um objeto ultrapassa a velocidade do som, ele gera o chamado Sonic Bomb, ou Strom do Sônico. É que quanto mais rápido um corpo se move, mais comprimidas ficam as ondas sonoras que ele gera. E quando esse corpo ultrapassa a velocidade do som, as ondas acabam se juntando numa onda de choque única e poderosa que viaja justamente na velocidade do som.
E isso provoca um barulho ensurdecedor. No caso de um avião supersônico, é um som parecido com o de uma explosão, tão forte que chega a fazer tremer as janelas das casas das pessoas lá embaixo. E por isso os voos na velocidade do som chegaram até a ser proibidos por um tempo nos Estados Unidos.
A proibição depois foi revogada, permitindo que o Concorde sobrevoasse o espaço aéreo americano. Mas esse não foi o maior problema que o avião supersônico enfrentou. O principal obstáculo foi financeiro.
Acontece que o custo para colocar no ar um avião tão rápido assim é astronômico. Ou seja, voar com o Concorde era muito, mas muito caro. As passagens custavam mais de 10 mil dólares, bem mais caro do que a primeira classe de um avião convencional.
Obviamente, pouquíssimas pessoas tinham a condição de bancar uma viagem dessas, e com isso era muito difícil de lotar o avião. E aí você pode se perguntar, mas eles não pensaram nisso quando fizeram o projeto do avião? O problema é que o preço do combustível era um quando o projeto começou, e ele era outro bem mais caro quando o Concorde passou a operar comercialmente, mais de uma década depois.
Ainda mais porque, nesse meio tempo, aconteceu o chamado choque do petróleo. Conflitos internacionais e crises geopolíticas fizeram com que em menos de 10 anos o preço do barril praticamente triplicasse, aumentando demais o custo dos voos supersônicos. Ainda mais porque o Concorde chegava a consumir 25 mil litros de combustível por hora.
E você achando que o consumo do seu carro era ruim. Foi por isso que ao longo dos anos 80 e 90, voar com um avião supersônico foi se tornando sinônimo de prejuízo para as empresas. Até que no início dos anos 2000, dois episódios serviram como a padecal para enterrar de vez o Concorde.
O primeiro deles foi um acidente fatal em Paris em julho de 2000. O incêndio provocou a queda de um Concorde da Air France, matando todas as 109 pessoas a bordo e outras 4 que estavam no solo. Foi preciso ficar mais de um ano sem decolar com o modelo, até que as modificações de segurança fossem implementadas.
O Concorde só voltou a voar em novembro de 2001, quando o mundo da aviação já havia sido impactado por outra tragédia, o 11 de setembro. Além de provocar uma crise aérea global, o atentado ao World Trade Center prejudicou a operação do Concorde por um motivo surpreendente. Muitos dos passageiros frequentes do avião trabalhavam nas suas regiênias.
Eram empresários e pessoas de negócios que faziam parte do seleto grupo com condições financeiras de usar o Concorde para participar de reuniões na Europa. E com a morte deles, a demanda por voo supersônico diminuiu. E todos esses fatores somados acabaram levando a um caminho inevitável.
Cansada de prejuízos, a British Airways e a Air France decidiram encerrar as operações com esse modelo de avião. E então, em 26 de novembro de 2003, na Inglaterra, o Concorde pousou pela última vez. E terminava ali a história de uma aeronave que prometia mudar para sempre os rumos do transporte aéreo no planeta, mas que acabou durando menos de 30 anos.
Mais do que o fim de um avião, era o fim de uma era da aviação. E o século que testemunhou o adeus à fase dos aviões super rápidos viu ainda a derrocada dos aviões gigantes. O chamado Jumbo também vem perdendo espaço nos céus.
É o caso, por exemplo, do Boeing 747-400, um colosso de mais de 70 metros de comprimento, com capacidade para levar até 660 passageiros. Nos últimos anos, a australiana Qantas aposentou a sua frota. A British também deixou de transportar passageiros nele.
E as companhias americanas passaram a usar apenas os modelos de carga desse avião gigante da Boeing. Outra grande fabricante de aeronaves, a Airbus, passou por um processo parecido com o A380. A Lufthansa devolveu aviões para a fabricante e a Air France também aposentou o modelo.
Já a Emirates substituiu parte das encomendas por versões com dois motores, e não quatro. Todas essas decisões aconteceram pelo mesmo motivo, o econômico. Os aviões gigantes são menos eficientes e eles têm um custo maior de combustível e de manutenção.
Para operar no lucro, as companhias precisam vender praticamente todos os assentos na maioria dos voos, o que nem sempre é uma tarefa fácil. Por isso, a aposta das empresas atualmente é em aviões menores e mais baratos, ainda que os voos demorem mais e tenham mais escalas. Não é à toa que o avião comercial mais vendido do mundo até hoje é o Boeing 737.
Ele pode não ser tão rápido ou tão grande quanto os outros modelos que surgiram nas últimas décadas, mas ele segue sendo mais usado pelas companhias aéreas desde que ele foi criado nos anos 60. E isso também vale para a aviação militar. O bombardeiro B-52, que foi lançado ainda nos anos 1950, tem previsão de continuar sendo usado por mais algumas décadas, podendo chegar até um século de utilização.
Assim como o F-16, lançado há 50 anos e que ainda é o caça mais procurado pelas forças aéreas mundo afora. O peso e o tamanho deles são ideais para manobras rápidas de combate aéreo. A estrutura reforçada, capaz de suportar até nove vezes a força da gravidade, garante segurança ao piloto.
O assento elevado com uma enorme cúpula de vidro oferece uma visão perfeita do que está ao redor. E o controlador parecido com um joystick à direita do cockpit, aliado ao sistema Fly-by-Wire, também se consolidou na aviação militar. Além disso, a relação custo-benefício desses modelos é considerada imbatível.
E não vale a pena investir fortunas para substituir aeronaves que ainda funcionam perfeitamente. É aquela história de que um time que tá ganhando não se mexe. Acontece que isso tudo faz com que a gente tenha essa sensação de que os aviões pararam no tempo.
Mas será que isso é verdade? Bom, talvez a gente possa considerar como uma meia-verdade. Afinal, com tudo que eu trouxe até aqui já deu pra entender porque a indústria da aviação optou por não continuar dedicando esforços a aviões maiores ou mais rápidos.
Mas isso não quer dizer que nada tenha mudado nos últimos anos. Um exemplo disso está no ECO-Demonstrador, um projeto da Boeing para testar novas tecnologias em voos sem passageiros antes que elas sejam implementadas para valer. Nos últimos anos foram experimentadas dezenas de novidades, como um sistema de laser para prever turbulências, sensores sem fio para reduzir o peso dos aviões, novos revestimentos nas asas para reduzir o acúmulo de gelos e até de insetos, além da utilização de biodiesel produzido através da cana de açúcar.
E esses são só alguns exemplos de possibilidades que o futuro guarda para a aviação. Tudo isso é incrível, mas e com relação aos voos supersônicos? Será que existe alguma esperança de que um dia a gente possa voltar a ver ou até quem sabe viajar em aviões acima da velocidade do som?
A resposta é sim. Existem planos para um novo avião supersônico para os próximos anos. E eu estou me referindo ao Overture, da fabricante americana Boom Supersonic.
Ele ainda está em fase de testes. O primeiro voo aconteceu em março desse ano, mas ainda não atingiu a velocidade do som. As viagens para Valais só devem começar a partir de 2029.
Algumas das maiores companhias aéreas do mundo, como a American, a United e a Japan Airlines já encomendaram 130 unidades do modelo, que deve ser capaz de transportar até 80 passageiros. O Overture deve chegar a 1,7 Mach, ou seja, 1,7 vezes a velocidade do som. Isso dá mais ou menos uns 1.
800 km por hora, o que vai permitir que uma viagem de Miami a Londres, que normalmente dura umas 10 horas, aconteça em apenas 5. E para evitar aquele estrondo sônico que eu expliquei agora há pouco, o Overture deve voar a 0,94 Mach, que é um pouquinho abaixo da velocidade do som, enquanto ele estiver sobrevoando terra firme, e acelerar para valer quando ele estiver sobre o oceano. E no aspecto ambiental, a Boom Supersonic promete deixar de lado o querosene e usar o chamado SAF, que é uma sigla em inglês para combustível sustentável de aviação.
É o combustível feito a partir de recursos renováveis como óleos vegetais, gordura animal e lixo orgânico. O grande desafio que segue em aberto é a viabilidade econômica do projeto. Afinal foi justamente esse o principal obstáculo para o Concorde.
Eu mesmo estou super curioso para saber como deve ser voar no Overture, mas eu prefiro nem pensar em qual vai ser o preço da passagem. O que nos resta por enquanto é aguardar e assistir a cada passo dessa fantástica jornada supersônica. Não só aqui na Terra, mas em todo o espaço.
Afinal, além da busca pelas altas velocidades nos aviões, as empresas aéreas também têm se dedicado cada vez mais à conquista espacial. Nesse ano mesmo, a Boeing lançou seu primeiro voo em direção à Estação Espacial Internacional, em parceria com a NASA. E com isso, ela se juntou ao hall de empresas e entidades que estão empurrando as fronteiras da exploração do universo nos últimos anos.
Inclusive, vale lembrar que ao longo dessa próxima década, nós devemos testemunhar não apenas a retomada dos voos supersônicos, mas também, como eu já trouxe aqui no canal, a volta do ser humano à Lua. E ainda a criação de uma base lunar que vai nos permitir, no futuro, a tão sonhada conquista de Marte. Isso é, se os nossos rins aguentarem.
Se vocês assistem Ciência Todo Dia, vocês vão entender a referência. E são projetos que mostram pra gente que tão importante quanto ir rápido, é ir longe. E nos fazem perceber que, na insaciável busca do ser humano por novos ares, nem o céu é o limite.
Muito obrigado e até a próxima. E eu espero que você concorre de que esse foi um bom vídeo. Tchau.
Tchau!
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