Ram Dass - Sua Realidade é Relativa

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Corvo Seco
Trechos do livro “Polishing the Mirror” de Ram Dass. Ram Dass (Richard Alpert ; 1931 -2019), foi um...
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Nós no Ocidente, somos  apaixonados pela personalidade. Quando falamos sobre personalidade,  da forma que compreendemos normalmente, estamos falando sobre  uma invenção acidental peculiar. Primeiro, nos concentramos nas nossas  diferenças individuais, “sou assim, porque gosto disso e não gosto daquilo”, e a soma  total de todas essas diferenças é o que nos define em nossas próprias mentes,  “sou depressivo”, “sou autoconfiante”, “sou realmente uma boa mãe”, “sou preguiçoso”.
O processo de cultivar essa personalidade  em nós, significa que crescemos preocupados com as diferenças individuais,  as nossas e as dos outros. E ficamos tão preocupados com o que pode estar  errado em nós, que isso começa a colorir de todas as maneiras a forma como  vemos o mundo a nossa volta. Se você se preocupa com o seu nariz, então notará  os narizes, notará todas as pessoas bem sucedidas e em particular os belos  narizes que elas tem, e assim por diante.
Este modelo de quem você pensa que  você é, e de como você pensa que o mundo é, são os nossos hábitos mentais.  Com o passar dos anos, desenvolvemos fortes hábitos de percepção sobre o  universo, e passamos a nos sentir muito confortáveis com eles. Seletivamente,  percebemos nosso ambiente de forma a reforçá-los.
Esse conjunto de  hábitos é o que chamamos de ego. O ego é quem você pensa que você é.  Ele é um conjunto de pensamentos sobre como você se identifica.
Manas, a mente inferior, está sempre ocupada com os desejos, com as sensações e com os pensamentos. Ora a mente percebe uma sensação, ora um pensamento, ora uma emoção, ora um pensamento. E constrói todo um mosaico a partir deles, que vivenciamos como o universo do nosso ego.
Devido à natureza dos apegos, você só pode ver o que você está condicionado a ver, o que, do ponto de vista do ego, é um mundo de sujeito e objetos, de um eu e um mundo material. Esse é o seu universo particular. Por isso, é dito que Sua Realidade é Relativa.
Ram Dass. Naturalmente, isso não é nenhuma novidade.  Acredito que estamos familiarizados com essa ideia, certamente isso é  comum na psicologia moderna.
Qualquer psicólogo poderia citar dúzias de  experimentos que provam que a motivação afeta a percepção. Por exemplo, se vocês estão  famintos e andam pela rua, perceberão somente o que lhes interessa, notarão  somente lanchonetes e restaurantes. Por outro lado, se vocês estão sexualmente  excitados e andam pela rua, poderão passar por uma loja de salgados e doces  e nem a notarão.
Mais tarde alguém poderá perguntar: “Existe uma boa loja  de salgados e doces nessa cidade? ” e vocês responderão: “Eu realmente não  sei”, mas poderão fazer uma lista de quantos rivais, pretendentes ou  potenciais candidatos sexuais existem. Em outras palavras, o seu desejo  determina o que parece existir.
Se você está obcecado com o seu próprio  corpo físico, é isso que você vê quando olha para o mundo: o corpo físico das  outras pessoas. É a sua motivação que determina o que parece existir lá fora. Vocês não sabem o que realmente existe lá fora, sabem somente o que acham que existe.
É o nosso sistema de desejos que cria o nosso universo perceptivo. Nesse sentido, podemos dizer que a nossa realidade é uma projeção da forma como nos identificamos. Não necessariamente vemos as coisas como elas realmente são.
Nós as vemos como as interpretamos. Hari Dass escreveu certa vez: “Se um  batedor de carteiras encontra um santo, tudo o que ele vê são os seus bolsos”. O que acontece é que estamos presos em nossos próprios hábitos mentais.
E a menos que compreendamos como estamos condicionados pelos nossos desejos, permaneceremos presos à realidade que eles criam. Gurdjieff, o filósofo russo, observou que: “Se você pensa que é livre e não sabe que está em uma prisão, você não pode escapar”. Somente quando você percebe que as  suposições sob as quais você age não são válidas, é que surge a possibilidade  de realmente mudar a sua mente.
Agora, quando olhamos para trás,  reconhecemos que construímos uma forma muito particular de enxergar a realidade. Acredito que esse seja o momento de voltar e olhar mais de perto para tudo isso. O que pensamos que está lá fora, é somente a nossa própria projeção sobre o que está lá fora, na verdade, não sabemos se realmente existe algo lá fora.
Talvez sim, talvez não, simplesmente não sabemos. Podemos nos sentar e pensar sobre tudo  isso, mas ainda estaremos dentro da nossa obscuridade mental, portanto,  os nossos pensamentos ainda serão afetados pela opacidade do nosso desejo  de que exista algo lá fora, ou que não exista algo lá fora. Einstein disse que: “Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando os criamos”.
Temos que nos observar de um lugar mais profundo. Para cultivar esses outros planos de consciência, a melhor coisa a se fazer é ficar sentado em silêncio. Se possível, reserve um tempo do seu dia,  ou um dia no fim de semana, para ficar em silêncio.
Então, observe como sua  mente interpreta o mundo ao seu redor. Prestando atenção de um lugar mais  profundo, você poderá ver como os seus pensamentos impõem limites  e cores a sua experiência. A certa altura, você poderá reconhecer  que o que mantém você preso a sua realidade limitada é o apego.
Pois  quem se apega à mente, não pode ver a verdade que está além da mente. Finalmente, a única maneira de obter um quadro mais realista sobre tudo é abandonando os véus da ignorância, e fazer isso é o nosso trabalho espiritual, essa é a nossa sadhana. O que nos leva ao desenvolvimento de práticas espirituais como a meditação, a purificação e a devoção.
O trabalho essencial para desenvolver uma consciência espiritual é aquietar a mente e abrir o coração. E existem muitos caminhos possíveis – caminhos de oração, de estudo, de redirecionamento de energias corporais como o hatha yoga, de cantos devocionais como Kirtan. E muitos de nós somos fortemente atraídos por um caminho de serviço – que é um tipo de adoração concebido para aliviar o sofrimento dos nossos semelhantes.
As práticas espirituais existem para  polir o espelho da nossa mente, para que possamos refletir verdadeiramente o nosso  espírito. Ao limpar a névoa do desejo do espelho da mente, começamos a refletir  as coisas como elas realmente são. Quanto mais permanecemos na consciência  amorosa, e vemos as coisas como elas realmente são, mais nos expandimos  para além dos limites da separação.
Então, começamos a vivenciar o mundo  externo de uma forma totalmente nova. Assim como a água desgasta a pedra, a  sadhana diária, ou a prática espiritual constante, irá dissolver o véu da ilusão. Uma boa prática que recomendo é a meditação.
A meditação é uma prática fundamental  para aquietar a mente, e para entrarmos em contato com o nosso Eu  mais profundo, o espírito. As regras simples deste jogo são:  honestidade consigo mesmo, sobre onde você está em sua vida, e aprender a escutar,  para saber como as coisas realmente são. A meditação aprimora sua percepção,  revela sua verdadeira natureza e traz paz interior.
Uma prática de meditação é  extremamente útil para uma limpeza mental e para permitir que você veja como a sua  mente continua criando o seu universo. Lentamente, a meditação rompe  a estrutura do nosso ego. Quando começamos a enxergar através  dele, podemos ficar confusos quanto ao que de fato seja a realidade.
O que  antes parecia absoluto, agora começa a parecer relativo. Quando isso acontece,  algumas pessoas ficam confusas; outras temem que possam estar enlouquecendo. Geralmente minha orientação é para ir devagar.
Não pense que você vai se iluminar da noite para o dia. Relaxe, e vá devagar. Praticar meditação regularmente, mesmo quando isso não lhe parece agradável, irá ajudá-lo.
Uma vez que você desperta para a possibilidade do universo interior, é como uma força gravitacional. À medida que você é puxado para dentro, você começa a deixar para trás todos os tipos de apegos que distorcem e estreitam a sua visão sobre a realidade. Então, temos que desapegar.
O caminho para a liberdade passa pelo  desapego dos velhos hábitos mentais. Você deve quebrar as estruturas antigas  do ego, construindo estruturas maiores, destruindo essas estruturas maiores e  construindo estruturas ainda maiores. Em outras palavras, quebre os velhos  hábitos do ego, e se desenvolva, depois, quebre-os novamente e se desenvolva ainda mais.
Então, lentamente, você será livre.
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