COMENTÁRIO DE SANTO TOMÁS AO PAI NOSSO –2⁰. Pedido: "VENHA A NÓS O VOSSO REINO".

4.53k views3796 WordsCopy TextShare
Sidney Silveira
https://cursos.contraimpugnantes.com.br
Video Transcript:
Prados, amigos que acompanham o nosso canal, continuamos aqui a série de vídeos e de aulas relacionadas ao comentário de Santo Tomás de Aquino ao Pai Nosso, uma catequese que ele deu na Quaresma do ano de 1273, inspirada em grande parte em Santo Agostinho. Hoje trataremos especificamente do segundo pedido do Pai Nosso nesta terceira aula da série de oito, que é "santificado", perdão, que é "vem a nós o vosso reino" ou "vem a nós o teu reino", como está aqui na tradução do livro, na tradução do Thiago Gadot. Seguindo de perto o texto latino para este livro, aqui lançado pela minha Biblioteca Católica, "Catequeses de Santo Tomás de Aquino", entre as quais se encontra exatamente esse comentário ao Pai Nosso.
Pois, muito bem, trouxe aqui para esta aula este livrinho de Alexi Rio e a ação do Espírito Santo na alma, no qual ele faz algumas distinções que me parecem oportunas. Como vocês viram, é Santo Agostinho em quem Santo Tomás se inspira para esta catequese, que traçou uma correspondência entre sete das bem-aventuranças do Evangelho de São Mateus, os sete pedidos do Pai Nosso e os sete dons do Espírito Santo. Conforme vocês viram na primeira aula, trata-se de uma escada de perfeição da vida cristã que começa no temor de Deus, que é a própria humildade, que faz com que o fiel, ou a luz da qual, né, o fiel diz, pede que se seja santificado o nome de Deus e não o dele próprio.
Ele não busca honra própria, senão a de Deus. Então, talvez valha a pena aqui fazer uma distinção: este autor, este livro, está traduzido para o português, portanto é acessível a todos que acompanham este canal. Este autor segue de perto a Santo Tomás, inclusive com citações expressas.
É importante fazer a distinção entre virtudes infusas, ou seja, virtudes sobrenaturais, e dons do Espírito Santo. E, como eu disse, ele segue bem de perto a Santo Tomás. As virtudes infusas ou sobrenaturais conferem-nos a capacidade de agir de maneira sobrenatural, ou seja, sobrenatural o motivo da ação.
Isto é, de julgar as coisas à luz da Revelação divina e de agir de acordo com o que a fé nos mostra; dispõem a nossa inteligência e a nossa vontade para a união com Deus, mas não nos conferem por si mesmas a facilidade de pensar e de agir segundo as luzes da fé. Então, as virtudes infusas, Deus, segundo Santo Tomás, pode infundir numa alma a mesma virtude que essa alma poderia adquirir naturalmente. Uma coisa é agir naturalmente, como virtude adquirida; esta capacidade de reagir da maneira devida em situações de risco, sem medo e sem, ou melhor, sem que o medo atrapalhe a retidão da ação.
Outra coisa é a coragem sobrenatural, ou sobrenatural, como virtude infusa, que faz, por exemplo, um santo ir para o martírio com sorriso no rosto, como as freiras que foram guilhotinadas na Revolução Francesa; na cidade de Compiègne, foram cantando o hino "Veni Creator Spiritus", conforme iam para o cadafalso. Essa coragem delas não é coragem natural porque, naturalmente, ninguém vai para a morte alegre. Porém, por ser sobrenatural, ou seja, infundida por Deus, confere a quem a tem impressa na alma, como no caso dessas freiras, a capacidade de agir conforme as luzes da fé.
Pois muito bem, os dons do Espírito Santo, por sua vez, são disposições ou hábitos sobrenaturais que fazem com que a alma, elevada já a vida sobrenatural pela graça santificante, se torne capaz de receber essas inspirações divinas e esses impulsos do Espírito, que são as graças atuais. Então, a graça santificante é essa mesma que nos é conferida no batismo ou quando Deus quiser. Ela produz esses hábitos; é claro que a pessoa tem que se abrir para essas disposições sobrenaturais que são os dons, pelos quais a pessoa vai, digamos assim, abrindo-se às graças atuais.
Esta é a razão pela qual os dons intervêm necessariamente em todo ato sobrenatural. E diz aqui o Alex Rio: na alma entregue à ação do Espírito Santo, os dons manifestam-se como instintos sobrenaturais que a conduzem de maneira eficaz a pensar, julgar e agir em todas as circunstâncias como o fariam Cristo, nosso Senhor, e sua santíssima mãe, a Virgem Maria. Então, os dons do Espírito Santo são sete, como todos sabem, e já os enumeramos aqui na aula anterior.
E aqui, no segundo pedido do Pai Nosso, o dom correspondente é o dom da Piedade. E por aí se vê que, embora com pequenas diferenças de fundo, Santo Tomás segue muito de perto a Santo Agostinho nesta correspondência ao fazer esta catequese a respeito do Pai Nosso. Então, vamos à leitura do artigo sobre o Pai Nosso.
Nesta nossa terceira aula da série, "Vem a nós o teu reino", como já foi dito, escreve Santo Tomás. Diz Santo Tomás: "O Espírito Santo nos faz amar, desejar e pedir corretamente. O primeiro produz em nós o temor pelo qual buscamos que o nome de Deus seja santificado.
O segundo dom é o da Piedade". E aqui é uma bela definição de Santo Tomás: "A piedade é propriamente um afeto doce e devoto para com o pai". Anotem esta definição: "A piedade é um afeto doce e devoto para com o pai", palavras do próprio Santo Tomás de Aquino.
Portanto, uma vez que Deus é nosso pai, como é evidente, não só devemos reverenciá-lo e temê-lo, mas também devemos ter para com Ele. Um afeto doce e piedoso. Aliás, eu costumo dizer que a ternura é a grande força do amor.
Quem está inspirado, do ponto de vista mesmo da vida espiritual, eterno, é forte e terno a um só tempo. Esse afeto nos faz pedir que venha o reino de Deus. Vivamos neste século sóbrio, justo e piamente, aguardando a esperança bem-aventurada e a vinda gloriosa do grande Deus e Salvador Nosso, Jesus Cristo.
Aqui, mais uma das muitas citações bíblicas desta catequese de Santo Tomás. Mas pode-se perguntar: se o reino de Deus sempre existiu, por que pedimos que venha? Isso pode ser entendido de três maneiras, segundo Santo Tomás.
Primeiro, porque às vezes o rei tem apenas o direito ao reino, ou seja, ao domínio, e no entanto pode ser que o domínio sobre o reino ainda não seja reconhecido, porque ainda há homens insubordinados a ele no reino. Então, embora o reino dos céus exista independentemente de nós e das nossas vontades, reconhecê-lo, ou seja, pedir a Deus que esse seu reino nos venha, é ser, literalmente, ter o espírito de súdito, de subordinado, e não o espírito de insubordinação. Assim, desta forma, o reino, ou domínio de tal rei, só se tornará manifesto quando os homens do reino lhe estiverem devidamente subordinados.
Ora, Deus é Senhor de tudo por si mesmo e por sua natureza, e Cristo, como Deus e como homem, recebeu de Deus o senhorio sobre todos. Conforme está no livro de Daniel: "Deu-lhe o poder, a honra e o reino" (Daniel 7:14). Portanto, tudo deve estar subordinado a Ele.
No entanto, isso ainda não é assim, mas o será no fim. É necessário abrir aspas: "Que Ele reine até que ponha todos os inimigos debaixo dos seus pés" (1 Coríntios 15:25). Por isso, dizemos: "Vem a nós o teu reino".
Vamos seguir aqui. E isso se refere a três coisas: que os justos se convertam, que os pecadores sejam punidos e que a morte seja destruída. Então, este reino será o reino em que todos os justos estarão convertidos, todos os pecadores devidamente punidos e em que a morte estará destruída.
Ora, os homens se submetem a Cristo de duas maneiras: voluntariamente ou involuntariamente. Com efeito, como a vontade de Deus é tão eficaz que é sempre cumprida completamente, e como Deus quer que tudo esteja submetido a Cristo, uma das duas coisas será necessária: que o homem faça a vontade de Deus, sujeitando-se aos seus mandamentos. Isto é feito pelos justos, ou que Deus cumpra a sua vontade universal pela punição, e isso se imporá aos pecadores.
Tudo isso se dará no fim do mundo, até que ponha os teus inimigos por os caminhos dos teus pés, conforme está no Salmo 109. Então, a vontade de Deus se cumprirá sempre e necessariamente. O que importa saber é se, neste cumprimento, nós estaremos fazendo a sua vontade, voluntariamente pelo amor, ou voluntariamente submetidos à justíssima punição divina.
Por essa razão, é dado aos santos buscar a vinda do Reino de Deus, ou seja, que se submetam completamente a Ele. Mas a vinda do Reino é temível para os pecadores, pois a vinda do reino não significa para eles outra coisa senão a submissão às penas da vontade divina. Santo Agostinho, em um famoso sermão, diz: "Temei antes a pena da luz do que a das trevas", ou seja, "Temei antes a Deus do que ao demônio".
Ai dos que desejam o dia do Senhor! Mais uma citação bíblica. Mas a morte também será destruída, uma vez que Cristo é vida; não pode haver em seu reino morte que é contrária à vida.
Ora, o último inimigo a ser destruído será a morte (1 Coríntios 15:26). E isso será na ressurreição. Claro que estamos falando aqui deste comentário de Santo Tomás, que é o maior teólogo que já houve.
Portanto, é um comentário, embora seja uma catequese, e ele está conformado. Essa catequese está conformada pelos elevados princípios da teologia do Doctor Communes. Os pressupostos de fé aqui certamente não serão claros para quem está fora da fé, mas o propósito que eu ofereço a Deus nesta leitura é um propósito de ajuda, pela partilha.
E aí, de maneira análoga, como acontece na parábola do semeador, essa ajuda será aproveitada ou não, aceita ou não, de acordo com as pré-disposições morais, espirituais, psíquicas e intelectuais das pessoas que a receberem. Isso se dará na ressurreição. Filipenses 3:21, "Transformará o nosso corpo de miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso", ou seja, os corpos serão glorificados.
Então, em primeiro lugar, só para recapitularmos, pedimos para que venha o reino de Deus, ainda que ele tenha existido desde sempre, porque é necessário que nos subordinemos a Ele voluntariamente, senão Ele será para nós um grande peso. Em segundo lugar, Reino dos Céus significa a Glória do Paraíso, e não é surpreendente, pois reino não é nada mais do que governo. Mas no Paraíso há o melhor governo, porque nada se opõe à vontade do governante.
Vejam que maravilha: o que Santo Tomás está nos dizendo com suas lindas palavras é que a concórdia impera no ambiente onde a lei é a justiça justíssima, e todos a reconhecem. Ou seja, assim é no Paraíso. Então, repito a frase: "Mas no Paraíso há o melhor governo, porque nada se opõe à vontade do governante".
A vontade de Deus é a salvação dos homens, porque o nosso Salvador quer que os homens sejam salvos, e isso se dará especialmente no Paraíso, onde de nada se oporá à salvação dos. Homens, nem mesmo o demônio, nesse Paraíso não terrestre, mas sim Celestial, tirarão do seu reino todos os escândalos. Está lá em Mateus 13:41.
Aqui, neste mundo, os escândalos acontecem. E diz Cristo: "ai daqueles por quem os escândalos surgem". Por quem vêm os escândalos?
Neste reino de paz absoluta, governado pelo legislador Supremo, não haverá escândalo, nem do ponto de vista de Atos que possam causar escândalos em terceiros, nem de Atos que podem escandalizar do ponto de vista da corrupção do corpo da comunidade, né? Neste mundo, e não no Paraíso, há muitas coisas contrárias à salvação dos homens. Portanto, quando pedimos "vem a nós o teu reino", estamos pedindo para sermos partícipes do reino Celestial e da Glória do Paraíso.
Então, "vem a nós o vosso reino" é um pedido de inclusão, de participação neste estado de felicidade gloriosa. Este Reino é muito desejável por três razões. Primeira razão pela qual o reino de Deus é desejável: por causa da Justiça Suprema que há nele.
Abre aspas: "Isaías 60:21 – todo o teu povo será um povo de justos". Fecha aspas. Nesta vida, os maus estão misturados com os bons, mas na outra não haverá nenhum mal e nenhum pecador.
Segundo, então, primeiro, por causa da Justiça Suprema. Este Reino é desejável e, segundo, por causa da mais perfeita Liberdade. Nesta vida, não há liberdade, embora todos naturalmente a desejem.
Mas lá, haverá Liberdade Total contra toda a servidão. Aqui, nós temos uma pálida ideia de liberdade e, num tempo contemporâneo contaminado pela mentalidade liberal, temos aí o equívoco da ideia de que a liberdade é cada um fazer o que quiser, né, fora da lei benévola de Deus. Tenhamos isso em mente quando pensarmos numa frase como a de São Paulo: "A caridade é a plenitude da Lei".
E não só todos serão livres, mas também serão Reis, de Santo Tomás, citando o Apocalipse: "Fizeste-nos para o nosso Deus, Reis" (Apocalipse 5:10). A razão disso é que todos terão a mesma vontade de Deus. Deus quer o que os santos querem, e os santos querem o que Deus quer.
Portanto, a vontade deles será feita com a vontade de Deus. Assim, todos governarão, num certo sentido, porque a vontade de todos será feita, e o Senhor será a coroa de todos. Que beleza!
Que beleza é, Santo Tomás, meus caros. Repito aqui o que foi dito na primeira aula sobre o estudioso da obra de Santo Tomás: quem não conhece os comentários bíblicos e espirituais de Santo Tomás não pode se dizer tomista. Naquele dia em que o Senhor será a coroa de todos, né?
Naquele dia, o Senhor dos Exércitos será a coroa de glória e a grinalda de exultação para o remanescente do seu povo (Isaías 28:5). Então, o primeiro motivo pelo qual o reino de Deus é desejável é por causa da suprema Justiça que há nele. O segundo motivo é por causa da mais perfeita Liberdade.
O terceiro motivo é por causa da maravilhosa abundância. Isaías, citado aqui agora, abre aspas: "Nunca ninguém ouviu; nunca nenhum ouvido percebeu, nem nenhum olho viu, exceto tu, Deus. Ó Deus, o que tens preparado para todos os que te esperam" (Isaías 64:4).
Que sacia com os seus bens o teu desejo (Salmo 102, versículo 5). Vê como somente em Deus o homem encontrará de uma forma mais excelente e perfeita tudo aquilo que se busca no mundo. Se procuras o prazer, encontrarás sua plenitude em Deus.
Se procuras riquezas, encontrarás nele toda a suficiência que é o objetivo da riqueza e assim por diante. Diz Agostinho nas Confissões: "É assim que a alma peca, quando se aparta e busca fora de ti, ó Deus, o que perdão não pode encontrar puro e transparente, a não ser que regresse a ti de novo" (Confissões, Livro 2, Capítulo 6). Em terceiro lugar, na verdade, é desejável porque Santo Tomás vai enumerando.
Isso aqui é uma catequese. Diferentemente de livros como o De Malo, por exemplo, em que a exposição é muito mais sistemática, o Reino de Deus é desejável por causa da Justiça Suprema, por causa da perfeita liberdade e por causa da abundância. E o terceiro lugar aqui mencionado agora é quanto ao significado do Reino dos Céus.
Só recapitulando: o Reino dos Céus é um reino de domínio e é necessário que nós o queiramos voluntariamente. O terceiro significado, melhor dizendo, é porque às vezes o pecado reina neste nosso mundo. Isso acontece quando o homem está disposto a seguir e perseguir o apetite do pecado.
Abre aspas: "Romanos 6:12 – não reine, pois, o pecado no vosso corpo mortal, mas Deus deve reinar em nosso coração". E foi dito a Sião: "O teu Deus está para reinar" (Isaías 52:7). Isso acontece quando se está disposto a obedecer a Deus e a guardar todos os seus mandamentos.
Quando, portanto, pedimos que venha a nós o reino, oramos para que não reine em nós o pecado, mas Deus. Por meio desse pedido, alcançaremos a seguinte beatitude. Diz Santo Tomás: "bem-aventurados os mansos".
Aqui repito: fica clara a influência de Agostinho em Tomás neste tema da correspondência entre dons e pedidos do Pai Nosso. De acordo com a primeira interpretação, se o homem deseja que Deus seja o Senhor de todos, não se vinga da injúria que lhe é infligida, mas a deixa para Deus. Se te vingasse, não procurariam disso.
De acordo com a segunda interpretação, se esperas o seu reino, isto é, a glória do Paraíso, não. . .
Deves preocuparte de perder as coisas mundanas da mesma forma. De acordo com a terceira interpretação, se pedes que Deus reine em ti, então pede que Cristo reine em ti. Ora, Ele era manso, portanto tu também deves ser manso.
Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. (Mateus 11:29) Com alegria suportaste o confisco dos vossos bens. (Carta aos Hebreus 10:34) Então, assim, este segundo pedido do Pai Nosso: "Venha a nós o vosso reino" é por Ele que, com Ele e nele, nós alcançamos a bem-aventurança da mansidão.
A palavra “mansidão” vem de uma expressão latina, “mansuetus”, como que domesticado pela mão. O manso é dócil, mas não é dócil a toda e qualquer coisa. Ele é dócil à verdade e ao bem.
Pois, então, este é o comentário ao segundo pedido do Pai Nosso. Vou aqui também acrescentar algo mais sobre o dom da Piedade, já que há uma correspondência entre o dom da Piedade, o segundo pedido do Pai Nosso e a bem-aventurança da mansidão. Vou retornar aqui ao Alexy Rio, no seu livro "A Ação do Espírito Santo na Alma", e ler o trecho em que ele fala muito da Piedade, citando a Suma Teológica.
A segunda secunde, van é a ciência que não conduz ao amor, porque, na verdade, pouco importa brilhar se o coração e a vontade não estiverem abrasados do amor de Deus. Esta é a razão pela qual aos quatro dons do Espírito, destinados a iluminar a nossa inteligência, se acrescentam na nossa alma os três dons da Piedade, da Fortaleza e do Temor de Deus, destinados a unir de maneira mais perfeita a nossa vontade à de Deus. Então, assim, são sete dons.
E o que ele está defendendo aqui, bem na esteira mesmo da escola tomista, é que três dos sete dons são destinados a nos unir voluntariamente a Deus mais fortemente, e quatro, destinados a iluminar a nossa inteligência para que pensemos, para que obremos de acordo com essas luzes do alto. Além disso, como vimos, é impossível que a alma seja iluminada pelos dons de ordem intelectual, sobretudo os do entendimento e da sabedoria, sem se ver ao mesmo tempo abrasada de amor e grandemente fortalecida no serviço de Deus. Vale dizer: a verdade sem amor é crueldade da parte de quem, no coração de quem, a partilha.
Se estamos na posse de alguma verdade, ainda que ela seja incômoda e dura para terceiros, nunca devemos esquecer que partilhá-la com o mínimo de docilidade é um dever, senão ela vira uma espécie de pedrada, de soco na boca do estômago. E Deus não nos soca a boca do estômago com crueldade. Vamos seguir aqui com o que diz o Rio.
Esses três dons, Piedade, Fortaleza e Temor de Deus, conforme diz Santo Tomás de Aquino, procedem do Dom da Sabedoria. São como que sua manifestação extrínseca. É desses dons que informam mais especialmente à vontade, com a qual vamos ocupar-nos agora.
E ele vai dizer que o dom da Piedade consiste, em definição, numa disposição sobrenatural da alma que a inclina, sob a ação do Espírito Divino, a comportar-se nas suas relações com Deus como uma criança carinhosa se comporta com o seu pai, por quem se sabe imensamente amada e querida. O principal dom da Piedade é, pois, o próprio Deus, menos como soberano Senhor de todas as coisas que como pai infinitamente bom e infinitamente amável. Abre aspas: “Do mesmo modo que a virtude da Piedade tem como primeiro objeto o pai segundo a natureza, assim também o dom da Piedade se refere a Deus enquanto pai.
” (Suma Teológica, Secunda Secundae, Questão 121) A alma animada pelo Espírito de Piedade já não teme a Deus como se teme a um mestre ou a um juiz. Sem dúvida, essa alma conserva ainda certo temor profundamente filial, mas já não tem absolutamente nenhum resquício desse temor servil que nos faz ter medo de alguém que é justo, porém severo. Sua atitude para com Deus é verdadeiramente a da criança pequena diante do pai ou da mãe, dos quais se sabe imensamente amada.
Nenhum rastro de temor ali; só há amor. O objeto próprio secundário do Dom da Piedade é tudo que de alguma forma diz respeito a Deus e, em primeiro lugar, aos santos e às coisas terrenas, pelos quais a alma experimenta grande respeito e profunda veneração sob o efeito desse Dom. Eu não vou ler o artigo aqui sobre a Piedade; não vou lê-lo por inteiro, só mais uma coisinha aqui.
Vale a pena, talvez: a alma que se abandona à ação do Dom da Piedade, esclarecida por estes ensinamentos divinos, só vê em Deus um pai amoroso de quem se sabe infinitamente querida em Jesus Cristo, feita de certo modo uma só e mesma coisa com o Verbo Encarnado, segundo as belas palavras de Santo Agostinho: “Somos o próprio Cristo. ” E, transbordante do seu Espírito Divino, também ela se reveste espontaneamente dos sentimentos que animam o coração adorado do Senhor. Então, meus caros, toda vez que formos rezar o Pai Nosso, tenhamos no nosso horizonte, à guisa de meditação, entre outras coisas, que, no caso do segundo pedido do Pai Nosso, de um lado temos a Piedade, que é um amor especial, esta doçura especial, e do outro lado a bem-aventurança da mansidão, pela qual a contemplação da verdade e a partilha da verdade.
Se fazem profundas e profícuas. Tá bom, meus caros, até a próxima aula dessa série. Eu vou gravando conforme tenho tempo, às vezes no horário do almoço de trabalho, às vezes em casa.
O objetivo aqui não é ser perfeitíssimo, mas apenas ler e partilhar com vocês algo desse tesouro espiritual. Muitas coisas já aprendemos nestas três aulas a respeito do Prólogo do Pai Nosso, que encerra um monte de verdades douradas. Aprendemos muito no primeiro pedido e agora no segundo.
Espero que isto aqui seja do proveito de todos vocês que assistem a este vídeo agora, né? E meu também, grande abraço! Fiquem com Deus e que o Pai das Luzes cada vez mais ilumine nossas mentes e afervore os nossos corações.
Grande abraço e até a próxima!
Related Videos
Copyright © 2025. Made with ♥ in London by YTScribe.com