minha mãe tinha me convidado para um casamento que eu não queria ir mas eu tava morrendo de saudade da minha mãe então por mais estranho que isso pareça eu decidi visitá-la porque aquele era o único fim de semana que eu podia visitá-la mesmo sabendo que ela não ia estar lá mas como eu tava com muita saudade eu falei cara eu vou esperar até domingo à noite a minha mãe chegar porque daí Pelo menos eu dou um abraço e um beijo nela antes de ir para São Paulo eu lembro direito inha do momento que eu comecei
a escutar o som dela no hall já dei um pulo do sofá abri o braço tipo oi mãe e ela entrou assim na porta cheia de mala olhou para mim e falou Carolina toda vez que você vem para cá você deixa o carro estacionado torto na garagem eu não aguento mais ter que te dizer isso E aí eu quebrei né como que vocês acham que eu reagi opção L virei PR minha mãe e falou ô louco mãe Eu aqui morrendo de saudade de você desesperando você já chega dando uma dessa ou ó eu não devia
ter ficado aqui te esperando tô indo para São Paulo tá tchau ou eu que estaciono mal e você que outro dia a gente vai começar uma discussão de quem dirige pior Ou melhor ou alternativa d fugir pro banheiro eu confesso que por 26 anos eu sempre reagi em alguma dessas três primeiras alternativas mas exatamente na época desse Episódio eu tinha acabado de começar a estudar comunicação não violenta Então o que eu fiz foi fugir pro banheiro e eu fugi pro banheiro para pensar eu cheguei lá e falei meu Deus do céu me parece que essa
é uma oportunidade Santo March Rosenberg que é o cara que sistematizou a comunicação no violenta me ajuda e eu comecei a pensar do que o que que minha mãe tá querendo me dizer o que que tá além dessa palavra o que que ela tá precisando ela tá me fazendo algum pedido a forma que ela tá me pedindo não é a minha prefer mas eu sei que tem alguma coisa aí e eu comecei a lembrar de um monte de coisas que tinham acontecido naquela semana saí do banheiro falei mãe você tá chateada porque eu não fui
no casamento com você ela eu tô porque todo mundo lá tava com a família só eu que não eu não tava com você nem com João vocês nunca me acompanham nos eventos da família falei ah tem mais coisa por aí e aí eu fui lembrando de várias outras coisas que tinham acontecido ao longo daquela semana e fui apontando como eu achava que ela tava se sentindo o que ela queria que tivesse Cido né e a gente acabou tendo uma das conversas mais legais da nossa vida inclusive depois ela até decidiu se mudar para São Paulo
para ficar mais perto dos filhos então foi um negócio super mágico e foi o dia que eu olhei e falei cara eu preciso trabalhar com isso porque em 26 anos isso nunca tinha acontecido a gente sempre se amou muito teve uma relação maravilhosa Mas a gente sempre partia pro conflito e lá no banheiro Então eu lembrei dos princípios que para mim são os mais importantes da CNV que são princípios do Marshall que é por trás de todo o comportamento existe uma necessidade e que todo ato violento é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida
Então tinha alguma coisa ali que eu precisava revisitar na minha mãe agora não é que a minha mãe chegou falando isso e eu pensei Nossa minha mãe ela tá precisando de alguma coisa que eu tive uma ressonância emocional e afetiva com ela eu não tive eu fiz um esforço para compreender o que tava por trás daquilo eu fiz um esforço para para me conectar Então isso é chamado de empatia cognitiva eu quero que vocês guardem esse conceito porque eu vou voltar para ele depois eu acho que isso é uma parte muito importante da empatia e
além da empatia cognitiva tem também empatia emocional que é quando a gente sente essa ressonância emocional com outra pessoa né então a gente já nasce programado para isso a gente se você se alguém vira para você e fala assim meu filho morreu você sente na hora Nossa como deve ser ruim ter tido isso mas às vezes mesmo tendo essa empatia emocional a gente se embola em conseguir demonstrar empatia pro outro então vocês já devem conhecer esse cara aqui que é o Abominável Homem das Neves mas um amigo meu ele criou alguns outros tipos de abomináveis
para explicar como que a gente eh reage quando a gente tem empatia emocional Mas a gente não sabe como demonstrar empatia então eh eu queria e um amigo meu chamado Cláudio Tebas que inventou esses abomináveis eu queria apresentar o primeiro que é O abominável homem IBGE então O abominável homem IBGE é o seguinte imagina que a mulher chega e fala assim ai amor hoje eu tive uma briga com meu chefe foi uma situação tão terrível lá no trabalho aí eu abominava H me BJ e fala ó a situação tá braba mesmo mas ó você já
viu quantas pessoas ficaram desempregadas no Brasil nesse ano então Segura as pontas porque não tá fácil para ninguém então ele trouxe um dado né né com uma melhor das boas intenções para talvez mostrar para ela uma outra perspectiva do problema mas o que aconteceu aqui se ela queria falar daquilo que aconteceu com o chefe dela Pronto já quebrou o fluxo da conversa quebrou o momento de conexão da empatia tem também um abominável homem meu pior é melhor então o cara chega né um amigo chega e fala nossa eu bati meu carro hoje tá lá no
mecânico agora eu não sei o que eu vou fazer essa semana eu vou ter que vir de carro pro trabalho vai ser uma confusão e o amigo fala assim pô E eu então mas ve eu dei o PT num carro quase morri isso sim foi susto mas ó a gente tem que agradecer que a gente tá vivo então aconteceu a mesma coisa né se ele queria dizer do trabalho que vai dar agora ele já não vai conseguir mais então o fluxo a conexão foi interrompido tem também O abominável homem sabe tudo então o amigo chega
e fala cara eu briguei com a minha mulher agora não sei o que eu faço com ela e eu sabe tudo cheg e falo assim Pode deixar sabe mulher tem uma coisa que ela não resiste que é receber flores então pega aqui o telefone dessa floricultura liga agora manda flor para ela que vai ficar tudo resolvido então abominável homem sabe tudo ele é uma metralhadora de conselhos né ele tá sem ele sempre tem uma solução e não é que aconselhar seja ruim gente por favor eu não quero passar essa mensagem mas é que não era
o momento ainda ele ainda tinha muito para desabafar muito para desaguar Então quem aqui conhece algum desses abomináveis quem aqui já foi foi um desses abomináveis eu acho que isso é muito importante eu quando comecei a estudar isso eu olhava para esses bloqueios da empatia Então esse nosso impulso de aconselhar de competir pelo sofrimento enfim de encerrar o assunto eu falei eu faço tudo então o primeiro passo reconhecer que a gente não sabe como demonstrar empatia para aprender a como demonstrar empatia E aí a gente tem vários eh princípios equivocados sobre a empatia então de
achar que empatia é fazer pelo outro o que o o que a gente gostaria que fosse feito pela gente mas não há nada mais equivocado empatia é fazer pelo outro o que o outro gostaria que fizesse que fosse feito por ele empatia é criar espaço Então para mim essa é a melhor definição de empatia quando existe espaço pra pessoa desaguar sabe quando você sai de uma conversa você chega meio com uma pressão emocional Aí você conversa com alguém você sente um Ah aliviou agora parece que eu consigo escutar o que você quer me dizer então
se eu quisesse falar paraa Minha mãe que por que eu não tinha ido no casamento com ela na hora que ela chegou a chance dela me escutar era muito baixa porque ela tava ali na pressão ela precisava esvaziar para depois poder conversar então para mim Isso mudou tudo e empatia também a gente precisa resistir o nosso impulso de já resolver o problema do outro porque muitas vezes o que outro precisa é só desse desabafo e eu fiquei muito surpresa tem um dia que eu nunca me esqueço que ilustra bem isso de quando eu morava com
uma amiga minha e ela tinha acabado de passar por uma semana muito difícil que ela tinha perdido o emprego dela E aí um dia ela tava mal assim ela entrou no meu quarto já chorando eu olhei para ela só abr os braços assim Falei vem aí na hora que ela abraçou vi ela sofrendo tanto eu pensei meu Essa mulher tem um currículo tão incrível ela é uma profissional tão boa e eu sou coach de carreira também então vamos fazer uma sessão de Coaching e vai ficar tudo bem Vai ficar tudo certo a gente dá um
up no currículo ela se muda de São Paulo ela já nem queria mais morar de São em São Paulo mas eu falei não Caral Dá Uma segurada não é a hora de falar isso para ela agora e aí eu só virei e falei assim Jô você foi pegar de surpresa né Essa semana tá difícil ela falou nossa cara eu não esperava por isso agora eu tô muito preocupada e chorando tô muito preocupada talvez eu até tenha que voltar pra casa dos meus pais por um tempo e eu falei e você tá preocupada de dar essa
preocupação para eles né ela falou sim porque né nessa altura do campeonato cara e sabe eu não consigo entender porque eu e minha família nós somos pessoas tão boas mas parece que um monte de coisa ruim acontece com a gente e aí eu fui assim escutando em silêncio olhando para ela tipo meu tô aqui e aí ela falou e você sabe Carol os meus pais me ajudaram tanto na minha vida eu acho que eu nunca agradeci assim apropriadamente para eles tá aí eu acho que eu vou escrever uma carta de gratidão pros meus pais Obrigada
Carol e saiu eu falei Gente o que que acabou de acontecer aqui né não não fiz nada nada né Eu só criei o espaço Então imagina eu nunca seria capaz de dar esse conselho Imagina ela abre a porta e Fala Pera aí já sei o que você precisa escreve uma carta de gratidão pros seus pais nunca então a empatia ela cria esse lugar sagrado para as pessoas chegarem onde elas precisam chegar para elas mesmas conseguirem se escutar E aí várias histórias como essa foram acontecendo eu comecei a trabalhar com comunicação não violenta né os dois
grandes eixos da CNV são empatia autenticidade tava feliz da vida gente tipo meu um projeto que veio centenas de pessoas as pessoas que são fazem parte da rede desse projeto estão fazendo projetos incríveis levando CNV pras escolas para hospital tem um projeto que rolou no Complexo do Alemão Então umas coisas lindas assim e eu entusiasta da empatia né e Lelê empatia Cola do mundo vamos que vamos até um dia em 2015 eu recebi de várias pessoas porque o legal de você trabalhar com um tema é que qualquer coisa que aparece sobre esse tema Mil pessoas
te mandam aquilo né E aí eu recebi de várias pessoas esse artigo The Dark Side of empathy de um psicólogo chamado Paul Bloom que foi publicado no The Atlantic e eu falei Como assim um lado obscuro da empatia essa coisa linda que eu trabalho tem um lado obscuro eu eu Chacal eu falei meu esse negócio vai chacoalhar comigo e chacoalhou porque porque o que ele falava foi uma coisa que fez muito sentido para mim que a empatia ela pode nos conduzir a favoritismos então e imagina no caso desse abominável né que a mulher chega contando
o que aconteceu com o chefe então vamos supor que o marido tem escutado ela então ela tá acontecendo que de terrível que o chefe dela fez com ela o marido pode escutar e ficar tão chateado e com tanto ódio do Chefe por empatizar com a mulher que ele vai escolher o lado da mulher e vai ter s entos agressivos com o chefe falei cara isso faz sentido então o nosso instinto empático ele pode também nos conduzir a continuar nesse jogo de quem que é culpado e quem que é inocente então talvez não seja tão assim
a cola que eu estava esperando que empati F da sociedade e fiquei desesperada mas é muito bom quando a gente também cai numa contradição quando alguma coisa que a gente acredita muito né Tem uma quebra Porque daí a gente começa a correr atrás e aí eu lembrei de um artigo do Gustavo que é um querido que se chamava empatia não é suficiente e fui nesse artigo procurar algumas referências conversei com Gustavo que me passou mais um monte de referências e nisso eu percebi e aprendi o quanto que associar a empatia com a compaixão é algo
muito importante pra gente não cair na aflição empática pra gente não cair em favoritismos pra gente não cair em Burnout empático sabe quando você vê um monte de notícia e você empatiza tanto com elas notícias de de desastres de tragédias que você fica sentindo exausto Esse é o Burnout empático então a compaixão ela vem para para ajudar a gente a conseguir se sentir eh tranquilo e no nosso centro mesmo em situações que tem muita aflição né potencial aflitivo muito grande então a compaixão ela é aspiração genuína de que o outro se livre do sofrimento então
aqui nesse caso do abominável se a mulher tá contando tudo que aconteceu com chefe n o marido consegue internamente cultivar um um olhar de perceber que ela tá sofrendo muito porque ela tá muito enredada e muito apegada também a essa situação e muito apegada o que ela achava que poderia ser essa essa essa relação com o chefe então assim eu tô eu sou uma super iniciante entender e e de fato praticar e integrar compaixão na minha vida então eu quero só pontuar algumas coisas que eu aprendi até agora então compaixão é quando você não tem
só um um olhar para quem tá vivendo a situação mas você tem você tem uma uma compaixão e uma empatia pelo todo pela situação como um todo e aí não tem como falar se se compaixão é se livrar do sofrimento é você aspirar que o outro se livre do sofrimento não tem como falar de compaixão sem falar de sofrimento e o que que é o sofrimento né então então quando a gente tem uma noção Clara de que sofrimento é esse que a gente quer se livrar porque a gente sofre muito e primeiramente porque a gente
tem essa noção de que a gente não deveria sofrer então a partir do momento que a gente assume que sim o sofrimento existe e esse é o nosso ponto de partida e se ele tá acontecendo agora é algo que tem que ser acolhido a já dá o primeiro passo para conseguir ser mais compassivo e aí então isso é uma coisa que eu tô praticando bastante é e eu tô eu tenho sentido algumas mudanças sabe e é muito para você tá num ponto bom então não necessariamente esse marido vai virar pra mulher e falar assim eu
desejo que você se livre do sofrimento suas causas ele pode oferecer empatia cognitiva por ela então dá o momento criar espaço para ela desabafar mas internamente ele tá fazendo esse trabalho então eu tive eh amigas que diante das tragédias recentes que aconteceram aqui com o time do Chapecó que elas não conseguiram iram trabalhar mais ao longo do dia e eu senti muitíssimo por isso ter acontecido também eu pensei neles eu pensei nas famílias Mas isso não me deixou numa situação de aflição Então eu acho que eu tô conseguindo começar a integrar esses conceitos que é
uma prática interna mesmo de transformação interna e eu acho que é importantíssima quando a gente tá tentando ser empático com muitas pessoas e aí vocês devem perguntar mas pô Carol Então agora que você descobriu que a compaixão é uma coisa tão importante para apoiar a empatia a empatia perdeu o lugar e aí eu falo que não absolutamente não e sabe Em que momento eu acho que a empatia é importantíssima para início de conversa então que as nossas conversas tenham como ponto de partida a empatia porque o mundo gente tá Tem cada vez mais gente às
vezes eu paro diante daquele contador do aumento da população mundial eu fico 10 minutos olhando assim F gente caramba e é um mundo com cada vez mais gente cada vez mais compartilhado então nunca antes a gente teve tanto acesso à informação nunca antes a gente teve tanto acesso a opiniões assim ó na palma da nossa mão de pessoas completamente diferentes da gente com opiniões diversas eu acho que nós vamos ser uma uma geração que vai ser estudada daqui um tempo tipo Eles foram os primeiros que tiveram acesso à internet e para mim fica muito claro
quando eu começo a ler comentários e um site de notícia quando a gente acaba de passar por um dia super polêmico que eu tô dando um scroll lá no meu na minha timeline do Facebook que a gente ainda não sabe dialogar com a complexidade desse mundo compartilhado né então eh a gente tá precisando mesmo de mais gente que que quer escutar para compreender primeiro não para responder primeiro então é por isso que eu acho que a empatia é necessária para início de conversa principalmente a empatia cognitiva no qual eu realmente me esforço para saber o
que tá por trás daquela opinião Então eu acho que o mundo tá precisando de mais gente que diante da aflição do outro consegue se esticar que diante da própria aflição consegue respirar que diante do grito do outro consegue se conectar Então a partir do momento que eu comecei a escutar para compreender não só para responder eu consegui mudar a forma como eu conversava com a minha mãe eu consegui mudar a forma como eu reagia a comentários na internet eu tenho certeza que todo mundo aqui tem alguma relação que você se sente numa cinuca de bico
você não você sabe você pensa meu para onde vai essa relação Será que um dia eu vou conseguir fluir com essa pessoa tenho certeza que vocês se sentem desesperançosos com muitas das discussões que estão rolando por aí mas eu desejo eu aspiro que a partir de hoje vocês se sintam mais abertos e dispostos para pelo menos para início de conversa vocês serem espaço obrigada C