Se alguém perguntar “quantas coisas você tem? ”, você conseguiria dizer um número? Pense em cada peça de roupa, nos eletrodomésticos, todo o mobiliário.
Cada aparelho eletrônico, todas as xícaras, todos os sapatos. E o resto. A não ser que você seja um hiper minimalista, é bem difícil.
Porque a maioria de nós tem um montão de coisas. Ter mais traz conforto e opções, mas a um preço bem alto: maiores emissões de carbono, esgotamento de recursos e poluição. Nosso vício de produzir e consumir sempre mais está exaurindo o planeta.
Todo mundo discute como evitar a catástrofe climática, mas será que mudar para energias renováveis e comprar carros elétricos, mantendo o status quo, realmente ajudaria? Cada vez mais gente diz “não”. Querem que mudemos a fundo a forma de gerir nossas economias e nossas vidas.
Alguns chamam isso de decrescimento. Isso significa produzir menos o que faz mal ao planeta e investir mais nas coisas boas para nós. Então, menos pode ser realmente mais?
Vamos descobrir. Há décadas os países são avaliados pelo crescimento do Produto Interno Bruto, o famoso PIB. Quanto maior a produção de bens e serviços, maior é o PIB e mais tranquilo está o país.
Todos ficam felizes quando o PIB cresce, e receosos quando não é o caso. Algumas coisas que o PIB considera são benefícios, como hospitais, moradias e escolas. Porém, o PIB também computa coisas ruins, como a reconstrução após furacões e terremotos, como um indicador econômico positivo.
Não são considerados o trabalho doméstico e de assistência não remunerados, o acesso à educação e o bem-estar psicológico. Coisas que beneficiam nosso bem-estar de formas menos tangíveis, mas bem importantes. Por exemplo, ele ignora completamente a poluição e destruição ecológica provocadas por nossos sistemas econômicos em expansão.
Kai Heron ensina ecologia política na Universidade de Lancaster, no Reino Unido. É aí que entra a ideia do decrescimento. O termo decrescimento foi lançado por André Gorz, um filósofo social franco-austríaco.
Em 1972, ele questionou se produzir coisas constantemente seria mesmo uma boa ideia. Pouco depois, acadêmicos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts publicaram o relatório “Os limites do crescimento”. Essa previsão rigorosa concluiu que, a menos que contivesse o crescimento, a civilização entraria em colapso em 2072.
Não precisa dizer que que não caiu nada bem. A revista acadêmica “Nature” criticou dizendo que era “um sopro de Juízo Final". O debate sobre decrescimento voltou na década de 2000.
Naquele ano, dados mostraram como nossos danos ao planeta eram irreversíveis. Um artigo recente da “Nature” – sim, a mesma que ridicularizou a ideia nos anos 70 – sugeriu que o decrescimento deveria ser “considerado ampla e cuidadosamente”. E o termo chegou agora ao último relatório do IPCC sobre como manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC.
Uma abordagem do decrescimento que tem sido “amplamente considerada” é o desacoplamento: manter o crescimento econômico, mas reduzir as emissões de carbono. Países com economias avançadas têm conseguido fazer isso, por exemplo, mudando para fontes de energia renováveis. Como a Dinamarca, que conseguiu aumentar seu PIB per capita em 16% entre 2000 e 2019, reduzindo as emissões baseadas no consumo em 35%.
A Alemanha cresceu 26%, enquanto as emissões per capita diminuíram 24% no mesmo período. Até os Estados Unidos obtiveram resultado semelhante. Soa fantástico e, definitivamente, é um primeiro passo.
Mas o problema é que o desacoplamento só diz respeito ao CO2. E agora? A questão é que mesmo quem é favorável à ideia do decrescimento considera a palavra em si problemática.
Juliet Schor é professora de sociologia no Boston College e estuda a relação entre trabalho, economia e consumo. A ideia de decrescimento assusta, como se fôssemos voltar à Idade das Trevas. Na verdade, só significa reduzir as indústrias menos sustentáveis, como produção de carne e laticínios em massa, fast fashion, fabricação de automóveis e aviões.
Ou garantir que os produtos indispensáveis, geladeiras, celulares, máquinas de lavar, tenham uma vida útil mais longa. Consertar, em vez de substituir algo quando para de funcionar. Não se trata só de frear o crescimento, mas de aumentar o crescimento nos setores que beneficiam a sociedade como um todo.
Como criar empregos verdes, treinar profissionais para a instalação de energias renováveis, isolamento de edifícios e regeneração de ecossistemas. E investir no transporte público e serviços. Pode significar também semanas de trabalho de 4 dias e mais tempo livre para outras atividades que melhorem o bem-estar social.
Uma forma mais branda do decrescimento é chamada de “economia donut”. Os setores podem crescer, mas só num âmbito ideal, como nesta área verde. Nela, as necessidades sociais são atendidas de forma ambientalmente sustentável.
Se a economia crescer mais do que isso, entra na zona da destruição ambiental. A economia donut ainda se baseia no princípio do decrescimento de reduzir atividades prejudiciais. Mas isso é só ilusão?
Essa nova abordagem do crescimento pode piorar nossa vida? Este é o cerne do debate sobre o decrescimento: ele desfaria os avanços feitos pela humanidade? Muitos aspectos da vida moderna, como longevidade e baixa mortalidade infantil, estão associados a um PIB elevado, entre outros fatores.
Economistas a favor do sistema atual afirmam que o decrescimento significaria desemprego generalizado, inadimplência hipotecária e fechamento de empresas. Que seríamos todos forçados a uma recessão permanente. Isso limitaria pesquisa e inovação, necessárias para desenvolvermos tecnologias verdes e mais eficazes.
O problema é que, até agora, o decrescimento não foi experimentado ativamente em nenhum lugar, ou seja: ninguém pode comprovar os temores. E há outra questão em aberto: Este é Zeke Hausfather, um pesquisador climático e analista de sistemas energéticos. Uma sugestão dos defensores do decrescimento é que as dívidas impagáveis dos países de média e baixa renda fossem canceladas, para que possam investir em serviços públicos.
A ideia é equilibrar o jogo. Defensores afirmam que, com o decrescimento econômico, se atenderiam melhor às necessidades de mais gente. Apesar de toda a discussão sobre redução de emissões e poluição, continuamos vivendo muito acima dos nossos meios.
Se todo mundo consumisse recursos como um atual habitante dos EUA, precisaríamos de cinco Terras para nos sustentar. É o que afirma a Global Footprint Network. Estamos perdendo florestas.
Extinguindo a vida marinha nos oceanos. Não importa reduzir as emissões, se esgotarmos todos os recursos do planeta. Mas estamos mantendo o ritmo porque é bom para o PIB.
Mas continuamos a ver no aumento do PIB um sinal de que estamos ganhando. Falar de abrir mão do crescimento em prol do nosso futuro neste planeta soa para muitos como um pedido para que comecem a “perder”. Então a resposta é diminuir o crescimento intencionalmente?
Não haverá muitos governos dispostos a isso. . .
. Outro exemplo é o da ex-primeira ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern. Em 2019, ela anunciou um orçamento nacional priorizando o bem-estar e a felicidade dos cidadãos em detrimento do PIB e do crescimento econômico.
Nesse orçamento, todos os novos gastos eram para promover as prioridades do governo: melhorar a saúde psicológica, reduzir a pobreza infantil e combater as desigualdades sofridas pela população indígena. Promotores do decrescimento imaginam uma economia impulsionada por princípios alternativos. O que você acha?
O decrescimento é uma boa ideia, um objetivo alcançável? Conte para a gente nos comentários. E inscreva-se em nosso canal para novos vídeos como esse.