Jiddu Krishnamurti - O que é o Pensar?

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Corvo Seco
Trechos do livro “Da Solidão à Plenitude Humana”, de Jiddu Krishnamurti. Jiddu Krishnamurti (1895 -...
Video Transcript:
Vou lhe perguntar uma coisa: O que é o pensar? Ora, o que faz a vossa mente, quando  se vos apresenta esta pergunta? O que acontece quando a mente se vê  em presença de uma pergunta desta natureza?
Por um instante, a mente hesita, porque provavelmente nunca pensou nisso anteriormente; depois, dá uma busca pelo depósito da memória, e diz: “Vejamos, o Upanishads diz isto, a Bíblia diz aquilo. Bertrand Russell diz aquela outra coisa, e eu - o que penso? ”.
Assim sendo, procurais uma  resposta no passado, não é verdade? O pensar é uma resposta da  memória. Respondeis de acordo com o que vos ensinaram; vosso pensar é resultado  de influência e, portanto, está evidentemente condicionado.
Percebo que minha mente é constituída  do passado; entretanto, ela é o único instrumento capaz de observar e  descobrir. Então, o que ela deve fazer? Não há nenhum outro instrumento de  descobrimento; mas o instrumento que temos - a mente - é resultado do passado;  isto é um fato e não há negação nem discussão que possa influir nesse fato.
E pode essa mente, em algum tempo, descobrir qualquer coisa nova? Ou o conhecido, que é o passado - embora eu possa estar inconsciente dele - continuará sempre, de modo que só pode haver uma continuidade do conhecido, sob formas diferentes? Com a maioria de nós acontece que a  mente não está livre, pois se acha, consciente ou inconscientemente,  ligada a alguma forma de conhecimento, a inumeráveis crenças, experiências, dogmas, e como pode ser capaz de descobrimento uma mente nessas condições, como pode ser capaz de achar algo novo?
A mente que aspira encontrar a Verdade,  Deus, a extraordinária profundeza da vida e a plenitude do amor,  deve primeiramente estar livre. Uma mente que está cheia de conclusões  é uma mente morta. Uma mente viva é uma mente livre, que aprende, nunca conclui.
O que é o Pensar? Jiddu Krishnamurti. Pensar é - vejo-o - reação da memória,  não importa em que nível - consciente ou inconsciente; ele é sempre reação  procedente daquela esfera da mente constituída pelo conhecido; passado. 
A mente percebe isso como um fato. Depois, pergunta a si mesma se todo  pensar é meramente verbal, simbólico, reação do passado; ou existe  pensamento sem palavras, sem o passado? Ora, é possível averiguar se há alguma  atividade da mente, não contaminada pelo passado?
Estais compreendendo, senhores? Estou investigando, não estou supondo  nada. A mente percebe que ela própria é resultado do passado e pergunta a si  mesma se lhe é possível libertar-se do passado.
Se a mente responde desta ou  daquela maneira, se diz que é possível ou que não é possível, tal suposição,  nesse caso, é resultado do passado, não é? Por favor, acompanhai-me,  passo a passo, e vereis. A  mente está cônscia de ser resultado do passado; está perguntando se pode libertar-se do passado; e percebe que qualquer suposição de que pode ou de que não pode libertar-se, é produto do passado.
Qual é então o estado da mente dissociada  do passado, da mente que nada supõe? Agora estamos investigando onde é que  o pensamento cessa e surge uma coisa nova, que não é pensar. Onde acaba o pensamento?
Quando procuro descobrir o que é  pensar, tenho de prestar toda a atenção, atenção em que não pode haver  esforço nem atrito, porque no esforço, no atrito, há distração. Se estou  realmente interessado em descobrir o que é pensar, este próprio investigar produz  uma atenção, sem desvio, sem conflito, sem o sentimento de que devo prestar atenção. Estamos a observar o funcionamento da  mente e a descobrir os seus processos.
Estamos procurando descobrir como  nossa mente opera - e isto é meditação. Estou observando o funcionamento  da minha mente. Só isso.
Novamente: O que é o pensar? Pensar é reação a um desafio, não é? Não há pensar isolado.
É só quando  há um desafio, é que reagis. Mesmo se estais a pensar, recolhido em  vosso quarto de dormir, aonde não vos vem nenhum desafio do exterior, o  pensar é ainda reação a um desafio procedente de dentro de vós mesmo. Existe esta constante relação de desafio  e reação, e visto que reagis de acordo com vossas crenças, vossa educação ou  criação, etc.
, vossa resposta ou reação é sempre limitada, pouco significativa. Há desafio e reação. A reação é  invariavelmente de acordo com o meio cultural, os valores, a tradição em que a mente  foi criada e que, por ora, chamaremos condicionamento.
A mente, percebendo  isso, pergunta a si mesma: “Toda reação é produto desse condicionamento,  ou é possível reação fora dele? ”. A mente só está perguntando, de si para  si.
Qualquer suposição, de sua parte, de que isso é possível ou impossível, é ainda  reação do “fundo”. Isto está claro, não? Portanto, a mente só pode dizer: “Não  sei”.
Esta é a única resposta adequada à pergunta sobre se a mente  pode libertar-se do passado. Agora, quando dizeis “não sei”, em que  nível, em que profundidade o dizeis? Trata-se, apenas, de uma declaração verbal ou é a totalidade do vosso ser que está dizendo “não sei”?
Se todo o vosso ser diz, genuinamente: “Não  sei” - isso significa que já não estais recorrendo à memória para encontrar a resposta. Não está então a mente livre do passado? E tal processo de investigação não é meditação?
Ora, senhores, isto é um processo de meditação, e sem meditação não há sabedoria. É de extraordinária importância  ver o que somos, ver-nos de fato, como se nos estivéssemos olhando psicologicamente em um espelho, o que produz uma transformação na própria estrutura interna. Quando se realiza fundamentalmente, profundamente, uma transformação ou mutação semelhante, então essa mutação afeta toda a consciência do homem.
Esta é a finalidade da meditação,  fazer-nos conhecer o “ego” em seu todo. O “ego” é resultado do passado, e as muitas causas que lhe deram existência precisam ser compreendidas e transcendidas. Libertar-se do conteúdo da própria  consciência, e libertar-se de todas as coisas em que a pessoa se acha enredada, é meditação.
Destrua o pequeno estímulo  egocêntrico, ele não existe! A partir daí você pode se mover  infinitamente. E isto é meditação.
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