Algumas pessoas pensam que podem encontrar satisfação na boa comida, nas roupas finas, na música animada e no prazer sexual. No entanto, quando conseguem todas essas coisas, ainda assim não ficam satisfeitas. Percebem que a felicidade não está simplesmente em terem as suas necessidades materiais atendidas.
Assim, a sociedade criou um sistema de recompensas que vai além dos bens materiais, que inclui títulos, reconhecimento social, posição e poder político, tudo embrulhado por um pacote chamado realização pessoal. Atraídos por esses prêmios e estimulados pela pressão social, as pessoas passam as suas curtas vidas a cansar corpo e mente na perseguição desses objetivos. Talvez isso lhes dê a sensação de terem conseguido algo em suas vidas, mas, na realidade, elas terão sacrificado muito na vida.
Elas não conseguem mais ver, ouvir, agir, sentir ou pensar com base em seus corações. Tudo o que elas fazem é ditado pelo que lhes possam angariar ganhos sociais. No final, elas terão passado as suas vidas a seguir as demandas dos outros e nunca terão vivido a própria vida.
Por que não deixar que a vossa vida seja guiada pelo vosso próprio coração? Por que gastar a vossa vida a deixar que os outros os manipulem apenas para obter um nome e uma reputação? Por que seguir as regras de outras pessoas e viver para agradar aos outros?
Um velho sábio da Montanha disse certa vez: “Preocupe-se com a aprovação das pessoas e você será sempre um prisioneiro delas”. Os antigos entenderam que a vida não passa de uma estadia temporária neste mundo. No curto espaço de tempo que permanecemos aqui, devemos dar atenção às nossas próprias vozes e seguir os nossos próprios corações.
Por que não ser livre e viver a sua própria vida? Não Busque Reconhecimento. Lie-Tzu.
Os antigos diziam que um nome não significa nada e que os títulos são vazios. Nomes, títulos, posição social e reputação são todos vazios e sem sentido. Não devemos sacrificar o nosso precioso tempo na Terra com conquistas tão vazias.
As coisas não são tão permanentes quanto pensamos que sejam. Muito ocorreu entre os tempos antigos e o presente. Surgiram e desvaneceram-se sábios e tiranos.
Pessoas inteligentes, tolas, gentis, cruéis, boas, maldosas, todas fizeram pequenas aparições pela história e depois desapareceram. Não sabemos quem foram nem o que fizeram, e muito menos a posição e o lugar que ocuparam na sociedade. Na vida pode haver diferenças; na morte, tudo é o mesmo.
Quando vivos, os virtuosos podem ser respeitados, mas na morte não passarão de uma pilha de ossos secos. Da mesma forma, os ímpios podem ser abominados em vida, mas na morte também não passarão de uma pilha de ossos. As pessoas famosas após a morte também serão uma pilha de ossos; os desconhecidos serão outra pilha de ossos.
As diferenças são vistas ou lembradas no máximo durante cem anos, mas depois disso, uma pilha de ossos é exatamente igual à outra. Dada a curta e transitória natureza da vida, devemos aproveitá-la melhor. Aproveitá-la enquanto podemos.
Por que preocupar-se se iremos deixar um bom nome quando tudo o que restará de vós será uma pilha de ossos? A vida é curta. Por que prejudicar-se para conseguir coisas como nome e reputação quando sabemos que dentro de cinquenta anos, não seremos diferentes de ninguém?
Por que sacrificar a nossa felicidade e paz de espírito correndo atrás de algo tão efêmero e transitório? Se este corpo de carne e sangue é impermanente, quanto mais não o serão as coisas intangíveis como o nome, o título e a reputação? Por que não viver sem os fardos da fama e do reconhecimento?
Às vezes, ter um nome acarreta ansiedades e encargos de responsabilidade. Assim, as pessoas que têm poder e posição social muitas vezes não são livres para fazer o que querem. Por todos os observarem, devem eles se comportarem da maneira que se é esperado diante de sua reputação.
Basta um erro para que percam a reputação de que gozam, duramente merecida. Elas não são propriamente as mais felizes das pessoas. Por outro lado, alguém sem posição social e sem reputação para defender pode ser uma pessoa mais livre e feliz.
Porquê, pois, trabalhar tão duro para merecer o reconhecimento social quando só diminuirão a vossa liberdade e felicidade? Enquanto vivem, contentem-se e conheçam o suficiente. Quando morrerem, não haverá necessidade de cofres caros nem de funerais elaborados.
Assim, vivam uma vida de satisfação e tenham uma morte simples. A maioria das pessoas adora ser enaltecida e quando vê as suas realizações reconhecidas sente-se bem. Todavia, creio que estaríamos melhor se fôssemos livres de apegos e não nos deixássemos aprisionar pelo reconhecimento, pela aprovação e pela desaprovação.
A longo prazo, teríamos poucas coisas com que nos preocupar. É por isso que valorizo o vazio. Se vos fosse dado crédito por fazer alguma coisa, deveis compreender que não se deveria por completo à vossa própria iniciativa.
Os acontecimentos dão-se quando as condições são apropriadas, e a vossa ação apenas contribuirá para uma de várias das condições. Estamos acostumados a pensar que quando algo sucede nossas ações, esse algo é então uma realização nossa; não compreendemos que não existe realmente nada a realizar. Por isso, em vez de aceitarmos um crédito que não pertence a ninguém, por que não aquietar-nos e pensar nas ilusões do céu e da terra?
Perceber o vazio implícito das coisas pode ajudar-nos a cultivar a tranquilidade e a paz mental. Se não souberem como manter-se serenos neste mundo louco, sereis conduzidos a todo o tipo de apuros desnecessários. Perderão a noção do Caminho, e quando o perceberem, será demasiado tarde, por ao perderem o Caminho, ter-vos-eis igualmente perdido.
Não se deixem aprisionar pelo nome nem pelo título, pois as convenções sociais podem levá-los para longe da ordem natural das coisas. Não importa que venham a ser lembrados pelas gerações futuras, porque vocês não irão estar lá para ver. Se vocês puderem dispensar a reputação, então estarão livres de preocupações.
Se não houver nada em jogo, não teremos nada com que nos preocupar. Se não ansiarmos pela longevidade, então não teremos medo de morrer. Se não nos importarmos com a fama, então não nos preocuparemos com a forma como nos apresentamos aos outros.
Se não estivermos interessados em posições sociais, então não seremos incomodados com o que outras pessoas pensam de nós. Se não formos possessivos em relação ao dinheiro, então não esgotaremos corpo e mente para o acumularmos. Não teremos necessidade de invejar os outros, e poderemos seguir os nossos próprios princípios e ser fiéis a nós mesmos.
“Lembrem-se bem disto. Se forem sinceros convosco próprios e fizerem as coisas de boa-fé, toda a gente em vós perceberá a virtude. Assim, não importa onde vão, serão respeitados”.
- Yang-Chu. Yang-Chu disse: “Se tu aceitares a ordem natural das coisas, não te preocuparás com a possibilidade da tua vida ser longa ou curta. Se tu entenderes as leis do céu e da terra, não te preocuparás com as concepções de ‘certo ou errado’.
Se tu confiares em ti próprio, não importa que as condições sejam seguras ou perigosas. Se fores fiel a si próprio, não serás incomodado com as coisas que acontecem ao teu redor. Ganho ou perda, louvor ou culpa, aprovação ou reprovação, felicidade ou tristeza, raiva ou satisfação não poderão te afetar”.
Normalmente, se a vida corre de acordo com os nossos desejos, sentimo-nos satisfeitos. Assim que as coisas não acontecem como imaginamos, sentimo-nos aborrecidos. É por isso que apenas aqueles que não são afetados pelas circunstâncias externas sempre permanecerão calmos.
Eles seguem a senda natural e não se deixam controlar pelas reações para com os acontecimentos que se dão ao seu redor. Aqueles que não se deixam atar pelas questões mundanas do mundo não serão afetados pela pressão social, nem pelas emoções, nem pelo desejo. Eles conhecem a senda do Céu e não se limitam com ideias como certo ou errado, beleza ou feiura.
Lembre-se: Aqueles que têm êxito não são animados pelo sucesso; aqueles que compreendem não exibem os conhecimentos que têm. “Uma pessoa de virtude não se considera virtuosa, e quem quer que tenha alcançado o esclarecimento não apresenta aparências de perfeição. Somente assim poderás transcender o mundo e ainda assim fazer parte dele”.
- Lao-Tsé. Por fim, transcender mente e corpo requer disciplina e paciência, e quando isso é alcançado, somente o iluminado saberá que ele ou ela tenham alcançado a iluminação. Sem publicidade nem fanfarra, os seres iluminados prosseguem as suas vidas como gente vulgar e vivem o resto dos seus dias na simplicidade e no contentamento, desconhecidos para o mundo e não influenciados pelas suas convenções.
Assim dizia Hu-Tzu: “Sem pompa nem ostentação, os indivíduos esclarecidos preservam o seu modo de vida ordinário até ao fim, dotados de simplicidade e contentamento, anônimos e sem sofrerem afetação alguma por parte de convenções”.