Olá amigos! Bem-vindos a mais um episódio do nosso estudo do livro Gênesis de Moisés. A luz da Doutrina Espírita.
No episódio anterior, nós comentávamos sobre três elementos fundamentais do texto do capítulo 4, que é o capítulo que nós estamos estudando atualmente. Antes de falar desses três elementos, vamos falar de alguns pontos, aqui, que merecem atenção. Toda vez que nós nos aproximarmos da literatura do Velho Testamento, é preciso tomar algumas precauções.
Primeira precaução: este, aqui, não é um texto literal. E, nós ficamos, assim, condoídos, compadecidos com aquelas pessoas que tomam esse texto, muitas vezes orientadas teologicamente, muitas vezes com uma mente formatada por determinados segmentos religiosos, que manipulam o texto, que usam o texto como elemento de domínio social ou de controle social e as criaturas leem isto, aqui, de uma forma literal, sem nenhuma ponderação, sem nenhuma reflexão. Nós mesmos já fizemos isto, senão nessa vida, seguramente em várias outras, já passamos por esse processo.
Aqui, nessa proposta do nosso estudo, nós queremos fugir disto. Nós estamos em busca daqueles elementos vitais do texto e a vitalidade do texto, a vida do texto não está na letra. A vitalidade do texto, a beleza, a sabedoria do texto está na articulação dos seus profundos e enigmáticos símbolos.
Então, este é um texto simbólico, muito simbólico. É um entrelaçado, em que nós percebemos os pontos, de encontro. Estes pontos de encontro dos fios, esses nódulos, são os símbolos.
Os fios são a narrativa. É claro que do início do livro Gênesis até o final (Apocalipse) nós temos uma história que pode ser dividida em episódios, uma história que pode ser encenada em um teatro, uma história que pode ser filmada e já foi várias vezes encenada, filmada, uma história que pode se transformar em uma ópera. Essa é a tessitura, são os fios.
Quando nós atentamos para esses encontros dos fios, imaginem uma mulher rendeira fazendo aquelas toalhas, aqueles tapetes: ela vai pegando os fios e chega uma hora que ela dá um encontro e aquilo ali, forma uma flor e você vê formando a toalha, a rede, o tapete. É desta urdidura, esses encontros de fios são os símbolos. Por que eu estou dizendo isto?
Aqui, você está lendo a história: Eva deu á luz, nasceu Caim, o mais velho; depois, nasceu Abel. Caim era agricultor, Abel era pastor. Daí, um ofereceu o que ele plantava e o outro ofereceu a ovelha.
Mas, Caim matou Abel e você fica na história. Esta é a superfície. Ela é importante: claro!
Eu vou dizer que em uma toalha feita por uma mulher rendeira, o fio não é importante? Tem como dizer isto? Em uma blusa feita de crochê, eu vou dizer que o fio não é importante?
Como é que eu vou dizer isto? Esta é a superfície, o texto, a história. Por baixo há um encontro dos fios.
O encontro desses fios geram pontos. Esses pontos Esses pontos são os símbolos. Os grandes símbolos Como detectamos isto?
Porque eles voltam a ocorrer. É como se você pegasse uma toalha, uma blusa de crochê e você percebe que determinados pontos se repetem ao longo da blusa, ao longo da toalha, ao longo da rede (se você está no Nordeste, pensando naqueles artesãos fazendo as redes): tem pontos que se repetem. Então, vamos lá!
Um ponto que vai ser repetido, aqui: eu tenho dois irmãos. Quando eu falo 'dois irmãos' é um ponto. ‘Dois irmãos’ voltarão a ocorrer diversas vezes no texto bíblico.
Agora, vamos ver a semelhança? Vamos. Dois irmãos: Caim e Abel, Isaque e Ismael, Esaú e Jacó, José e os outros irmãos.
Tem alguma coisa aqui, não? tem alguma coisa aqui. Vamos aprofundar mais este ponto?
Vamos Dos dois irmãos, qual é assassinado? O mais novo. Qual é escolhido por Deus?
O mais novo. Mas, não é o primogênito que deve ser escolhido na tradição judaica, ou na tradição dos povos semíticos daquela época? O filho homem mais velho - o primogênito - possui até uma parte maior da herança porque a ele cabe o papel de cuidar da família no caso de faltar pai e a preferência, aqui, recai sobre o mais novo e, não, sobre o primogênito.
Mas, aconteceu isto de novo? Vamos lá: Esaú e Jacó. Quem é o mais velho?
Esaú. Quem é o mais novo? Jacó.
A preferência caiu sobre quem? Jacó. Isaque e Ismael.
José e os seus irmãos, quem era o mais novo? José, que foi ‘morto’. Na verdade, ele não morreu.
Mas, o irmãos achavam que ele estava morto. Quando nós atentamos para esse símbolo, que é o entroncamento dos fios, nós somos capazes de identificar padrões na narrativa. padrões na narrativa.
Não vou falar desses padrões aqui, por que nós vamos estudar depois. Mas, atentou? Vou te dar um outro padrão: Caim ofereceu primícias da plantação, Abel ofereceu com sacrifício o primogênito do seu rebanho.
O que é primogênito do rebanho? É o cordeiro. Aqui é a primeira vez que na narrativa bíblica surge outro símbolo muito forte, muito poderoso: o cordeiro primogênito.
Não basta ser um cordeiro, ele é o cordeiro macho mais velho, o que nasceu primeiro, o cordeiro primogênito. Nasceu primeiro daquela ovelha (é óbvio! ): se ela gerou cinco cordeiros machos, será o mais velho.
Onde isto vai voltar a aparecer? Lembra da Páscoa? Do êxodo?
Em que cada família hebraica teve que imolar um cordeiro primogênito, sem mancha, para que o anjo da morte pulasse a sua residência, a sua casa? Por que se passasse lá, morreria o primogênito da família. Como as famílias egípcias não imolaram o cordeiro, o anjo da morte passou na residência - na simbologia do texto, é óbvio!
- e morria o primogênito. Na família hebraica que imolou o cordeiro, o anjo pulou. Pular é 'pesach'.
Traduzido para o latim, para o português, é Páscoa. Isaque é levado pelo pai para ser sacrificado. Isaque é levado para ser sacrificado.
Quando ele chega lá e o pai vai sacrificá-lo, vem o anjo e fala: 'não! '. E, traz quem?
Cordeiro que é imolado no lugar de Isaque. E o símbolo volta de novo lá no Novo Testamento que chegou a Páscoa e Jesus é preso. Ele é o primogênito: não é isto que está lá em João?
Jesus é preso, chega na Páscoa, ele é imolado. Quando ele celebra a Páscoa com os discípulos, que é a última ceia, a última ceia é uma ceia de Páscoa. Ele parte o pão e fala: “Comei, este é o meu corpo; pega o vinho e diz “Bebei, esse é o meu sangue”, dizendo: ‘eu sou o cordeiro’.
Depois, ele é dito como o cordeiro de Deus. Percebe que quando você abre o Novo Testamento e vai ler sobre a prisão de Jesus e a crucificação de Jesus e você vê lá falando sobre o cordeiro - Jesus é o cordeiro de Deus -, eu te pergunto: tem que estudar o Velho Testamento? O que você acha?
Você acha que vai entender isto, de onde veio esta história de Cordeiro? É uma tessitura e eu só consigo voltar, regressar, chegar, se eu examinar esses pontos onde são pontos importantíssimos: irmãos, cordeiro. .
. Outro ponto da narrativa: o velho sistema fica, o novo é sacrificado. Esta é a história que vai culminar com o Cristo: as instituições velhas ficam, o novo é assassinado na cruz.
Ocorre essa característica, nós vamos perceber isto. É a característica de toda a transição de uma era velha para uma era nova. No nosso plano de evolução terrena, de expiação e prova, o novo nunca chega com a festa de aniversário, o novo sempre chega num velório, porque nós estamos sofrendo mais com que estamos deixando do que nos alegrando com o que está recebendo.
Mesmo hoje, no mundo, o nosso pranto é o pranto de lamento pelas coisas velhas que serão deixadas para trás, dada a nossa incapacidade de enxergar, de acolher e de agradecer o novo que chega. São pontos importantes. Esses encontros do texto, esses símbolos vão se repetir ao longo de toda a narrativa bíblica por uma questão muito simples: a narrativa bíblica é muito simples.
Por isso, que ela é difícil de ser interpretada. Hoje, eu posso dizer porque que é difícil interpretar o Velho Testamento: porque ele é muito simples e nós gostamos de coisas complicadas, nós não temos o olhar, ainda, do simples. Não tem, aqui, disco voador, não tem código secreto, números secretos.
Aqui, tem uma narrativa que fala de família, pai, filho, irmão, irmão matando irmão, ofertas a Deus. É uma sociedade simples, agropastoril e, em meio a essa aparente simplicidade, símbolos de profunda grandeza espiritual ocultos. Por quê?
Porque a maioria das criaturas estão querendo códigos secretos, doutrinas espetaculares, o céu se abrindo, a nave interestelar revelando uma nova matemática. E, aí, o Velho Testamento fica muito difícil. É nesse trato com o texto que a mensagem se revela.
Só que, aqui, nós podemos dizer, com toda a segurança. Lembra aquela pessoa que ficava fazendo aquelas comidas que você colocava em um tacho e tem que ficar mexendo? Um doce.
Tinha que mexer do mesmo lado, diz a tradição, e ficar mexendo até o doce dar o ponto, você fica girando, mexendo. Aqui, no texto, também: nós vamos passando pelo texto, vai passando e vê que cordeiro está aparecendo demais, já é o sétimo cordeiro que aparece, tem algo aqui nesse cordeiro. Percebem?
Não tem nada de místico, nem de extraordinário. Mas, tem de intricado, sutil. Isto tem!
Tem algo, aqui, de artesanato. Infelizmente, os tradutores vem afobados e fazem uma lambança quando está traduzindo, porque querem fazer texto bonito e vão perdendo essa beleza,por exemplo, que findou uma era (Gen 4:3). E ouve ó fim de dias é findou dias São esses detalhes: porque ele está dizendo que findou uma era?
E você vai perceber que tudo que aconteceu no capítulo 3 até Gen 4: 3 (que é “e findou uma era”), tudo que aconteceu lá, será causa de todos os horrores que vão acontecer ao longo da literatura bíblica. As causas foram dadas o que vai acontecer, aqui agora, são desdobramentos. Desdobram, concretizam,.
. . e desdobram como?
Você pega uma planta que chamam de trepadeira de espinho, e coloca uma mudinha no seu muro e volta daqui três anos? Sua casa está toda coberta. Mas, começou com uma muda, porque a coisa vai se multiplicando e vai gerando.
O que o texto bíblico está querendo nos dizer é que houve uma progressão do mal que não é aritmética, é exponencial, porque quanto mais pessoas praticando o mal, maior a maldade cresce de uma maneira mais veloz e mais violenta até chegar, hoje, no plano da transição que nós estamos vivendo. O contrário também: planta uma muda, de jabuticaba. Bacias e um monte de gente enchendo bacias de jabuticabas todos os anos.
A progressão do bem também: vem uma e vão somando pessoas e pessoas vão se somando, praticando o bem e daqui a pouco a Terra está coberta de bondade. Isto é o que o texto quer destacar. Quer destacar: um irmão matar um irmão.
Mas, toda vez que eu mato é sempre um irmão, não é? Porque somos todos irmãos. Você vai checando essas sutilezas do texto.
Aqui, o texto vai mostrar isto: começa um irmão com o seu irmão, juntos ali do mesmo lado. E, hoje, nós vemos em Castro Alves, Chico Xavier e Augusto dos Anjos dizendo: uma geração de Caims. Hoje, nós temos milhões de Caims espalhados pelo mundo, matando os seus irmãos, matando não apenas em um tiro, matando das mais diversas maneiras, exterminando ou inviabilizando a vida, o crescimento, a felicidade de outros irmãos.
São esses encantos do texto, essas sutilezas que o texto bíblico apresenta para a nossa análise que nós temos que ficar atentos e esse é o nosso enfoque, aqui, quando estamos estudando esse texto. Eu queria dar uma atenção especial à esta expressão'" e houve o final de dias". Há uma tradução que é A Torá Viva, da editora Maaynot, anotada pelo rabino Aryeh Kaplan, que eu adorei porque ele traduz o versículo Gen 4:3 assim: "Uma era findou.
Caim trouxe da sua colheita como oferenda a Deus. Abel também ofertou os primogênitos do seu rebanho, da sua gordura. " 'Uma era findou' traduz muito diferente da Bíblia de Jerusalém que traduz assim: "Passado o tempo, Caim apresentou", como se 'passado o tempo', fosse uma introdução para dizer o que vem depois.
O texto é conclusivo: acabou! Findou uma era e ponto final. Eu adorei essa traduz do rabino Aryeh Kaplan: "findou uma era" e ponto.
Agora, vai começar outra coisa e o texto hebraico dá esse sentido, tanto que ele coloca “e Caim trouxe”. E o rabino Aryeh Kaplan traduz assim e põe uma nota brilhante: "Uma era findou, literalmente. 'Foi o fim dos dias'.
", porque literalmente é isto que está no texto hebraico. Vamos ler de novo, aqui, para não termos dúvidas (leitura do texto em hebraico): ‘e foi o que aconteceu’, ‘e foi o que ocorreu’, ‘e existiu’ e ‘e houve’. Essa expressão hebraica já foi traduzida várias vezes assim: ‘e houve uma tarde e um dia’.
Vamos ver se eu pego aqui para nós: lá em Gen 1:5 “e houve o entardecer, e houve o amanhecer, dia um”. É o mesmo verbo: 'e houve'. Aqui, o verbo 'e houve final de dias', e houve término de dias, essa é a tradução literal.
E ele traduziu: uma era findou, porque 'dias', aqui também pode ser uma era, um período. Até o próprio Kardec no livro a Gênese comenta sobre o sentido da palavra dia no texto hebraico e Deus criou o primeiro dia, o segundo dia, e ele fala que não é um dia de 24h. Claro que não é, porque o Sol só foi criado no quarto dia.
Então, não é um dia. 'E houve término de dias', e findou uma era é ouve o fim dos dias ou foi o fim dos dias, E ele preferiu traduzir por uma erá findou e ele vai comentar: " É significativo que esta mesma expressão é usada para denotar a era messiânica quando a presente era terminará. Possivelmente, essa expressão se refere à expulsão do Éden, onde uma nova era começou.
A maioria da fontes interpreta como no curso do tempo. " Ele registra, aqui, que infelizmente tem isto. Mas, achei ótima esta tradução do rabino, que percepção a dele!
Foi lá nas fontes da tradição judaica, nas fontes da literatura judaica e resgatou isto, essa referência 'fim de era', a 'era messiânica' e a referência ao fim da nossa era e aqui essa expressão aparecendo na obra: ‘e houve ao fim de dias’, ‘e houve o fim de uma era’, terminou. Agora, vai começar uma nova era, que é a nossa era. A nossa era, essa nossa era aqui terá fim quando chegar a era messiânica, um mundo vindouro, a nova era, essa nossa era começou como?
Com um assassinato: um irmão matando um irmão. Essa é a história, essa é a origem! Assim que começou.
Agora, você está pensando em lei de causa e efeito: como é que vai terminar? Se começou assim, você quer que termine como? É o que está na origem: povo de Caims.
O que o texto bíblico está denunciando é que nós vivemos em uma sociedade de Caims. Não de Abel. Não é um povo de Abel.
É interessante porque o Aryeh também vai chamar a atenção para esse ponto: Abel, em hebraico – havel -, significa literalmente suspiro, algo rápido, vão, ele foi chamado assim porque nunca viveu para ter filhos, mais do que isto, foi assim porque a vida dele foi encurtada, não vingou, foi um suspiro, foi rápido, não permitiu. Então não é só uma geração de Caims. A humanidade toda não se tornou apenas uma sociedade de Caims.
Ela se transformou em uma sociedade onde o bem não consegue viver porque é ceifado. Começa o bem e á bondade é ceifado, é assassinado. Por isso que na era messiânica, em uma nova era, aí sim, o bem terá vida e terá vida longa.
Nós vemos, por exemplo, as promessas do Sermão do Monte são de vida longa. Vai viver muito? Até cento e poucos anos?
Não, não é de longevidade física. Não é isto! O que está sendo prometido lá é que o bem terá vida longa, as iniciativas do bem é que vão durar mais e o mal vai durar pouco.
O bem vai durar, vai se perpetuar, será imitado, será venerado, será dado continuidade ao bem e ao mal não. É uma das características também da nova era. Nós percebemos, aqui, detalhes importante do texto, pequeno trecho que você lê apressado: 'Caim matou Abel' e o que aconteceu?
Aconteceu tudo! Pequeno texto para descrever tudo. Porque, aqui, está descrevendo a causa e não os efeitos.
Aqui está descrevendo a origem da doença e não os sintomas (você pode ter mil e quinhentos sintomas). Está descrevendo a doença a causa, o mal a origem. Por que origem?
Porque se chama Gênesis, é por isto. Até ao próximo episódio. Obrigado pela sua atenção.