Ao escutar a pianista tocar o piano, o milionário ficou paralisado ao ouvir a música, a mesma que sua amada tocava antes de desaparecer há 25 anos. Bernardo Neves observava a paisagem de Curitiba pela janela de seu escritório no último andar de um prédio luxuoso. A cidade estava vibrante como sempre, mas para ele tudo parecia distante e vazio. Há muitos anos, Bernardo havia perdido o brilho nos olhos, desde o dia em que Helena, o grande amor de sua vida, desapareceu sem deixar rastros. Ele era conhecido por ser um dos empresários mais influentes do país, dono
de uma rede de hotéis e resorts espalhados pelo Brasil. Contudo, ninguém sabia o peso que ele carregava no peito, o vazio que nunca se preenchia, mesmo cercado de sucesso e fortuna. Foi numa tarde de sexta-feira, enquanto revia documentos importantes para uma nova fusão de negócios, que seu afiliado Rafael entrou no escritório com um sorriso animado. Rafael era um jovem de 20 e poucos anos, cheio de energia e entusiasmo; alguém que Bernardo via como um filho. Eles tinham uma relação próxima, e Rafael sempre se preocupava com o estado emocional de seu padrinho. Sabia que, por trás
da fachada de homem de negócios bem-sucedido, Bernardo guardava cicatrizes profundas. — Bernardo, você precisa sair um pouco dessa rotina. Tenho um convite para você — disse Rafael, colocando dois ingressos em cima da mesa. Bernardo arqueou as sobrancelhas, pegando os ingressos e olhando com curiosidade. — Um concerto? Sabe que eu não vou a esses eventos há anos. — Rafael, não faz sentido. — Eu sei, mas essa jovem pianista está fazendo um sucesso incrível. Dizem que ela toca com uma paixão que a gente raramente vê. Vai ser uma experiência única e você merece um pouco de distração.
Além disso, eu mesmo vou te acompanhar — insistiu Rafael, com um sorriso persuasivo. Bernardo hesitou. Ele não pisava em uma sala de concerto desde a última vez que viu Helena no palco, tocando com a mesma paixão que ele agora ouvia falar sobre essa jovem pianista. Só a lembrança o fazia sentir um aperto no peito. No entanto, a insistência de Rafael e a ideia de passar algumas horas fora do ambiente corporativo acabaram vencendo sua resistência. Naquela noite, Bernardo vestiu um terno preto impecável e se preparou para um evento que, até então, achava que apenas traria lembranças
dolorosas. Ao chegar ao teatro, ele notou que o local estava lotado. Pessoas conversavam animadas, esperando o início da apresentação. O som de risos e murmúrios preenchia o ambiente, criando uma atmosfera viva e excitante. Bernardo, por outro lado, sentia-se desconectado de tudo, como se estivesse apenas cumprindo uma obrigação. Eles se acomodaram nas cadeiras e logo as luzes do teatro começaram a diminuir gradualmente. Um silêncio tomou conta da sala enquanto as cortinas se abriam, revelando um palco simples, iluminado por um foco de luz que destacava o piano ao centro. Bernardo respirou fundo, tentando se preparar mentalmente para
o que estava por vir. Quando a jovem pianista Lívia entrou no palco, Bernardo se inclinou ligeiramente para a frente, curioso. Ela era uma mulher graciosa, de postura elegante e olhos que transmitiam uma serenidade cativante. Lívia cumprimentou o público com um sorriso tímido e se sentou ao piano. Por um momento, Bernardo pensou que seria mais uma apresentação comum, mas assim que as primeiras notas ressoaram no teatro, algo dentro dele mudou. A melodia suave e envolvente ecoou pela sala, e Bernardo sentiu seu coração bater mais rápido. A música era familiar, como se cada nota carregasse lembranças que
ele havia tentado esconder durante anos. Era a mesma peça que Helena costumava tocar para ele em momentos íntimos, uma melodia que simbolizava o amor e a cumplicidade que tinham. Bernardo congelou, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Ele fechou os olhos e deixou a música o envolver, sentindo as lágrimas acumularem em seus olhos. Quando abriu os olhos novamente, viu que seus lábios tremiam e ele segurava a borda da cadeira com força. A cada acorde, era como se uma parte de seu passado se revelasse diante dele, trazendo à tona sentimentos há muito tempo enterrados. Ele olhou
fixamente para Lívia, tentando encontrar respostas no rosto dela. Quem era aquela jovem que tocava com tanta emoção e precisão uma melodia que ele pensava ser única entre ele e Helena? A música terminou, e o teatro explodiu em aplausos. Bernardo permaneceu imóvel, perdido em seus pensamentos, enquanto as pessoas ao redor se levantavam para aplaudir de pé. Ele permaneceu sentado, incapaz de processar o turbilhão de emoções que aquela música havia despertado. Rafael olhou para ele, preocupado. — Bernardo, está tudo bem? Você parece abalado. — Eu preciso falar com ela — respondeu Bernardo, levantando-se apressadamente. — Eu preciso
descobrir como ela conhece essa música. Rafael tentou acompanhá-lo, mas Bernardo parecia movido por uma força invisível, algo que ele não via em anos. Atravessando o mar de pessoas que começavam a sair, ele se dirigiu ao corredor que levava aos bastidores, onde esperava encontrar Lívia. Suas mãos estavam trêmulas e sua mente girava com perguntas que ele mal conseguia formular. Quando finalmente conseguiu alcançá-la, Lívia estava conversando com alguns organizadores, agradecendo pela oportunidade de se apresentar. Bernardo esperou até que ela estivesse sozinha antes de se aproximar. — Com licença, eu preciso saber a música que você tocou. Onde
aprendeu? Lívia olhou para ele, surpresa, e depois sorriu gentilmente. — Essa peça minha mãe me ensinou. Ela costumava tocá-la para mim quando eu era pequena. Bernardo sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Sua voz falhou por um momento, mas ele conseguiu perguntar: — E onde está sua mãe agora? O sorriso de Lívia desapareceu. — Ela… ela desapareceu quando eu era criança. Nunca soube muito sobre o que aconteceu, apenas que ela não voltou. E assim, as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar de uma forma que Bernardo nunca imaginou ser. Ele encontrou em Lívia um fio de
esperança, uma conexão inesperada que o fazia acreditar que finalmente poderia encontrar respostas para a... Dor que carregou por tanto tempo, Bernardo ainda sentia um tremor nas mãos enquanto observava Lívia. A revelação de que ela havia aprendido aquela música com a mãe trouxe um turbilhão de emoções que ele não conseguia controlar. Era como se o passado tivesse invadido o presente de uma forma tão inesperada e cruelmente precisa que o deixava sem fôlego. Ele olhava para Lívia, buscando alguma semelhança com Helena, tentando encontrar traços que pudessem confirmar suas suspeitas. Lívia percebeu a intensidade do olhar de Bernardo
e, por um momento, ficou desconcertada. — Desculpe, o senhor está bem? — perguntou ela, notando o nervosismo no rosto dele. Bernardo respirou fundo, tentando recobrar a calma. — Perdão, eu talvez pareça estranho, mas essa música que você tocou era a favorita de alguém que eu conhecia há muito tempo. Eu não sabia que mais ninguém a conhecia. Você disse que aprendeu com sua mãe? Lívia assentiu, seus olhos suavizando com a lembrança. — Sim, minha mãe era pianista. Ela costumava me ensinar músicas antigas e dizia que algumas delas eram especiais, que tinham histórias por trás. Essa era
uma das suas favoritas. Sempre achei que tinha algo de especial nela. Bernardo se sentiu dividido entre a dor e a esperança. Parte dele queria acreditar que estava perto de encontrar respostas, mas outra parte tinha medo do que poderia descobrir. Ainda assim, sabia que não podia deixar essa oportunidade escapar. — Você mencionou que sua mãe desapareceu. O que aconteceu com ela? A expressão de Lívia ficou mais séria. Ela baixou o olhar, como se estivesse revivendo memórias dolorosas. — Eu era muito pequena quando isso aconteceu, então não lembro de muitos detalhes. Só sei que um dia ela
saiu e nunca mais voltou. Meu pai me disse que ela teve que ir embora por motivos que ele nunca explicou, e que depois ela acabou falecendo. Mas é tudo muito confuso. Sinto que há coisas que nunca foram ditas. Essas palavras ressoaram profundamente em Bernardo. A história de Lívia parecia se alinhar de forma assustadora com o desaparecimento de Helena, mas ele ainda precisava ter certeza. — Qual era o nome dela? — ele perguntou, sua voz quase falhando de ansiedade. — Helena — respondeu Lívia, sem perceber o impacto que essa simples palavra teve em Bernardo. O nome
soou como um trovão em seus ouvidos, uma confirmação que ele esperava e temia ao mesmo tempo. Por um momento, ele sentiu suas pernas ficarem fracas e precisou se apoiar em uma mesa para não cair. Lívia, notando o estado dele, se aproximou, preocupada. — Senhor, o senhor precisa se sentar. Parece que viu um fantasma. Bernardo assentiu, tentando sorrir, mas seus olhos estavam marejados. — Acho que, de certa forma, vi sim — murmurou ele, recuperando-se aos poucos. — Helena era o nome de alguém que eu amava muito há muitos anos. O rosto de Lívia demonstrava curiosidade e
confusão. — Sinto muito por perguntar, mas vocês se conheciam? Minha mãe e o senhor? Bernardo hesitou. Como explicar algo que ele mesmo ainda não compreendia completamente? Como contar para aquela jovem, praticamente uma estranha, sobre o amor que ele teve por Helena e a dor de seu desaparecimento? — Sim, nós nos conhecíamos. Na verdade, nós íamos nos casar. Ela desapareceu há 25 anos e eu nunca soube o que realmente aconteceu com ela. A surpresa de Lívia era visível. — Isso é... eu não sabia. Sempre pensei que minha mãe tinha uma vida diferente antes de mim, mas
meu pai nunca contou muitos detalhes. Acho que ele queria que eu seguisse em frente, que não ficasse presa ao passado. Bernardo percebeu que ali havia uma brecha para continuar a conversa. — Seu pai, você ainda tem contato com ele? Talvez ele possa nos ajudar a esclarecer algumas coisas. Lívia balançou a cabeça, com uma expressão triste. — Ele faleceu quando eu tinha 14 anos. Depois disso, fui criada por minha tia. Não tenho mais ninguém para perguntar sobre a minha mãe. A notícia deixou Bernardo sem saber como prosseguir. Todos os caminhos que ele imaginava para obter respostas
pareciam se fechar um a um. Mas algo dentro dele se recusava a desistir. Ele precisava tentar, por mais que doesse. — Lívia, eu sei que essa é uma situação estranha para você e não quero te pressionar, mas se há alguma chance de descobrir o que realmente aconteceu com sua mãe, eu gostaria de tentar. Posso te ajudar a encontrar respostas, se você permitir. Lívia o observou em silêncio por alguns segundos, tentando decifrar a sinceridade em suas palavras. Ela não entendia completamente o que estava acontecendo, mas via a dor nos olhos de Bernardo, uma dor que parecia
refletir a sua própria, de alguém que também havia perdido alguém importante. — Eu não sei o que podemos encontrar, mas acho que gostaria de saber a verdade sobre minha mãe. Se você acha que pode ajudar, então eu aceito. Bernardo sentiu um alívio inesperado ao ouvir a resposta dela. Era como se, pela primeira vez em anos, ele tivesse uma chance de reconstruir uma parte de sua vida que havia sido arrancada de forma brutal e inesperada. — Obrigado, Lívia. Nós vamos descobrir a verdade. Eu prometo. O acordo entre eles foi selado ali, no meio de um teatro
quase vazio, com a promessa de buscar respostas para perguntas que haviam sido ignoradas por tempo demais. Bernardo sabia que essa jornada não seria fácil e que teria que revisitar lembranças dolorosas e confrontar fantasmas que ele manteve à distância por 25 anos. Mas a presença de Lívia e a chance de descobrir mais sobre Helena davam a ele um novo propósito, algo que ele não sentia há muito tempo. Ao sair do teatro naquela noite, Bernardo sentiu o ar frio de Curitiba bater em seu rosto. Ele respirou fundo como se estivesse acordando de um longo pesadelo. Ao seu
lado, Rafael esperava ansioso, curioso para saber o que havia acontecido. Bernardo apenas sorriu para ele e colocou uma mão em seu ombro. — Acho que encontrei uma pista, Rafael. E isso muda tudo. Depois daquela conversa. Com Lívia, Bernardo não conseguia pensar em mais nada. As palavras dela ecoavam em sua mente como se ele estivesse revivendo uma memória antiga e dolorosa. Durante toda a noite, ele se revirou na cama, incapaz de dormir. Cada vez que fechava os olhos, lembrava-se do sorriso de Helena, das tardes que passavam juntos e das melodias que ela tocava para ele. Era
como se todo o tempo que havia passado desde o desaparecimento dela tivesse se esvaído de repente, deixando-o vulnerável e exposto. Na manhã seguinte, Bernardo decidiu que precisava voltar aos lugares que ele e Helena frequentavam. Sentiu que, de alguma forma, isso poderia ajudá-lo a processar tudo o que estava acontecendo. Então, entrou no carro e dirigiu pela cidade até chegar ao centro histórico de Curitiba, onde estava o café onde costumavam se encontrar. Ele não visitava aquele lugar há décadas e, ao entrar, foi recebido por um misto de nostalgia e tristeza. O café ainda tinha a mesma aparência
de antigamente, com suas mesas de madeira, cadeiras de ferro e o aroma suave de café fresco misturado ao som de conversas baixas. Bernardo escolheu uma mesa no canto, perto da janela, onde ele e Helena costumavam sentar. Enquanto olhava para a rua movimentada, sua mente o levou de volta à época em que tudo parecia perfeito. Lembrou-se do dia em que Helena tocou para ele pela primeira vez e de como seu coração disparou ao ouvi-la tocar aquela mesma melodia que Lívia havia tocado na noite anterior. Cada detalhe daquela memória estava gravado em sua mente: o sorriso dela
enquanto tocava, o jeito como seus dedos deslizavam suavemente pelas teclas e a forma como seus olhos brilhavam ao final da música. Era uma memória que ele havia guardado como um tesouro, mesmo depois de tantos anos. Enquanto tomava seu café, Bernardo se perguntava se ele realmente estava pronto para confrontar o passado. Uma parte dele estava assustada com a ideia de descobrir que tudo o que aconteceu com Helena poderia ter sido muito mais sombrio do que ele imaginava. No entanto, ele sabia que não podia mais fugir. Lívia havia reacendido uma chama de esperança dentro dele e agora
ele precisava saber a verdade, não importava o quanto isso pudesse doer. Bernardo tirou o telefone do bolso e fez uma ligação para um velho amigo, Carlos, que havia sido próximo de Helena e trabalhava como produtor musical na época. Carlos era uma das poucas pessoas que conheciam bem o relacionamento de Bernardo e Helena e talvez tivesse alguma pista que pudesse ajudá-lo. — Carlos, sou eu, Bernardo. Será que podemos nos encontrar? Preciso conversar com você sobre Helena. Do outro lado da linha, houve um silêncio breve, seguido de uma resposta cautelosa. — Claro, Bernardo. Quando e onde? Poucas
horas depois, eles se encontraram. Carlos estava mais envelhecido do que Bernardo lembrava, com cabelos grisalhos e rugas profundas que revelavam os anos que haviam passado. Quando se sentou à mesa, Carlos olhou para Bernardo com uma mistura de curiosidade e preocupação. — Não esperava receber uma ligação sua, principalmente sobre Helena. O que aconteceu? Bernardo respirou fundo antes de começar a falar. — Ontem eu fui a um concerto. Uma chamada Lívia tocou uma música que Helena costumava tocar para mim. Eu nunca ouvi essa peça em outro lugar. — Nunca? E quando falei com Lívia, ela me disse
que aprendeu com a mãe, que também se chamava Helena e desapareceu anos atrás. Preciso saber mais, preciso entender o que realmente aconteceu. Carlos pareceu surpreso, mas também cauteloso. Ele olhou ao redor, como se estivesse conferindo se alguém poderia ouvi-los. — Eu sempre achei que havia algo estranho no desaparecimento de Helena, mas nunca consegui provar nada. Ela me contou algumas coisas antes de sumir, coisas que me deixaram preocupado. Mas quando fui tentar descobrir mais, parecia que todas as portas se fechavam. Foi como se alguém tivesse apagado qualquer rastro dela. Essas palavras fizeram o coração de Bernardo
acelerar. Ele se inclinou para a frente, buscando cada palavra de Carlos. — Você sabia de algo? Sabe quem poderia estar por trás disso? Carlos hesitou, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. — Não tenho provas, Bernardo, mas sei que, pouco antes de desaparecer, Helena estava preocupada. Ela me disse que tinha recebido ameaças, que alguém estava tentando intimidá-la. E não era qualquer pessoa. Era alguém com poder, alguém que poderia fazer com que uma pessoa desaparecesse sem deixar vestígios. O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Bernardo tentou digerir as palavras de Carlos, mas parecia que
cada nova informação apenas aumentava o peso que ele carregava. — Você está dizendo que alguém a fez desaparecer? Por quem faria isso? Carlos balançou a cabeça, incapaz de dar uma resposta definitiva. — Eu não sei, Bernardo, mas você era um homem poderoso, tinha inimigos, pessoas que invejavam o que você tinha. E talvez alguém que não quisesse ver você feliz. Pode ser uma coincidência ou talvez não, mas algo me diz que há mais nessa história do que qualquer um de nós imagina. Bernardo sentiu uma raiva crescente dentro dele. O pensamento de que alguém pudesse ter tirado
Helena dele de propósito o deixou furioso, mas também determinado. Ele precisava descobrir quem estava por trás de tudo isso e por quê. Olhou para Carlos com uma expressão séria. — Eu vou descobrir a verdade, Carlos. Não importa o que eu tenha que fazer. Não vou descansar até saber quem foi que destruiu a vida dela. Se há qualquer coisa que você possa fazer para me ajudar, eu agradeço. Carlos assentiu lentamente, como se estivesse pesando a decisão. — Há um nome que você deve procurar, Bernardo. Eu não sei o quanto é verdade, ouvi boatos de que uma
pessoa poderia estar envolvida. É um advogado que trabalhou para você anos atrás. Um homem chamado Otávio. Bernardo congelou ao ouvir o nome. Otávio era seu irmão, alguém que ele sempre achou que estivesse ao seu lado. A ideia de que Otávio poderia ter algo a ver com o desaparecimento de Helena o deixou paralisado. Desaparecimento de Helena era algo que ele nunca havia considerado, mas agora parecia que tudo se tornava mais claro e mais sombrio. Ele não sabia o que pensar, mas sabia que precisava de respostas; e se Otávio tinha algo a ver com isso, ele iria
descobrir. Bernardo deixou o café sentindo-se como se estivesse à beira de um precipício; as palavras de Carlos continuavam a ecoar em sua mente, trazendo à tona uma mistura de choque e incredulidade. Otávio, seu próprio irmão, alguém com quem ele havia dividido tantas coisas, poderia estar envolvido no desaparecimento de Helena. Era difícil aceitar, mas isso fez com que Bernardo se sentisse ainda mais determinado a descobrir a verdade. No caminho de volta para casa, ele decidiu que precisava se encontrar novamente com Lívia. Ela era a única ligação real que ele tinha com Helena agora, e talvez pudesse
ajudá-lo a preencher algumas lacunas que ainda permaneciam. Além disso, sentia uma necessidade quase desesperada de proteger Lívia, como se de alguma forma estivesse compensando por não ter conseguido proteger Helena no passado. Na tarde seguinte, Bernardo ligou para Lívia e a convidou para um café. Ela aceitou prontamente, ainda curiosa para entender melhor por que aquele homem, aparentemente um estranho, demonstrava tanto interesse na história de sua mãe. Eles marcaram de se encontrar em um café no centro de Curitiba, um lugar simples e acolhedor que ficava próximo à escola de música onde Lívia praticava. Quando Bernardo chegou, viu
Lívia já sentada em uma mesa perto da janela, folheando um livro de partituras. Ela sorriu ao vê-lo e o cumprimentou com um aceno de cabeça. Bernardo se aproximou, tentando parecer o mais tranquilo possível, apesar da ansiedade que o consumia por dentro. — Oi, Lívia. Espero que não se importe por eu ter sugerido esse encontro. Sei que pode parecer estranho, mas eu tenho algumas perguntas e talvez algumas respostas também. — Claro, não se preocupe — respondeu Lívia, com um sorriso gentil. — Eu também fiquei curiosa depois de nossa última conversa. Parece que há muito sobre minha
mãe que eu nunca soube. Bernardo se acomodou na cadeira e pediu um café. Ele precisava pensar cuidadosamente sobre como abordar o assunto. Sabia que a revelação sobre Otávio ainda precisava ser investigada e não queria assustar Lívia com teorias que talvez não se confirmassem. — Lívia, ontem eu falei com um amigo que conhecia sua mãe e ele me disse que antes de desaparecer, ela estava sob muita pressão. Parece que havia algo ou alguém que a ameaçava. Lívia franziu a testa, surpresa. — Eu não sabia disso. Na verdade, sempre me disseram que ela precisou ir embora por
circunstâncias pessoais, mas ninguém nunca entrou em detalhes. — Eu sempre pensei que talvez ela estivesse em alguma dificuldade — que não queria. — Entendo — disse Bernardo, tentando escolher suas palavras com cuidado. — Eu queria te perguntar mais sobre sua vida antes. Você me contou que foi criada por seu pai e depois por sua tia. Como era a relação deles com sua mãe? Eles mencionavam algo sobre a vida dela antes de você nascer? Lívia fez uma pausa para pensar antes de responder. — Meu pai... ele era um homem muito reservado. Quando minha mãe desapareceu, ele
ficou distante, como se tivesse se fechado para o mundo. Nunca quis falar muito sobre ela e, depois que ele faleceu, minha tia também evitava tocar no assunto. Mas sempre senti que havia algo a mais, algo que eles não queriam que eu soubesse. Bernardo assentiu. Cada nova informação parecia corroborar a ideia de que havia uma história complexa e oculta por trás do desaparecimento de Helena. — Eu acho que sua mãe tentou proteger você, Lívia. Talvez ela estivesse envolvida em algo que a colocou em perigo, e isso fez com que ela precisasse se afastar. Mas eu também
acredito que alguém a forçou a desaparecer. Lívia o observava com uma expressão de confusão e apreensão. — Por que o senhor está tão interessado em tudo isso, Bernardo? Quem exatamente era minha mãe para você? Bernardo sabia que aquele era o momento de ser honesto, mesmo que as palavras fossem difíceis de pronunciar. — Sua mãe, Helena, era o grande amor da minha vida. Nós estávamos noivos. Íamos nos casar antes de ela desaparecer. Durante todos esses anos, eu nunca consegui aceitar o que aconteceu, nunca encontrei respostas, e isso me atormentou. Então, quando ouvi você tocar aquela música,
uma música que ela costumava tocar só para mim, senti que talvez finalmente pudesse entender o que realmente aconteceu. Lívia ficou processando as palavras de Bernardo; seus olhos se encheram de lágrimas, como se de repente toda a história que ela conhecia sobre sua mãe estivesse desmoronando. — Eu não sabia disso. Meu pai nunca mencionou que minha mãe tinha alguém antes de conhecê-lo; ele nunca falou sobre nenhum noivado. — É claro que ele não mencionou — disse Bernardo, com um tom de amargura. — Se ela foi forçada a desaparecer, provavelmente teve que cortar todos os laços, incluindo
o meu. Mas eu acredito que ela nunca quis realmente ir embora. Por um momento, Lívia parecia perdida. Mas então, ela respirou fundo e disse: — Eu quero ajudar, Bernardo. Se há uma chance de descobrir o que aconteceu de verdade, quero fazer parte disso. Talvez possamos encontrar algumas respostas que foram escondidas por muito tempo. O apoio de Lívia deu a Bernardo uma força renovada. Ele sentia que, com ela ao seu lado, as peças do quebra-cabeça poderiam finalmente começar a se encaixar. — Obrigado, Lívia. Sei que essa não é uma situação fácil, mas eu prometo que vou
fazer tudo o que puder para descobrir a verdade por nós dois. Eles conversaram por mais algumas horas, trocando informações e lembranças. Bernardo descobriu que Lívia tinha algumas poucas fotos antigas de Helena e sugeriu que talvez pudessem revisá-las em busca de pistas. Lívia concordou e se comprometeu a trazer as fotos na próxima vez que se encontrassem. Ao se despedirem, Bernardo sentiu que, pela primeira vez em anos, estava dando um passo real em direção. Ao entendimento do que havia acontecido com Helena, ele sabia que o Caminho não seria fácil, mas também sabia que não estava mais sozinho
nessa busca. Lívia era um lembrete vivo do amor que ele perdeu, mas também uma esperança de que esse amor não tivesse sido completamente em vão. Enquanto caminhava para o carro, Bernardo sentiu seu telefone vibrar no bolso. Era uma mensagem de Rafael: "Precisamos conversar. Encontrei algo que você vai querer ver." O coração de Bernardo acelerou. Ele não sabia o que Rafael tinha descoberto, mas sentia que a cada dia as respostas estavam mais próximas, e com isso também chegavam as sombras do passado que ele temia enfrentar. Bernardo dirigiu até a casa de Rafael com a mente a
mil, tentando imaginar o que seu afilhado poderia ter descoberto. Desde o concerto em que conheceu Lívia, cada nova informação parecia puxar um fio oculto, desvendando segredos que Bernardo nem sabia que existiam. Ele estacionou o carro em frente à casa de Rafael e respirou fundo antes de sair; precisava se preparar para o que quer que fosse, mesmo que temesse as respostas que estavam por vir. Rafael o recebeu na porta com uma expressão séria, bem diferente do seu habitual sorriso caloroso. "Bernardo, é melhor você se sentar para isso", disse ele, guiando o padrinho até a sala. Eles
se acomodaram no sofá e Rafael colocou uma pasta sobre a mesa de centro. "O que eu encontrei pode não ser fácil de digerir." Bernardo sentiu um nó se formar em seu estômago. "O que você descobriu?", perguntou, tentando manter a calma. "Estive olhando alguns arquivos antigos do grupo de empresas da família. Sempre soube que você e o Otávio tinham uma relação conturbada, mas nunca entendi exatamente o porquê. Então pensei que poderia haver algo nos documentos antigos que nos desse uma pista sobre a ligação dele com o desaparecimento de Helena. E encontrei algumas coisas preocupantes." Rafael abriu
a pasta e começou a mostrar documentos para Bernardo. Havia contratos, cartas, registros financeiros e, o mais surpreendente, algumas notas escritas à mão. Bernardo reconheceu a caligrafia de Otávio em várias delas. "Olha isso", disse Rafael, apontando para uma carta em particular. "É uma comunicação de um advogado que estava cuidando de alguns interesses do Otávio na época. Ela menciona uma transferência de fundos pouco antes de Helena desaparecer." Bernardo pegou a carta e a leu com atenção. As palavras eram formais, mas escondiam uma transação que parecia suspeita. Era como se Otávio estivesse movimentando dinheiro para pagar alguém discretamente.
"Isso não prova nada, Rafael. Pode ser apenas uma transação de negócios", disse Bernardo, mas ele mesmo não parecia convencido. "Eu pensei nisso também", respondeu Rafael. "Mas então eu encontrei outra coisa." Ele mostrou outro documento, desta vez um registro telefônico. "Esses são os registros de ligações de Otávio durante o período em que Helena desapareceu. Há várias chamadas para um número que não pertence a nenhum dos contatos comerciais comuns dele." Bernardo examinou o registro e viu o número repetido várias vezes. "De quem é esse número?" "Eu fiz algumas verificações, e o número está registrado em nome de
uma pessoa chamada Silveira. Ele era um detetive particular que, ao que tudo indica, trabalhou para Otávio durante um curto período. E o mais curioso é que ele desapareceu do mapa logo depois que Helena sumiu." Bernardo sentiu uma onda de raiva e dor atravessar seu corpo. A possibilidade de que Otávio pudesse estar envolvido de forma tão direta no desaparecimento de Helena fazia seu coração bater mais rápido e sua cabeça latejar. Ele se levantou do sofá e começou a andar pela sala, tentando processar o que acabara de ouvir. "Meu próprio irmão! Será que ele realmente faria isso?
Por que ele faria uma coisa dessas?" Rafael se aproximou, tentando manter Bernardo calmo. "Eu sei que é difícil acreditar, mas precisamos considerar todas as possibilidades. Se Otávio realmente fez algo para afastar Helena, talvez ele estivesse tentando proteger algum interesse pessoal ou financeiro. Mas só podemos especular até termos mais provas concretas." Bernardo sabia que Rafael estava certo, mas isso não tornava a situação menos angustiante. Ele se sentia traído, enganado e incapaz de compreender como Otávio poderia ter agido de forma tão fria e calculista. "Eu preciso confrontá-lo", disse Bernardo de repente. "Eu preciso olhar nos olhos dele
e perguntar o que realmente aconteceu." "Espera", interveio Rafael. "Não acho que seja uma boa ideia ir até ele sem estar preparado. Otávio é esperto e sabe como as coisas podem jogar a seu favor. Se você o confrontar agora, ele pode negar tudo e simplesmente apagar qualquer outra prova que possa existir. Precisamos de mais informações antes de dar esse passo." As palavras de Rafael ressoaram em Bernardo. Ele sabia que o afilhado estava certo, mas o impulso de encarar Otávio era quase incontrolável. Durante anos, ele viveu sem respostas e agora que estava tão perto de descobrir a
verdade, a espera se tornava insuportável. "Então, o que sugere que façamos?" Rafael hesitou por um momento antes de responder: "Eu tenho um amigo que trabalha como investigador particular. Se Otávio esteve envolvido no desaparecimento de Helena, precisamos encontrar mais provas—algo que não possa ser contestado, algo que o force a confessar. Deixe-me cuidar disso. E você continua mantendo contato com Lívia. Talvez ela possa nos dar outras pistas que nos ajudem a entender melhor o que está acontecendo." Bernardo assentiu, ainda que a contragosto. "Tudo bem, Rafael, mas por favor, seja rápido. Cada dia que passa, sinto que estou
mais perto da verdade e não posso continuar vivendo sem saber o que realmente aconteceu." Eles continuaram conversando por mais algum tempo, planejando seus próximos passos. Quando finalmente saíram da casa de Rafael, já era noite. Bernardo dirigiu pelas ruas escuras de Curitiba, perdido em pensamentos. Lembranças de Helena vieram à tona, misturadas com a dor que sentia por acreditar que seu irmão poderia ser o responsável por tanta angústia. Ao chegar em casa, Bernardo encontrou a... Sala mergulhada na penumbra, ele se sentou no sofá exausto e fechou os olhos por um momento. Desejou poder voltar no tempo para
um período antes de tudo isso acontecer, quando ele e Helena faziam planos para o futuro, mas ele sabia que isso era impossível. A única coisa que restava era seguir em frente e enfrentar as sombras do passado. Enquanto estava ali, perdido em seus pensamentos, o telefone tocou. Bernardo atendeu sem olhar para o identificador de chamadas e uma voz familiar falou do outro lado: — Bernardo, aqui é Otávio. Precisamos conversar. A voz de Otávio soou calma, mas Bernardo sentiu um calafrio ao ouvi-la; ele sabia que, de uma forma ou de outra, o confronto que tanto temia estava
próximo. — Sim — Otávio respondeu, ele tentando manter a voz firme. — Acho que temos mesmo muito o que conversar. Eles marcaram um encontro para o dia seguinte, e Bernardo desligou o telefone com um misto de ansiedade e determinação. Ele sabia que aquela conversa poderia mudar tudo, para melhor ou para pior, mas, de qualquer forma, estava pronto para enfrentar o que viesse. Estava cansado de viver na escuridão e, mesmo que a verdade fosse dolorosa, ele a enfrentaria de frente. Na manhã seguinte, Bernardo acordou cedo, apesar de não ter dormido bem. A conversa marcada com Otávio
o deixava inquieto, e ele sabia que o encontro poderia ser um divisor de águas. Ao longo dos anos, Otávio sempre tinha se mostrado amigável e prestativo, mas agora Bernardo questionava cada gesto e cada palavra. Será que havia algo que ele nunca percebeu, alguma pista que indicasse as verdadeiras intenções do irmão? Enquanto tomava café, Bernardo relembrou as noites que passou ao lado de Helena, sonhando com o futuro e construindo planos que nunca chegaram a se concretizar. Se Otávio realmente fosse o responsável por destruir tudo isso, Bernardo precisava saber o porquê. Ele precisava entender como alguém que
deveria ser uma das pessoas mais próximas a ele poderia ter agido de forma tão cruel. O encontro estava marcado para o meio-dia em um restaurante discreto no centro de Curitiba. Bernardo chegou alguns minutos antes e escolheu uma mesa no fundo, onde teria mais privacidade para a conversa. Pouco depois, Otávio apareceu; ele parecia o mesmo de sempre, confiante, seguro de si, com aquele sorriso que sempre usava para encantar e convencer as pessoas. — Bernardo, que bom te ver — disse Otávio, estendendo a mão para cumprimentá-lo. — Faz tempo que não temos uma boa conversa, só nós
dois. Bernardo apertou a mão do irmão, mas não respondeu de imediato. Ele observou Otávio, tentando ler nas expressões dele qualquer sinal de desconforto ou nervosismo, mas não encontrou nada. Otávio era um mestre em manter as aparências. — Tem razão, Otávio, acho que faz tempo demais — respondeu Bernardo, finalmente. — E por isso achei que era de colocar algumas coisas em pratos limpos. Otávio sorriu, mas Bernardo notou uma sombra passar por seus olhos, como se ele soubesse que a conversa não seria tão leve quanto pretendia. — Claro, estou à disposição. Do que você quer falar? Bernardo
respirou fundo, tentando controlar a raiva e a ansiedade que ameaçavam transbordar. Ele sabia que precisava ser cuidadoso, que não podia se deixar levar pelo impulso de confrontar Otávio de imediato. — Eu pensei muito sobre Helena ultimamente — começou ele, escolhendo as palavras com cuidado — e sobre o que aconteceu com ela. Você se lembra, não é? Otávio fez uma expressão de surpresa forçada, inclinando-se ligeiramente para a frente. — É claro que lembro, Bernardo. Foi um período difícil para todos nós. Eu sei o quanto você sofreu com o desaparecimento dela. — Sim, foi muito difícil —
disse Bernardo, sem desviar o olhar. — E é por isso que decidi começar a investigar mais a fundo o que aconteceu. Eu falei com algumas pessoas, encontrei alguns documentos antigos e parece que há mais nessa história do que pensávamos. Por um momento, Otávio permaneceu em silêncio. Ele manteve o sorriso, mas Bernardo percebeu que os olhos do irmão se estreitaram levemente, como se estivesse calculando o próximo movimento. — E o que você encontrou? — Bernardo perguntou, ele em um tom que soava casual, mas que carregava uma tensão subjacente. Bernardo decidiu ir direto ao ponto. — Encontrei
registros de transações financeiras, ligações para um detetive particular, Silveira, e algumas outras coisas que me fazem acreditar que o desaparecimento de Helena não foi um acidente. Alguém a fez desaparecer, e estou começando a achar que esse alguém foi você. O sorriso de Otávio desapareceu. Ele manteve a calma, mas agora seus olhos encaravam Bernardo com uma intensidade diferente, como se estivesse tentando medir até onde o irmão sabia. — Você está me acusando de algo, Bernardo, porque isso soa como uma acusação muito séria. — Eu não estou acusando — disse Bernardo, sem hesitar. — Estou apenas tentando
entender. Eu quero respostas, Otávio. Preciso saber a verdade sobre o que aconteceu com Helena, e se você tiver alguma coisa a ver com isso, é melhor me dizer agora. Por um momento que pareceu uma eternidade, os dois irmãos se encararam em silêncio. Bernardo sentia o coração disparar, e o som do restaurante ao redor parecia distante, quase inaudível. Finalmente, Otávio suspirou, e algo no rosto dele mudou, como se tivesse decidido que era inútil continuar a fingir. — Você sempre foi um sonhador, Bernardo — disse Otávio, com um leve toque de sarcasmo na voz. — Sempre achou
que o mundo girava em torno do seu amor perfeito com Helena, como se tudo fosse um conto de fadas. Mas a vida real não é assim. A vida real é sobre poder, sobre tomar decisões difíceis para proteger o que é nosso. Bernardo sentiu o sangue gelar. — O que você está dizendo? — Estou dizendo que Helena era um problema — respondeu Otávio, sem rodeios. — Ela era uma distração para você, uma fraqueza. Você estava prestes a cometer um grande erro se casando com ela, e alguém precisava fazer alguma coisa para evitar que você perdesse tudo
por causa de um amor idiota e romântico. Então sim, eu tomei algumas medidas para garantir que ela ficasse fora do caminho. Cada palavra de Otávio atingia Bernardo como um soco no estômago; ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo. — Você... você mandou ela desaparecer! Você arruinou a vida dela e a minha por causa de negó... Otávio deu de ombros, como se o que estava dizendo fosse a coisa mais lógica do mundo. — Era necessário, Bernardo. Você nunca foi capaz de entender o que significa proteger um império. Você estava pronto para jogar tudo fora por
causa de uma mulher, e eu não podia deixar isso acontecer. Era o nosso legado! O legado da família! A raiva de Bernardo finalmente explodiu. Ele se levantou tão rápido que quase derrubou a mesa. — Legado? Você destruiu vidas, Otávio! Você destruiu tudo que eu amava! E para quê? Por dinheiro? Por poder? Como você pode viver consigo mesmo sabendo o que fez? Otávio permaneceu sentado, olhando para Bernardo com frieza. — Porque eu fiz o que era necessário. Eu fiz o que você não teve coragem de fazer. Bernardo sentia que poderia perder o controle a qualquer momento;
as mãos tremiam e ele precisava se esforçar para não gritar. — Você é um monstro, Otávio! Eu nunca vou te perdoar por isso! — Talvez não precise, — disse Otávio, levantando-se calmamente —, mas também não pode fazer nada para mudar o passado. O que está feito, está feito. Bernardo respirou fundo, tentando encontrar uma forma de processar o que acabara de ouvir. Ele sabia que o que Otávio havia confessado não era apenas um crime; era uma traição profunda, um golpe que ele nunca poderia ter previsto, mas bem sabia que não podia deixar que aquilo ficasse impune.
— Eu vou descobrir toda a verdade, Otávio, e quando eu fizer, você vai pagar por tudo isso! Otávio sorriu como se achasse graça na determinação de Bernardo. — Boa sorte, irmão, mas lembre-se de que a verdade nem sempre é o que queremos que ela seja. Com essas palavras, Otávio se virou e deixou o restaurante, deixando Bernardo sozinho, lidando com o peso de tudo que havia sido revelado. Ele sabia que as coisas tinham mudado de forma irreversível. Agora não era apenas sobre descobrir o que aconteceu com Helena; era sobre justiça, sobre fazer Otávio responder por cada
uma de suas ações. E Bernardo estava disposto a fazer tudo o que fosse necessário para alcançar isso, mesmo que tivesse que enfrentar o próprio irmão até o fim. Bernardo voltou para casa depois do encontro com Otávio, sentindo como se tivesse atravessado uma tempestade. O impacto das revelações do irmão ainda reverberava dentro dele, deixando um gosto amargo na boca. Otávio havia confirmado tudo de forma cruel e cínica, como se o desaparecimento de Helena tivesse sido apenas uma jogada de negócios. Era difícil aceitar que o homem que ele sempre considerou um aliado e confidente pudesse ter orquestrado
uma traição tão devastadora, mas em meio a tudo isso, Bernardo sentiu uma pequena chama de esperança. Se Otávio havia confessado tanto, talvez ainda houvesse mais a ser descoberto; mais pessoas envolvidas. Ele precisava continuar a investigar, e para isso sabia que a ajuda de Lívia seria essencial. Ela era a peça que ligava o presente ao passado e juntos poderiam finalmente expor toda a verdade. Na tarde seguinte, Bernardo decidiu encontrar-se novamente com Lívia. Eles combinaram de se encontrar no mesmo café onde haviam conversado da última vez; um local que agora parecia ter se tornado um ponto de
ligação para eles. Ao chegar, Bernardo avistou Lívia sentada com algumas fotos antigas espalhadas pela mesa. Ela parecia concentrada, observando cada uma delas com uma expressão de curiosidade e tristeza. — Oi, Lívia, — disse Bernardo, aproximando-se e sentando-se ao lado dela. — Obrigado por ter vindo. Como você está? Lívia levantou os olhos e sorriu, um sorriso que parecia um tanto forçado. — Estou bem, considerando tudo que descobri nos últimos dias, mas tem sido muita coisa para processar. Bernardo assentiu; ele entendia perfeitamente como ela se sentia. — Eu sei e sinto muito por te colocar nessa situação,
mas se há alguma coisa que você precisa saber é que eu quero descobrir a verdade, não só por mim, mas por você também. Eu sinto que isso pode nos ajudar a entender o que realmente aconteceu. Lívia assentiu e empurrou algumas fotos na direção de Bernardo. — Eu trouxe algumas coisas que achei que poderiam ser úteis. São fotos da minha mãe antes de eu nascer e algumas comigo quando eu era pequena. Talvez haja algo que possamos usar para juntar as peças dessa história. Bernardo pegou as fotos e, ao examiná-las, viu imagens de Helena sorrindo, com os
cabelos soltos e um olhar sereno. Ela parecia feliz, mas havia uma tristeza oculta em seus olhos, como se carregasse um peso que ninguém mais podia ver. Em algumas das fotos mais antigas, Bernardo reconheceu lugares que eles frequentavam juntos. Uma onda de nostalgia e dor envolveu enquanto observava cada detalhe. — Ela era tão linda, — murmurou ele, quase para si mesmo. — Ver essas fotos me traz de volta tantas lembranças, coisas que eu pensei que tinha esquecido. Lívia o observava em silêncio, tentando entender a profundidade da conexão que Bernardo tinha com sua mãe. — Você disse
que eles iam se casar, certo? Por que ela nunca mencionou isso para mim? Será que meu pai sabia? — Não posso dizer com certeza, — respondeu Bernardo, ainda olhando para as fotos —, mas se Otávio fez o que eu acho que fez, ele deve ter feito de tudo para apagar qualquer ligação entre nós. Talvez sua mãe tenha sido forçada a desaparecer e não teve a chance de contar a verdade para você. Lívia franziu a testa. — Meu pai nunca foi de falar muito sobre o passado, mas ele sempre parecia guardar algo. Uma vez, quando eu
era pequena, perguntei por que minha mãe tinha ido embora e ele ficou tão sério, como se aquela pergunta o tivesse machucado de alguma forma. — Isso faz sentido, — disse Bernardo, colocando uma... Das fotos de volta na mesa. Se ele sabia que sua mãe estava em perigo, talvez tenha feito o que pôde para proteger você. Mas quem a ameaçava era meu irmão; ele confessou isso para mim ontem. Lívia ficou em silêncio, processando a revelação. Então, tudo isso foi causado por ele? Por quê? Porque ele queria me proteger, ou pelo menos é isso que ele diz,
explicou, tentando conter a amargura em sua voz. Para ele, Helena era uma distração, uma ameaça ao nosso legado, então ele tomou medidas para se certificar de que ela desaparecesse, como se ela fosse um obstáculo que precisava ser removido. Lívia olhou para ele, com os olhos marejados. — Como alguém pode fazer isso? Como alguém pode destruir a vida de outra pessoa por causa de dinheiro e poder? Não tinha resposta para essa pergunta. Ele também se fazia a mesma pergunta, e por mais que tentasse entender a lógica, a crueldade de Otávio escapava a qualquer moralidade que ele
conhecesse. — Eu não sei, Lívia, mas eu sei que precisamos encontrar mais respostas. Ainda não entendemos toda a extensão do que aconteceu e sinto que há mais por trás das ações de Otávio. Lívia respirou fundo, tentando conter as lágrimas. — Se houver algo que eu possa fazer para ajudar, eu farei. Quero saber a verdade sobre minha mãe e quero justiça. Ela merece isso. As palavras de Lívia tocaram Bernardo profundamente; ele viu na determinação dela um reflexo de Helena. A mesma força e coragem que ele admirava tanto. — Nós vamos conseguir, Lívia. Vou te ajudar a
encontrar as respostas que você procura. Prometo que não vou descansar até que a verdade seja revelada. Eles continuaram conversando por horas, revisando as fotos e compartilhando memórias. Bernardo percebeu que, quanto mais falava com Lívia, mais próximo se sentia dela. Havia uma conexão natural entre eles, algo que transcendia a simples busca por respostas. Era como se, através de Lívia, ele estivesse encontrando uma nova forma de se conectar com Helena, uma maneira de manter viva a memória da mulher que ele amava. Lívia também sentia essa conexão, embora fosse estranho pensar que Bernardo poderia ter sido seu padrasto.
Ela não conseguia negar que havia um conforto em estar ao lado dele, em compartilhar essa jornada. Pela primeira vez em anos, ela sentia que não estava sozinha na busca por entender o passado. Ao final do encontro, Bernardo sugeriu que procurassem alguns arquivos antigos em sua casa, documentos que ele havia guardado por anos e que talvez contivessem pistas. Lívia concordou, e eles marcaram de se encontrar no dia seguinte para continuar a investigação. Quando se despediram, Bernardo viu nos olhos de Lívia a mesma esperança que ele sentia. Apesar de tudo, havia um sentimento de que eles estavam
no caminho certo, de que juntos poderiam finalmente dar um fim ao mistério que cercava o desaparecimento de Helena. Enquanto Bernardo voltava para casa, recebeu uma mensagem de Rafael. — Falei com o investigador; temos um novo nome. Vou te contar amanhã. Bernardo leu a mensagem e sentiu uma pontada de curiosidade e apreensão. Cada nova informação parecia ser uma chave que abria uma porta para o passado, e ele estava preparado para seguir até o fim, não importa o que encontrasse do outro lado. Bernardo acordou com uma sensação estranha, uma mistura de ansiedade e expectativa. O encontro com
Otávio havia deixado claro que seu irmão estava envolvido no desaparecimento de Helena, mas ainda havia muitas peças faltando nesse quebra-cabeça sombrio. Ele sabia que Rafael estava investigando mais a fundo, e a mensagem sobre um novo nome acendeu uma esperança cautelosa de que poderiam estar chegando perto de respostas mais concretas. Após um café da manhã apressado, Bernardo dirigiu até o escritório de Rafael. Ao entrar, encontrou seu afilhado mexendo em papéis e digitando freneticamente no computador. Rafael levantou a cabeça e sorriu ao vê-lo. — Bernardo! Finalmente, acho que encontramos algo grande! — Então me diga! — disse
Bernardo, ansioso. — O que você descobriu? Rafael se ajeitou na cadeira e pegou uma pasta cheia de documentos. — Eu falei com o investigador que mencionei, e ele conseguiu rastrear algumas informações interessantes. Parece que Otávio não estava agindo sozinho; havia outra pessoa envolvida, alguém que ele contratou para ajudar a planejar tudo. — Quem? — perguntou Bernardo, com a voz firme. — Quem mais estava envolvido nisso? — Um homem chamado Samuel Correa — respondeu Rafael, mostrando um arquivo. — Ele é advogado, mas já atuou em várias frentes diferentes, incluindo consultoria de segurança e serviços para empresas,
e algumas coisas menos legais, se é que me entende. Ele era conhecido por resolver problemas para pessoas influentes, e ao que tudo indica, Otávio contratou Samuel para ajudar a lidar com Helena. Bernardo sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O nome não lhe era familiar, mas a descrição de Samuel como um resolvedor de problemas deixava claro que se tratava de alguém perigoso. — Você tem certeza disso, Rafael? Esse Samuel foi mesmo contratado por Otávio? — Tenho quase certeza — disse Rafael, inclinando-se para a frente. — O investigador conseguiu algumas notas fiscais e documentos que mostram pagamentos
consideráveis feitos a Samuel na época em que Helena desapareceu. Não sabemos exatamente para o que esses pagamentos foram destinados, mas não parece uma coincidência. Além disso, Samuel foi visto se encontrando com Otávio diversas vezes nos meses que antecederam o desaparecimento. Bernardo cerrou os punhos, sentindo a raiva crescer dentro dele. Quanto mais descobria, mais percebia que a verdade era mais sombria do que ele jamais imaginou. — Então ele estava planejando isso o tempo todo? — murmurou. — Meu próprio irmão estava conspirando para tirar Helena de mim e ainda contou com a ajuda desse Samuel. Rafael assentiu.
— E não é só isso; parece que Samuel ainda está por aí, trabalhando em negócios obscuros para outras pessoas influentes. Ele pode saber mais do que Otávio contou, talvez até algo que Otávio escondeu de você. Acho que precisamos encontrá-lo e descobrir o que ele sabe. Bernardo ficou em silêncio por alguns instantes, tentando digerir a situação. Sabia que, para conseguir as respostas que precisava, teria que confrontar Samuel, mas, se ele realmente era tão perigoso quanto parecia, isso significava que Bernardo estava prestes a entrar em um território arriscado. — Concordo, precisamos falar com ele, mas como encontramos
alguém que provavelmente não quer ser encontrado? — Eu já pensei nisso — disse Rafael com um sorriso. — O investigador conseguiu rastrear alguns dos últimos movimentos dele. Parece que Samuel tem um escritório discreto na periferia da cidade. Não é nada chamativo. — O que é exatamente o que esperaríamos de alguém que quer passar despercebido. Podemos tentar ir até lá e ver se conseguimos uma conversa. Bernardo assentiu lentamente, absorvendo as informações. — Vamos fazer isso, quanto mais cedo, melhor. Eles combinaram de se encontrar no final da tarde para seguir até o endereço do escritório de Samuel.
Enquanto esperava o horário combinado, Bernardo tentou se concentrar em outras coisas, mas sua mente continuava voltando para as revelações sobre Otávio e Samuel. Ele se perguntava quantas outras pessoas sabiam da conspiração, quantas haviam sido cúmplices silenciosos de uma história que destruiu a vida de Helena e a sua. Quando finalmente chegou a hora, Bernardo encontrou Rafael, e eles seguiram juntos até o endereço fornecido pelo investigador. O local era um prédio discreto, quase invisível em meio a outras construções mais antigas e desgastadas. Não havia nenhuma placa ou sinal que indicasse que ali funcionava um escritório de advocacia
ou consultoria; tudo parecia cuidadosamente planejado para evitar chamar a atenção. Eles entraram e subiram até o segundo andar, onde uma pequena porta de madeira ostentava apenas uma placa metálica com o nome "S. Correa". Rafael bateu na porta e esperou alguns segundos. Depois, a porta foi aberta por um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e uma expressão desconfiada. Ele vestia um terno simples, sem gravata, e parecia analisar cada detalhe dos visitantes com um olhar calculista. — Posso ajudar? — perguntou Samuel, com uma voz fria e distante. Bernardo deu um passo à frente, tentando parecer calmo e
firme. — Meu nome é Bernardo Neves. Eu acredito que você conheceu meu irmão, Otávio. Precisamos conversar por um momento. Samuel apenas os observou, como se estivesse considerando fechar a porta na cara deles, mas então ele deu um leve sorriso, quase como se estivesse se divertindo com a situação. — Claro, entrem. Eu estava esperando por vocês. A declaração pegou Bernardo de surpresa. Ele e Rafael trocaram um olhar rápido antes de entrar no escritório, onde Samuel os conduziu a uma pequena sala com móveis modestos. — O que você quer dizer com "estava esperando por nós"? — perguntou
Bernardo, sentando-se. Samuel se acomodou do outro lado da mesa, cruzando as mãos. — Quando você começa a mexer em coisas do passado, as notícias se espalham. Especialmente em relação a Otávio. Vamos apenas dizer que eu soube que alguém estava fazendo perguntas e presumi que era apenas uma questão de tempo até que viessem até mim. Bernardo sentiu o coração acelerar. — Então você sabe por que estamos aqui. — Imagino que sim — respondeu Samuel, levantando uma sobrancelha. — Vocês querem saber o que aconteceu com Helena e qual foi o meu papel nisso. — Exatamente — disse
Rafael, antes que Bernardo pudesse responder. — E se você estiver pensando em mentir ou nos enganar, saiba que estamos dispostos a fazer o que for necessário para obter a verdade. Samuel riu, uma risada baixa e sem humor. — Não se preocupem. Não tenho interesse em mentir para vocês. Até onde sei, esse assunto está enterrado há tanto tempo que falar sobre ele agora não vai mudar muita coisa para mim. Bernardo se inclinou para a frente, tentando manter a calma. — Então fale. Quero saber exatamente o que você fez e o que Otávio mandou você fazer. Samuel
suspirou e cruzou as pernas, como se estivesse se preparando para contar uma história longa e complexa. — Otávio me contratou para resolver um problema. Ele queria que Helena desaparecesse de forma limpa e sem deixar rastros. Eu não fiz perguntas demais, apenas cumpri o que me foi pedido. Ela foi levada para fora da cidade, onde supostamente deveria ser mantida segura até que Otávio decidisse o que fazer. Bernardo sentiu o sangue ferver. — E você a machucou? Fez algo contra ela? — Não — respondeu Samuel com firmeza. — Minha parte era simples: remover Helena do cenário e
garantir que ninguém soubesse onde ela estava. Eu não soube o que aconteceu depois que a tirei de lá, mas Otávio queria que ela ficasse longe e garantiu que ela nunca tivesse a chance de voltar. As palavras de Samuel eram como facas atravessando o coração de Bernardo. Ele sentiu que tudo ao seu redor estava desmoronando, mas sabia que precisava se manter firme. — E você fez isso só por dinheiro? — Sim — disse Samuel sem hesitar — e por poder. Otávio me ofereceu muito mais do que dinheiro, mas, no final, todos têm um preço, não é?
Bernardo olhou para Rafael, que assentiu. Eles sabiam que tinham uma luta maior pela frente, mas agora tinham informações que poderiam ser a chave para abrir todas as portas trancadas. Bernardo saiu do escritório de Samuel com uma sensação de náusea, como se tudo estivesse se tornando mais real e cruel do que ele podia suportar. Ele agora sabia que Otávio havia planejado o desaparecimento de Helena, usando Samuel para garantir que ela fosse removida de sua vida. Mas a extensão desse plano, os detalhes frios e calculistas, eram mais difíceis de aceitar do que ele poderia ter imaginado. Enquanto
caminhavam para o carro, Rafael olhou para Bernardo com preocupação. — O que vamos fazer agora? Samuel admitiu tudo, mas precisamos de provas concretas para confrontar Otávio e expor o que ele fez. — Eu sei — disse Bernardo, respirando fundo para controlar a raiva que pulsava em seu peito. — Mas não vou deixar isso continuar em segredo. Samuel pode ter sido pago para fazer o trabalho sujo, mas Otávio foi o mentor. Ele destruiu a vida de Helena e, indiretamente, a vida de Lívia também. Ele vai ter que responder por isso. De volta ao carro, eles discutiram
suas opções. Bernardo sabia que confrontar Otávio novamente seria arriscado, especialmente agora que o irmão provavelmente estaria em alerta. Mas a confissão de Samuel poderia ser a arma que ele precisava para forçar Otávio a falar a verdade, e mesmo que isso significasse colocar tudo em risco, ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para dar um fim a essa história. Naquela noite, Bernardo não conseguiu dormir. Ele pensava em Helena, no que ela havia sofrido, e no quanto tudo aquilo era injusto, mas também pensava em Lívia e na força que ela demonstrava, mesmo sem saber toda
a verdade sobre o que aconteceu com sua mãe. Pela primeira vez em anos, ele sentiu que tinha uma responsabilidade que ia além de seus próprios sentimentos; ele devia a verdade a Lívia e precisava fazer justiça por Helena. Na manhã seguinte, Bernardo decidiu que o confronto com Otávio não poderia esperar mais. Ele ligou para o irmão e, com uma voz calma que mascarava a tempestade interna, pediu para se encontrarem na casa da família, uma mansão antiga que havia pertencido a seus pais. Otávio hesitou por um momento, mas concordou. Talvez ele achasse que ainda pudesse manipular a
situação a seu favor. Quando Otávio chegou, Bernardo já o esperava na sala de estar, sentado em uma poltrona que ficava de frente para a lareira. O ambiente estava silencioso, e a tensão era palpável. Otávio entrou com o mesmo sorriso confiante de sempre, mas Bernardo percebeu que havia uma cautela no jeito como ele se movia, como se soubesse que algo estava prestes a acontecer. "Bernardo," disse Otávio, com um sorriso que parecia forçado. "Você parece tenso. Acho que deveríamos conversar de maneira mais amigável, não acha?" "Eu quero respostas," respondeu Bernardo, ignorando o tom leve do irmão. "Falei
com Samuel. Sei que foi você quem planejou o desaparecimento de Helena. Sei de tudo." O sorriso de Otávio desapareceu e, por um momento, ele ficou imóvel, avaliando a situação. "Ah, então você andou fuçando no passado, não é? Eu me pergunto por que ainda está tão obcecado com isso, Bernardo. Ela se foi, e nada do que você faça vai trazer ela de volta." "Não é sobre trazer Helena de volta," disse Bernardo, com a voz firme. "É sobre justiça. Você destruiu a vida dela, a vida que nós poderíamos ter tido juntos. E tudo por quê? Por dinheiro?
Por poder?" Otávio suspirou e se sentou em uma cadeira oposta à de Bernardo, como se estivesse cansado. "Eu já te disse antes, Bernardo: você era fraco. Deixava que seus sentimentos por ela te ocorressem. Não podia ver que Helena era uma distração, uma ameaça ao que construímos juntos. Eu fiz o que era necessário para proteger nosso legado. E se você não entende isso, é porque ainda é ingênuo." Bernardo sentiu a raiva fervilhar, mas conseguiu se conter. "O legado? Você destruiu tudo! Você acha que dinheiro e poder são tudo o que importa? Mas e a vida dela?
E a vida de Lívia, que cresceu sem a mãe? Você não sente nem um pouco de remorso por isso?" Otávio manteve o olhar fixo em Bernardo, sem piscar. "Você fala como se o mundo fosse um lugar justo, Bernardo, mas não é. Alguém precisava tomar as decisões difíceis, e eu fiz o que você não teve coragem de fazer." "Courage," Bernardo riu, mas era uma risada amarga, quase dolorosa. "Você não sabe nada sobre coragem! Coragem é enfrentar as consequências das suas ações, não escondê-las atrás de mentiras e manipulações." Otávio se levantou, e agora havia uma faísca de
irritação em seus olhos. "E o que você vai fazer agora, Bernardo? Vai correr para a polícia? Vai dizer para todos que seu próprio irmão destruiu sua vida? Boa sorte tentando provar qualquer coisa! Samuel é um homem que sabe se proteger, e eu também não vou precisar correr para ninguém." "Você vai confessar tudo," disse Bernardo, levantando-se e ficando frente a frente com o irmão. "Não por mim, mas por Helena e por Lívia, que merece saber a verdade sobre o que aconteceu com a mãe dela." Otávio riu, mas a risada era forçada. "Você acha que eu vou
confessar alguma coisa? Você realmente acha que tem esse poder sobre mim?" "Eu não preciso de poder sobre você, Otávio. Tudo o que eu preciso é da verdade, e você vai me dar essa verdade, nem que seja a última coisa que faça." Por um momento, houve um silêncio profundo na sala. Bernardo e Otávio ficaram ali, imóveis, como se estivessem envolvidos em um duelo silencioso, cada um esperando que o outro cedesse. Então, presa de Bernardo, algo na expressão de Otávio mudou; ele não parecia mais o homem confiante que sempre tinha uma resposta para tudo. Ele parecia cansado.
"Está bem," disse Otávio, finalmente, sua voz mais baixa e carregada de uma estranha resignação. "Você quer a verdade, Bernardo? Então eu vou te dar a verdade." Ele se virou e caminhou até a janela, olhando para o jardim lá fora, como se estivesse falando para si mesmo. "Eu sabia que Helena era especial para você. Eu sabia que, se vocês ficassem juntos, nada que eu dissesse ou fizesse poderia impedir que você tomasse decisões ruins para os negócios. Então eu fiz o que achei que era necessário: contratei Samuel para tirá-la de cena, para garantir que ela nunca mais
pudesse interferir. E sim, ela desapareceu, mas não era para ser assim." Bernardo estreitou os olhos. "O que você quer dizer com 'não era para ser assim'?" Otávio respirou fundo, como se estivesse tentando encontrar coragem para continuar. "Ela deveria ficar longe por um tempo, até eu conseguir fazer você seguir em frente. Mas houve um acidente, algo que ninguém previu. Ela perdeu a memória, Bernardo. Quando Samuel atirou... de Curitiba, houve um acidente, e ela ficou perdida. Ela não sabia..." "Quem era? E por isso ela nunca voltou. As palavras de Otávio atingiram Bernardo como um golpe. Você sabia
disso e nunca me contou. Eu achei que era melhor assim", disse Otávio, com uma voz quase quebrada. "Achei que se você nunca soubesse, poderia seguir em frente. Mas, no fundo, eu sabia que tinha perdido você para sempre no dia em que fiz isso." Bernardo sentiu as lágrimas encherem seus olhos. Ele queria gritar, queria socar Otávio, queria fazer o mundo voltar atrás para desfazer todo o dano que havia sido causado. Mas ele sabia que isso não era possível. Tudo o que restava era a verdade, e a verdade era uma dor que ele teria que aprender a
carregar. "Eu nunca vou te perdoar, Otávio", disse Bernardo, sua voz baixa, mas firme. "Nunca." Otávio apenas assentiu, ainda olhando para o jardim, como se soubesse que aquelas eram as últimas palavras que compartilhariam como irmãos. "Eu sei." Bernardo deixou a casa da família sem olhar para trás. As palavras de Otávio ecoavam em sua mente como uma tortura incessante. "Ela perdeu a memória, por isso nunca voltou." Era uma explicação, mas não era um alívio. Em vez disso, parecia tornar a tragédia ainda mais cruel. Helena não havia sumido por escolha própria, e o acidente que a deixou sem
memória a manteve longe de quem a amava. O fato de Otávio saber disso e esconder por todos esses anos era uma traição que Bernardo não conseguia perdoar. Ele passou a noite vagando pelas ruas de Curitiba, sem rumo, tentando encontrar uma maneira de processar tudo o que havia descoberto. Quando finalmente voltou para casa, encontrou uma mensagem de Lívia em seu telefone. Ela queria saber se havia alguma novidade, se Bernardo tinha conseguido falar com Otávio. Bernardo percebeu que agora, mais do que nunca, precisava contar a ela a verdade. Ela tinha o direito de saber. Na manhã seguinte,
eles se encontraram no café onde tantas coisas haviam sido reveladas. Lívia já estava esperando, sentada em uma mesa com um olhar preocupado. Assim que Bernardo se aproximou, ela soube que algo havia acontecido. "Bernardo, o que foi? Você está me assustando." Bernardo se sentou e segurou as mãos dela, sentindo a urgência de ser sincero, mesmo sabendo que as palavras que estavam prestes a sair de sua boca iriam machucá-la. "Lívia, eu falei com meu irmão Otávio." "Ele… ele admitiu que foi o responsável pelo desaparecimento de sua mãe." O rosto de Lívia empalideceu, e seus olhos se arregalaram
em choque. "O quê? Mas por que ele faria uma coisa dessas?" "Porque ele achava que estava me protegendo", respondeu Bernardo, sentindo o gosto amargo das palavras. "Ele achava que Helena era uma distração, um risco para os negócios da família, e decidiu que a melhor maneira de lidar com isso era afastá-la de mim para sempre." Lívia puxou as mãos de volta, como se tivesse sido queimada. Ela parecia lutar para encontrar as palavras, tentando entender como alguém poderia ser tão cruel. "Mas ela era minha mãe! Ele não tinha o direito de fazer isso! Ele arruinou a vida
dela e a minha também!" "Eu sei", disse Bernardo, com a voz carregada de tristeza. "E sinto muito por isso, Lívia. Sinto muito que você tenha que carregar o peso das escolhas dele. Mas você precisa saber que a história não termina aí." Lívia olhou para ele com os olhos marejados. "O que mais aconteceu?" Bernardo respirou fundo e contou a ela tudo o que Otávio havia confessado: o acidente, a perda de memória de Helena, o fato de que ela tinha sido mantida longe porque não sabia quem era. À medida que falava, viu o rosto de Lívia se
transformar, da surpresa para a dor, da dor para a raiva. "Então é por isso que ela nunca voltou para mim? Ela não sabia quem eu era?" "Sim", disse Bernardo, com a voz baixa. "Otávio sabia disso. Ele sabia o que tinha acontecido e, mesmo assim, decidiu que era melhor esconder tudo. Ele achava que estava fazendo o certo, mas o que ele fez foi destruir tudo." Lívia ficou em silêncio por um longo momento, as lágrimas correndo pelo seu rosto. "Eu não sei o que fazer com essa informação, Bernardo. Eu quero odiá-lo, mas isso não vai trazer minha
mãe de volta. O que eu faço agora?" Bernardo sabia que ela estava certa. Ele também sentia a mesma raiva, o mesmo desejo de fazer Otávio pagar por tudo que fez. Mas, ao olhar para Lívia, ele percebeu que havia algo mais importante em jogo. Ela não precisava de vingança; ela precisava de paz, de um encerramento para a história que a havia deixado em pedaços. "Lívia, eu sei que nada do que eu disser vai consertar o que aconteceu", disse ele, segurando as mãos dela novamente. "Mas eu quero que você saiba que, para mim, você é o legado
de Helena. Você é a prova de que, mesmo no meio de toda essa escuridão, havia algo puro e bonito, e eu quero ajudar você a encontrar um caminho para seguir em frente, sem que o peso do passado a destrua." Lívia enxugou as lágrimas e olhou para ele, buscando alguma esperança. "Mas como podemos seguir em frente sabendo que ele fez tudo isso? Como podemos deixar isso para trás?" Bernardo hesitou por um momento. Ele sabia qual seria a resposta de Otávio se estivesse no lugar dele. Otávio escolheria a vingança, a destruição, a retribuição completa. Mas Bernardo queria
acreditar que havia uma outra maneira. "Eu acho que precisamos encontrar um jeito de perdoar, Lívia. Não por ele, mas por nós. Se deixarmos que essa raiva nos consuma, então estaremos fazendo exatamente o que ele queria. Estaremos destruindo tudo que Helena significava." As palavras pairaram no ar, e Bernardo não tinha certeza se elas haviam feito algum sentido para Lívia. Mas então ela assentiu lentamente, como se estivesse entendendo o que ele queria dizer. "Eu não..." "Sei se consigo perdoar, mas talvez eu possa tentar. Eles passaram o resto do dia juntos, conversando sobre Helena, sobre o que ela
significava para cada um deles. Bernardo mostrou a Lívia algumas cartas antigas que havia guardado, notas que Helena escrevia para ele durante os tempos felizes que passaram. Era uma forma de manter viva a memória dela e de lembrar que, apesar de tudo, havia amor, havia alegria. Mais tarde, naquela noite, Bernardo recebeu uma ligação inesperada. Era Otávio. — Bernardo, eu quero falar com você de novo. Preciso que você venha até a casa da família. A voz de Otávio soava diferente, quase como um pedido de desculpas não dito. Bernardo hesitou, mas sabia que não poderia evitar. Ele se
despediu de Lívia, prometendo que haveria novamente no dia seguinte, e dirigiu até a mansão. Quando chegou, encontrou Otávio esperando por ele na mesma sala onde haviam se confrontado antes, mas desta vez não havia a mesma frieza no olhar do irmão. Havia algo quebrado, uma vulnerabilidade que Bernardo não tinha visto em muito tempo. — Eu pensei no que você disse, — Bernardo começou, — Otávio, sem rodeios, e pela primeira vez em anos, eu entendi que talvez eu tenha errado. Talvez eu tenha destruído algo muito maior do que imaginei. Bernardo cruzou os braços, esperando para ver aonde
Otávio queria chegar. — E por que você está me dizendo isso agora? — Porque eu não quero mais viver assim, — disse Otávio, com a voz falhando. — Eu fiz coisas terríveis e, por muito tempo, me convenci de que estava certo, mas eu sei que no fundo, tudo o que eu fiz foi por medo: medo de perder você, medo de perder o controle; e agora eu perdi tudo. Mesmo assim, Bernardo não sabia o que responder. Ele nunca esperou ver Otávio se curvar dessa maneira, admitir seus erros com tanta sinceridade. — Então, o que você quer
agora? — Perdão, não, — disse Otávio, balançando a cabeça. — Eu sei que não mereço isso, mas eu queria que você soubesse que eu sinto muito e que estou disposto a aceitar as consequências do que eu fiz. Se você quiser me expor, se quiser que eu pague por tudo, eu não vou tentar fugir. Bernardo sentiu uma onda de emoções conflitantes. Parte dele queria que Otávio pagasse, que enfrentasse as consequências dos seus atos, mas outra parte, uma parte que Helena teria reconhecido, sabia que a vingança não era a resposta. — Eu não vou te perdoar, Otávio,
— disse Bernardo, finalmente, — mas também não vou te destruir. Você vai ter que viver com o que fez e eu espero que isso seja punição suficiente. Otávio apenas assentiu, como se soubesse que essa era a única resposta que poderia receber. — Obrigado, — murmurou Bernardo. Enquanto Bernardo saía da mansão, ele percebeu que, embora não pudesse mudar o passado, talvez pudesse começar a curar as feridas do presente, e isso começava com encontrar uma maneira de deixar o ódio para trás. Os dias que se seguiram ao confronto com Otávio foram estranhos para Bernardo. Pela primeira vez
em muitos anos, ele sentiu que as sombras que o perseguiam começaram a se dissipar, mesmo que ainda restassem cicatrizes profundas. A confissão de Otávio trouxe um encerramento amargo, mas necessário, e Bernardo sabia que a única coisa que poderia fazer agora era seguir em frente, construindo algo de positivo a partir de toda aquela dor. Ele continuou se encontrando com Lívia e, a cada conversa, sentia que estavam mais próximos, como se estivessem reconstruindo juntos os pedaços perdidos de suas vidas. Lívia, embora ainda triste pelas revelações sobre sua mãe, mostrava uma força admirável. Ela queria conhecer mais sobre
Helena, queria se conectar com a mulher que perdeu antes mesmo de entendê-la, e Bernardo estava decidido a ajudá-la nessa jornada. Um dia, Bernardo convidou Lívia para visitar uma casa de campo que ele possuía nos arredores de Curitiba, um lugar onde ele e Helena costumavam passar finais de semana juntos. Era uma casa simples, cercada por um jardim florido e com uma bela vista para as colinas verdes. Ele nunca tinha voltado lá desde o desaparecimento de Helena, mas sentia que era o momento certo de revisitar aquele lugar. — Esse era um dos lugares favoritos de minha mãe,
— disse Bernardo, enquanto eles caminhavam pelo jardim. — Ela dizia que a paz que sentia aqui a ajudava a compor, a criar novas melodias. Muitas das músicas que ela tocava para mim nasceram aqui. Lívia sorriu, seus olhos brilhando com uma mistura de alegria e tristeza. — É lindo, Bernardo. Eu posso sentir a presença dela aqui. Eles passaram a tarde explorando a casa e o jardim, e Bernardo mostrou a Lívia um antigo piano que ainda estava na sala, coberto por uma manta para protegê-lo do tempo. — Este era o piano dela, — disse ele, tirando a
manta e revelando as teclas antigas, mas ainda bem cuidadas. — Foi aqui que ela compôs muitas das músicas que tocou para você e para mim. Lívia se aproximou do piano e passou os dedos delicadamente pelas teclas, como se estivesse tentando absorver um pouco da essência de Helena. — Eu gostaria de ter conhecido ela assim, feliz, em um lugar que ela amava. — Eu também gostaria que você a tivesse conhecido assim, — disse Bernardo, com um sorriso suave. — Mas saiba que através de você, eu sinto que uma parte dela ainda está viva. Você tem o
mesmo talento, a mesma paixão pela música, e isso é algo que ninguém pode tirar de você. Lívia se sentou ao piano e, após um breve momento de hesitação, começou a tocar uma melodia suave, uma que Bernardo reconheceu imediatamente. Era a mesma música que ela havia tocado no concerto, a música que Helena costumava tocar para ele. Enquanto as notas enchiam a sala, Bernardo sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto, mas dessa vez não eram lágrimas de dor; eram de uma nostalgia doce, uma mistura de tristeza e paz. Quando Lívia terminou de tocar, ela olhou para Bernardo."
Os dois trocaram um sorriso silencioso; não precisavam de palavras para entender o que aquele momento significava: era uma despedida para Helena, uma forma de finalmente deixar para trás todo o sofrimento e aceitar que, apesar de tudo, o amor que ela trouxe para a vida deles ainda existia, de uma maneira ou de outra, naquela noite. Enquanto assistiam o sol se pôr sobre as colinas, Bernardo percebeu que ainda havia algo importante que precisava fazer. — Lívia — disse ele, virando-se para ela — eu quero que você saiba que, para mim, você é como uma filha. Eu sei
que não posso substituir o que você perdeu, mas quero estar ao seu lado como alguém em quem você pode confiar. Quero que saibamos juntos honrar a memória de sua mãe. Lívia ficou emocionada e não conseguiu segurar as lágrimas. — Eu sinto o mesmo, Bernardo. Desde que nos conhecemos, sinto que encontrei uma parte de mim que estava perdida, e eu quero que saibamos construir algo novo a partir disso, algo que não seja marcado pelo passado. Bernardo assentiu. — Vamos fazer isso, então, e começaremos revelando a verdade não só para nós, mas para o mundo. O que
aconteceu com Helena foi uma injustiça, e precisamos garantir que isso nunca seja esquecido. Nos dias que se seguiram, Bernardo e Lívia procuraram advogados e jornalistas para expor toda a história sobre o desaparecimento de Helena e as ações de Otávio. Não foi um processo fácil. Otávio, apesar de sua confissão, ainda tentou proteger sua reputação e o legado que achava ter construído, mas, com a ajuda de Rafael e o testemunho de Samuel, eles conseguiram levar à tona todos os segredos que haviam sido enterrados por tanto tempo. A notícia causou um grande impacto, não apenas no círculo de
negócios de Bernardo, mas em toda a sociedade. A revelação da conspiração por trás do desaparecimento de Helena expôs uma rede de manipulações e corrupção, algo que Otávio havia usado durante anos para manter sua posição de poder. E, finalmente, ele teve que enfrentar as consequências de seus atos. Otávio foi afastado da direção das empresas da família e, posteriormente, enfrentou processos judiciais por suas ações. Bernardo não sentiu satisfação em ver o irmão cair dessa forma, mas sabia que era necessário: a verdade precisava ser revelada e Otávio precisava pagar pelo que fez. Após tudo isso, Bernardo e Lívia
decidiram inaugurar um espaço dedicado à memória de Helena. Era um centro cultural para jovens músicos, um lugar onde poderiam aprender, criar e se expressar livremente. O centro foi batizado de Espaço Helena e sua missão era apoiar novos talentos, algo que Bernardo sabia que Helena teria adorado. Na noite de inauguração, Lívia fez uma apresentação especial. Ela tocou a mesma peça que Helena havia ensinado a ela, mas, dessa vez, com uma nova composição própria: um tributo à mãe que ela nunca teve a chance de conhecer por completo. O público aplaudiu de pé, e Bernardo sentiu um orgulho
imenso por ela. Ele sabia que, de alguma forma, Helena estaria ali, ouvindo e sorrindo. Após o concerto, Bernardo e Lívia se abraçaram, ambos com lágrimas nos olhos, mas, dessa vez, lágrimas de felicidade. — Ela estaria tão orgulhosa de você — disse Bernardo, emocionado. — E eu também estou, mais do que você pode imaginar. — Obrigada, Bernardo — respondeu Lívia, apertando o abraço. — Por tudo, por me ajudar a encontrar minha mãe e por me ajudar a encontrar a mim mesma. Enquanto eles observavam as luzes do palco se apagarem e as pessoas saírem do salão, Bernardo
percebeu que, finalmente, o ciclo de dor e mistério havia se encerrado. Havia ainda muito a ser reconstruído, muito a ser vivido, mas agora eles tinham um caminho claro à frente, um caminho que não estava mais obscurecido pelas sombras do passado. E assim, ao lado de Lívia, Bernardo decidiu começar de novo. Não havia como apagar o que aconteceu, mas eles podiam usar essa dor como força para algo maior, algo que celebrasse a vida e o amor de Helena e que inspirasse outros a encontrarem suas próprias melodias e seus próprios caminhos.