E se eu te perguntasse: Qual a pessoa mais importante do mundo? Provavelmente você responderia algum líder político, algum bilionário ou talvez uma pessoa muito famosa, mas, e se nós voltássemos um pouquinho no tempo? A mais de 2 mil anos, em 300 ali antes de Cristo.
. . Quem você acha que seria a pessoa mais importante do mundo?
Bom, se você perguntasse pra qualquer um, a resposta provavelmente seria: Alexandre, o Grande. Alexandre foi rei da Macedônia, um império gigantesco que dominou grande parte da Europa e da Ásia. A parada era tão grande, tão colossal, que seu líder ganhou a alcunha de “o Grande”.
Mas, e se você perguntasse para Alexandre, o Grande: Qual a pessoa mais importante? Quem você admira? Quem você um dia sonha em poder conhecer?
Bom, a resposta dele provavelmente seria Diógenes, o Cínico. Você já deve ter me visto em algum lugar explicando sobre esse filósofo, falando um pouco sobre as suas ideias ou sobre as suas grandes críticas sociais. Da vez que ele refutou Platão, dos seus encontros com Alexandre ou do estranho fato dele morar em um barril.
Mas, quem é essa pessoa? Como Diógenes se tornou Diógenes? Como a filosofia desse homem mudou e influenciou toda a Grécia Antiga?
O que ele quis dizer com tantas críticas sociais? Bom, hoje nós vamos entender. Oi, eu sou o Tinôco e sejam todos muito bem-vindos a mais um episódio do filosofando, um quadro pra gente falar das mais diversas filosofias ao redor do mundo e hoje: Diógenes e o Cinismo.
Talvez esse seja o vídeo que vocês tenham mais me pedido pra fazer. Todos os dias tem alguém nas minhas redes sociais me pedindo um vídeo longo sobre o Didi, então, se você quer me pedir um tema, é só me seguir nas redes sociais @tinocandotv em qualquer uma delas, que lá você vai conseguir me pedir muitos temas de vídeo aí pra fazer e se o tema for bom eu vou trazer. E aproveitando que vamos falar de Diógenes, o Cínico e sobre a Grécia Antiga.
É com muito prazer que eu venho anunciar que está sendo produzido o meu documentário sobre a Grécia Antiga. A Grécia é um dos países mais marcantes da história do nosso planeta. A cultura grega é extremamente rica.
História e ciência remontam a eles. Principalmente se você vive em uma democracia, já estudou filosofia na escola ou se já assistiu aos jogos olímpicos. A Grécia Antiga mudou para sempre o andar e o pensar da humanidade.
Nenhum povo deixou na história uma marca tão profunda quantos os gregos. Bom, o objetivo desse vídeo não é contar a história inteira de Diógenes, afinal de contas, nós estamos falando de 300 antes de Cristão, então você deve imaginar que não sobrou muita coisa de Diógenes pra contar história. O que nós temos de mais valioso sobre ele são de fato os seus contos e todas as suas críticas sociais à sociedade da época.
Existem várias formas de contar as histórias que eu vou contar pra você aqui hoje. Então, se tiver alguma coisa diferente com qualquer outra história sobre Diógenes que você já ouviu por aí, é por conta disso. Eu vou dividir a filosofia de Diógenes em 4 principais pilares que sustentam todo o seu pensamento, só pra ficar um pouco mais fácil de você entender.
Mas é bom deixar claro que tudo isso é uma interpretação minha sobre as ideias do Diógenes. Pra gente entender um pouco mais sobre a vida e a crítica de Diógenes, o Cínico, nós devemos tirar um pouco o foco do Diógenes e colocar um pouco mais de foco no Cínico. O cinismo é uma das muitas filosofias que surgiram na Grécia Antiga, local onde ninguém tinha absolutamente nada pra fazer.
A galera só ficava pensando o dia inteiro, se você jogar um Playstation 5 com um fifinha gostoso ali no meio daquela galera… não vai sobrar nenhum filósofo. E é true isso aí que eu falei sobre ninguém ter nada pra fazer, porque aqueles que eram considerados cidadãos, de fato, não precisavam trabalhar, já que a sociedade da época era baseada na produção dos servos e dos escravizados, que produziam basicamente tudo para que os cidadãos pudessem focar na política, na guerra ou na filosofia. Grande parte das filosofias da época derivam, obviamente, de Sócrates, não tem como falar de filosofia grega e não tocar nesse nome.
Sócrates, basicamente, influenciou TODOS os filósofos que já pisaram na face da Terra. . .
menos. . .
os pré-socráticos. E um desses influenciados foi Antístenes. Este é o pai e criador da corrente filosófica conhecida como cinismo.
Talvez você já tenha ouvido essa palavra antes: “Cínico”. Mas, uma coisa que a gente tem que entender é que essa palavra meio que se perdeu no tempo e ganhou um significado diferente com o passar dos anos. Hoje em dia, Cínico, é aquela pessoa sarcástica, debochada e que segue a Choquei no Twitter.
Mas, na época de Antístenes, cínico tinha um significado um pouquinho diferente. Cínico vem de “kynicus”, que é cachorro em grego clássico. Antístenes começou a falar em público e a divulga um pouco mais as suas ideias sobre o cinismo na periferia de Atenas.
Lá, era onde viviam os chamados “nothoi”, que eram as pessoas mais pobres da cidade, eles viviam ali em uma situação quase que de miséria. Antístenes começou a palestrar, digamos assim, em um ginásio conhecido como Cinosargo, que era basicamente uma quadra pública em Atenas, onde os crias jogavam bola. Grande parte dos seus ouvintes eram não cidadãos atenienses, filhos de escravizados, prostitutas e… o Diógenes, obviamente.
Para os cínicos o grande objetivo da vida é viver para o bem, para a virtude, pra natureza. Como nós somos seres racionais. .
. ou melhor, pelo menos alguns de nós somos seres racionais, a humanidade poderia chegar à felicidade se ela conseguisse treinar o seu cérebro pra viver de uma forma natural, onde você rejeitaria todos os seus desejos rasos, como fama, poder e riqueza, pra viver uma vida tranquila, sem nenhuma posse e sem nenhum desejo, mesmo que pra isso você tenha que desrespeitar algumas regras morais. Claro, isso é uma visão extrema da filosofia, obviamente você poderia praticar o cinismo sem virar um mendigo.
Mas, como você deve ter percebido, essa filosofia é extremamente influenciada pelo budismo, que diz que a única maneira de você encontrar a felicidade seria abdicando dos seus desejos. Já que quando você deseja algo que não tem, você sofre por aquilo e quando você conquista aquilo, você sofre por querer mais. Ou seja, a vida se torna um ciclo infinito entre tristeza, dor, tristeza, dor.
. . parece até o meu ensino médio.
Você deve ter percebido também que esse pensamento seguiu se perpetuando pela humanidade, diversas pessoas ao redor do mundo usaram como base o cinismo e o budismo pra estruturar as suas ideias, como Kant, por exemplo. Que só em 1700 foi dizer a polêmica frase: “Você só é livre quando faz o que não quer”. Observando essa frase, ela parece extremamente contraditória, né?
Liberdade não seria você fazer aquilo que você quiser? Bom… eu acho que não. Quando você faz exatamente aquilo que você quer, você se torna refém das suas próprias vontades.
Liberdade, pra ele, seria você abdicar daquilo que você quer, pra viver em prol daquilo que é certo, ou seja, da virtude. Beleza, beleza, mas em que momento Diógenes começa a escaralhar geral? Bom, muito antes de ser filósofo, Diógenes já vivia perambulando alí pelas ruas de Sínope, que era uma colônia da Grécia.
Até que um certo dia, Diógenes é capturado por piratas que tem como objetivo vendê-lo como escravo. Um dos piratas que capturou Diógenes foi até ele pra perguntar né o quê que ele sabe fazer, pra saber qual que é o melhor lugar pra poder vender ele. Então Diógenes, na maior cara de pau, olha no fundo do olho do pirata e fala: “Bom meu parceiro, eu sou um ótimo patrão, se você quiser me comprar, eu posso ser seu dono”.
Essa história toda resume muito bem o primeiro pilar da filosofia de Diógenes: ele não estava nem aí para absolutamente nada! O total desapego à moral fazia com que Diógenes se sentisse totalmente livre. Porque assim, você não está preso a nenhuma amarra social.
Diógenes foi comprado por Xeníades, que não tinha a menor intenção de usar o Didi pra fazer um trabalho braçal. Esse cara logo viu no Diógenes um raciocínio acima da média e colocou ele tanto para gerir os seus bens quanto para cuidar dos seus filhos. E é nesse meio tempo que ele conhece Antístenes e fica totalmente apaixonado pelas ideias do cinismo.
Mas Diógenes não queria algo simples, ele queria entender o mundo de fato e o cinismo foram os óculos para os olhos de Diógenes. Ele entrou de cabeça na parada e resolveu levar ao extremo tudo que Antístenes falava. E o primeiro passo para isso seria abdicar de todos os seus objetos pessoais que um ser humano necessita pra viver.
Para ele, a riqueza, os privilégios e o poder, que são normalmente atribuídos a pessoas bem-sucedidas, deveriam ser totalmente desprezados! Ele abdicou da sua casa, das suas roupas e de todos os objetos que lhe pertenciam. E é nesse momento em que Diógenes passa a viver igual o Chaves, dentro de um barril no meio de Atenas, ele literalmente vivia dentro de um barril, eu não estou de brincadeira.
Seus únicos pertences eram a roupa do corpo, uma lanterna e uma tigela pra poder beber água. Mas, certo dia, Diógenes viu um homem bebendo água no rio fazendo uma concha com as mãos. Isso fez ele perceber que a tigela era um item luxuoso e que ele não precisava mais dela, descartando-a imediatamente.
E aqui, nós entramos no segundo pilar da filosofia de Diógenes, o materialismo. Quando você olha pra essa filosofia, de viver com poucos itens, somente com o essencial, você deve imaginar que essa filosofia é imaterialista, mas na verdade, é muito pelo contrário. E para te explicar isso de uma forma muito simples, eu vou usar o exemplo do monge.
Quando você pensa em um monge, que abandona a sociedade para viver no alto de uma montanha, você deve imaginar que o material deixa de ter valor pra ele, que a vida de consumos exagerados não faz sentido e é por isso que ele se isola da sociedade. E isso pode até tá certo, mas, isso não faz do monge uma pessoa imaterialista, isso faz dele uma pessoa materialista, já que ele busca entender o real valor do que é material. O que acontece é que essa palavra perdeu um pouco de sentido na sociedade consumista atual.
E o grande ponto é que materialismo e consumismo são coisas diferentes. O objetivo de Diógenes e, da mesma forma, o objetivo do monge é entender o real valor das coisas e não necessariamente viver uma vida sem nenhum bem material. Os dois só fazem isso porque eles levam essa filosofia ao extremo.
Olha, por exemplo, para o seu guarda-roupa agora. O materialismo entende que uma camisa tem como único objetivo te vestir. O consumismo faz com que essa peça de roupa se torne um item de luxo só porque tem um jacaré bordado nela.
O grande objetivo de Diógenes ao abandonar os “itens de luxo”, era pra entender de fato o real valor das coisas que ele tinha. Quando ele olha pra a tigela e percebe que consegue viver sem ela, aquele objeto se torna um objeto luxuoso. Só que Diógenes leva isso ao extremo.
Qual que é o real valor da vida? Por que você vive uma vida da forma que você foi instigado a viver, ao invés de buscar dentro de si a real felicidade? Todas essas perguntas permeavam a cabeça do velho Diógenes e a única maneira de respondê-las era colocando tudo à prova.
Se ele não conseguisse viver sem sua casa, ele perceberia o real valor dela, mas ele conseguiu viver em um barril, ele conseguiu viver sem uma tigela, ele conseguiu viver sem basicamente tudo que ele achou que era necessário pra sua sobrevivência. Ele nunca tinha parado pra pensar que a forma que ele sempre viveu era empurrado goela abaixo pela sociedade. Diógenes questionava tudo ao seu redor e isso fez com que ele se tornasse um grande crítico social.
Ele buscava entender não somente o mundo, mas a si mesmo. O tamanho do seu impacto foi tanto que as pessoas começaram a ter um pouco de raiva dele. E foi então que ele começou a ser chamado de “o cão”, por viver largado na rua em meio aos animais.
Certa dia, Diógenes tava tranquilinho no mercado comendo o que restava pra ele comer alí. E nessa época, ele já tava sendo odiado pela maioria das pessoas. E assim, podemos dizer que ele também não era o maior fã dos seres humanos não, se ele realmente fosse um cachorro, ele ia ser um pinscher, porque eu nunca vi tanto ódio dentro de um animal tão pequeno.
Mas enfim, ele tava alí na maior tranquilidade fazendo a sua refeição quando um monte de gente começou a cercar ele do nada e olhar no fundo do olho dele e gritar: “O SEU CACHORRO, O CÃO! ”. Obviamente, isso instigou em Diógenes uma enorme vontade de agredir a todos.
. . mas, ele não fez isso.
Ele preferiu responder de uma forma que faria os outros pensarem, ele diz: “Quem aqui é realmente o cão? Eu que estou aqui a comer ou vocês que estão ao meu redor latindo? ” Não tem como, se você levantar a bola ele vai cortar.
Diógenes usava a hipocrisia das pessoas contra elas. E ao contrário do que muitas pessoas imaginam, ele não se importava de ser chamado de “o cão”. Isso porque, Diógenes via nos animais uma grande fonte de inspiração pra sua vida.
Ele diz: “Eu abano o rabo para quem me dá alguma coisa, lato para quem não me dá nada e mordo os malandros”. Os animais não estão presos a nenhuma convenção social, os animais não estão apegados à moral e não compreendem o passado e o futuro. Por isso, eles vivem somente o presente, com o único objetivo de… viver.
Esse pensamento surge quando Diógenes estava em uma feira e viu um rato ali se alimentando dos restos. Ele se questiona: “Como que pode uma coisa dessa? “.
Enquanto nós reclamamos do que temos aos montes, os animais não se preocupam com luxo ou com excesso. Diógenes acredita que por esse exato motivo, dos animais viverem de uma forma natural, eles são muito mais felizes do que os seres humanos, que criam a sua própria insatisfação. Diógenes, como eu disse, viveu na Grécia Antiga, que é para muitos, a mais relevante sociedade de todos os tempos.
Lar de uma cultura inigualável, com pensadores que marcaram gerações. Ao mesmo tempo, Diógenes travou quase que uma guerra contra esse mundo supérfluo. Ele queria o total corrompimento dos costumes e das tradições morais, já que ele, assim como Schopenhauer anos mais tarde, chegou a uma conclusão que: “O mundo está arruinado em todos os aspectos e a vida é um comércio que não cobre seus próprios custos”.
Inclusive, Schopenhauer e Diógenes têm diversos pensamentos em comum. Mesmo estando separados por 2 mil anos de existência, Diógenes provavelmente concordaria com o pessimismo schopenhaueriano. Os dois acreditavam que, se você acha que o mundo em que vivemos é digno de louvor, ou você está intelectualmente cego ou você é moralmente perverso.
E é nessa total descrença na humanidade que Diógenes se agarra, sendo esse, o terceiro pilar da sua filosofia. Como eu disse no começo do vídeo, Diógenes tinha poucos objetos pessoais e um deles era uma lanterna, um lampião. E esse objeto é extremamente marcante nos contos de Diógenes e eu explico o porquê.
Certa vez, Diógenes foi visto vagando pela cidade de Atenas com lampião na mão em plena luz do dia. As pessoas já olhavam pra ele sabendo que ele tava ali arrumando alguma tramoia, ele ia fazer alguma coisa. Ninguém estava entendendo absolutamente nada.
Porque esse idiota tá em plena luz do dia andando com uma lanterna acesa? A gente sabe que ele é maluco, mas a gente não sabia que ele era tão maluco. Assim, uma infeliz pessoa curiosa chega do lado de Diógenes e pergunta: “O quê que você tá fazendo com essa lanterna acesa?
” E Diógenes responde: “Eu estou a procura de homens honestos de verdade”… SHIIII Essa crítica parece óbvia nos dias de hoje, todo mundo é desonesto, não acredite em ninguém, o homem é uma desgraça. Mas nós dizemos isso hoje em dia porque nós estamos mais do que acostumados com o lado político do ser humano. A sociedade atual já se acostumou com o fato de que o homem é o lobo do homem e que as pessoas definitivamente não são confiáveis.
Mas, naquela época, estava surgindo no mundo um fenômeno novo, conhecido como política. O que acontece é que as cidades gregas emergiram com um novo sistema de formação conhecido como pólis. As pólis eram também tidas como cidades-Estados, como Atenas e Esparta, por exemplo.
E esse modelo funcionou muito bem nessa época, as cidades começaram a se desenvolver e o homem começou a ficar cada vez mais interessado nesse sistema. Tanto que é nessa época em que Aristóteles diz a frase: “O homem é um animal político. ” Sendo político aquele que participa da política, ou seja, da pólis.
O que Aristóteles quer dizer é que a pólis é quase como que uma evolução natural do ser humano, um próximo passo. E Diógenes não achava isso uma coisa muito certa. A minha interpretação é que ele acreditava que nós encontramos na pólis uma mera forma de controle de massa, onde o homem tem como único objetivo controlar o amiguinho.
Por isso, já nessa época, ele questiona a bondade do homem. Já que se o homem é um animal naturalmente político e a política necessita do controle sobre outro homem, logo, o homem não pode ser honesto por natureza. A crítica social de Diógenes é muito mais profunda do que muitos imaginam.
E ele não tinha nem ideia do que estava por vir. . .
Alexandre, o Grande, o Império Romano, todos esses grandes governos que passariam pela Grécia levariam o pensamento de Diógenes a frente. Ele foi muito admirado porque ele não tava nem aí pra absolutamente nada e levou ao extremo uma vida tão difícil, o que é um sinal de coragem. E isso seria colocado à prova quando ele se encontrasse com Alexandre, o Grande.
Como eu disse, em 300 antes de Cristo, Alexandre, o Grande era a pessoa mais importante do mundo. Ele foi o rei do Império da Macedônia e conhecido por ser um dos maiores conquistadores de todos os tempos, também por ter morrido sem perder nenhuma batalha. .
. enquanto isso, Diógenes… ele era um mendigo. Alexandre, o Grande teve o prazer de ser orientado por outro grande filósofo: Aristóteles.
Ele teve o papel de ensinar a Alexandre tudo sobre o mundo grego e apresentou a filosofia e o pensamento de muitos na época, inclusive, Diógenes. Assim, Alexandre, o Grande desenvolve uma certa admiração pelo Didi. Essa ideia de viver plenamente a filosofia do cinismo deixa o rei extremamente animado para conhecer Diógenes.
Assim, após conquistar a Grécia, Alexandre resolve fazer uma visitinha pra conhecer todo aquele mundo que Aristóteles tinha lhe apresentado. Ele passa alguns dias andando por Atenas, apreciando a sua bela arquitetura. E, em um certo momento, ele vê de longe um barril e alguns cachorros ao redor.
Dentro desse barril estava quem? Diógenes, tomando um solzinho ali na tranquilidade. Alexandre, o Grande fica extremamente satisfeito em encontrar um de seus maiores ídolos, mas vendo aquela situação, do cara estar ali no meio da rua, seminu, tomando um solzinho no chão, ele pensa que Diógenes tá precisando de ajuda.
E como ele era um grande fã do cínico e simplesmente o Deus na Terra, ele tenta resolver o problema. Assim, Alexandre olha para Diógenes e fala: “Eu sou muito seu fã e admiro muito essa sua coragem de viver dessa forma. Eu sou Alexandre, o Grande, o rei dessa parada toda aqui, tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
” Diógenes, assim, olha no fundo dos olhos de Alexandre, o Grande e fala: “Eu quero o Sol. ” Alexandre, o Grande, ele… ele não entende nada! “Você quer o Sol?
Tipo… tipo o Sol mesmo? Tipo o Sol true? Você quer que eu traga o Sol até você?
O Sol fica meio noggers né, será que não tem algo mais tranquilo aí que eu possa fazer? ” Então Diógenes fala: “Eu não quero que você vá lá pegar o Sol pra mim, ô seu animal. Eu quero que você saia da minha frente e deixa eu continuar aqui tranquilinho pegando meu solzinho.
” Quando ele fala isso, as pessoas ao redor do Alexandre, o Grande querem partir pra cima do Diógenes. Mas, Alexandre, o Grande não deixa e diz a todos uma das frases mais marcantes dessa época: “Não se preocupem com isso, porque se eu não fosse Alexandre, o Grande, eu adoraria ser Diógenes, o Cínico. ” Diógenes obviamente fica extremamente grato com essa afirmação e responde ele dizendo: “Pois bem, se eu não fosse Diógenes, o Cínico, eu também gostaria de ser Diógenes, o Cínico.
” Esse diálogo fica marcado pela clara falta de respeito à autoridade do momento, que era literalmente a maior autoridade do mundo na época. E esse é o quarto, o último e possivelmente o maior pilar da filosofia de Diógenes: não existe “autoridade”, todo mundo é igual. Errado seria se Diógenes tratasse todo mundo dessa forma escaralhada e quando chegasse uma autoridade na sua frente ele ficasse pianinho.
Não, não, não. Diógenes não faz isso não, porque ele faz questão de escaralhar todo mundo da mesma forma! Ele também faz isso com Platão, que era o segundo maior nome da filosofia na época.
Os dois costumavam frequentar A Academia. Um lugar onde grande parte dos pensadores resolviam se juntar ali pra pensar um pouco sobre a vida, discutir algumas ideias… eu não vou fazer a piada óbvia que tá todo mundo imaginando que eu vou fazer, eu não vou fazer isso. Certo dia, Platão estava tentando entender um pouco mais sobre o homem, sobre quem nós somos.
E diz a frase: “O ser humano é um bípede sem penas. ” Diógenes era aquele aluno do fundão que vivia pra tentar pegar ali o professor no pulo. Ele refletiu sobre o que Platão tinha falado e no dia seguinte levou pra sala uma galinha totalmente depenada, jogou no meio da academia e falou: “Eis aí o seu homem Platão.
” Ele definitivamente achava que esse papo de autoridade era uma besteira. Diógenes não tinha o menor apreço pelos homens e achava horrível todo esse papinho aí de moralidade. No final das contas, pra Diógenes, o homem é um animal que vive preso a essas amarras sociais da moral e isso nos impede de sermos realmente livres.
Quanto menos natural nós formos, mais distante da nossa verdadeira natureza nós estaremos e Diógenes sabia muito bem disso. Ele inclusive teve outra oportunidade de encontrar com Alexandre. Certa vez, Diógenes estava ali em meio a ossos humanos, quando Alexandre, o Grande veio a seu encontro.
Olhando essa situação Alexandre não entendeu o quê que tava acontecendo, por que diabos Diógenes tá no meio de uma pilha de ossos humanos? Ele resolveu perguntar pra ele o que tava acontecendo. Ele não aprende cara, quando você vê um cara em cima de uma pilha de ossos humanos é melhor você evitar diálogo.
Então, Diógenes olha pra ele e responde: “Eu estou aqui procurando os ossos do seu pai, mas eu não consigo diferenciá-los dos ossos de seus escravos. ” Diógenes, tava o tempo inteiro tentando mostrar pra todo mundo que nós somos todos iguais. Imagina você falar para um dos maiores líderes de todos os tempos que ele é igual ao seu escravo, em 300 antes de Cristo.
Somente uma pessoa que não tem nenhum apego pela humanidade é capaz de enxergar uma verdade dessa. Seu conhecimento tá limitado ao mero espectro da moral. Quantas coisas você deixa de conhecer por achar que é melhor que o outro?
Quanta verdade você deixa de enxergar? O cinismo de Diógenes não é sobre humilhar o homem, mas sim, sobre enxergar o real valor das coisas. Sobre enxergar quem realmente nós somos e sobre colocar a humanidade em seu devido lugar.
Quando nós achamos que somos superiores, nós acabamos por nos colocar em um patamar de deuses, mas nós não somos deuses. Nós somos humanos, que erramos e aprendemos. E Diógenes, o Cínico tenta nos mostrar isso.
Nós não devemos idolatrar esse homem, pois ele ficaria decepcionado se isso acontecesse Mas, assim como Alexandre, o Grande, se eu não fosse Marcos Tinôco eu gostaria de ser Diógenes, o Cínico. Bom, esse foi o vídeo, eu espero do fundo do meu coração que você tenha gostado. Que você tenha conseguido entender um pouco mais sobre as críticas sociais de Diógenes e sobre esse personagem que tá o tempo todo aparecendo aí no canal.
Esse vídeo inteiro deu muito trabalho pra fazer, então considere deixar o seu like aqui embaixo, se inscrever no canal e ativar o sininho de notificações. Porque tem muito conteúdo interessante vindo aí e eu tenho certeza que você vai gostar. Me siga nas redes sociais pra não perder nada que eu posto, @tinocandotv.
E é lá que eu vou revelar um pouco mais pra vocês sobre o andamento do vídeo da Grécia e a data de lançamento. Livros e fontes usadas pra escrever esse roteiro tá aqui na descrição. Deixa aqui nos comentários sugestões de temas e é isso.
Muito obrigado pelo seu acesso e até o próximo vídeo. Valeu, falou um grande abraço do Tinôco e lembre-se: A existência é passageira.