Uma das correntes mais IMPORTANTES do mundo está PARANDO

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Ciência Todo Dia
O que aconteceria com o planeta se uma das maiores correntes oceânicas do mundo parasse? Neste vídeo...
Video Transcript:
No filme O Dia Depois de Amanhã, cientistas começam alertando sobre uma possível catástrofe, mas eles não são ouvidos. Algo infelizmente bem comum para os cientistas do clima. E eles não são ouvidos porque não interessa aos líderes políticos somarem as medidas necessárias para interromper a contínua escalada do aquecimento global.
Até que acontece o que temiam. Um importante sistema de correntes do Atlântico colapsa, resultando no total desequilíbrio do clima, que desencadeia tempestades extremas, inundações, tornados e o início de uma nova era glacial. Parece meio contraditório que o aquecimento global possa causar um resfriamento, mas é só porque o filme é uma ficção, certo?
Então, eu preciso dizer que faz sentido, e sim, é possível. Novos estudos indicam que esse importante sistema de correntes oceânicas, que se chama a AMOC, está na rota para um colapso. E quais seriam as consequências desse colapso?
Será que isso significaria que nós entraremos em uma nova era do gelo e que nós devemos esperar que o enredo do filme O Dia Depois de Amanhã se torne realidade? O colapso da AMOC é um dos vários pontos de não retorno do sistema terrestre. Pontos que, se ultrapassados, resultarão em consequências desastrosas e ameaças a todas as áreas.
A biodiversidade, a saúde, a economia, a segurança alimentar. Mas o que são esses pontos de não retorno? E ainda é possível evitar que eles sejam ultrapassados?
Se você ficar até o final desse vídeo, essa pergunta será respondida. Mas é mais urgente nós falarmos sobre a AMOC. Mais um rápido desvio para cantarmos parabéns para a Alura, que está fazendo 11 anos.
E nesses 11 anos, a Alura pode até dizer que já fez vídeos comigo sobre assuntos que vão desde programação até o paradoxo de informação de buracos negros. E para celebrar esses 11 anos de muito aprendizado, você tem 20% de desconto na sua matrícula. O último curso que eu fiz no mês passado foi esse aqui sobre como obter melhores resultados usando o chat GPT e eu recomendo demais.
É só clicar no link da descrição ou do comentário fixado e começar a aprender o que você quiser. Mas não demora porque é por tempo limitado. E agora sim, vamos falar sobre a AMOC.
Para entender mais sobre o possível colapso da AMOC, nós precisamos primeiro saber como que funciona a circulação oceânica. O oceano tem um papel importante absorvendo energia, calor, e distribuindo de maneira mais uniforme ao redor da Terra. A circulação oceânica ocorre de duas formas, impulsionada pelo vento e pela densidade.
Na circulação movida pelo vento, ele empurra a superfície da água e nós temos correntes de superfície, também chamadas de correntes horizontais. As correntes de superfície quentes transportam o calor do Equador em direção aos pólos Norte e Sul. E as correntes frias vêm de latitudes polares e temperadas e tendem a fluir em direção à região da linha do Equador.
Essas correntes são desviadas por causa da força inercial de Coriolis, que existe devido à rotação da Terra. E esse desvio ajuda a formar sistemas de circulação que nós chamamos de giros. Nos giros, a água flui em um padrão circular, no sentido horário no hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul.
E esses giros acontecem em todas as bacias oceânicas. A corrente do Golfo é um exemplo de corrente superficial que faz parte do giro subtropical do Atlântico do Norte. Ela leva águas mais quentes da região tropical para o norte do Atlântico.
Já na circulação impulsionada por densidade, as correntes se movem para cima e para baixo na coluna de água. São as correntes verticais. E nós chamamos de circulação termoalina, em que termo significa calor e alos, sal.
Justamente porque o movimento causado pelas diferenças de densidade vem da variação de temperatura e salinidade. Funciona assim. Com mais calor, há mais diminuição da densidade.
E mais sal provoca um aumento da densidade da água. Ventos movem águas superficiais quentes para regiões mais frias, onde então elas perdem calor para a atmosfera. E essa perda de calor torna a água mais fria e mais densa, o que faz com que ela afunde.
E também há a formação de gelo marinho, e, à medida que a água do mar congela, o sal é forçado a sair do gelo, aumentando a salinidade da água ao redor. A água salgada e fria perto dos pólois se torna mais densa e por causa disso ela afunda no oceano, enquanto a água mais quente e menos densa vem substituir a água que afunda, como mostra essa animação da NASA. Tudo isso se conecta e esse movimento funciona como uma correia transportadora oceânica, um sistema de correntes em escala global que leva calor para várias partes do mundo.
E ela é fundamental para o sistema climático e para os ciclos de dióxido de carbono e de nutrientes. Ok, mas onde entra a AMOC nessa história? E por que você deveria se importar?
A AMOC, ou Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico, é parte desse complexo sistema global de correntes oceânicas e leva calor para várias partes do globo, tendo uma forte influência sobre o clima da Terra e também transporta nutrientes necessários para sustentar a vida marinha. Nós temos medições diretas sobre a AMOC apenas há poucas décadas, mas por meio de reconstruções nós sabemos que ela já passou por desaceleração e até total parada no passado, como no último período glacial. Mas ainda assim, a circulação da AMOC tem enfraquecido no último século, e estudos indicam que esse enfraquecimento tem causa antropogênica, ou seja, está sendo causado por nós, seres humanos.
as temperaturas médias estão aumentando, mas existe uma região de resfriamento localizada no norte do Atlântico. Essa região é comumente chamada de cold blob e é considerada um sintoma de desaceleração da AMOC. A AMOC também sofre oscilações que podem ser por variabilidade natural ou resposta ao aquecimento do sistema, mas o ponto de inflexão, ou seja, a parada, o ponto de colapso, existe.
E há incertezas sobre o quão perto nós estamos desse ponto. Alguns modelos climáticos têm sugerido que o risco de colapso da AMOC nesse século é baixo, como o próprio relatório mais recente do IPCC, o AR6, e ele afirma isso com uma confiança média. Mas um estudo publicado em 2023 trouxe uma conclusão diferente, de que o colapso é provável entre 2025 e 2095.
O método do estudo levantou questionamentos, porque ele é baseado em análise estatística relacionada à temperatura da superfície do mar, e não há medições diretas da AMOC, o que pode ser uma limitação. Mas existem estudos com outros métodos apontando na mesma direção. Ok, mas por que essa divergência entre alguns modelos e esses estudos novos?
Uma teoria é de que os modelos podem estar subestimando o risco, desconsiderando fatores importantes e dando uma estabilidade maior do que deveria um amoque. O fato é que nós precisamos de mais estudos. Um ainda mais recente, publicado em 2024, conclui que amoque tem mesmo um ponto de ruptura se o norte do Oceano Atlântico tiver grande forçamento de água doce.
Ou seja, mais água doce entrando por chuva, escoamento de rios ou derretimento de gelo, como por exemplo, do manto da Groelândia. A amoque é muito sensível a esse grande aporte de água doce, porque reduz a salinidade e, consequentemente, a densidade, enfraquecendo e desacelerando sua circulação. E adivinhem, o aquecimento global está causando esse forçamento.
O estudo mostrou isso em um modelo climático global acoplado, que junta oceano e atmosfera, de última geração. E o método foi o seguinte, depois que o ponto de inflexão foi encontrado, isso foi usado para identificar percursores que poderiam nos alertar, que seriam os sinais de alerta precoce. Em resumo, o modelo foi utilizado para nós entendermos melhor quais seriam os sinais de alerta, e depois os pesquisadores analisaram dados observacionais que sugerem que a AMOC está nesse rumo do colapso.
Esse estudo não apresenta uma estimativa de quando o ponto de inflexão vai ser atingido, mas ele comenta que o estudo publicado em 2023 pode ser preciso. E quais seriam as consequências do colapso da AMOC? O filme O Dia Depois de Amanhã gira em torno desse colapso.
E no filme isso resultaria em tempestades extremas e o congelamento de boa parte do hemisfério norte. Mas o quanto disso é real? É claro que existem exageros hollywoodianos, principalmente na intensidade e na velocidade dos acontecimentos.
Mas segundo um novo estudo, o colapso da Amok mudaria drasticamente a redistribuição de calor. O hemisfério norte resfriaria e o hemisfério sul esquentaria em relação ao que nós temos hoje. Em uma vasta região da Europa, a tendência média anual da temperatura da superfície atmosférica seria modificada a cerca de 1°C por década, com variação ainda maior em alguns meses do ano.
Para várias cidades, as temperaturas caem entre 5°C e 15°C. Pode parecer pouco, mas aqui nós não estamos falando de tempo meteorológico, e sim de clima. E essa mudança numa média climática significa muita coisa.
A floresta amazônica também passaria por mudanças drásticas nos padrões de chuva e as estações secas e chuvosas se inverteriam. E essas mudanças poderiam perturbar gravemente o ecossistema da floresta e potencialmente levar ao seu ponto de inflexão. Outras análises projetam um colapso conforme o cenário de aquecimento global.
Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OECD, por exemplo, indica que em um cenário de 2,5 graus Celsius de aquecimento global, além do resfriamento do hemisfério norte, haveria mudanças abruptas em padrões meteorológicos, no ciclo hidrológico, no nível do mar, na absorção de dióxido de carbono pelo oceano, na perturbação do ecossistema marinho e a ameaça crítica à segurança alimentar do planeta. Apesar de nós não pudermos cravar com toda a certeza se isso vai acontecer ou quando vai acontecer, vários estudos mais recentes estão apontando que o risco é muito maior do que antes a gente pensava. É um risco real e precisa ser levado a sério porque o colapso da AMOC seria um desastre em escala planetária.
Esse colapso é um dos vários pontos de inflexão do sistema terrestre. E nós vamos falar mais só sobre pontos de inflexão em outro vídeo. Basicamente esses pontos de inflexão ou pontos de não retorno são limites a partir dos quais uma pequena mudança pode levar um sistema a um estado completamente novo, ou seja, pode mudar de forma abrupta e até mesmo irreversível.
E existe uma preocupação em torno dos pontos de inflexão também sobre o potencial de um efeito cascata, um efeito dominó sobre outros pontos, como é o caso aqui. O colapso da AMOC pode contribuir e empurrar a Amazônia para o seu ponto de inflexão. E isso levanta a pergunta, nós temos como evitar o colapso da AMOC?
Para evitar não somente esse, mas outros pontos de inflexão, nós precisamos agir sobre o principal fator, que é o aquecimento global. Desde o início da Revolução Industrial, a humanidade vem aumentando a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, especialmente o dióxido de carbono, o CO2. E isso vem causando o aquecimento da atmosfera, do oceano e a superfície terrestre.
E esse aquecimento global leva a mudanças em padrões do clima. As mudanças climáticas se traduzem em muitos aspectos e estão nos empurrando para ultrapassar esses diversos pontos de inflexão. Mas precisamos reduzir drastica e rapidamente as emissões de gases do efeito estufa e zerar as emissões de dióxido de carbono nas próximas décadas para frear o aquecimento global em curso.
E isso é o que se chama mitigação das mudanças climáticas. E não é tarefa simples, mas nós também vamos falar mais sobre esse assunto em outros vídeos aqui no Ciência Todo Dia. Mas eu gostaria de saber de vocês.
O que vocês acham que nós poderíamos fazer como humanidade para reduzir o nosso impacto no clima? Digita aqui nos comentários. E não esquece de deixar o seu gostei e se inscrever no canal.
Muito obrigado e até a próxima. E não esquece de deixar o seu gostei e se inscrever no canal. Muito obrigado e até a próxima!
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