E se as pessoas não fossem julgadas pela sua cor da pele ou etnia? E se, de fato. homens e mulheres tivessem as mesmas oportunidades no mercado de trabalho?
E se as pessoas comecem menos carne? E se todo mundo tivesse a mesma oportunidade de estudar? Será que o mundo seria um lugar melhor?
E como é que ele seria? Esse tipo de raciocínio não envolve só aspectos emocionais, de empatia, mas também aspectos cognitivos importantes que começam a aparecer a partir de 11 e 12 anos de idade. Eu sou professor Leandro e nós vamos conversar sobre o período operatório-formal.
De acordo com a teoria de Jean Piaget, a teoria da Epistemologia Genética, os últimos estágios do desenvolvimento cognitivo são os estágios operatórios: O estágio operatório-concreto que vai, então, de mais ou menos 7 a 11 anos de idade e o operatório formal, que é o estágio que vai dos 11, 12 anos de idade até o restante da vida. Em ambos os estágios, operatório-formal e operatório-concreto, a criança e agora o adolescente ou adulto, conseguem manipular informações, conseguem raciocinar, trabalhar com elementos de raciocínio melhor elaborados. A grande diferença é que no operatório-concreto a criança precisa manipular objetos, ela precisa visualizar e ter uma base ainda concreta para poder formalizar seu raciocínio.
Já no operatório-formal, o adolescente agora não necessita ter alguma coisa visível, algo perceptual para poder pensar. Ele pode usar a abstração. O grande conceito do período operatório-formal é justamente poder pensar de forma abstrata, ou seja, sem se relacionar com algo necessariamente concreto para poder ter alguma lógica e chegar às suas conclusões.
É por isso que o adolescente agora já consegue pensar além do momento presente. Ele consegue imaginar como as coisas poderiam ser no futuro ou como ano passado e além do lugar onde ele está, ele consegue imaginar situações em outras cidades, em outros países, em outros planetas e até mundos inexistentes. Esse pensamento agora abstrato permite que a criança com seu pensamento possa pensar o que quiser e não se basear nas experiências concretas que ela teve.
Ela pode manipular isso e sair dessa situação do aqui e agora. É por isso que adolescentes já conseguem compreender e fazer melhor metáforas, alegorias e entender melhor inclusive o sentido de obras de arte, de filmes, de literatura, de histórias em quadrinhos, enfim, já conseguem mergulhar muito mais numa compreensão que vai além da compreensão literal, uma composição, claro, abstrata. E é por isso que adolescentes também começam a ter emoções relacionados com conceitos abstratos.
Eles podem, por exemplo, odiar a injustiça ou amar a liberdade, que são coisas que concretamente não existem, mas você pode sentir um ódio profundo por injustiças ou um amor grande pela liberdade. . .
Alguns experimentos clássicos do Piaget vão testar justamente isso, a possibilidade do adolescente de investigar situações novas e até impossíveis. Você pode propor uma seguinte situação: Imagine que você tá no planeta Terra e aqui se você pegar um martelo e bater num copo de vidro, o martelo vai quebrar. E aí você pergunta: Se eu bater com um martelo num copo de vidro o que acontece?
Ele vai dizer: Vai quebrar. Agora imagine que você viaje para um outro planeta e nesse planeta as leis da física são diferentes. Se você pegar uma pena e bater no copo de vidro, o vidro vai quebrar, mas não o martelo.
Se você pegar o martelo e bater num um copo de vidro o vidro não quebra. Uma criança pré-operatória ou até operatório-concreta vai ter dificuldade de responder à seguinte pergunta: Se eu bater agora, nesse planeta, com uma pena em copo de vidro que vai acontecer com o vidro? Ela vai dizer: Nada!
E se eu bater com o martelo? Vai quebrar! Mas um adolescente já consegue dizer: Não, se eu bater com uma pena, nesse planeta, num copo de vidro, o copo quebra.
Porque as leis nesse planeta são assim, porque a regra é essa, é assim que funciona. Veja, é algo que contradiz o que ele observa, mas consegue pensar nesses termos abstratos. Nesse período, o adolescente consegue ter o raciocínio hipotético-dedutivo, que é uma propriedade de você pensar em hipóteses, raciocinar e testar essas hipóteses.
Pra investigar isso, O Piaget elaborou um teste simples envolvendo pêndulo. Ele propunha para o criança, para o adolescente, situações em que ela tinha que calcular e pensar na velocidade de diferentes pêndulos. Ele propunha para criança fazer um pêndulo que fosse mais rápido.
Para isso ela podia manipular algumas coisas, na verdade 4 variáveis: a primeira variável era o comprimento da cordinha. Então podia ser uma corda maior ou podia ser uma corda, de repente, menor. A criança ia testar se cordas maiores ou menores iriam ter efeitos diferentes a respeito da velocidade do pêndulo.
Bom, isso já numa criança operatório-concreta, ela consegue tranquilamente fazer essa classificação, mas crianças no período pré-operatório já vão ter dificuldade maior inclusive de seriar, de conseguir medir o tamanho da cordinha. Mas, além disso, outras variáveis dizem respeito ao tamanho do peso. Será que um peso maior, mais pesado, vai fazer com que o pêdulo vá mais rápido ou mais devagar?
Então você pode testar diferentes pesos, dos mais pesados até os mais leves. . .
E além do tamanho da cordinha e do peso do pêndulo, você podia testar também a força inicial que você vai fazer para o pêndulo começar a balançar-se, se isso muda, e se você colocar o pêndulo mais em cima ou pêndulo mais embaixo o que é que muda no experimento. Pois bem, crianças que estavam operatório-concreto conseguiram chegar até numa resposta certa, de fazer com que o pêndulo pudesse balançar rapidamente. Mas é muito por tentativa e erro ainda.
Elas não separam uma variável só, experimentavam ao mesmo tempo o tamanho da cordinha e o peso maior ou peso menor, uma cordinha curta junto com peso grande comparando com uma cordinha longa com peso pequeno. Agora, adolescentes no operatório-formal já conseguiam pelo raciocínio hipotético-dedutivo pensar: Não, talvez o tamanho da corda é que seja uma variável importante. Pegavam cordas de tamanhos diferentes e testavam com o mesmo peso.
Depois pegavam variável peso: cordas do mesmo tamanho com pesos diferentes. O mesmo tamanho de corda e o mesmo peso e aplicavam forças diferentes para ver se velocidade mudava ou então a mesma força, a mesma corda, o mesmo peso e alturas diferentes para ver se a velocidade diferia. Você percebe?
Esse é um proto-experimento científico em que você isola as variáveis e testa elas uma por uma. Por isso que o raciocínio hipotético-dedutivo o Piaget considerou como o auge, de fato, da cognição. O principal critério que o Piaget se baseou foi principalmente a idade.
Mas a gente sabe hoje em dia que nem todos os adolescentes e mesmo adultos atingem esse nível operatório-fromal. É preciso ter uma experiência principalmente educacional que estimule esse tipo de pensamento, de isolar as variáveis, de ter um raciocínio lógico, de pensar dessa forma hipotética-dedutiva. E mesmo adultos que tem um raciocínio operatório-formal para algum domínios, isso não necessariamente reflete nos outros.
Isto está muito relacionado com a experiência que nós temos de resolver determinados tipos de problema. Quantos de nós aqui não somos bons para resolver alguns tipos de problema e para outros a gente pergunta: Por favor, me explique isso como se eu fosse uma criança de 5 anos de idade, como se eu tivesse novo sensório-motor. .
. Pesquisas mostram que cerca de um terço a metade da população, para a grande maioria dos domínios, não tem um raciocínio correspondente ao que o Piaget chamou de operatório-formal. E como é que a prática e outros fatores vão influenciando no desenvolvimento da cognição ao longo da vida, além da adolescência, na vida adulta e mesmo em relação aos idosos?
Bom, isso é assunto para as nossas próximas conversas. . .
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