Imagine que você é um morador de Caffa, uma cidadezinha portuária na atual Ucrânia, no ano de 1347. Nessa época todos temiam o lendário Gengis Khan, líder do Império Mongol, que avança impiedosamente rumo à Europa. Eles eram, nessa época, o maior império do mundo e não teriam dó quando encontrassem em seu caminho uma cidadela pitchulinha desse tamanico aqui.
Mas, para isso, eles precisam passar pelas grandes muralhas que cercam a cidade. O que não é tão simples quanto parece… passar pela Muralha da China é fácil, eu quero ver passar pela de Caffa. Os grandes muros conseguem tankar o Império Mongol, mas que mesmo assim não desiste e cerca a cidade.
Assim, as paredes de pedra se tornam prisão para os moradores locais. De uma hora pra outra, dezenas de soldados mongóis começam a morrer. As pessoas não entendiam na época, mas hoje nós sabemos que dentro do corpo de cada soldado ali, havia um ser muito mais poderoso do que eles poderiam imaginar.
Os outros soldados mongóis vendo a situação ao seu redor, tomam uma decisão inacreditável. Eles catapultaram corpos contaminados para dentro da cidade, com o único objetivo de causar o caos a quem estava lá dentro. Eles não sabiam que estavam contaminados, afinal de contas, se tu morre por qualquer coisa na época é porque Deus quis.
Soldado escreve Genghis Khan com J e é catapultado no interior de Caffa. Agora imagina você tá aí tranquilinho vendo um vídeo sobre Peste Negra sentadinho no seu sofá, e do nada passa um corpo voando caindo cheio de Peste Negra no teu quintal. Isso leva a pequena cidade de Caffa a um caos total.
Em alguns dias já haviam muitos contaminados que morreram ali mesmo. Alguns sortudos conseguiram fugir e buscaram refúgio em cidades vizinhas. Mas isso não impediu que eles se contaminassem também.
Estes, ajudam a espalhar para o mundo uma doença que mudou de uma vez por todas a humanidade: A Peste Negra. Mas como ela surgiu? Quais foram os impactos para a sociedade da época?
Você não deve ter ideia, mas tudo isso mudou diretamente a forma como nós interagimos com o mundo. Como uma doença que vem de pulgas conseguiu matar quase metade da população europeia? Hoje, nós vamos entender.
Oi, eu sou o Tinôco e sejam todos muito bem-vindos ao novo quadro aqui do canal TinocandoTV: o diagnosticando. Um quadro onde eu vou analisar a história das doenças mais conhecidas da humanidade e no episódio de hoje: Peste Negra. Como eu sempre falo, esse tipo de vídeo dá um trabalho pra fazer, então, considere deixar o seu like aqui embaixo, se inscrever no canal, ativar o sininho de notificações e me seguir nas redes sociais @tinocandotv, que eu tô produzindo muito conteúdo legal lá e eu espero que você goste.
Se você quiser deixar sugestões de temas, quadros, ideias de vídeo, comenta aqui que eu vou tá olhando tudo isso. Bom, então, vamos começar a entender como tudo começou. Capítulo 1 - “O começo da Peste”.
No início do século XIII a população europeia começou a crescer demais. Alguns países quase duplicaram o número de seus habitantes, como França, Espanha e Portugal. E isso, na verdade, se dá por dois fatores: uma redução no número de guerras e o avanço tecnológico na agricultura.
Então você tá dizendo que a agricultura fez a galera… digamos que… tá ligado? ! Nesse momento, durante a Idade Média, o sistema socioeconômico era o feudalismo, que você já deve ter ouvido na escola.
Ouvir esse nome já me dá até um gatilho. Basicamente, era uma sociedade com a economia baseada na agricultura e dividida em três classes sociais: O primeiro e mais cabuloso de todos é o clero, que é basicamente uma skin da Igreja Católica. Já nasce com uma magiazinha de cura e a chance de tu tirar um 20 no dado é muito maior.
O segundo são os nobres, que nem tem muito o que falar né? Nobre é nobre. E por último, temos os servos, que aí meu parceiro, não fica legal não.
O grande pulo do gato nessa questão toda era que você não poderia mudar de classe social, é tipo uma rankeada que você quer muito ser platina, mas tu nasceu pra ser bronze. Então, a mobilidade de uma camada social para outra era quase impossível. E o que de fato diferencia uma camada social da outra são os privilégios que ela tem.
Os nobres com terras eram os chamados Senhores Feudais e suas terras eram os chamados Feudos, por isso… Senhores Feudais né? Pra você que é um pouco mais devagar. O que acontece é que, como sempre, a mão de obra era baseada na exploração dos menos afortunados.
Os servos eram os mais zuados nesse role. Eles eram os responsáveis pelo sustento das classes acima deles, já que eram eles que produziam as riquezas na época. E como se não bastasse ser explorado, os servos tinham que pagar impostos para a nobreza.
E aí, como eu disse, a população começou a crescer e foi ganhando corpo, mas, não foi somente os servos que cresceram, todas as classes sociais começaram a ter um aumento na população. Assim, os filhos dos senhores feudais começaram a brigar pela herança e rolou basicamente um Casos de Família lá em 1300. Muitos dos nobres que não herdavam nada, resolveram se mudar para locais fortificados chamados de burgos, que com o tempo, iam crescendo e se tornando cidades.
Esses nobres normalmente trabalhavam como comerciantes e ficaram conhecidos como os burgueses. Sim, a burguesia já existia desde o século XI, mas foi no renascimento comercial que essa classe ficou mais forte, com o aumento da urbanização e o crescimento de feiras comerciais que foram se tornando burgos. Nesse momento você vai perceber que a Europa estava vivendo uma certa instabilidade ali em todos os sentidos.
Tava parecendo os relacionamentos do Neymar. Poucos tempo depois, entre 1309 e 1323 ocorreram grandes chuvas que afetaram a produção de mantimentos, ocasionando em uma escassez de alimentos. Pra piorar ainda mais o cenário que estamos vivendo, explode uma guerra entre França e Inglaterra, conhecida como Guerra dos 100 anos.
Que não durou 100 anos, durou 116, mas a gente releva isso aqui. Esse evento fez com que a Europa perdesse ainda mais terrenos aráveis, já que agora a galera ia tá meio que lutando em cima dele. E todo esse processo deixou a população ainda mais sujeita à fome.
Nesse momento da história, o mundo estava começando a se globalizar e a relação entre países da Ásia, África e Europa estava cada vez mais próxima. E a principal influência disso talvez seja a Rota da Seda, que é, basicamente, um trajeto que vai lá do outro lado da Ásia, passa ali Arábia, vai pro Egito, depois chega no leste europeu, vai pra Itália e é lá que as mercadorias entram na Europa. Mas, nós estamos falando de 1300, então nós não podemos esperar nada mais do que um padrão levemente duvidoso de qualidade.
Os porões dos navios mercadores eram uma parada assim. . .
nojento. Era sujo, úmido e carregava alimento, ou seja, um lugar perfeito para proliferação de ratos. E esses ratos tinham o quê?
Pulgas! Aqui, a gente entra em um dos maiores erros cometidos quando o assunto é Peste Negra. Não!
A Peste Negra NÃO era transmitida pelos ratos, mas sim, pelas pulgas que estavam nesses ratos. Nessa época, o contato com o rato era uma coisa normal, tu ali almoçava com o Mickey enquanto o Ratatouille tava na cozinha fazendo uma sopinha pros crias. Então o contato dessas pulgas com o homem era inevitável.
Grande parte dos tripulantes desses navios cargueiros foram contaminados e, assim, a bactéria causadora da Peste Bubônica, começou a se espalhar pela Europa. Como todo mundo sabe, o período em que estamos falando é conhecido como Idade Média, e nessa época você sabe que o bagulho era louco. A Europa era quase como um grande navio cargueiro.
Nas cidades medievais, os moradores percorriam ruas e vielas estreitas, mal iluminadas e frequentemente lamacentas por conta das chuvas. Isso sem falar no pequeno detalhe que era normal as pessoas na época jogarem os seus excrementos pela janela na rua. Nessa época você não pode nem jogar uma bolinha ali na rua, ficar parado trocando ideia com um idoso, que quando você menos percebe alguém abriu a janela e jogou em você um balde cheio de (__).
Existiam também os matadouros, que eram locais em que os comerciantes de alimento descartavam as carcaças de animais que não eram usados… ninguém mandou não ter salsicha na época. O que eu quero dizer com tudo isso é que não foi o rato o maior propagador da Peste Negra, mas sim, o próprio homem. Fomos nós que demos as condições para uma doença que se voltou contra nós.
Mas, você já parou pra pensar qual é a sensação de contrair Peste Negra? O que acontece com o ser humano, quando ele se infecta com a doença? Capítulo 2 - “Contaminação”.
A Peste Negra na verdade não é o nome da doença, por incrível que pareça, Peste Negra é o nome dado a essa pandemia específica de Peste Bubônica, essa sim é o nome da doença. Já tivemos outras vezes na humanidade uma pandemia de Peste Bubônica que não era chamada de Peste Negra. No século VI, por exemplo, em Constantinopla, mais de 300 mil pessoas perderam as suas vidas para o que ficou conhecido como Febre Justiniana, por conta do imperador da época que era o Justiniano.
. . que bela homenagem pro imperador.
Esse número representava metade da população da época. A Peste Bubônica é causada pela bactéria Yersinia Pestis e é comummente introduzida na pele pela picada da pulga do rato, que é o reservatório do bacilo… o rato é o reservatório, não a pulga. O período de incubação, que é o momento em que a bactéria tá ali no seu organismo fazendo reconhecimento de gramado, dura de dois a seis dias.
Depois disso a pessoa já começa a se sentir um pouco mal. Pode ter febre, dor muscular, dor de cabeça, calafrios e náuseas… basicamente igual qualquer outra doença. A diferença é que, basicamente, depois que a bactéria fermenta ali no seu corpo, ela gera uma inflamação que cria um inchaço chamado de bubão, e é daí que vem o nome Peste Bubônica.
Esse bubão nada mais é do que uma linfonodomegalia… quem não sabe o que é uma linfonodomegalia? Você não sabe o que que é? Pô, que coisa simples.
Uma linfonodomegalia é o inchaço dos linfonodos. E o linfonodo próximo da picada da pulga tende a inchar. O bagulho crescia tanto que podia chegar do tamanho de um limão ou de uma laranja, e aumentavam com a formação de pus no interior.
Isso fazia com que o paciente desenvolvesse manchas roxas ou pretas na pele, que eram chamadas de petéquias. E foi por conta dessas manchas escuras que a doença, nessa época, passou a ser conhecida como Peste Negra. Em alguns casos, a Peste Negra podia afetar também os pulmões, resultando em sintomas parecidos com a pneumonia.
A combinação de todos esses sintomas tornava a Peste Negra uma doença extremamente angustiante e dolorosa. E nessa época, as pessoas não tinham a menor noção de como lidar com isso, era no máximo ali 2 pai nosso e fé no pai. Na época, uma técnica muito usada era a “sangria”.
Onde era tirado uma enorme quantidade de sangue do seu corpo pra que ele “produzisse novo sangue”. Já foi registrado uso de ervas e substâncias naturais para tentar amenizar os sintomas, mas tudo isso sem efeito. Alguns já acreditavam que o laxante era o melhor remédio.
Pois fazia o seu corpo eliminar as impurezas, mas também não tem nenhuma eficácia comprovada… os caras já não tem banheiro e ainda toma uma parada pra se cagar ainda mais. Toda essa junção de fatores, faziam com que alguns indivíduos morressem rapidamente, em questão de dias assim. Mas, algumas outras pessoas, podiam demorar semanas ou meses pra morrer.
Isso porque, nenhuma doença tem 100% de taxa de mortalidade. A condição da saúde geral da pessoa, a quantidade de cuidados médicos e a resposta imunológica individual pode fazer com que essa taxa de mortalidade caia. A estimativa é que durante a pandemia de Peste Negra, a taxa de mortalidade permaneceu acima de 50% no geral, e em algumas comunidades específicas chegou a 90%.
E não pense que essa doença simplesmente desapareceu. Até hoje ela existe. No Brasil, segundo o Hospital Albert Einstein, pelo menos 15 mil casos de Peste Bubônica são registrados todos os anos.
Capítulo 3 - “Sociedade”. Nesse momento, a Europa tava começando a ter um crescimento populacional acelerado, como eu falei. No século XII, a população europeia chegava a 300 milhões.
No século XIII, esse número beirava os 450… já no século XIV a população europeia era de. . .
150 milhões? ! O século XIV foi simplesmente assolado pela Peste Negra, a população mundial* foi reduzida em um terço.
Em um certo momento, os corpos eram colocados do lado de fora das casas, ocupando as ruas, onde eles seriam recolhidos e transportados ao cemitério. Em 1348 a doença chegou na França e na Inglaterra. Também chegou na Suíça e na Hungria.
Em Londres, foram construídas fossas para enterros coletivos. No entanto, com a superlotação por conta das inúmeras mortes por dia, os cadáveres começaram a ser despejados nos rios. O alto número de mortes impactou diretamente na economia e na agricultura de toda a Europa.
A crise não se limitava apenas às mortes, mas também na distribuição e produção de alimentos. Nesse cenário tenebroso, a população se sentia como se estivesse sendo punida por Deus ou até mesmo vivendo o próprio apocalipse. A Igreja se encarregou de explicar e orientar a população sobre os melhores métodos que eles acreditavam servir para evitar a Peste.
Segundo a própria Igreja, a doença era um castigo enviado por Deus para punir os pecados da sociedade. Algumas pinturas da época reproduziam a imagem de Deus… lançando flechas com a doença nos humanos. O caráter súbito do castigo era representado com a queda de pessoas que tinham contato com os doentes, como os médicos, carregadores de caixão e familiares.
Por fim, a Europa buscou em São Sebastião a salvação para a Peste Bubônica. Essa fé se deu por conta do santo ter resistido à morte pelas flechas dos arqueiros romanos do Imperador Diocleciano, mesmo assim, ele acabou sendo executado e se tornou um símbolo cristão. Acreditava-se que São Sebastião afastava as flechas de Peste Bubônica enviadas por Deus.
Com o crescimento do radicalismo religioso, a Igreja se viu em uma situação lucrativa com as cruzadas e as vendas de indulgências, que era basicamente quando uma pessoa pecadora comprava o seu perdão. É importante lembrar que nesse período a Igreja Católica sofria uma constante perda de influência, graças a um atrito com alguns monarcas ali na França. E durante o período da Peste, a Igreja lucrou e conseguiu encher os cofres com o desespero da população.
A população cumpria tudo que o clero mandava, como orações, jejuns e formas de penitência. Obviamente nenhuma dessas medidas surtiu qualquer efeito pra diminuição da Peste. Em meio a esse cenário caótico, a Igreja e os governantes se viam em um processo constante de perda de reputação e credibilidade, porque eles mostravam que não sabiam lidar com a Peste.
Mesmo porque os membros da igreja e os nobres também contraíam a doença. Logo depois, iniciou-se uma onda de autopunição coletiva. Eles acreditavam que, dessa forma, Deus pararia de puní-los.
Autoflagelação e greve de fome eram alguns desses castigos, utilizados por um grupo de pessoas desesperadas que só queriam que tudo aquilo acabasse. Eles passavam pelas cidades pregando e criticando a conduta da Igreja. Essa prática se espalhou e ganhou adeptos em muitos lugares.
Assim, a Igreja foi obrigada a intervir e reprimir, o que não agradou muito a população, que já estava deprimida e sem esperança com qualquer outra autoridade. Esse sentimento de desesperança e depressão refletiu na produção artística da época. Como os poemas mórbidos muito populares neste e nos séculos posteriores.
A figura da morte como um personagem inevitável era cada vez mais comum em contos, livros e peças teatrais. Uma das obras artísticas mais conhecidas na época foi a “Dança da Morte” de Michael Wolgemut. Essa gravura retrata a ideia de que não importa quem você é ou o que você faz, mas no fim todos nós vamos dançar a dança da morte.
Outra peça importantíssima da época foi o “Decamerão” de Boccaccio. Um ensaio de cem novelas contadas por dez pessoas que tentavam fugir da Peste Negra, uma trama com paixão, tragédia e tudo que há de pior na Idade Média. Capítulo 4 - “Medidas de controle”.
Aqui, você já deve ter entendido que ninguém tinha a menor ideia do que tava fazendo. O caos e o desespero tomaram controle da vida das pessoas e o sentimento coletivo de desesperança pairava no ar. Mas, algumas autoridades de pequenas cidades europeias tentaram implementar medidas diferentes para o controle da Peste.
E dentre elas, a que mais deu certo foi a quarentena. . .
só de ouvir essa palavra já me dá uma vontade de assistir uma live do Casimiro. A quarentena começou a ser empregada nos portos da Europa lá no início dessa história, os barcos tinham de ficar 40 dias isolados, para que só assim os tripulantes pudessem desembarcar. Isso deu bom e mostrou que a quarentena é uma medida muito efetiva.
. . Mas, ela costuma funcionar melhor quando você não está doente.
Quando ela começou a ser implementada individualmente, as coisas começaram a ficar estranhas, porque a eficiência simplesmente abaixou, isso acontece porque quando ela começou a ser implementada quase todo mundo já tava contaminado, mas não sabia. . .
aí realmente não tem muito o que fazer. Algumas cidades, ao invés de fazer quarentena entre os seus moradores, preferiram impedir a entrada de estrangeiros em seu território, o que foi mais eficiente, já que na maioria das vezes, o contágio podia acontecer de duas formas: Ou a doença chegava por pessoas que estavam fugindo da Peste, mas que já tinham sido contaminadas. Ou através de pessoas que participavam desse comércio entre as cidades, e que muitas vezes traziam a doença com elas.
Só que essa atitude de isolamento social contribuiu muito para o aumento do racismo e da xenofobia, prática que continuou mesmo após o fim da pandemia. Em cada lugar da Europa aparecia alguém tentando colocar a culpa da Peste Negra em um grupo marginalizado. Assim, ocorreram alguns ataques contra os chamados povos Romani, que eram pejorativamente chamados de ciganos.
E isso também aconteceu com os Judeus. Muitas comunidades judaicas tinham uma taxa de mortalidade menor do que muitos dos seus vizinhos cristãos, os antissemitas afirmaram que os judeus espalharam intencionalmente a doença, contaminando poços, rios e fontes. Isso ganhou forças graças a um hábito religioso judaico de sempre lavar as mãos antes das refeições, o que fazia eles evitarem possíveis situações de contaminação.
Esse fato fez com que a população achasse que os judeus meio que sabiam que tinha alguma coisa ali naquela água e era por isso que eles evitavam ela. Outro grupo muito afetado foram os infectados por outra doença: a Hanseníase. Em alguns lugares, essa doença ficou conhecida como lepra e por ter a sua aparência muito parecida com a da Peste Negra, algumas pessoas começaram a espalhar erroneamente que elas tinham a mesma origem.
Durante muito tempo a maior incentivadora para esses ataques foi a Igreja, que buscava um culpado pra tudo isso que tava acontecendo e, dentre os grupos mais afetados, o grande alvo foram os judeus. Acreditava-se que eles deveriam ser excluídos da sociedade para que essa Peste terminasse. Essa ideia foi alavancada pelo preconceito e por pessoas que pegavam empréstimos dos judeus e não tinham ou não queriam pagar de volta.
A perseguição iniciou na época em que a Peste Bubônica chegou ao sul da França, lá em 1348, onde muitos judeus foram queimados vivos. No total, foram exterminadas mais de sessenta grandes comunidades judaicas, além de outras 150 de menor porte. Isso fez com que ocorresse um grande êxodo dos sobreviventes para regiões como a Polônia e a Lituânia.
E eles se mantiveram nesses países, o que séculos depois iria culminar no extermínio promovido pelos nazistas nesses mesmos locais, durante a Segunda Guerra Mundial. Com a ineficiência dos massacres às essas minorias, a Igreja se via em uma situação crítica, com cada vez mais questionamentos sobre os métodos de controle dessa doença. Nesse contexto, a Igreja recorreu a uma consultoria da Universidade de Paris.
Nessa época, não existiam muitas universidades, muito por conta de conflito das instituições de ensino com a Igreja, porém algumas universidades como as de Bolonha, Paris, Montpellier e Oxford conseguiram impor gradualmente a sua aceitação. E foi da Universidade de Paris que surgiu a primeira teoria científica sobre a Peste. Segundo essa teoria, a Peste era transmitida pelo ar contaminado pelos fenômenos naturais, que eram causados pelas conjunções de planetas e cometas.
Acreditava-se que a conjunção entre Júpiter e Marte trouxe a peste, já que Júpiter teria formado vapores no ar por ser quente e úmido. Já Marte teria inflamado os vapores por ser quente e seco. E esse vapor inflamado causado pela conjunção desses planetas seria o causador dessa doença.
Os caras já nessa época estavam contaminados por uma doença muito pior do que a Peste Negra. . .
o horóscopo! Com o avanço dos meios de controle de contaminação, surgiu a imagem que representa a Peste até hoje: médicos com máscaras semelhantes a um bico de pássaro. Eles utilizavam esse bico para colocar ervas aromatizantes.
Naquele período, a teoria mais aceita era a Teoria Miasmática. . .
. você não sabe o que é Teoria Miasmática? É a teoria que fala que toda doença tem origem nos miasmas… você não sabe também o que é um miasma?
Pô, mas você não sabe de nada também! Miasma é literalmente o fedor causado por decomposição. Esse cheiro seria tão desagradável que causaria um desequilíbrio no paciente e acreditava-se que esse perfume forte poderia proteger da Peste, por isso as ervas aromatizantes nas máscaras dos médicos, que mesmo assim, morreram em grande número.
Além disso, outros métodos eram usados pela população como fogueiras em encruzilhadas na tentativa de interromper a contaminação, as casas dos doentes eram isoladas e seus pertences eram queimados, as janelas eram trancadas pra evitar o ar contaminado, cadáveres eram enterrados o quanto antes e a limpeza das ruas e mercados foi intensificada. Apesar da Teoria Miasmática não ter uma comprovação científica eficaz, ela, de uma certa forma, reduziu a contaminação por conta da higienização dos locais. Hoje, é muito fácil a gente olhar para toda essa situação e pensar: “Mano, como que os caras só não fizeram o básico?
! ” Mas pra nós, que já conhecemos a fundo essa doença, é muito fácil julgar. As pessoas não tinham a menor ideia de onde vinha a Peste Negra e muito menos como lidar com ela.
Foi somente muitos séculos depois, em 1674, que surgiu o primeiro microscópio. Nós não tínhamos a menor consciência da existência da vida microbiana antes disso. É o que dizem né: “As crises intensificam a ciência…” Tá bom, ninguém disse isso, mas é verdade!
A crise faz com que as pessoas comecem a entrar em desespero e o desespero faz o homem arrumar uma solução para o problema, quando a água bate na bunda não tem como não ficar atento e nesse caso aqui, não foi um aguinha não, foi um oceano inteiro. Então é de se esperar que tenhamos feito algum progresso. Capítulo 5 - “Avanços e impactos”.
Enquanto algumas poções de cura não tavam tendo muito efeito, algumas outras soluções secundárias começaram a funcionar. Uma delas, por exemplo, foi a de cortar os bubões que cresciam graças a Peste, isso fazia com que a secreção saísse e ajudava no tratamento da doença… se fosse hoje em dia ia ter ASMR espremendo bubão. Eles, basicamente, cauterizavam com ferro quente, alguns aplicavam folhas de repolho ou sanguessugas, alguns outros só cortavam a parada com uma navalha mesmo e (__).
Mas isso não foi o suficiente para mudar o destino final dos pacientes. Diferentemente do que muitos imaginam, a doença ia e voltava com o passar do tempo. Só no século XIV várias epidemias voltaram a ocorrer em lugares diferentes como Inglaterra, França, Bélgica e Itália.
A mortalidade desses países nunca mais seria igual a dos fatídicos anos de 1347 a 1350. A doença começou a perder força a partir da estruturação das cidades europeias, como um maior acesso da população a saneamento básico, água encanada e mudanças de hábitos ligados à higiene pessoal. Atualmente é possível tratar a doença por meio de antibióticos, porém mesmo nos dias modernos a Peste Bubônica ainda é uma doença extremamente agressiva, podendo levar o paciente à morte.
Com quase 200 milhões de mortos vítimas da Peste, a Europa se viu em um esvaziamento populacional de quase 40% de sua população. Essa perda teve um impacto direto na sociedade e na economia, causando uma escassez de mão de obra e mudanças nas estruturas sociais. Com a falta de trabalhadores, muitos camponeses migraram para áreas urbanas em busca de uma melhor condição de vida e aqueles que seguiram no campo sofreram por uma sobrecarga no trabalho.
Isso foi decisivo pro enfraquecimento do Sistema Feudal e o surgimento da classe média. Depois da Peste, por incrível que pareça, houve uma melhora na qualidade de vida da galera. Já que com a sociedade desinflada, havia menos bocas pra alimentar.
Isso fez o custo de vida diminuir muito, principalmente nas grandes cidades, onde os aluguéis ficaram mais baratos por ter mais casas do que habitantes. Toda essa experiência de sofrimento e contato com a morte, fez o ser humano encarar uma realidade brutal. Depois de muitos anos de desenvolvimento, a humanidade enfrentou de uma só vez os 4 cavaleiros do apocalipse: a Guerra, a Fome, a Peste e, por fim, a Morte.
A Peste Negra deixou marcas profundas na nossa história que são sentidas até hoje. Essa pandemia forçou o desenvolvimento da sociedade, nos fez dar saltos que não conseguiríamos antes e marcou para sempre a humanidade e o mundo como nós conhecemos. Talvez, até hoje, nós não tenhamos passado por uma experiência tão devastadora quanto foi a Peste Negra.
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Valeu, falou, um grande abraço do Tinôco e lembre-se: A existência é passageira. Tchau!