[Música] eu sou o avesso do que você sonhou para seu filho eu sou a sua filha amada pelo avesso sou uma mulher cirurgiada n sou uma mulher transsexual então meu nome é Eric Eu tenho 2 anos eu sou um homem trans a gente não é homem e travestir tampouco é mulher a gente quer justamente é causar essa confusão se eles são homem e mulher aal deles nós somos uma população diversificada dentro das nossas identidades orientação sexual desejo corpo e identidade de gênero podem ter múltiplas articulações na diversidade humana como vimos ao longo desta série As
pessoas TRANS e travestis ainda TM seus direitos condicionados a um diagnóstico médico e patologizado para terem acesso a vários direitos sociais e civis a autodeclaração de gênero não basta é necessário que um profissional de saúde ateste quem aquela pessoa é os temas eh da transsexualidade do travestismo né da intersexualidade são temas que pelo menos desde o século XIX da primeira Desde da dos tempos da primeira sexologia da primeira psiquiatria sexual né a psicopatologia sexual né tá do craft Eben são temas inscritos né na visão na Perspectiva biomédica e Especialmente na Perspectiva eh da psiquiatrização né
e da criminologia né da da psiquiatria criminológica né Eh também a experiência da diversidade sexual Foi um tema importante eh na antropologia contemporânea né antropologia do século XX né tentando identificar a variabilidade sexual dos dos grupos indígenas nativos né Eh e num certo sentido a vida e a experiência das pessoas transsexuais Travis e intersexuais eh estava dominantemente nesse registro né no registro biomédico no registro da da culturalização né ou da Visão cultural o que acontece dos anos dos 1990 para cá é um um deslocamento da maior relevância é que o tema da diversidade sexual né
em termos da identidade sexual seja orientação sexual mas também identidade de gênero da expressão de gênero né das expressões sexuais passam a ser concebidos debatidos eh disputados e contestados como temas de direitos humanos a gente tá falando de patologização de uma experiência a gente não tá falando só de um diagnóstico só de um Sid num laudo a gente tá falando de consequências reais pra vivência desses sujeitos a gente tá falando de que forma as pessoas vão ler essas pessoas esses sujeitos que vivenciam transsexualidade de que forma elas vão ser lidas nos seus comportamentos na sua
forma de agir no que elas estão falando em que legitimidade a voz Essas pessoas vão ter ao se consultar com o médico ao dizer do seu próprio corpo ao seus dilemas pessoais a forma como elas vão se relacionar mais ou menos agressivas mais ou menos emotivas vão ser lidas a partir desse diagnóstico então isso tem consequências na hora de arrumar o emprego na hora de acessar o Sistema Único de Saúde na hora de permanecer na escola então tudo isso vai ser influenciado por esse diagnóstico e a psicologia abraçou essa história de diagnosticar gênero será que
é mais fácil na nossa formação enquadrar as pessoas e rotular as pessoas como seres patologizantes ou ou seja colocar dentro da ciência da psiquiatria que essas pessoas são doentes não me acho doente né nem antes nem depois da minha cirurgia mas foi essa porta que possibilitou eu fazer a cirurgia que é a porta da saúde mental a minha experiência com a patologização Começou quando eu tinha uns qu ou 5 anos quando eu falei PR minha mãe ela que me conta isso né Eu não tenho aa memória mas ela conta que eu dizia que eu era
um menino e aí ela foi procurar ajuda de psicólogo que disse para ela que ela deveria se tratar ou que deveria ocorrer um tipo de tratamento no sentido de reverter de normalizar digamos eh isso que eu tava falando e eu acho que hã isso assim limita um pouco as possibilidades na época isso era início mais ou menos dos anos 90 né e tinha uma certa limitação em como um profissional da Psicologia eu acho lidaria com essa situação nessa época e eu acho que teve um impacto muito negativo para minha mãe por exemplo de receber assim
essa essa avaliação de um profissional de que ter como se tivesse alguma coisa errada da postura dela como se ela tivesse feito alguma coisa errada ou a família como um todo não só ela mas é especialmente em relação a ela e também para mim né que não que a a única possibilidade de existência de acordo com esse modelo de tratamento era eu não poder expressar essa identidade de gênero toda essa história que vem da relação de gênero a gente fica se perguntando porque eh o gênero foi diagnosticado nesse sentido as pessoas começaram a diagnosticar gênio
a partir da do binário é masculino e feminino porque menino é masculino menina é feminino e dentro desse link dessas relações entra a heterossexualidade a heterossexualidade só monta esse conjunto E quando a gente fala eu tenho uma amiga transsexual cirurgiada que passou todo o processo como eu passei mas ela é lésbica as pessoas tampa os ouvidos Para não ouvir isso como se fosse o crime do século e você mudou um corpo você transformou um corpo para ter relações sexuais com uma mulher por que você mudou o corpo e as pessoas não entend como é eu
me sinto como mulher a orientação sexual ou orientação afetivo sexual porque são as únicas pessoas que ainda fala sobre afeto amor prazer desejo né não tem nada a ver com o gênero eu acho que tinha alguns profissionais que atendiam ali que não tinham tido uma preparação anterior muito muito Ampla assim então tinham perguntas sobre vida sexual e práticas sexuais que eu achei que não eram não sei por seriam necessárias né pra compreensão daquela pessoa e tal e ainda emitindo opiniões sobre práticas sexuais que colocavam em dúvida se existia uma legitimidade ou não naquela afirmação de
gênero né isso não só para mim tiveram para outros também então você tem uma uma uma uma certa visão que ainda é hegemônica né que eh vê eh a experiência TR de uma maneira muito negativa certo parte disso talvez a parte fundamental disso se deve ao fato de que o modelo para se pensar o transgênero é o que se chama em psicanal o transexual verdadeiro né que é aproximado da Psicose né E que é o sujeito que efetivamente eh subverte radicalmente né a sua o a sua designação de gênero né dis não esse corpo não
é meu não posso viver com esse corpo enfim né enfim e isso é muito diferente de certas experiências trans onde o sujeito quer explorar exatamente as fronteiras né de gênero e as fronteiras e as fronteiras e as possibilidades do seu corpo eu sou a subversão Sublime de mim mesma sou que derrama o que transborda da mulher Só que essa mulher sou eu sou que excede dela ou seja sou ela com Plus com bônus sou a mulher que tem força de homem que tem o coração trabalhado no gelo que pode ser várias uma em cada dia
da semana o Ministério da Saúde autoriza desde 2008 que o processo transexualizador seja feito pelo sistema único de saúde o SUS em 2013 o serviço foi ampliado incluindo o atendimento a homens TRANS e travestis de lá para cá foram realizados milhares de procedimentos entre cirurgias de mudança de sexo retirada de mama retirada de útero plástica mamária reconstrutiva extensão das pregas vocais para mudança da voz além de terapia hormonal Estas são conquistas fruto de uma longa trajetória de luta da sociedade civil organizada mas ainda é preciso avançar e refletir Quais as consequências da obrigatoriedade do laudo
patológico na vida das pessoas TRANS e qual a qualidade do atendimento oferecido pelo SUS a gente tem cinco centros Alguns ambulatórios alguns ambulatórios que nem sempre consegue atender da melhor forma possível as colegas travestis porque aí Ah o ambulatório foi feito dentro do CTA porque elas têm aid Olha porque D não estamos falando de Saúde Mais uma vez estamos discutindo saúde então travesti não é AES transexual não é a louca que quer operar é tudo é saúde e é por isso a gente tem que discutir a desprotonação e a saúde integral dessas pessoas Então nós
temos muito temos centro de referência que faz cirurgia em determinados estados mas as filas estão quilométricas e qual é a qualidade de cirurgia que nós temos que cirurgia é essa que tá sendo feita qual a qualidade dessa cirurgia a partir de que que a gente tem um olhar sobre uma vagina funcional do outro e do homem não Nosa a minha colega transsexual Lés ela teve escolha opção de opção entre as de escolher a técnica cirúrgica que mais vai adequar-se a sua orientação sexual ao seu prazer a sua funcionalidade de ato e prática sexual isso tudo
tem que ser discutido chega lá e aí eles requisitam que tem que conversar com a tua família para muitas pessoas trans tô falando mais pro geral não nem experiência só né O contato com a família às vezes é muito difícil né Então tu pedir para falar com a família às vezes é Muito desconfortável porque às vezes as pessoas a família fala coisas ruins da da pessoa não tem uma boa relação E aí por que que tu precisa desse contato com a família pra pessoa que tá fazendo uma coisa para si né quem é que com
quem que o serviço tá falando se chama a família para falar sei lá da infância não sei o que que falam lá então às vezes eu fico com a sensação de que é uma procura por uma pessoa que falhou a sua existência em sinais em como que aquela história veio a não dar certo do que ouvir a pessoa que tá ali falando na hora né Não sei em 2003 o Brasil apresentou a extinta Comissão de Direitos Humanos da ONU um texto eh ousado e Pioneiro que foi a famosa resolução brasileira sobre orientação sexual e direitos
humanos era a primeira vez que um estado ia a uma Instância das Nações Unidas apresentar um texto de resolução incluindo o termo orientação sexual né o termo orientação sexual tinha sido discutido na conferência de Pequim de 1995 mas não por iniciativa dos Estados né foi o movimento feminista que levou o tema e na no debate final da conferência esse esse esse termo foi eliminado né E então isso foi 95 e 2003 o Brasil leva essa proposta de resolução PR Comissão de Direitos Humanos Mas é uma resolução sobre orientação sexual e direitos humanos que não menciona
identidade de gên os grupos trans as pessoas as Fas trans principalmente europeias naquele momento levantam uma interrogação em relação ao texto né de porque só entação sexual e não identidade de gênero né e eh e o a minha observação para você aqui é que quando essa proposta foi feita quer dizer que os grupos trans dizem essa essa resolução é super importante super bem-vinda Mas ela é insuficiente havia um falta de conhecimento de informação e de compreensão do que era a identidade de gênero os diplomatas não entendiam qual era a demanda ativistas feministas não entendiam qual
era a demanda né e enfim era um era um quase que um enigma Qual é a diferença entre não é mesma coisa e não era uma coisa de ma fé das pessoas né as pessoas realmente não não tinham a compreensão né do significado da questão da identidade de gênero né dessa dissonância né entre a experiência de gênero de alguém e sua condição corporal anatômica eu acho que a gente tá no momento de repensar O que que a psicologia tem feito dentro do processo transexualizador ou do acompanhamento de pessoas trans dentro dos sistemas públicos de saúde
acho que tá na hora da gente começar a pensar que fronteiras a gente tá tá segurando aí como profissionais da Psicologia fronteiras entre normalidade e anormalidade ou será que a gente tá construindo com conseguindo construir espaços de subjetivação para que essas pessoas se sejam se sintam mais empoderadas frente a um diagnóstico se sintam mais empoderadas frente à diversas violências que elas vêm sendo submetidas aí tanto no tratamento como no no na própria vivência social desses sujeitos a gente não pode desconsiderar esse tema dentro da hipótese de que é desprotonação de gênero mas a integração e
a saúde integral dessa população vê-las como pessoa não só como uma cirurgia porque elas entram por uma porta da saúde mental Ah sim vocês são doidinhas vocês não são boas a cabeça que vocês querem arrancar um óo para se sentir bem como se a gente falasse em vagina 24 horas por dia o que não é fato e como se a gente pensasse em sexo 24 horas por dia que também não é fato né A A ideia é a gente pensar a saúde da gente o que é preciso fazer é trabalhar muito muito muito com as
populações que estão no Sistema Único de Saúde trabalhando com esses profissionais desse sistema único e obviamente que só nós a sociedade civil não temos pernas para chegar nesses espaços porque são muitos mas a gente deveria contar com mais apoio dos governos federal estadual e municipal para poder fazer então esse trabalho de sensibilizar sensibilizar essa população porque tem muitos serviços que não é pela questão moral religiosa Talvez eu até acho mas é porque as pessoas ainda não aprenderam a lidar e tem muito serviço assim não aprenderam a lidar com a nossa população Olha só que coisa
como se fôssemos uma população que o juiz de Cuiabá uma vez definiu como pessoa de difícil identificação científica com hábitos noturno Eu acho que isso tem muita gente que leva ao pé da letra E aí não sabe lidar mas como é que não sabe lidar com o ser humano que chega lá como é que é preciso aprender a lidar com um ser humano com uma pessoa que tem um social feminino e biológico masculino Será que as pessoas não sabem as pessoas não tá vendo o biológico Tá vendo só o social então a a a a
forma que a gente diz mais tranquila de lidar com o ser humano é humanizar esse relacionamento é colocar-se no papel do outro que está na sua frente é tentar entender que aquela pessoa quando procura um problema um serviço de saúde ela já está debilitada psicologicamente porque tem o mal que está lhe causando E se ela chega nesse serviço e encontra ainda uma barreira de impecílio para ela adentrar ela vai sofrer muito mais e no sistema internacional eh em 2006 um grupo de ativistas e especialistas em direitos humanos se reúne na Indonésia uma cidade chamada Yo
carta e produz um documento que se chama os princípios de yoia carta para a aplicação da Lei internacional de direitos humanos à orientação sexual e identidade de gênero e eu tive o privilégio de participar desse grupo de especialistas eh e esse documento recorre a textos consagrados Direitos Humanos das adotados pelos Estados né convenções e tratados e aplica essas definições a situações em que há violações de direitos humanos das pessoas em razão da sua orientação sexual ou da sua identidade de gênero eh esse documento foi lançado no conselho de direitos humanos em março de 2007 alguns
meses depois teve um lançamento em Nova York também na na na em Nova York foi traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e mais importante eu acho ele teve tanto significado que em menos de um ano ele tinha sido traduzido voluntariamente em mais de 40 línguas locais quer dizer além das seis línguas pessoas nos níveis locais Tailândia eh tamil eh e a língua do sri Lanca uma iniciativa realmente porque o documento chegou aos corações e mentes das pessoas né O que quer dizer que o debate não tava só no plano internacional mas nos níveis
locais as pessoas estavam incorporando uma pauta de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero eh isso Vai resultar em desdobramentos de legislação Nacional está em curso a reforma da classificação internacional de enfermidades a que é um documento estruturante de como se pensa a psicopatologia no mundo a classificação vigente eliminou a patologia de orientação sexual mas Manteve 15 distúrbios relacionados à identidade de gênero grupos de ativistas transexuais e travestis estão pressionando para que essas categorias sejam despatologização alguns países já consideram a despatologização das identidades TRANS e travestis Um Bom exemplo de lei
que respeita o direito à identidade de gênero e a autonomia das pessoas trans está aqui ao nosso lado na Argentina eh os nossos queridos e queridas ativistas argentinos né que a partir dessa mobilização e no contexto argentino aonde o tema dos Direitos Humanos é um tema caro à sociedade né em razão da da do processo de Justiça de transição né Por causa da ditadura Militar do tema dos desaparecidos onde o tema da identidade do direito à identidade é um tema gravado né na cultura política por causa dos desaparecidos dos filhos desaparecidos que buscam sua identidade
os ativistas e as ativistas argentinos eh aproveitando o o o momento em que tava em Pauta a questão do Casamento igualitário né com muita entusiasmo né na sociedade e no Parlamento também e elaboram uma lei eh de direito à identidade de gênero que é uma lei exemplar né Ela é exemplar porque ela dá o direito de mudança eh da identidade legal e social seja nome certidão de nascimento documentos de identidade e outros documentos oficiais eh como um direito e sem o requisito do diagnóstico ou requisito de qualquer modificação corporal cirúrgica hormonal se a pessoa sendo
maior de idade tendo 18 anos ela vai ao cartório ela pede a mudança do seu da sua certidão de nascimento ela vai à instâncias oficiais que que emitem os documentos de identidade e ela terá acesso a isso porque eu acho que ainda tem hierarquia gigantesca ainda em relação aos saberes a medicina aindaa sendo a voz final nas negociações inclusive sobre processo transexualizador no Brasil isso tem sido um problema uma vez que a gente sabe que as discussões sobre transsexualidade nas escolas de medicina ainda São simplesmente a partir do diagnóstico a gente ainda tá muito longe
de conseguir pensar a experiência trans nas formações em medicina como uma possibilidade eventualmente eu tive outras experiências com psicólogos psicólogas que foram melhores assim Acho que ajudaram a eu poder me estabelecer no futuro depois como homem trans mas acho que a discussão sobre despatologização tem a ver com isso como os psicólogos profissionais da Saúde Mental em geral né tem a possibilidade de ajudar de a pessoa a a encontrar a sua forma de se expressar de viver de decidir o que quer fazer com o seu corpo sem ter como único modelo de orientação esse que diz
que as pessoas que estão falando isso tem algum tipo de transtorno o debate sobre despatologização ele ainda é Um Desafio no mundo acadêmico tem setores da Psicologia que estão topando esse debate tem setores da Psicologia que tão tratando a transsexualidade hoje em dia como uma experiência e não só como um diagnóstico e colocando mesmo em debate critérios para despatologizar entender esse sujeito que tá do outro lado da mesa de uma outra forma como alguém possível e Capaz como qualquer outro para dizer da própria experiência ou mesmo para teorizar dentro da academia e ser um pesquisador
e ser não só o sujeito que a gente diz sobre mas alguém que tá pensando e produzindo junto com a gente talvez vocês os profissionais trabalham um pouco mais com a razão e nós não queremos ter razão nós queremos ter emoção nós queremos ter realmente aquela paixão pelo que a gente faz porque a gente acredita A gente é vive de utopias e a gente acredita nelas mas vocês não vocês têm a razão você tem a sensibilidade de coordenar cada situação e ainda mais a sensibilidade de conviver com essas divergências todas que vocês têm dentro dessa
profissão que eu acho que é muito difícil de ainda ter uma parcela de vocês e uma parcela muito grande a nosso e eh pra nossa felicidade de pessoas que estão sempre sensibilizadas pensando sempre no bem-estar do outro e nós do movimento social especialmente da antra antra tem estabelecido uma parceria com alguns conselhos muito muito sólida e a gente vem ratificar que isso é muito bom e que tomara que esses documentários Tomara que essa questão da despatologização a gente consiga vencer e tomara que a gente consiga vencer também o golpismo que tá instalado no Brasil porque
aí vai ser melhor para todo mundo vai ser bom para todo mundo que a gente reestruture a nossa restaure a nossa democracia e que a gente possa Então dentro das nossas divergências e convergência continuar avançando para melhorar o Brasil que acho que é para isso que cada um de nós tá trabalhando Anda aqui [Música] agora