novelo Ráo novelo novelo para cada ouvinte que nos escreve criticando os sotaques dos membros da equipe da Rádio novelo ou nos alertando que os roteiros no site estão em português errado eu tenho vontade de mandar de presente um exemplar do livro latim em pó do escritor e professor da Federal do Paraná Caetano Galindo porque nesse livrinho delicioso de ler Ele explica como ninguém porque o nosso português é como é porque é super Ok misturar nós com a gente às vezes na mesma frase como eu costumo fazer porque falar os carro e dble é exatamente o
que se espera do falante de português do Brasil a gente come o r final dos infinitivos como na palavra comer que nunca na vida saiu da minha boca como comer independente da formalidade da situação e a gente também enrola o r chamado de R caipira em muitas regiões do Brasil e tá tudo certo e também não adianta reclamar porque a língua é Nossa e a gente faz com ela o que quiser e não interessa o que manda a chamada Norma culta e mesmo quem acha que usa a tal Norma culta também faz tudo isso aí
e mais dependendo da região onde nasceu então já que não dá para virar Central de distribuição do latinho em pó eu fui lá conversar com o Caetano para ele explicar isso tudo pra gente a gente falou também de linguagem neutra e sobre a influência das línguas africanas no nosso português aqui o Galindo cita a professora Ieda pessoa de Castro que graças ao nosso jeito de encurtar tudo na entrevista apareceu só como Ieda e ele contou sobre o trabalho dele como tradutor de obras muito difíceis de traduzir e até de ler no original mesmo como o
de James Joyce e graça infinita do David Foster Wallace ele também traduziu TS Elliot Thomas pinchon enfim o cara gosta de uma encrenca e sabe explicar essas encrencas de um jeito Claro sem condescendência e com muito senso de humor espero que vocês gostem e escuta eu queria te fazer uma pergunta de curiosidade minha porque eu vi uma entrevista tua em que você com que você lê andando como é que você não D com a cara no poste ah prática eu tinha 12 13 anos de idade quando eu comecei a fazer no começo eu andava devagar
andava meio que levantando os olhos para fazer um Scan around mas hoje eu meio que desenvolvi uma visão periférica padrão assim eu leio de boa li 47 páginas vindo para cá agora de casa se eu não fizesse isso Eu praticamente não Lia mais com o tipo de rotina que a gente tem eu leio andando com o cachorro basicamente e trajetos pequenos agora que eu que a gente se mudou para mais longe da Universidade acho que eu vou ler mais primeira vez que eu ouvi falar disso foi uns anos atrás que eu li um livro de
uma escritora irlandesa que ganhou o booker há um tempo atrás chama Anna burns mas o gatilho para tudo que acontece no livro é o fato de que ela Leia andando e como ela tá em Belfast no auge da confusão lá no auge dos troubles qualquer atitude que você tenha que seja um pouquinho fora do padrão chama atenção para você e tudo que você não quer especialmente sendo uma jovem mulher você não quer chamar atenção de forma alguma para nada e como ela lê ela gosta muito de ler e ela lê andando todo mundo acha isso
esquisitíssimo e isso chama atenção para ela e aí meu filho desencadeia uma série de acontecimento e quando eu vi você dizendo isso eu falei gente agora são duas pessoas que eu sei que anda porque eu fui pesquisar a autora depois e ela conta numa entrevista que ela anda lendo na rua e que ok que funciona que ela também também não dá com a cara no poste e dá tudo certo eu passei a minha vida explicando isso e as pessoas achando bizarro e agora todo mundo anda com celular na mão e eu não ando com celular
na mão Aquilo sim desconcentra responder mensagem aquilo se concentra eu já tropecei respondendo o celular mas lendo nunca tem toda a razão todo mundo anda lendo na verdade porque não um livro né É É verdade sobe escada e aí então Eu dividi assim em duas partes primeiro falar do latim e pó e depois de questões de tradução mas dá para misturar também uma coisa com a outra né e eu queria que você explicasse Por que você escreveu latim em pó e também o que que é o latim em pó né pros ouvintes que não sabem
o que que é o latim em pó tem a ver com Felipe Rich tem a ver com o convite dele para participar de um espetáculo que viria a ser o língua brasileira que estreou em 22 em São Paulo Começou assim você quer participar de um projeto maluco sobre a história da língua portuguesa a partir de uma canção do Tom Zé Como é que se diz não para um negócio desse né e eu comecei a trabalhar com eles isso logo antes de eclodir a pandemia o projeto acabou indo pra geladeira durante dois anos inteiros só que
durante esses dois anos a gente trabalhou muito eu escrevi dezenas de páginas PR os atores eu mandei horas de áudio para eles a gente conversou sobre todo tipo de coisa fui meio que afiando essa possibilidade de explicar a história da língua e linguística histórica para um público de não especialistas quando a peça estreou o Felipe foi chamado para fazer a curadoria de uma ocupação do Museu da Língua Portuguesa eu participei disso também ele filmou esse evento e lançou documentário chamado Nossa pária está onde somos amados o tomon Zé acabou durante esses dois anos Produzindo um
disco inteiro de músicas relacionadas ao espetáculo que também se chamou língua brasileira e quando eu vi essa maré de coisas acontecendo Eu Consultei a editora companheiras letras Se Eles teriam possibilidade de lançar meio a toque de caixa um livro pequeno que eu escrevesse sobre esse assunto E aí eu escrevi o livro correndinho a editora comprou essa ideia amalucada e o livro foi lançado em janeiro de 23 como culminação desse projeto né Por que que o latim Qual é como é isso tem a ver com o fato de que eu tô H 27 anos dando aula
de linguística histórica na Federal do Paraná e nesse tempo Ah a minha área de atuação foi mudando cada vez mais para perto do português do Brasil de início era linguística românica Depois virou a história do português Hoje é mais história do português do Brasil reformas curriculares e alterações desse tipo e acabou que eu fui me interessando cada vez mais pelo português Brasil e com a repetição né todo semestre dando essa mesma disciplina para para um público diferente eu fui meio que depurando um jeito meu de narrar a história de como se formou o português do
Brasil foi por isso que foi possível escrever esse livro tão rápido porque eu sentei e dei a aula que eu dou paraos meus alunos eh por escrito durante sei lá duas três semanas que foi o tempo de redação original do livro e acabou que esse livro virou o que ele é que é essa visão de certa forma nova decorrente de trabalhos muito recentes das últimas décadas né do do Brasil sem ter vergonha de ser um livro com uma bandeira uma agenda política que é eliminar o complexo de viralata fazer os brasileiros deixarem de ter vergonha
do que é efetivamente nosso na nossa língua e no meio do caminho mostrar para as pessoas o quanto essas coisas de que a gente foi ensinado a ter vergonha são quase sempre consequências da presença negra na história do Brasil e na nossa língua é muito curioso e nada surpreendente né você deslindar esse negócio todo e perceber perceber que quase tudo que foi martelado na nossa cabeça como feio Tosco caipira vergonhoso no fundo é negro ou é decorrente de alguma maneira da presença negra no Brasil então é um livro que quer dizer uma coisa é um
livro que quer dizer vamos parar de ter vergonha do que a gente efetivamente é vamos entender o que a gente é e vamos entender porque nos fizeram ter vergonha durante tanto tempo é você fala muito da ideia né de que para começar existe um bom português né algum lugar onde se fala esse português mítico que seria o melhor Português o Português mais correto e a gente vê isso muito na radion novelo porque uma das coisas que você tem que aprender quando você vai fazer podcast é ler como se fala escrever como se fala então a
gente tem no nosso site as transcrições de todos os nossos podcasts inclusive do rádio novela apresenta que é um podcast que tem roteiro então tem o áudio das pessoas entrevistadas e tal entremeado de roteiro com locução e essa locução é lida Mas ela é lida como se não tivesse sendo lida Então ela é escrita como se não tivesse sendo lida então a gente escreve tá C come o o r final das palavras né e eu vi que você fala disso também comer falar né esse jeito que a gente fala que a gente come o r
final que você explica de onde vem que vem de línguas africanas e a gente de vez em quando recebe reclamação de ouvinte dizendo vocês não sabem que em português não é assim a gente não fala tá a gente fala está a gente não fala ser a gente fala você minha vontade é que eu tivesse assim uma pilha de latinha em pó para mandar para cada ouvinte que reclama sabe cada pessoa que vai na rede social reclamar porque outra coisa que as pessoas reclamam de vez em quando é sotaque enfim a gente tem gente com sotaques
do Brasil inteiro né mas as pessoas reclamam especialmente do sotaque carioca e reclamam do R chamado de R caipira e você explica isso né tanto a questão de que a gente fala sim tá ser comer falar quanto o r explica aí pra gente cara língua é luta de poder é disputa de espaço uma grande estrutura social política cultural que não é determinada regrada legislada por ninguém ninguém tem controle ninguém tem poder de polícia real sobre o idioma o idioma existe nesse empurra empurra de forças diferentes buscas de espaço de representação de tolerância e e é
bonito de ver isso né essa grande estrutura social que vai evoluindo vai mudando aos poucos na briga com os falantes se empurrando de um lado pro outro isso faz com que qualquer idioma do mundo qualquer Grande idioma do mundo especialmente temha lá seu conjunto de Mitos inclusive né as pessoas criam algumas narrativas criam algumas explicações simplórias simplificadas em geral para justificar suas próprias posturas isso não é novidade no português do Brasil ah o que é novidade do português do Brasil é um dos lugares de onde acaba surgindo boa parte desses nossos mitos que é essa
curiosa origem bipartida da nossa língua o fato de que a gente vive num país que durante séculos foi mastigando digerindo e criando uma sua própria versão da Língua Portuguesa em Estreito contato com falantes de povos indígenas depois com falantes africanos escravizados gerando uma versão Nossa da Língua Portuguesa que é aquilo que normalmente a gente vai encontrar falado nas ruas falado eh em situação dist extensa em situação não monitorada como se diz na linguística só que a nossa variedade formal a variedade da escola a variedade da literatura ah como em todo o idioma é diferente dessa
isso é tranquilo só que na maior parte dos casos o que acontece é que essa variedade formal é resultado de um processo em que alguém vai lá escolhe a fala de uma região em geral de uma elite sócio político econômica dá uma escovada nela um banho de loja e ela se torna essa Norma culta no português do Brasil o que aconteceu de muito curioso foi que a gente não fez isso a gente voltou pra Europa e pegou a norma dos Portugueses e reimport para cá Inclusive a gente exportou para lá nossas elites a gente mandava
as pessoas estudarem em Coimbra a gente importava os nossos intelectuais de lá e a gente criou com isso uma realidade meio bilíngue na história do Brasil a gente tem um português pé no chão que criou-se aqui que surgiu aqui que se desenvolveu aqui e a gente tem esse outro português que foi fazer intercâmbio no exterior e voltou esquisitão uns 200 anos depois e cheio de ideias e a gente tem aí sim o típico complexo de viralata muito brasileiro que é que a gente paga um pau desgraçado para essa Norma escolar Nobre chique importada e a
gente abomina todo o resto e o todo o resto somos nós né a gente se auto abomina tudo que é nosso especificamente é isso que você falou é ser tá fazer comendo perto todas as coisas que são lindas de um ponto de vista de diversidade linguística e que a gente acha muito maravilhoso quando a gente estuda francês italiano inglês estuda a fundo e descobre Nossa no Canadá se fala assim na Provença se fala desse jeito a gente acha maior bacana quando é nas línguas bacanas brancas e europeias quando é com a gente é tudo analfabeto
rastaquera fuleiro ordinário aí a gente não percebe que isso é variedade Eu vi você falando que com latim em pó você queria provocar nos leitores espanto assim o mesmo tipo de espanto que você sentiu quando você começou a estudar linguística porque é uma coisa gozada quando você entende um pouquinho de linguística porque você tem um conhecimento técnico sobre algo que pertence a todo mundo então todo mundo tem o direito de ter opinião sobre a língua né E às vezes a opinião ela não condiz justamente com o conhecimento linguístico que você tem como pessoa que estudou
linguística né então dá uma certa aflição assim você entender de linguística e eu vi as pessoas falarem essas barbaridades que você tava falando agora né eu queria saber dos seus leitores e das lives que você fez o que que mais espanta eles no seu livro Quais são as surpresas e eu sempre digo para conhecidos meus que vêm das ciências exatas sei lá da física da matemática e que estão lutando agora nesse mar de fake News e e em que as pessoas acreditam que T direito a sua opinião opão sobre qualquer assunto né sobre radiologia sobre
qualquer coisa e eu digo bem-vindo ao nosso mundo na linguagem a gente tá convivendo com isso a 200 anos né chas pessoas e diz cara a gente estuda esse negócio eu tenho uma opinião que de repente você devia levar em consideração mas não qualquer um tem direito a dar uma opinião sobre o seu próprio idioma e eu não posso negar isso né a língua é uma coisa constitutiva demais de quem nós somos e do nosso dia a dia e daí chega um maluco e diz não você tá entendendo tudo errado é complicado agora o problema
é que esse maluco eu o maluco que tem que dizer essas coisas pras pessoas na verdade não tá querendo disputar espaço de autoridade com a opinião que as pessoas têm do seu próprio uso de língua tá querendo disputar espaço de autoridade com outro maluco que é o cara que vi sentado numa cadeira de ouro e que diz um monte de mitos e verdades feitas e que todo mundo engoliu durante muito tempo isso que as pessoas têm que entender que quando a gente chega com esse saber codificado da linguística não é contra elas que a gente
tá lutando a gente tá lutando é contra esse outro não saber cristalizados da sociedade há muito tempo que elas estão comprando sem nem saber mas o que eu sei fazer eu acho como professor e como autor nesses casos é pegar o leitor pela mão e dizer vem comigo e olha se isso aqui não é muito louco compartir esse entusiasmo esse espanto essa esse maravilhamento mesmo diante de certas coisas da linguística da literatura no caso do latim pó do nosso idioma né chamar a atenção das pessoas para isso eu acho que isso é poderoso acho que
isso tem um um papel a cumprir né e eu acho que tem cumprido no caso do latim em pó é eu me lembro quando eu comecei a estudar linguística uma das coisas que eu mais gostei foi o poder do falante nativo entender que linguisticamente cientificamente o falante nativo tem muito poder os cientistas vão todos parar e ouvir não essa pessoa é a falante Nativa dessa língua eu tenho que acreditar no que essa pessoa tá falando entender que é assim que se fala e aí a partir daí explicar isso é uma coisa maravilhosa que você entender
que você é poderoso com relação à tua própria língua né isso acho uma coisa maravilhosa eu adoraria que todo mundo entendesse isso tomasse posse da sua própria língua para não ter vergonha a gente vê as pessoas dizendo Ah eu tentei Muito muitos anos mudar o meu sotaque às vezes depois de anos a pessoa não recupera mais aquele sotaque né que é o que dava caráter é o que dava identidade é o que ligava pessoas suas origens a sua família aos seus afetos de infância e você perder isso de propósito porque é a única maneira de
você e se encaixar é uma coisa triste né então o teu livro meio que recupera isso pras pessoas por isso que eu tenho vontade de dar para esses ouvintes que me escrevem para dizer para eles não vocês estão enganados mas é normal tá certo você estaram enganados é assim que vocês foram ensinados não tem nenhum problema vocês estarem enganados mas tá aqui ó eu sou formado em francês na universidade e eu eu estudo um monte de língua estrangeira Eu gosto de estudar língua estrangeira todos os franceses falam os plural a língua francesa gerou Exatamente esse
mesmo mecanismo há séculos mas em francês é uma coisa bacana que a gente aprende como uma curiosidade no dialeto do caipira brasileiro é uma coisa feia e tosca todos os dinamarqueses falam cantando em comparação com eles todas as sequências de letra n d na escrita no dinamarquês viraram só n eles ainda escrevem ND em boa parte dos casos Mas eles falam só igual a gente igual o estado de São Paulo interior de Minas mas em dinamarquês é só uma realidade da língua por que que essas coisas no português transformam automáticamente em tosqueira elas estão marcadas
sociologicamente são pessoas sem acesso à escolaridade ou pessoas em situação de informalidade que usam essas Mas isso é normal é assim funciona na história das línguas mas não tem nada de intrinsecamente ruim nessas coisas né Eu acho que esse tipo de coisa a gente precisa entender para entender Qual é o grau da mentira que as pessoas engoliram durante muito tempo e isso que você falou eu acho crucial e eu acho que a geração atual tá fazendo muito melhor do que a nossa e muito melhor do que todas as outras inclusive envolve um grau de representatividade
tipo hoje você consegue entrar na televisão ir na internet a internet fazendo muito isso YouTube as outras redes sociais e você consegue encontrar gente que fala como você fala e que não necessariamente passou por um treinamento ou sentiu que precisava passar por um treinamento para perder as suas marcas locais ah Fulano Fala perto e ele vai até o fim da carreira dele falando perto e tá tudo bem não tem problema Você assiste série na Netflix você ouve 17 sotaques de inglês por que que a gente só tem que ouvir um sotaque de português brasileiro a
e veja mesmo nos Estados Unidos na Inglaterra Isso foi um caminho demorou para chegar lá é é ainda tem preconceito linguístico né ainda existe né mas hoje já é bem mais tolerável né você inclusive estão tolerando muito bem inclusive misturar atores de procedências variadas num mesmo elenco Sem explicar eh esse dado que é tudo muito novo e isso começa a acontecer por aqui também jornalistas repórteres locutores a gente começa a ver uma flexibilização uma quebra dessa muralha de um padrão que durante muito tempo foi carioca mas que em alguma medida sempre foi não caipira não
sulista não me destino e agora isso começa a se quebrar eu acho lindo que acontece é durante muito tempo foi carioca depois passou acho que i a ser mais Paulistano né E aí tem alguns sotaques que são fetichizados que também não é bom daí você diz ah esse sotaque é tão fofinho esse sotaque é tão charmoso enfim sotaque é sotaque né todo mundo tem né e ele tá muito ligado à sua identidade né o seu sotaque o meu sotaque o meu sotaque Tá super ligado à minha identidade eu acho gozada pessa reclamar do meu ST
carioca eu vou falar como eu falo mesmo não tem é como reclamar sei lá da tua cor de pele do teu cabelo meu nariz é quem eu sou eu falo assim eu eu vim de fábrica desse jeito né Eu aprendi a falar desse jeito mas a gente tem que conviver com isso uma vez aí no Rio de Janeiro eu passei por uma história que eu sempre conto logo na época daqueles acampamentos na frente dos quartéis e e eu tava de carona com os professores da da Federal Fluminense e a gente passou num desses acampamentos e
alguém comentou uma coisa e tal e eu tava no banco de trás e eu fiz um comentário irônico Como se eu tivesse apoiando aquilo que era obviamente irônico a gente já se conhecia a gente já sabia quem nós éramos mas rolou um silêncio no carro assim e de repente o motorista carioca Falou cara eu sei que era piada mas com o teu sotaque ficou tão violento ah uau E aí é momento que eu percebo cara eu carrego Curitiba eu saio daqui eu chego no Rio de Janeiro eu sou do sul eu sou o Curitibano eu
venho desse lugar distante e amedrontador a gente não se dá conta disso quando está em casa a gente se dá conta diso quando sai e a possibilidade de sair de encontrar outros falantes outras normas outros ataques é que tá aumentando muito as pessoas fazem isso virtualmente você consegue encontrar gente que fala outros portugueses o tempo todo e isso só tá fazendo aumentar essa tolerância né ao contrário do Espírito Curitibano é isso em podcast é fundamental dá textura há uma história que você vai contar se você tem vários sotaques diferentes é muito bom fica lindo fica
ótimo dá muito mais graça fica mais interessante a história que você tá contando e uma coisa que você fala no livro que eu achei super interessante sobre a influência das línguas africanas e indígenas no português é que a gente costuma pensar assim que essa influência é só no léxico né só no vocabulário tudo que chama Ita e todos os nomes de comida e os nomes sei lá de danças e coisas assim que seriam de origem indígena ou de origem de línguas africanas Mas você explica que a influência nesse sentido é enorme você usa uma frase
que você diz que o léxico é a parte mais barata da linguística histórica né da evolução de uma língua eu queria que você explicasse isso e explicar Quais são as influências estruturais realmente dessas outras línguas no português o léxico o vocabulário é a epiderme do idioma é por isso que as pessoas têm as duas coisas né pronúncia e vocabulário são as duas coisas sobre as quais os falantes leigos mais se pronunciam com as quais eles mais se incomodam são as duas maiores fontes de fake News e memes e etc pronúncia ainda não gera tanto meme
né porque não funciona tão bem como imagem por escrito mas é a parte barata é a parte que muda muito rápido é a parte que se altera fácil na história do idioma qualquer contato Cultural de um grupo com o outro gera troca de palavras gera empréstimo gera alteração já a possibilidade de uma alteração estrutural na fonologia ou seja aqueles sons que representam mudança de significado e não são só mera escolha ou Alternativa de parte falante na morfologia na sintaxe na gramática na estrutura do idioma isso é muito raro os idiomas muito raramente se deixam influenci
nesses níveis essas partes são duras são núcleo da estrutura do idioma o vocabulário não o vocabulário é é a parte que risca fácil que se altera fácil que perde palavra o tempo todo ganha palavra o tempo todo é por isso que por exemplo os grandes dicionários hoje o Oxford English dictionary por exemplo não só não é mais um livro e tá online como você faz uma assinatura de fato Ah porque ele tá permanentemente renovado todo dia ele tá sendo alterado palavras estão entrando definições estão mudando palavras estão saindo é assim que funciona nessa parte leve
da estrutura do idioma Lógico que nessa área o português como uma língua que teve e o português brasileiro como uma língua que teve muito contato cultural tem muito contato linguístico a gente tem palavra de tudo que é idioma no nosso dia a dia desde suique a manequim a esfirra qualquer cultura com que a gente teve algum contato por livro ou pessoalmente pode ter imprestado uma palavra para nós a influência mais profunda desses idiomas indígenas e e da África Negra no português do Brasil já é uma coisa mais interessante na hora que a gente percebe que
por exemplo o dito r retroflexo esse dito R caipira do perto da porta Muito provavelmente é de fato uma sobra de uma tentativa dos falantes das línguas Tupi e dos falantes do ineng gatu a língua geral da Costa Paulista de produzir um som que eles não tinham no inventário fonológico deles uma confusão entre o l e o R que gerou esse som diferente para nós então aí a gente tem uma coisa mais interessante é inventário dos sons da língua que tá mudando quando a gente pensa que algumas características das línguas banto podem explicar tanto o
nosso problema com encontros consonantais o fato da gente dizer pneu e dizer ritmo em vez de dizer pneu e ritmo que ninguém fala pelo amor de santo de Deus ah a gente ter problemas com palavras com encontros consonantais consecutivos como problema e como drible porque a gente fala pobrema né dble Eu acho ótimo que a pessoa que desce a cacetada em quem fala pobrema fala dble tudo bem quando tá cometendo no futebol ah é verdade Quanto é quanto o fato de a gente eliminar esses RS de infinitivo fazer comer pedir todas essas coisas podem ter
a ver com o tipo de padrão silábico que existe nas línguas banto as línguas banto não aceitam um padrão silábico que não seja consoante Fogal consoante Fogal consoante Fogal tipo tudo isso pode ter vindo de por assim dizer um sotaque como esses africanos aprenderam o português eu aprendo inglês você aprende alemão hoje a gente aprende filtrado pelo nosso idioma quando a gente aprende adulto imagina se aprender adulto em condições para lá de adversas e para lá de emergenciais como os os escravizados tinham que aprender Então essa filtragem do idioma português por essas pessoas pode representar
uma explicação viável para várias características da nossa gramática não vamos nem falar da Nossa prosódia do nosso amor pelo vocalismo por exemplo o português europeu tá eliminando as vogais da língua e a gente mantém as vogais muito plenas mesmo Você S gente falando então PR maior parte dos brasileiros parec um espanhol falando porque tem todas todas as vinhas nos seus lugares sem nem chegar a retórica a discursividade o quanto a gente tem dessas culturas orais e das culturas africanas professora Ieda gosta de lembrar que Ah até ela cita aquele abraço do Gilberto Gil a música
que no momento tem um hum ela diz cara isso é negro africano isso você não encontra em culturas europeias e brancas essa reação meio melódica meio não linguística e é super brasileira e é super a nossa cara né Daqui a pouco a gente volta na segunda parte da conversa com o Caetano a gente fala sobre tradução um tema que interessa os dois e como ele gosta de encrenca a gente já abre esse bloco falando de um assunto que causa bastante controvérsia a linguagem neutra eu não ia te perguntar sobre linguagem neutra porque perguntar sobre linguagem
neutra PR linguista é meio irritante mas eu vi você dando uma resposta tão boa e eu passei a adotar devo dizer tá mas eu dou crédito Então eu queria que você desse essa mesma resposta aqui pra gente poder ter é porque até você falou não ia te perguntar da linguagem neutra ia dizer Seria a primeira vez que um profissional da linguística está em alguma situação pública no Brasil nos últimos anos e não é abordado sobre isso né eu não ia perguntar justamente porque eu acho uma chatisse entendeu quando me perguntam e eu tenho uma resposta
técnica para dar que Não convence ninguém chateia todo mundo só irrita todo mundo não é exatamente o que eu penso Apesar de eu saber que Tecnicamente eu tô corretíssima e eu ficava sem saber o que responder então eu me esquivava dessa pergunta mas quando eu ouvi você respondendo eu falei ah bom então tá ok vou dizer isso também eu acho que a coisa Começa por aí né todos os profissionais de linguística tê que abordar essa questão em qualquer debate público hoje e eu tenho dito muito isso pros alunos Ah é uma situação nova uma situação
em que a sociedade brasileira como um todo está tematizando um problema de língua sem olhar para Portugal sem olhar necessariamente pros padrões dos livros é é língua viva é língua em uso agora é briga na Ágora as pessoas estão querendo determinar como é que a língua vai ser e isso é maravilhoso que aconteça e além de tudo eu acho maravilhoso que essas entre muitas aspas minorias já ganharam a batalha mais importante elas conseguiram visibilizar o seu problema e é bizarro né Na hora que você vai falar de espaço na sociedade representatividade política e tal ninguém
presta muita atenção mas você quer mexer no todis aí parece que você mexeu no primogênito da família real né de repente todo mundo se pôs em armas contra a tentativa é engraçada essa nossa relação com a língua né e Dúvido que tenha sido uma coisa muito orquestrada especialmente de caso pensado mas foi lindo A Batalha em si já já foi ganha quando a batalha começou a haver as pessoas estão falando disso as pessoas estão tendo que pensar nesse assunto então acho que sociologicamente é um fenômeno para lado interessante linguisticamente eu acho muito bacana que os
brasileiros estejam se Adon dos seus problemas políticos e sociológicos dentro da língua nos seus próprios termos Ah não sei se foi isso que eu disse que você achou bacana em algum outro é e você falou assim o dono tem que cuidar das reformas tem que ir pra reunião de condomínio é o debate de uma sociedade madura em torno da língua que usa né Não exatamente isso eu acabei de me mudar tô pensando muito em reunião do condomínio a gente não tá terceirizando o problema e não tá perguntando pro colunista do jornal conservador ou não conservador
o que que ele acha o que que ele não acha eles até TM que se manifestar e devem se manifestar como eu me Manifesto como você se manifesta Mas a briga está na praça pública e eu acho que é aí que ela tem que acontecer é uma outra coisa que você falou que meio que me libertou é assim tem uma questão linguística que eu posso explicar posso dizer olha o fato do português fazer o plural neutro no masculino não quer dizer absolutamente nada tem língua que faz no feminino tem língua que não faz tem língua
que não tem gênero gênero gramatical não tem nada a ver com o gênero biológico é uma coincidência da evolução das línguas são acasos que vão acontecendo não tem nada a ver são coisas diferentes Então essa é a explicação tecnic ainha que você pode dar que não adianta nada não facilita a vida de ninguém nem a minha nem a da p não é isso que tá em jogo é uma questão política né que tá o que eu acho realmente importante na discussão da linguagem neutra é criar o barulho as pessoas estão falando disso e elas têm
que falar disso a a língua portuguesa não está ameaçada ela não vai ser destruída eu acho na verdade que ninguém quer destruir a língua portuguesa ninguém quer a obrigatoriedade de uma revisão gramatical de um idioma O que seria uma Quimera ninguém conseguiu isso fora Os turcos no começo do século XX ninguém conseguiu fazer isso por decreto de uma semana para outra Ah o que tá acontecendo é a discussão as pessoas querem o barulho e eu acho que elas precisam desse barulho e ele já está acontecendo acho bacana enfim passando agora pra parte de tradução eu
vi você dizer que traduzir te faz ver o que o teu idioma tem de estranho e o que que você quer dizer com isso eu digo PR os alunos que é que nem quando você começa a namorar ou você sai da tua família começa conviver como membro de outras famílias e você percebe que certas coisas que você achava 100% normais na casa do os outros são vistas como muito estranhas e vice-versa né Você precisa desse olhar externo para ver o que há de estranho em você que aquilo não era normal aquilo não era Zerado aquilo
era marcado para bem ou para mal ou pelo menos como diferente e quando a gente aprende outros idiomas e Especialmente quando a gente precisa traduzir é que a gente se dá conta de certas singularidades digamos assim do nosso idioma que enquanto a gente tá imerso nele a gente não percebe e não deve perceber é por isso que o nosso idioma é maravilhoso né você sabe disso né quando a gente é forçado a passar o algum tempo falando outra língua tá no exterior ah primeiro cansa e segundo você tem aquela sensação de que você tá tentando
fazer passar um galão de 20 l de água por um funil Estreito né as coisas saem a cont gotas as coisas saem por caminhos tortuosos você tá falando a tua língua você não pensa nela você não pensa a respeito da língua você simplesmente fala isso é muito maravilhoso só que tem um preço a gente não vê a língua de longe a gente não vê a língua como os estrangeiros vem e na hora de traduzir você vê você olha e diz Putz isso é curioso por exemplo Nossa regra praticamente no centro sul do Brasil pelo menos
de usar artigo definido diante do nome próprio né Falei com a Branca ontem Cara isso é muito estranho se você vai olhar várias outra bom primeiro tem língua que nem artigo tem né vai falar russo nem tem artigo mas Traduz para Inglês por exemplo que é uma língua que quase todo mundo conhece hoje Imagina assim spoke with the pa é virou um personagem automaticamente virou uma não faz sentido usar artigo diante de nome próprio mas a gente usa e tudo bem é tranquilo Tem certas coisinhas da tua língua por exemplo a quantidade de preposição que
a gente usa quando você traduz poesia dá uma raiva da quantidade de preposição que você precisa socar numa frase para ela fazer sentido e você não percebe isso no teu dia a dia né É me lembro de uma coisa agora que eu tinha que lembrar os meus alunos que eu dava aula de interpretação simultânea na PUC né aqui no Rio e uma coisa que que eu me lembro de ter que falar com os alunos é que em português você não fala eu vou lavar o meu rosto eu vou lavar as minhas mãos que em inglês
você fala I'm GNA wash my hands em português você não fala isso pra tradução simultânea é maravilhoso quanto mais você puder encurtar parece que não faz diferença mas esse minhas mãos que você fala vou lavar a mão em vez de vou falar vou lavar as minhas mãos é maravilhoso isso já te ganha Então você tem que aproveitar todas essas diferenças linguísticas em que na tua língua é mais conciso mas a pessoa tá lá tá traduzindo o aluno ainda não tá acostumado tá muito com inglês na cabeça não tá muito pensando em português ainda e sai
esse possessivo que não existe né que é um problema da tradução né que os os tradutores paradoxalmente acabam sendo algumas das pessoas mais vulneráveis aos estrangeirismos porque a gente tá imerso na outra língua e é muito fácil você traduzir no ponto morto sem prestar atenção nessas coisas o teu colega da Pugo rio o Paul Henrique Brito sempre fala que o inglês é uma língua bizarra em que você pode produzir a sentença eu pus a a mão no meu bolso peguei o meu lenço para suar o meu e tudo bem é assim que é isso é
perfeito em inglês e é grotesco em português e no entanto as pessoas traduzem esse tipo de coisa sem nem sem nem parar para pensar porque é fácil tá Uai tava lá o ma eu pus o ma aqui mas não a gente não usa a gente não usa uma frase desse jeito então perceber essas singularidades né Eu sempre gosto de um outro exemplo do Brito eu eu brinco com os meus alunos que eles têm que cronometrar a cada aula quanto tempo leva para eu citar o Brito pela primeira vez aqui faz muito B é sei lá
quanto tempo levou aqui mas ele dá um exemplo que eu acho ótimo dessa nossa dificuldade de olhar estranger isador sobre a nossa própria língua que a gente vê muito em processo de tradução que essa dificuldade de se distanciar né de olhar o idioma de longe e ver certas coisas e ele tava dando um exemplo em sala de aula de que a gente costuma generalizar no singular por exemplo locutor de Podcast gosta de fazer assim a gente não diz os locutores de Podcast n mas as pessoas escrevem isso e ele tava dizendo isso para uma turma
e sempre tem alguém que se revolta né Sempre tem aquele aluno que que não gosta da informação e uma pessoa levantou a mão e falou eu não concordo Professor brasileiro Não fala assim e ele falou sabe tipo Ok fechei a minha discussão aqui você acabou um problema é isso a gente não precisa dizer os brasileiros Não Falam assim em inglês precisa em outras línguas precisam A gente não precisa E aí você foi trazer ulices que francamente assim que ideia porque que você teve essa ideia e e se foi ruim se foi bom se foi uma
um se é um trauma na sua vida mas também você foi traduzir o David Foster Wallace Por que meu Deus eu acho que deve ser masoquismo eh olha o Ulisses na real foi na força da raiva como dizem as crianças hoje e tem uma longa história por trás disso na verdade deriva do fato de que eu tava com um projeto de doutorado engatilhado eu tinha sido aprovado para uma bolsa na Alemanha eu ia passar 4 anos na Alemanha estudando história da língua Romena Quando Eu me divorciei E pensei que não queria deixar minha filha aqui
e ficar 4 anos longe abandonei aquele projeto e fui inventar um novo doutorado e daí Foi um momento que eu falei Ah quer saber já que eu não vou conseguir fazer aquilo porque não tinha como fazer aquele projeto no Brasil ninguém poderia me orientar eu vou fazer um negócio Completamente Louco completamente de veleidade pessoal eu vou inventar um projeto de doutorado em torno da tradução do ulce então foi de ruindade que eu decidi ali naquele momento eu lembro do momento e me deu uma super empolgação e a partir dali a minha vida mudou para sempre
então você pergunta se foi bom se foi ruim foi maravilhoso meu cachorro se chama Leopoldo ap pilha de Léo é chama ele de Léo chama de Leopoldo Bloom não eu eu chamo ele de qualquer outro nome Improvável Eu chamo ele de pafúncio de evilázio de ostakio qualquer coisa eles me deram tudo me deram tudo a minha carreira mudou meu rumo de carreira mudou minha carreira editorial Só existe por causa disso como tradutor traduzi mais de 60 livros tudo por causa do ulices eu fui a lugares diferentes no mundo eu recebi convites que eu nunca receberia
eu atuei em áreas que eu nunca poderia conhecer mesmo agora esse meu envolvimento mais recente com teatro por exemplo em São Paulo vem do ulices vem as pessoas terem me conhecido ali uma cadeia de coisas que aconteceram na minha vida nos últimos 25 anos todas elas derivadas daquele momento de completa irresponsabilidade a zelig do DI Allen assim você pode ver o que que acontece quando um psicopata tá no Leme né tipo vou e Ulisses e danes muita coisa muito linda aconteceu e eu devo quase que exclusivamente a esse livro A esse autor e foi um
processo prazeroso foi eu gosto de traduzir coisa difícil Eu gosto de ter que lidar com os problemas eu gosto de forçar O portuguê eu gosto de descobrir como lidar com as coisas eu gosto de inventar soluções me deixa muito feliz na verdade o ato de traduzir o momento de tradução é uma das situações de maior estabilidade emocional na minha vida eu venho da música né e é igual quando você senta no instrumento para improvisar sozinho sabe tipo estou no piano e só vou ficar aqui improvisando uma meia horinha parece que o teu cérebro se desconecta
de um monte de coisa e você tá só num fluxo bacana traduzir para mim é assim eu gosto muito de traduzir às vezes é frustrante né poesia especialmente é trabalhoso é é renhido é lento mas o resultado final invariavelmente é é é prazeroso também é é uma atividade que me deixa muito feliz bom eu não consigo nem imaginar o que que seria traduzir Joy de um modo geral mas especialmente traduzir Ulisses e eu ouvi você falando também que você tá querendo traduzir fenan wake eu não vou nem entrar n não vou nem entrar nisso mas
mas o Ulisses eu li num grupo com a Bernardina que também fez uma tradução né com a Bernardina Pinheiro que já tava bem velhinha mas ela ainda fazia esses grupos né foi uma coisa muito legal levou dois anos sabe era um grupo bacana mas é um livro muito difícil é uma dessas coisas assim que eu fiz fiz tá feito ainda bem que eu já fiz porque eu acho que eu não faria de novo e não leria de novo sabe não entraria ali de novo já vi já sei que que é para você não né você
ama mergulhar naquele universo do do Joyce né é um imenso prazer eu sou um leitor muito preguiçoso eh eu sou um leitor de entretenimento não sério cara eu sou um leitor de entretenimento Eu leio muito rápido e eu leio muito por cima inclusive porque eu vou meio que pensando assim Quais livros eu vou reler e daí no meio do caminho eu já vou pensando tá isso vai ficar pra próxima isso vai ficar e eu leio para saber o que vai acontecer normalmente e justamente o Um dos problemas é que eu tava travado com ulices eu
não conseguia entrar na leitura do ulices eu tinha decidido ler o livro quando a minha filha tava para nascer em 97 e daí ela nasceu e eu parei motivo de criança pequena mas a ideia a ideia de que você vai começar o lí quando nascer um bebê é uma ideia realmente que não faz nenhum sentido chama homem isso né olha o tempo que eu vou ter agora é estúpido imbecil minha filha chama Beatriz né eu decidi também que eu ia ler A Divina Comédia essa essa eu L Mas e daí tava travado e eu pensei
cara se eu não inventar um projeto que me obrigue a ler esse livro eu nunca vou conseguir ler do meu jeito que é esse jeito leviano Ah tá E daí eu pensei eu vou traduzir que ao Traduzir eu vou me obrigar a ler no miúdo eu vou ser o meu grupo de leitura de uma pessoa só né E foi exatamente o que aconteceu eu também levei dois anos para fazer a tradução exatamente como o tempo da tua leitura Acho pouco até pra tradução Poxa pra leitura é um tempoque mas pr pra tradução achei que deve
moraria mais podia ter sido bem mais eu acho só que dali pra frente eu já reli o livro incontáveis vezes eu não tenho a menor ideia de quantas vezes eu li Olha que legal eu traduzi pouca coisa na vida a única coisa na verdade que eu já traduzir de verdade foram dois livros da Lydia Davis totalmente fascinante uma coisa incrível vai lançar agora um terceiro que eu não pude traduzir porque eu não tenho justamente tempo e nem na verdade espaço mental eu queria saber se isso acontece com você porque a Lydia Davis para quem não
sabe é uma escritora americana uma contista mas ela escreve uns contos muito peculiares que são quase poesia são contos às vezes que T duas frases Às vezes tem cinco páginas são muito diferentes e muito profundos né ela consegue botar muita coisa ali naquelas três linhas do conto né muito impressionante mas o que acontecia comigo quando eu tava traduzindo esses dois livros dela é que eu ficava com aquilo na cabeça o tempo todo então eu tava andando na rua passeando o cachorro por exemplo e eu tava como se fosse com aquele cubo mágico sabe Pensando na
cabeça fazendo tlec tlec tlec tlec vai encaixar aqui tum tum Ah tá tem essa solução aqui ai meu Deus será que eu vou esquecer até chegar em casa CL CL o tempo todo assim 4 horas por dia eu tava com aquilo na cabeça e isso eh exige um espaço mental muito grande né isso acontece com você também veja de novo né homem então tipo essa é a história da minha vida né no meio das preocupações razoáveis e necessárias da vida eu reservo coisas tipo quando eu tava traduzindo Hot problemas mais complicados essa rima que não
resolve Esse verso que não tá legal eu reservo de propósito deixo na memória para quando eu for tomar banho ou andar com o cachorro e daí são as horas em que eu tipo passo a limpo as coisas que tão Mas eu sou bem mentalmente disciplinadas eu consigo guardar as coisas ali e puxar de volta quando eu quiser É raro isso de as coisas me atrapalharem tipo eu tá querendo fazer outra coisa e a tradução não deixar isso acontece quando eu escrevo quando eu escrevi teatro isso aconteceu muito Tipo estar habitando aquele mundo e ter dificuldade
para para sair mas para traduzir não tanto aconteceu com o Wallace você perguntou do Wallace eu não te respondi eu perguntei do do gra infinita que é esse livro do David Foster Wallace que também é um livro muito difícil de enfim não tem nada a ver um outro tipo de dificuldade eu acho que o Ulisses é muito mais difícil mas o Wallace a impressão que eu tenho com o Wallace é que é mais chato de traduzir chato chato no sentido de boring porque é um livro meio circular ele vai ele volta ele vai ele volta
e é um livro mais incômodo de traduzir as dificuldades verbais são muito grandes uma capacidade de expressão magnífica absurda mas ele é um livro acima de tudo que te coloca em lugares muito incômodos você ter que escrever três páginas do monólogo interior de uma adolescente suicida numa ala para dependentes de drogas de um hospital você tem que habitar aquilo ali e aí esse elemento começa a AD doer graça infinita é um livro que me obsede até hoje também é um livro que eu já reli várias vezes é um livro que eu fico aplicando ao mundo
o tempo todo eh tipo ah cara isso iG cena graça Vendita é isso vem do gracia fenita é é um livro muito Profético de muita coisa infelizmente porque muito pessimista nesse sentido papel da literatura ele dizia que era mergulhar o mais fundo possível nas trevas de cada um encontrar a partezinha que brilha e trazer de volta pra superfície só que ele vai muito fundo às vezes é é realmente muito pesado traduzir aquilo mas o livro é de uma inventividade de um brilhantismo e de um humor bocó também ao mesmo tempo tem muito é muuito quinta
série é muito quinta série é com que eu me identifico muito então eu gostei demais inclusive de coisas que ninguém vai perceber né tipo tem lá um grupo de apoio para homens brancos americanos de classe alta discutirem seus problemas e eu não vou lembrar agora porque eu sou esse tipo de pessoa mas o nome do grupo se você e ele não chama atenção para isso mas se você for bem treinado nesse tipo de autor e for fazer a sigla do nome do grupo a sigla da wiers que seria tipo os reclamões e daí tipo eu
me dou trabalho de fazer um grupo que em português vai dar bundões dois leitores Vão descobrir isso em alguma Mas isso faz toda a diferença né faz toda a diferença numa tradução acho que essa e é o e é divertido Na verdade eu acho essas coisas assim de tentar eliz ah desgraçado você escondeu isso aqui ninguém viu né É E aí explica só assim uma última pergunta por que que de tantos e tantos anos precisa retraduz esses grandes clássicos assim ou pequenos clássicos uma vez eu vi um texto pro blog da companheira das letras em
que eu tentava explicar isso com uma imagem que é o seguinte a Estátua da Liberdade quando foi inaugurada era dourada com o passar do tempo ela foi ficando marrom eo estava programado o revestimento dela ia envelhecer e hoje ela tem aquele tom esverdeado que a gente conhece quando ela foi restaurada pela última vez eles não retornaram ao Dourado eles restauraram o estado de antiguidade que era familiar às pessoas daquele momento ela ficou bem verdinha ou seja ela ficou bem velha em vez de ficar nova a minha ideia da tradução é a seguinte uma obra de
arte um livro é como a Estátua da Liberdade ele envelhece ele se altera as pessoas mudam a relação que tem com ele as verdades que estão ali dentro mudam de cor a gente Bane um livro por um tempo volta ele se apaixona se desencanta tem essa relação mutável uma tradução é uma fotografia da obra de arte num determinado momento e se eu apresento para você hoje se eu te uma réplica da Estátua da Liberdade e essa réplica é dourada você diz não essa réplica não corresponde a Estátua da Liberdade a Estátua da Liberdade é verde
e pouco adiante eu te dizer cara mas ela era assim antes as réplicas as reproduções precisam ser atualizadas para acompanhar o estado de evolução da obra porque soma-se não só a evolução da obra soma-se a isso o fato de que as Convenções editoriais mudam os leitores hoje esperam de uma tradução um junto de coisas que eles não esperavam nos anos 50 do século XX por exemplo ideia simples traduzir nome próprio até os anos 50 era regra a gente traduzia o nome dos personagens Ah era o Carlos bovari sem qualquer problema hoje a gente não faz
mais isso as obras antigas do idioma ganham a sua seu envelhecimento linguístico como pátina as traduções ganham como rasgo na página a gente não quer olhar uma tradução como ortografia que não seja nossa como a sintaxe com gírias que não sejam reconhecíveis por nós então eh não é tão Místico assim quando eu comecei na tradução eu sempre ficava pensando também ele parece uma coisa ordenada por Deus né que as traduções envelhecem de um jeito diferente das obras mas acho que tem razões bem objetivas para poder explicar isso eu acho que é isso Hon radão aqui
bom conhecer vocês e pessoalmente visualmente agora e fico de olho então bom eu eu iria assinar a série de qualquer maneira Mas agora eu tenho pelo menos esse programa para pular é Esse foi o fio da meada obrigada por ouvir no site da rádio novelo Você pode encontrar a transcrição do episódio lá você também encontra o link pro livro latim em pó e se você quiser saber mais sobre o podcast a gente tá no Instagram e no treds e no x no @ rovelo tá para acompanhar a gente também no bluy no @ radionovela.com e
segue o da meada no seu aplicativo de áudio preferido a gente também tá no YouTube tem Episódio novo toda segunda-feira a coordenação e a produção São da Evelyn argenta a direção criativa é da Paula escarpim e da flora Thomson Dev a direção executiva é da Marcela casaca a edição executiva é da Natália Silva a gerência de produto é da Juliana heeger a montagem desse Episódio é da Luisa Silvestrini a sonorização e miag são da Mariana leão a captação de áudio em Curitiba foi do estúdio pund a música original é da Luna França o apoio de
produção é do Vitor Hugo Branda li da Bia Guimarães da Sara zel da Carol Pires da Bárbara rubira da Carolina Moraes da Ashley calvo e da Isabel de Santana o desenvolvimento de produto e audiência é da Bia Ribeiro a identidade visual é da natas GP a coordenação de ilustração é do Gustavo naso a coordenação executiva é da Lara Martins e a análise administrativa e financeira é da tain Nogueira