[Música] Bem-vindas e bem-vindos a mais uma edição do Conversas com Lei. Eu me chamo Kelly Lima e faço parte da equipe do Lei Paraná. Nossas convidadas de hoje são as professoras Noemí de Freitas e Rita de Cácia Martins.
As professoras e os professores de educação infantil tão importante papel no processo de apropriação da escrita e da leitura pelas crianças. Como vocês vem as possibilidades de ampliação das experiências das crianças com a cultura escrita nessa etapa? Bom, Kelly, as crianças participam da cultura escrita mesmo antes de ir paraa educação infantil.
Então, mesmo em casa, elas observam as famílias eh lendo um livro, uma revista ou mesmo trocando uma mensagem de WhatsApp. Então, isso já tá presente na vida das crianças. Eu acredito que o nosso papel como professores, como professoras, é mostrar para as crianças a importância dessa da função social da escrita.
E essa importância a gente vai mostrando no dia a dia, no cotidiano, de uma maneira tranquila, significativa, quando as crianças eh têm os nos seus pertences o seu nome e aí ela busca, né, e sabe onde localizar a mochila, a agenda, onde estão seus materiais, quando a gente lê um bilhete que a família mandou ou que a escola tá mandando para casa. Então essa isso vai tornando pra criança e vai mostrando para ela essa função da escrita, que é uma das principais das principais funções dos professores na educação infantil quando a gente fala de alfabetização e letramento, né? E aí junto com isso, a gente tem no dia a dia eh algumas organizações em que a gente também utiliza a escrita.
Então, a gente traz para as crianças a organização do que nós vamos fazer hoje. Geralmente a gente escreve diante da criança quais serão as principais atividades daquela tarde, daquela manhã, daquele dia. E as crianças vão acompanhando, né?
Muitas vezes a gente vai riscando o que já aconteceu e elas mesmas cobram: "Professora, a gente já fez isso, você ainda não riscou". Então, eh, esse, é isso, esse tipo de trabalho torna tudo mais vivo, mais significativo. Acredito que dessa forma a gente também traz a cultura escrita de forma bacana para as crianças.
Acho que ainda pensando um pouco mais na questão da da dessa ampliação de possibilidades, né, da língua escrita dentro do contexto da educação infantil, acho que é importante pro professor também que ele tenha essa habilidade que é construída no decorrer dessa relação que ele estabelece com as crianças, de aproveitar as situações que acontecem ali do cotidiano que surgem das próprias crianças, né? Vou contar aqui uma história que eu gosto muito, que eu tenho bastante carinho, uma memória que eu tenho bem bonita de uma situação que eu vivi com as crianças. A gente foi pro ambiente externo da escola e é cheio de natureza, um lugar muito bonito, muito gostoso de estar, né?
E quando a gente chegou lá tinha um passarinho morto e isso gerou uma comoção muito grande por parte das crianças, né? E aí eles começaram a falar: "Profe, vamos enterrar o passarinho, a gente tem que enterrar ele". Então, fizemos esse esse processo, né, de de enterrar o passarinho e as crianças ali em volta do passarinho, né, dentro dessa dessa situação, alguns rezando, outros orando, né?
Então, foi muito bonito nesse aspecto também. E quando a gente volta pra sala, as crianças queriam e eh a gente enterrou embaixo de uma árvore que é muito querida das crianças, né? Quando a gente volta pra sala, eles fala: "Vamos fazer recadinhos para colocar para pendurar na árvore".
Enquanto a gente ia pra sala, ia pensando, meu Deus, como é que eu aproveito isso? Porque não dá para voltar lá pro tempo do planejamento e pensar, pera aí, vamos pensar agora. Ah, lembra aquele dia que aconteceu tal coisa, que tal a gente fizesse isso hoje, né?
Então, a gente precisa aproveitar essas oportunidades enquanto as crianças estão ali envolvidas e interessadas, né? E então a gente fez, né? O que que a gente escreve então numa situação dessa?
E as crianças começaram a elaborar frases que seriam oportunas para aquilo. Então, algumas crianças ficaram à vontade com o desenho, outras quiseram fazer as frases e a gente desceu e colocou as frasezinhas na árvore. A árvore ficou lindíssima, né?
Então, eh, são essas oportunidades que o professor precisa, Malagus fala muito, né? A gente precisa seguir as crianças, né? E não os planos.
Não que a gente não tenha que ter plano e viver do espantanismo, não é isso, mas é ficar atento e aproveitar de fato as oportunidades que surgem, né, no no cotidiano mesmo. Que relações podemos estabelecer entre a leitura, a escrita, a oralidade e o faz de conta no cotidiano da educação infantil? Eu eu acrescentaria ainda o desenho, né, a linguagem gráfica também como mais uma linguagem que vai eh ajudar a criança a a se posicionar enquanto ser humano mesmo, né, dentro desse contexto social que ela tá inserida ali, que é o ambiente da sala de referência, né, com esse grupo de crianças.
E o faz de conta para mim, ele eh quando a gente vai pensar um pouquinho numa perspectiva mais vigotesquiana, a gente vai entender, né, que como é que ele traz um pouco dessa questão eh da história mesmo da escrita, como é que ela se dá. Então, começa lá pelo pela descoberta, né, do gesto pelo bebê e aí então vai eh evoluindo ali pro desenho. O desenho de uma primeira linguagem, ele é essa continuação do gesto, né, que é essas marcas que a criança deixa no papel.
E aos poucos, com mais experiência com o desenho, ela vai eh dando sentido, trazendo esse olhar simbólico pro desenho, né? Então esse processo de simbolizar e depois do desenho paraa escrita, então, né, numa num processo assim gradativo que também não se dá de forma linear, né, ele vem e volta. Mas eh todas essas linguagens elas são fundamentais para que a criança eh também se aproprie da língua escrita, que é uma linguagem importante, mas não mais do que todas as outras, né?
a oralidade. Se a gente for pensar a questão da oralidade, eh, como é importante as crianças poderem ter espaço dentro ali do desse contexto social para se posicionar, para dizer que não concorda com o ponto de vista do amigo, para contar as suas experiências, as suas vivências. Então, tudo isso eh faz parte que a criança consiga realmente eh porque quem não tem nada para dizer também não tem nada para escrever, né?
Então, a gente precisa eh potencializar isso. E a gente vem de uma história de uma roda de conversa, né, de 25 crianças. Como é que a gente conversa em 25 pessoas ao mesmo tempo, né?
Como é que a gente garante que essas crianças sejam ouvidas em 25 crianças? Então, criar oportunidades que as crianças possam conversar também em pequenos agrupamentos também é importante, porque a gente consegue dar espaço para aqueles que ficam mais como ouvintes, né? e o faz de conta eh esse essa subversão do material, né, essa eh essa transformação de um objeto, por exemplo, num contexto, vamos pensar ali num contexto de cozinha, né?
tem uma madeirinha ali e a criança transforma esse esse objeto num telefone. Então é também esse processo de simbolizar que é feito quando ela vai aprender a ler, escrever, porque, né, existe as letras, elas têm esse caráter simbólico, elas simbolizam a nossa fala, né? Então, como é importante todas essas linguagens serem eh exploradas, né?
como é importante que tenha espaço para todas elas dentro do contexto eh do contexto da educação infantil. Então, penso que todas elas, além de de ter eh muita relevância paraa criança enquanto seral e paraa questão de ela eh se colocar enquanto ser humano, né, também vai ajudá-la a ter ferramentas, né, para se apropriar da língua escrita e entendê-la, né, como mais uma linguagem que ela pode fazer uso para se comunicar. Pensando nas ações pedagógicas, vocês poderiam dar alguns exemplos de boas propostas para trabalhar a cultura escrita na educação infantil?
Eu gostaria de começar a falar do que organiza o nosso dia e que sustenta as ações do dia a dia das crianças. Então eu comentei na lá na primeira questão que você trouxe sobre a organização do dia, quando a gente traz o registro do que vai acontecer naquele dia, até para que a criança também se organize. E junto com isso, nós temos várias possibilidades de uso de um texto que é muito significativo pras crianças, que é o seu próprio nome, né?
é tão significativo a ponto de algumas crianças estranharem que outra tenha o mesmo nome que ela. Eh, os jogos que envolvem os nomes das crianças, as brincadeiras que envolvem o nome das crianças, eh, se tornam um texto muito potente quando a gente organiza de diferentes formas eh os nomes que começam com a mesma letra, que terminam com a mesma letra, que tem a mesma quantidade de letras, os nomes que têm uma pronúncia parecida, quando a gente destaca com as crianças semelhanças e diferenças e quando isso vem de uma maneira fluida e não com todas as ações ao mesmo no mesmo dia, né, mas numa sequência tranquila em que a gente vai aproximando as crianças desse texto que é tão potente, tão significativo. Quando a gente tem na sala também a organização de listas a partir do que a gente precisa realizar com as crianças.
Então eu me lembro de um projeto que eu participo todo ano chamado Caixas da Natureza, que que tá ligado a a ao Instituto Alana. Nesse projeto, as crianças precisam organizar, brincar e conhecer e depois organizar uma caixa com elementos da natureza que fizeram sentido para elas em brincadeiras, tanto em casa quanto ali na escola. E para organizar essa caixa, nós fazemos listas.
Um primeiro momento é pensar com as crianças o que faz parte da natureza, o que é da natureza. E só essa questão já suscita na criança tanta reflexão, porque parece óbvio, mas não é. E alguns trazem que da natureza é o que Deus fez.
Alguns trazem dessa forma, da natureza é o que não teve a mão do homem. E eles começam a discutir na sala sobre isso, a argumentar. E aí a oralidade tá muito presente porque as coisas estão ligadas, né?
E a gente faz uma primeira lista do que vamos coletar, do que pretendemos coletar. Quando a Caixa, depois de organizada segue para crianças de uma outra escola, porque esse é o objetivo, trocar com outra escola, nós escrevemos bilhetes para as crianças que vão receber. E esses bilhetes são eh ditados pelas crianças e organizados pela professora, mediados pela professora, que ajuda as crianças nessa estrutura de um bilhete para que ele aconteça e para que a outra pessoa consiga lê-lo, né?
Quando nós temos a leitura na sala que é diária, a leitura de livros, principalmente dos livros literários, mas quando a gente tem a leitura diária, a gente também costuma eh montar algumas caixas de palavras com palavras que são mais significativas para as crianças. Então, palavras que são curiosas, que elas não conheciam ou palavras que chamaram muita atenção ou que elas acharam engraçadas. Eh, tem um livro muito antigo que se chama e quem quem fez cocô na cabeça da toupeira.
É uma coisa parecida com isso. E as crianças, a toupeira que queria saber quem fez cocô na sua cabeça. E as crianças em geral bostam.
É um livro antigo, mas faz muito sucesso e simples, né? Mas ao mesmo tempo rico. E as crianças ficam muito curiosas com cocô, xixi.
E esse tipo de palavra elas acham interessante e é uma das palavras que vai pra caixa, né? E pode ir pra caixa e vai pra caixa com um desenho ao lado, né? Algumas com desenho, mais pra frente eles não querem colocar o desenho porque eles mesmos querem se desafiar.
a encontrar as palavras e quando querem escrever alguma coisa vão paraa caixa e buscam, né? E isso vai acontecendo no decorrer de todo o ano. Eh, e aí os exemplos são milhares e junto com esses exemplos do cotidiano, a gente tem algum algumas possibilidades de projetos maiores nos quais a gente envolve as crianças para alcançar um objetivo às vezes material, muitas vezes material.
Eu tinha, vou contar uma história de uma turma que eu tive eh no ano passado. É uma turma que estava muito interessada pelos livros, que tinha um encantamento muito grande, que queria ouvir histórias todos os dias e que num dado momento eu trouxe alguns livros criados por crianças, eh, e ficaram encantados. E eu trouxe já com uma intenção que seria despertar a vontade de que eles também quisessem escrever seu livro.
E deu certo. Não precisei nem falar nada. Eu trouxe, mostrei os livros, contei que tinha sido escritos por crianças de 5 anos, mas como eles escreveram um livro, ficaram muito encantados e nós começamos a pensar como iríamos escrever um livro da turma.
E esse projeto durou cerca de 5 meses, quase o semestre todo, e ele foi riquíssimo pelo envolvimento de muitas linguagens simultaneamente. As crianças, a princípio, nós tínhamos que definir qual seria a temática da história e os personagens principais. Eh, eles foram a gente eh primeiro, né, eles já tinham um repertório muito grande literário e isso ajudou, porque sem um repertório você não cria do nada.
Isso é importante a gente tá pensando pras crianças, né? Eles já tinham um repertório muito grande e queriam sugerir personagens paraa história. Esses personagens vieram também em forma de listas.
Essas listas foram sendo escritas e foram ficando afixadas na parede durante três dias, eh, que não foram determinados, mas foi o tempo que foi levando para eles chegarem no dia seguinte com mais ideias e mais ideias e mais ideias. E o passo seguinte foi pensar dos livros que nós já lemos quantos personagens tem. Então, não dá para ter 30 personagens numa história.
A gente vai ter que votar o personagem principal. Quando nós fomos votando os personagens principais, eh, as crianças me colocaram numa situação muito difícil, porque os dois personagens principais que foram votados foram eh dinossauro, que eles tinham uma fascinação por dinossauro e fios elétricos. E foi um empate entre dinossauros e fios elétricos.
E eu eu disse pras crianças, então vamos desempatar e torcendo pelo dinossauro, porque esse fio elétrico não vai dar certo. A gente subestima as crianças. Fio elétrico, será?
As crianças não não queram. A gente quer os dois, tem que ter os dois na história. Como que a gente vai colocar dinossauro com fio elétrico?
É fácil. É fácil. E fomos tentando.
Eu perguntei para pra menina que deu a ideia dos fios elétricos e conseguiu conquistar toda a sala para votar por ela também, que não saíssem os fios elétricos da história. Ela não é muito legal, ele é forte, os fios elétricos podem dar choque. E a história, o enredo que as crianças foram criando, misturando os dois, surpreendeu demais.
Se tornou o livro que tá aqui do lado. Vou mostrar, né? Eh, as crianças foram trazendo à sua maneira um enredo em que começava com um menino chamado João, que estava numa casa caverna tomando um café com bolo bem gostoso.
Então aqui no início as crianças entenderam, né, que ter que ter a apresentação do livro e começar começou a história quando eles ele ouviu um grito muito forte que era de um dinossauro que tava preso nos fios elétricos e eles solucionaram uma questão que para mim era muito problemática, que é uma questão de que os fios surgiram depois dos dinossauros. Isso é nosso, não é da criança. E se a gente vai pra arte, pra literatura, eh, as coisas se misturam.
essa questão temporal não tem relação. E o o livro segue muito rico, mas as aprendizagens e a mediação que foi sendo necessária e que foi sendo dentro do planejamento adequada à medida que as crianças traziam as questões era de que eh a o eu fui atrás do Cossom, né, que é um autor que traz um pouco do que é a literatura, do do que compõe um bom livro. E ele fala da questão da introdução, do ápice, né, que aquela emoção do do final da história que precisa geralmente ter um final feliz, não necessariamente, mas que precisa encerrar.
E a gente ia conversando sobre isso e as crianças, quando a gente lia novamente, a gente escreveu o primeiro texto que ficou fixado e com frequência, duas, três vezes por semana, a gente lia novamente para saber o que se mantinha e o que se tirava a partir que a gente ia conversando dos elementos que que uma história precisa ter e da leitura de outras histórias. E as crianças perceberam que a história não tinha ainda um grande ápice e uma emoção que deixasse o espectador com vontade de continuar. E essa fala, uma emoção que deixa o espectador com vontade de continuar, é uma fala nossa como professora, né?
Então a gente traz isso ali as crianças. Ah, então vai ter uma bruxa que vai aparecer montada num lobo feroz e que vai atrapalhar o João a salvar o dinossauro. E surgiu esse elemento na história que deu uma emoção, a maneira como eles foram trazendo, escrevendo, trouxe essa emoção pra história.
E quando a história estava praticamente encerrada, já com aqui, né, a o que as crianças chamam de uma propaganda da história, porque a gente lia e mostrava que os livros têm ao final, né, um pouco dessa do do de uma iniciação do que o autor pode encontrar, já tinham as fotos dos autores que eles faziam questão porque os outros livros também têm. Uma das meninas mais tímidas da sala e que não deu muitas ideias, levanta a mão e diz assim: "Tenho uma ideia. Você quer falar alto?
Não, bem pertinho. E ela falou no meu ouvido: "O dinossauro é fofinho. O nome da história tem que ser dinossauro fofinho.
E as crianças pensando nos nomes, a sala era composta na grande maioria por meninas e muito afetivas. E elas amaram o dinossauro fofinho. E os meninos que eram só cinco na turma naquele ano, dois deles saltavam na cadeira e diziam: "Não pode, não pode, dinossauro não é fofinho, não pode".
E a a gente fez uma votação conversando sobre o que é democracia, que o voto precisava ser respeitado. O dinossauro fofinho venceu, né, como um nome paraa história e a e os meninos ajudaram a dar uma solução para isso, que foi o dinossauro fofinho que aparece no final da história e ajuda o João e depois todos vão junto para um piquenique. Então, o que a gente foi trabalhando e o tempo que a gente foi dando para que as crianças pensassem sobre tudo isso, para que todas essas linguagens se entrelaçassem, para que a voz das crianças surgisse, né?
Eh, como a falou, da escuta das crianças que o Malagu traz, né? também a Carla Rinalde também eh a respeito do quanto as crianças precisam ser ouvidas, que crianças não se sentam, não podem ser invisíveis na sala e como é difícil ouvir as crianças, porque a gente precisa envolvê-las em algo que interesse a elas, senão elas não vão falar com a gente e a gente não vai ter ouvidos para ouvir. E aí, à medida que elas foram trazendo, a gente fechou esse projeto do livro com o livro pronto e com, eh, uma tarde de autógrafos em que as crianças assinaram os livros para suas famílias.
Então, isso trouxe pr as crianças uma força, uma potência. E um outro elemento que esteve envolvido ali foi a questão do desenho, porque durante também o enredo a gente, eu percebi que alguns que que o traçado de algumas crianças ainda tava muito frágil. E o repertório, eu tava muito preocupada com o repertório eh eh escrito, literário, oral, mas o repertório das imagens, né, do texto imagético ainda tava frágil.
Então nós voltamos paraos livros conhecidos e fomos olhando como é que os livros eram compostos. E as crianças definiram, depois de olhar vários livros diferentes, com diferentes tipos de estratégias pro desenho, eh definiram usar a canetinha preta e depois pintar com o lápis colorido para dar um efeito, porque eles foram testando e viram que era o que dava o efeito melhor pro desenho, né? Então, as imagens das crianças foram compondo a sala, passaram por votação para saber quem seria o João, quem seria o dinossauro, qual seria o dinossauro fofinho, como é que a gente ia fazer os fios elétricos que estão aqui.
Eh, esse é um dos projetos, né, que a gente tem, que entrelaça tudo isso, que traz a escrita de uma maneira bem potente, porque ela tava o tempo todo ali. E depois do projeto do livro, a gente teve o projeto do jogo, que tá aqui, né, e que foi um processo muito semelhante e que tem elementos que tem muito a ver com que as crianças viram ali no seu repertório. Então, quando a gente pega esse jogo, por exemplo, e olha pras regras, as crianças depois levaram o jogo no envelope com as regras, né, e os peões, a gente tem elementos das histórias também no jogo.
Então, o repertório de muitos jogos, o repertório de muitas histórias, de muitas imagens, eh, e de negociar elementos, né, e ideias diferentes que a gente teve que negociar aqui dentro do jogo também estava presente. Então, quando a gente tem um coração no meio do tabuleiro, a regra que as crianças criaram é de que a casa do coração é a casa do amor. Então, você fica tão forte que você pode ir cinco casas pra frente.
E são cada elemento é pensado a partir do repertório que a criança traz. Eh, é uma forma da gente trazer todas as linguagens, porque não tem como trabalhar na educação infantil de uma forma significativa a linguagem escrita isoladamente. Você precisa integrar, pelo menos é é assim que eu vejo que tem dado certo ao longo dos anos e da experiência.
Um detalhe importante de ser comentado, que eu acho interessante falar, é que a narrativa ia sendo ditada pelas crianças e eu seria como escriba. A partir das ideias que elas iam trazendo, eu ia registrando e à medida que eu sentia falta de uma vírgula, de um ponto, eu mesmo sinalizava pras crianças a importância de termos essas pausas e da função dessas pausas na escrita. Mas ia sendo realimentado ou extraído algum elemento da história à medida do que as crianças traziam diariamente.
E eu fazia essa exclusão ou esse ou acrescentava alguma coisa. Que tipos de texto e de suporte de texto circulam em suas turmas ou grupos? Em quais situações eles estão presentes?
Com quais intenções? Como vocês, professoras utilizam esses textos? Algo que toda turma de educação infantil tem é o cantinho do da leitura, né, que precisa ser muito convidativo, precisa ter ali um convite especial para as crianças.
quando a professora consegue garantir um espaço desse não seja exprimido, né, que os livros estejam bem dispostos e que as crianças consigam ver esse acervo, né, eh, de uma forma bem clara, o convite fica muito melhor. Acho que bons textos, né, bons livros, né, de de bons autores, é super importante ter em respeito às crianças que merecem ter acesso a esse material. E acho que o cantinho, pelo a experiência que eu tenho com as crianças, eu vejo que ele ganha vida eh a partir de da do tanto que a professora e potencializa a leitura pelas crianças dentro do cotidiano dela, né?
Quando a professora lê com frequência pras crianças, eu gosto muito de ler assim, eh, então eu pego três ou quatro livros do mesmo autor. Então, a gente tá conhecendo essa semana ou essa semana e semana que vem os títulos da Eva Furnar que fazem maior sucesso com as crianças, né? E aí as crianças vão também se repertoriando.
Acho tão importante que elas tenham um autor preferido ou que então alguém leia para elas, elas digam: "Ah, mas esse texto aí tá me parecendo bem da Eva Fornal, sabia? " Então é muito bacana esse movimento, esse movimento delas falarem: "Tá, mas profe, você não falou, editora? Ai, eu tô vendo que é aquela vermelhinha".
Então eles vão trazendo e vão vão eh indo pro cantinho da leitura para fazer recontro pros amigos espontaneamente, né? Então acho que o cantinho da leitura só eh existir na sala é pouco, né? precisa ter esse papel do professor que vai potencializar isso e dizer: "Olha que legal, esses livros, crianças, vão até lá e aproveitem eles, né?
Eh, dentro mesmo do cantinho pode ter também os gipis, revistas, né? Revistas que tenham que chamem a atenção das crianças, de dinossauro, de animais grandes e bravos, que eles gostam muito, de plantas que a gente acha que às vezes as crianças não vão se interessar, mas se interessam. Eu acho muito bacana.
Eh, uma coisa que eu gosto muito de fazer também é trazer para os cantinhos de faz de conta esses esses suportes, essas possibilidade de escrita, porque aí tá dentro de um contexto de vida, né? Então, o cantinho do médico pode ter lá um bloquinho para pra médica fazer um receituário pras crianças. É muito bacana de ver que no começo eles fazem essa escrita imitando a a cursiva, né, que é o que eles t acesso e depois com o tempo eles vão percebendo que são letras que a gente, né, vão usando as letras de caixa alto, que é o que a gente mais usa ali dentro do cotidiano.
Então é muito bacana de ver. Então, lá no no canto do salão de beleza, por exemplo, teve um ano que a gente fez uma mãe veio, uma mãe que trabalhava no salão, a gente fez convite e tudo, né? Envolvendo as crianças, né, nessa nessa chamada dessa mãe, ela veio e fez penteado em todas as crianças.
E aí a gente tirou foto e a gente fez uma pasta de penteados. E aí quem nomeava o penteado eram eles. Então eles queriam: "Ah, eu quero o moicano".
E daí eles davam um novo nome pro pro cabelo do moicano lá. Então essa pasta ela foi ela durou uns dois anos assim, sabe? Então é um suporte também que as crianças se envolveram na construção daquilo e faz todo sentido eu sentar num, né, numa cadeira para escolher um penteado com os rostos dos meus amigos, né, que foi construído por mim, que teve aquele dia que a mãe da Melissa veio e penteou todo mundo e foi uma grande festa e trazer esse esse tipo de de suporte, né, com sentido para as crianças.
o próprio atelier ali ou o cantinho do desenho também podem ter eh bloquinhos, podem ter provocações paraas crianças, né? No próprio cantinho ali do salão de beleza, quem vem pro salão de beleza, o nome das crianças convidando. Então, eh, são oportunidades que as professoras podem criar para est potencializando isso.
E qual a intenção então de trazer esses suportes, né, eh, até na própria parede, o que que vai contar de história? A gente tinha um cartaz que a gente construiu. Eh, teve um ano que a gente ganhou um peixinho, um aquário de uma mãe que era aquarista.
Gosto muito dessa relação de parceria com as mães, porque enriquece muito esse trabalho. Ela deu de presente pra turma um aquário, então a gente precisa, precisava cuidar daqueles peixes, né? Precisava saber como é que faz para cuidar.
Ela veio, teve uma conversa com as crianças, a gente precisou pesquisar, precisou fazer um registro ali no cartaz de cuidados que a gente tem que ter e a gente ia retomando pra gente não esquecer, porque senão a gente podia perder o peixe, né? Então esse tipo de registro na parede, né? Registros que contam a história daquele grupo.
E quando a gente dá essa autonomia pras crianças, elas mesmos começam: "Profe, eu fiz um recadinho, eu quero colocar aqui na parede". Então eles mesmos vão colocando, né? Me lembro de um dia que a gente tava brincando eh de faz de conta nos cantos e uma das crianças aí falou: "Eu quero escrever".
Ele pegou os coxonetes. Professor às vezes deixa, né? Pegou os coxonetes e fizeram uma grande cabana com os colxonetes, com os cobertores.
E aí ele queria escrever perigo não entre. Falou: "Profe, eu preciso de ajuda para escrever perigo não entre. Ah, então tá, vou te ajudar.
" Não, mas eu quero escrever perigo em inglês. Porque em algum momento ele tinha visto aquilo em algum momento. Então é hora, professora, de você parar o que você tá fazendo e ir lá apoiar a ideia dessa criança.
A gente pesquisou, era Danger, né? Ele escreveu, fez lá o triângulozinho e colou ali na na lateral do balcão. E terminou a brincadeira, a gente organizou a sala e eu falei: "E agora?
Que que a gente faz com essa escrita? " não deixa aí pras próximas vezes que a gente for brincar e aquela escrita ficou ali e todo mundo que passava por ali sabia que o que tava escrito ali. Então para mim os suportes eles precisam chegar pras crianças eh passando ali pela experiência de vida mesmo, né, de de construção coletiva, de sentidos mesmo.
E aí a professora pode ficar observando e acompanhando até para perceber como é que as coisas estão se relacionando com esses suportes, o que que chegou para elas, o que que ainda precisa ser potencializado. Acho que é um bom caminho. Então eu queria agradecer muito a professora Noemi, professora Rita, por terem compartilhado com a gente essas experiências incríveis que vocês tiveram na sala de aula, essas perspectivas, né, de como trazer a teoria paraa prática.
Tenho certeza de que vai ser muito enriquecedor para as professoras que estão assistindo e que fazem parte do lei. Vocês querem deixar algum recado final para elas? Eu quero agradecer também o convite e de tudo que a gente trouxe, acho que um dos elementos fundamentais que a gente pode tentar deixar como uma mensagem importante é eh entender que a voltar lá pra primeira questão e entender que a a cultura escrita faz parte da vida das crianças desde sempre e que na escola ela não pode ser artificializada.
Ela tem que ter uma função clara paraa criança também, não apenas pro professor. Então, seduzir as crianças e mostrar para ela que a escrita é bacana, é interessante, tem uma função, é o nosso papel. Eu também quero quero agradecer eh também queria deixar uma última reflexão mesmo, né, para que a gente possa ficar com isso em mente também, né, de que é importante dentro desse contexto de vida que a escola também é, que a que as crianças sejam acolhidas, ouvidas e que as iniciativas delas, tanto com relação à língua escrita, mas principalmente, que é o que a gente tá conversando hoje aqui, né, que elas sejam acolhidas por vocês, professora, sejam corajosas, tenham coragem de abandonar às vezes o o plano de aula ou plane planejamento naquele momento e acolher o que as crianças trazem para vocês.
Eu tenho certeza que vocês vão ter boas histórias para contar também e vão tornar o cotidiano de vocês muito mais interessantes. É isso. Muito obrigada por assistirem.
Obrigada.