A Psicologia do Trauma Infantil

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Psicose
Você já sentiu que as feridas do passado se refletem na sua vida hoje? Neste vídeo de psicologia do ...
Video Transcript:
Você se lembra do momento exato em que deixou de ser criança? Em que ponto a fantasia deu lugar ao medo e o amor ao silêncio? Quantas partes de você morreram enquanto ainda aprendi a viver?
A maior tragédia da infância é que ela não morre quando crescemos, disse um psicanalista que preferia o anonimato da dor à vaidade da cura. E é verdade, muitos adultos caminham pela vida como sobreviventes silenciosos de guerras que ninguém viu. Guerras travadas dentro de casa, em quartos sem testemunhas, com cicatrizes invisíveis que, ironicamente nunca cicatrizam.
Aquilo que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino. Carl Jung. Neste vídeo, nós não vamos fingir que a infância é sempre um tempo doce.
Não vamos romantizar a ideia de família, nem nos esconder atrás de palavras leves. Aqui o que importa são as sombras, os gritos abafados, o abandono que molda identidades. Você vai entender porque algumas dores não passam com o tempo, mas com coragem.
vai descobrir porque o trauma infantil não é só um episódio, é um código que reescreve tudo o que você sente, pensa e ama até hoje. Talvez você não se lembre de ter sido traumatizado, mas sente a angústia de não confiar em ninguém. O vazio depois do afeto, a ansiedade diante da paz.
Isso não é fraqueza, isso é sobrevivência. Não é o trauma que nos destrói, é o silêncio em que ele é enterrado. Bessel Vanercoke, então eu te convido a seguir até o fim.
Este vídeo não é uma aula, é um espelho. E às vezes tudo que precisamos é coragem para [Música] olhar. Toda criança nasce com uma fome profunda, não de alimento, mas de afeto, de presença, de reconhecimento.
E quando essa fome não é saciada, ela não some. Ela se transforma em angústia crônica, em vergonha difusa, em um vazio que nenhum abraço adulto consegue preencher. A maioria dos traumas infantis não vem de agressões evidentes.
Vendo que faltou, faltou colo. Faltou alguém que dissesse: "Você tem valor mesmo quando chora". Faltou ser visto, ser ouvido, ser acolhido sem ter que merecer.
Vivemos numa cultura onde pais emocionalmente ausentes são considerados normais e crianças que se retraem são apenas tímidas. Mas por trás do silêncio de uma criança quieta, muitas vezes há uma alma em frangalhos, aprendendo a esconder a própria dor para manter o amor dos outros. Aquilo que o olhar não encontra, o corpo registra.
Uma frase sem autor definido, mas com uma verdade brutal. A ausência de cuidado vira linguagem corporal. O trauma se infiltra no tom da voz, na curvatura das costas, na dificuldade de olhar nos olhos.
John Balby, criador da teoria do apego, dizia que o vínculo com os cuidadores molda todo o nosso padrão de relacionamento futuro. Se a figura que deveria oferecer segurança também causa medo, o cérebro infantil aprende que amar é perigoso e viver é caminhar sobre estilhaços. Essas experiências iniciais criam um script inconsciente que se repete ao longo da vida.
A criança que foi ignorada vira o adulto que precisa provar valor o tempo inteiro. A que foi ridicularizada vira alguém que se sabota antes que o mundo possa fazê-lo. A que foi abandonada muitas vezes aprende a se apegar ao que a destrói, porque é familiar.
E o mais cruel é que muitas vezes a criança nem sabe que está sendo traumatizada. Ela normaliza, justifica, se culpa. Afinal, seu mundo é pequeno.
Se os pais a machucam, ela não conclui que os pais são ruins. Ela conclui que ela é má e carrega essa narrativa como um fardo invisível até a vida adulta. Você não foi amado do jeito que precisava, mas aprendeu a sobreviver do jeito que pôde.
E é aí que mora o maior veneno do trauma infantil. Ele não termina quando a infância acaba. Ele muda de forma, vira dificuldade de confiar, medo de intimidade, apego à solidão.
Vira uma armadura que pesa, mas parece proteção. Judith Herman em Trauma and Recovery descreve como essas feridas silenciosas geram ciclos de autonegação. A pessoa cresce acreditando que deve silenciar sua dor, não incomodar, não sentir demais.
Cresce treinada para se calar. E o silêncio, como sabemos, é o idioma favorito do trauma. O filósofo Michel Foucault dizia que o poder se perpetua através de discursos que definem o que pode ou não ser dito.
E se aplicarmos isso à infância, percebemos, muitos traumas se escondem porque nunca nos foi permitido nomeá-los. A linguagem que poderia nos libertar foi negada desde o início. É por isso que adultos bem-sucedidos colapsam de forma inexplicável, que relacionamentos promissores são sabotados sem razão clara, que a sensação de estar sempre deslocado nunca passa, porque o trauma infantil não é um evento isolado, é a lente pela qual o mundo inteiro passa a ser interpretado.
Você não está exagerando. Você só está pela primeira vez sentindo o que antes não podia sentir. Texto de acolhimento lido em sessões de terapia somática.
O silêncio que nos formou é o mesmo que nos impede de pedir ajuda. Mas reconhecer essa dor, dar a ela um nome, já é o início da cura. Mesmo que seja sussurrando, mesmo que [Música] doa.
Imagine alguém que vive com dores constantes, crises de ansiedade, insônia crônica. Essa pessoa tenta de tudo. Remédios, dietas, viagens, espiritualidade, mas o alívio nunca dura.
E aí vem a pergunta que corta como lâmina. E se o problema não for o agora, mas o que foi enterrado no ontem? O trauma infantil raramente se mostra de forma direta.
Ele se camufla e quando a mente não consegue lidar com a dor, o corpo assume a responsabilidade de lembrar, como se dissesse: "Se você não vai falar sobre isso, então eu vou gritar. O corpo mantém o placar. " É o que diz Bessel Vanerc, psiquiatra e autor de um dos livros mais importantes sobre o tema.
Segundo ele, traumas não processados ficam registrados no sistema nervoso como se o perigo nunca tivesse passado. Por fora, a vida continua. Por dentro, o alarme nunca para de tocar.
A amídala cerebral, responsável por detectar ameaças, permanece hiperativa. O hipocampo, que organiza memórias fica desregulado. O corpo entra em estado de alerta constante, o chamado fight or flight, lutar ou fugir.
Mas como se foge de uma lembrança que nem sempre se tem? Como se luta contra algo que só se sente, mas não se vê? A resposta: não se luta, se sobrevive.
E essa sobrevivência tem custo dores físicas inexplicáveis, problemas digestivos, doenças autoimunes, como explica doutor Gabor Maté, autor de In the Realm of Hungry Ghosts, o corpo adoece não porque é fraco, mas porque foi forçado a suportar o insuportável sem nunca ter tido a chance de se expressar. O corpo infantil exposto ao estresse tóxico tem sua bioquímica alterada permanentemente. A liberação constante de cortisol, o hormônio do estresse, impacta o desenvolvimento cerebral, o sistema imunológico, o metabolismo.
E o mais cruel, isso acontece justamente na fase em que a criança deveria estar formando vínculos seguros, experimentando amor, descobrindo confiança. Mas ao invés disso, ela aprende que o mundo é imprevisível, que carinho pode virar grito, que a presença do outro pode ser ameaça, não proteção. Cada vez que eu me sentia feliz, meu corpo apertava, como se dissesse: "Cuidado, já fizeram isso doer antes".
Depoimento anônimo de uma sobrevivente de trauma infantil. E não é só no corpo. O trauma molda até mesmo as estruturas da linguagem e da memória.
Muitas pessoas não lembram dos abusos com clareza e se culpam por isso. Mas a memória traumática é fragmentada, muitas vezes sensorial. Vem em cheiros, sons, texturas.
Uma música que dispara taquicardia, um tom de voz que paralisa, um lugar que causa náusea sem explicação. Segundo Peter Levine, criador da Somatic Experiencing, o trauma é menos sobre o que aconteceu e mais sobre como o corpo foi impedido de reagir. Quando não há escapatória física ou emocional, a energia da sobrevivência fica congelada.
E congelada, ela apodrece, não some, só espera um gatilho. E esses gatilhos surgem nos momentos mais íntimos. Uma briga com o parceiro, um chefe autoritário, um filho que chora e de repente, sem entender por o adulto reage com raiva, pânico ou dissociação.
Não é exagero, é. Judith Herman mais uma vez alerta. O trauma reprimido não desaparece.
Ele reencena. A vítima de ontem se torna o sabotador de hoje, repetindo padrões, evitando o afeto, revivendo a dor em busca de controle, como se fosse possível desfazer o passado acertando o presente. Mas não é.
O corpo não quer vingança. Ele quer testemunhas. Quer que alguém olhe para ele e diga: "Sim, isso aconteceu.
Sim, você merecia mais". E às vezes o primeiro a fazer isso tem que ser você. O trauma precisa ser escutado mais do que compreendido.
Frase atribuída a um terapeuta somático francês. A mente esquece porque esquecer foi a forma mais eficaz de seguir, mas o corpo lembra e continua pedindo: "Me veja, me escute, me liberte". Você não pode mudar o que aconteceu.
Não pode voltar no tempo e colocar afeto onde havia gritos, nem oferecer colo à aquela criança assustada, que dormia abraçada ao próprio medo. Mas pode fazer algo ainda mais poderoso, reescrever a história no presente, não apagando o passado, mas devolvendo a ele o que faltou, sentido. Entre o estímulo e a resposta existe um espaço.
Nesse espaço reside o nosso poder de escolher a resposta. E nessa resposta está o nosso crescimento e nossa liberdade. Víctor Frankel, sobrevivente do holocausto e autor de Em Busca de Sentido.
O trauma infantil desorganiza a mente, fragmenta o corpo e distorce o senso de identidade. Mas a cura começa quando olhamos para tudo isso com um tipo de coragem diferente. Uma coragem sem heroísmo, sem pressa, que simplesmente aceita algo em mim ainda está preso lá atrás e precisa de mim agora.
Não existe fórmula única, mas há caminhos e o primeiro deles é a validação. Parar de se chamar de exagerado, parar de se comparar com quem teve infâncias diferentes. Aceitar que dor não precisa ser mensurada para ser legítima.
só precisa ser acolhida. Terapias como EMDR, criadas por Francine Chapiro, permitem que memórias traumáticas sejam integradas, não para serem apagadas, mas para deixarem de ser veneno. Os olhos se movem, a memória se reativa, mas o corpo está em segurança e isso, com o tempo, reconfigura o cérebro, como se dissesse: "Agora é diferente".
A experiência somática de Peter Levine ensina algo revolucionário. Não é preciso reviver a dor para curá-la. Basta permitir que o corpo complete o movimento que foi interrompido.
Um tremor, um choro, um gesto. Pequenos sinais de que a energia congelada começa-me a derreter. Mas talvez o mais transformador seja aquilo que não se aprende em livros, a reconexão com o próprio eu que foi esquecido.
Muitos sobreviventes de trauma crescem acreditando que há algo errado com eles, que são difíceis de amar, que sentem demais, que atrapalham. Mas como diz Richard Schwartz, criador da terapia do sistema interno familiar, todos nós temos partes e nenhuma delas é má. Algumas apenas carregam dor demais por tempo demais.
Você não está quebrado, está dividido. E é possível conversar com essas partes internas, entender o que elas temiam, o que elas ainda querem proteger, o que elas precisam ouvir para finalmente descansar. Outros caminhos se abrem.
A filosofia existencial com Sartre, Kirkegard, Niet nos lembra que não somos definidos pelo que nos aconteceu, mas pelo que escolhemos fazer com isso. A espiritualidade, quando livre de dogmas, pode oferecer um novo sentido para o sofrimento, não como castigo, mas como matériapra para a transformação. E a arte, né, pintura, escrita, dança, música, pode ser o idioma que finalmente nomeia aquilo que foi vivido sem palavras.
Gabor Maté diz que o oposto de vício não é abstinência, é conexão. E talvez o oposto de trauma também não seja cura, mas reconexão com o corpo, com a verdade, com os outros, com o tempo presente. Você não precisa se tornar outra pessoa, precisa apenas permitir que aquilo que foi interrompido em você volte a fluir.
Meditação terapêutica de Pat Ogen. Algumas dores não desaparecem, mas deixam de governar. Alguns buracos não se preenchem, mas podem ser iluminados.
E a criança que sobreviveu dentro de você ainda pode ser acolhida. A cura talvez não seja um destino, mas uma escolha feita todos os dias. Há de continuar vivo, mesmo sabendo onde [Música] doeu.
Você chegou até aqui, leu, sentiu, talvez chorou em silêncio ou apenas respirou mais fundo do que o habitual. Isso já é um ato de coragem. Porque falar de trauma infantil não é sobre o passado, é sobre o que ele ainda move ou paralisa dentro de você.
O trauma infantil é como uma rachadura invisível numa parede que parece intacta. Só percebemos sua presença quando tudo começa a tremer. Mas se há algo que o tempo e a lucidez ensinam, é que você não é sua dor.
Você é aquele que a observa, que a nomeia, que aos poucos aprende a cuidar dela como se fosse uma criança em seus braços. Porque no fundo é isso mesmo. Não podemos escolher o que nos feriu, mas podemos escolher o que fazer com as cicatrizes.
Escrito à mão num diário de alguém que sobreviveu. Se isso te tocou de alguma forma, é porque talvez ainda exista uma parte sua que espera ser ouvida. E saiba, ela não está sozinha, nem errada, nem fraca.
Está viva e é isso que importa. Eu não escrevi esse roteiro só com estudo. Escrevi com memória.
Lembro do menino que fui e da sensação de ouvir a porta batendo forte demais, do silêncio na sala, dois sorrisos falsos no jantar, da culpa por me sentir triste sem motivo. Demorou décadas até eu entender que aquilo era o motivo, que o que não se fala molda o que se é. Talvez por isso eu tenha me dedicado a escrever sobre isso, porque se alguém lá atrás tivesse me dito que o que eu sentia fazia sentido, talvez eu tivesse sofrido menos em silêncio.
Obrigado por me permitir te acompanhar nesse mergulho. Agora, se você gostou do vídeo, você já sabe o que fazer. Clica no curtir, mesmo que a sua criança interior ache que não merece coisas boas.
Se inscreve no canal porque todo vídeo aqui é um convite para pensar e sentir, às vezes até demais. E comenta aqui embaixo o que mais te marcou ou só escreve um eu tô aqui? Isso já vale mais do que parece.
E sim, esses vídeos que estão aparecendo na tela agora, eles não estão aqui por acaso. Um deles fala de um conceito que provavelmente explica porque você repete os mesmos erros emocionais sem perceber. Mas eu não vou contar qual é.
Você vai ter que arriscar o clique. Nos vemos lá ou aqui dentro.
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