O sol escaldante do Maranhão sempre me lembrava minha mãe, dona Maria do Socorro, a mulher mais forte que já conheci. Passava suas tardes debruçadas sobre pilhas intermináveis de roupas, o suor correndo por sua testa enquanto o ferro quente deslizava sobre os tecidos. Seu trabalho como passadeira sustentava a nossa pequena família de duas pessoas. Desde que papai nos deixou daquela maneira tão repentina, nunca esqueci aquela manhã de domingo. Eu tinha apenas 8 anos quando dois policiais bateram em nossa porta. Papai havia sido encontrado sem vida na praia, vítima de um afogamento. As circunstâncias nunca foram
totalmente esclarecidas, deixando em mim uma semente de desconfiança que brotaria anos mais tarde. Mamãe enfrentou a viuvez com uma dignidade silenciosa que, só hoje adulta, consigo compreender completamente. Suas mãos calejadas pelo trabalho árduo garantiam não apenas nossa sobrevivência, mas também meus estudos. “Carminha”, ela costumava dizer, “estude para nunca precisar depender de ninguém”. Suas palavras ecoam em minha mente todos os dias, especialmente agora. A vida nos pregou mais uma peça cruel quando mamãe adoeceu. O câncer a consumiu rapidamente, como uma onda violenta que arrasta tudo em seu caminho. Aos 16 anos, me vi completamente sozinha no
mundo, forçada a amadurecer da noite para o dia. Foi quando aprendi que confiar nas pessoas era um luxo que eu não podia me dar. Talvez por isso, quando conheci Rodrigo 15 anos depois, devesse ter percebido os sinais. Seu sorriso carismático e as promessas de amor eterno ofuscaram minha habitual cautela. Ele parecia diferente, um ário bem-sucedido, educado e aparentemente sincero. Nossa história começou como um conto de fadas moderno: encontros românticos, declarações apaixonadas, um pedido de casamento elaborado. O verdadeiro pesadelo começou após o "sim". Gisela, minha sogra, revelou-se uma manipuladora nata; seus olhos frios me avaliavam constantemente,
como se eu fosse uma intrusa em seu perfeito mundo de aparências. E Rodrigo mostrou-se tão submisso a ela quanto uma marionete em suas mãos habilidosas. A mansão dos Mendonça, onde fomos morar após o casamento, escondia segredos sombrios por trás de suas paredes imponentes. Ali conheci Clarissa, minha cunhada, aparentemente presa a uma cadeira de rodas e incapaz de falar. Sua condição, segundo Gisela, era resultado de um acidente traumático na infância. Eu a observava com pena, imaginando o horror de viver sob o controle absoluto daquela família. Os primeiros meses de casamento foram um exercício de autocontrole. Gisela
interferia em cada aspecto de nossas vidas, desde a decoração da casa até nossos compromissos sociais. Rodrigo acatava todas as suas decisões sem questionar, como se ainda fosse um garotinho necessitando da aprovação materna. Quanto a mim, mantinha um sorriso cordial nos lábios enquanto meu ressentimento crescia dia após dia. Clarissa parecia a única que compreendia meu tormento; seus olhos expressivos meui e vees. Eu tinha a sensação de ver um brilho de entendimento em seu olhar. Como eu desejava pensar que ela era mais frente à nós. Foi quando Rodrigo e Gisela anunciaram suas férias que tudo mudou: um
cruzeiro de duas semanas pelo Mediterrâneo, apenas os dois. Claro, eu deveria ficar em casa cuidando de Clarissa. “Cuide dela enquanto nos divertimos”, disseram com sorrisos condescendentes. Aquela palavras soaram como uma sentença final, mais uma prova de que eu nunca seria realmente parte daquela família. Mas o destino, aquele mesmo que me golpeou tantas vezes na vida, preparava uma surpresa que mudaria tudo. Assim que o carro deixou a propriedade, levando Rodrigo e Gisela para o aeroporto, senti uma mudança no ar. O silêncio da mansão parecia carregado de expectativa, como a calma que precede uma tempestade. O som
dos saltos de Clarissa no piso de mármore ecoou pela mansão como um prenúncio do pesadelo que estava prestes a começar. Sim, Clarissa, a mesma que momentos antes estava sentada em sua cadeira de rodas, supostamente muda e paralítica, agora caminhava em minha direção com a elegância de uma predadora. Seu sorriso gélido congelou o sangue em minhas veias. “Vamos começar”, disse ela, sua voz melodiosa carregando um tom de crueldade que jamais esquecerei. “Surpresa em me ver assim, cunhadinha.” Recuo instintivamente, procurando algo para me defender; minha mente girava, tentando processar aquela cena surreal. Clarissa riu, um som musical
e terrível. “Relaxe, minha, não pretendo te machucar. Na verdade...” Ela se aproximou da cristaleira, servindo-se de uma taça de vinho tinto. “Tenho uma história para te contar, uma história sobre seu querido marido.” Percebi que minhas mãos tremiam. “Por que essa farsa?” “Farsa?” Clarissa arqueou uma sobrancelha perfeitamente delineada. “Ah, isso é apenas a ponta do iceberg. Sabe quem é Helena Bergman?” Aquele nome eu o havia visto algumas vezes no celular de Rodrigo, sempre seguido de mensagens apagadas. “As peças”, quando me aproximava, “uma cliente?”, perguntei, embora já soubesse a resposta. “Helena é muito mais que uma cliente”,
Clarissa girou o vinho em sua taça, observando o líquido escuro com fascinação. “Ela é a amante do seu marido há 3 anos e não uma amante qualquer. Ela é sócia major da principal concorrente da empresa dele.” A revelação caiu sobre mim como um balde de água gelada. Helena Bergman agora me lembrava a mulher elegante que ocasionalmente aparecia nos eventos sociais, sempre vestida impecavelmente em tons de vermelho. “Seu cartão de visita,” Rodrigo sempre dizia que ela era apenas uma conhecida do meio empresarial. “Helena não é apenas amante dele,” continuou Clarissa, seus olhos brilhando. “Se aox seu
pere caro, invadindo meu espaço.” “Chegou a hora da verdade vir à tona. Helena não é apenas a amante dele, ela é minha antiga melhor amiga. Foi ela quem me ajudou a manter essa farsa da cadeira de rodas todos esses anos.” A história que se seguiu me deixou atordoada. Helena e Clarissa haviam crescido juntas, herdeiras de fortunas rivais. Quando Rodrigo começou a cortejar Helena anos atrás, Gisela interferiu, forçando-o a se afastar dela por questões empresariais. Foi quando Helena jurou vingança, planejando meticulosamente cada passo. Ela se aproximou de Rodrigo novamente depois que... Vocês se casaram. Clarissa explicou,
agora sentada elegantemente no sofá. Foi paciente, calculista. Primeiro, apenas encontros casuais em eventos; depois, reuniões de negócios que se estendiam até tarde da noite. Helena sabia exatamente como manipulá-lo. E você, conseguiu perguntar? Minha voz, quase um sussurro: "Por que fingir ser muda e paralítica?" O sorriso de Clarissa se alargou. "Controle, querida. Minha querida mãe sempre quis me controlar. Quando ameacei expor alguns de seus segredos mais sórdidos, ela me deu um ultimato: ou eu vivia como uma inválida sob seus cuidados ou ela me destruiria. Escolhi jogar o jogo dela, mas às minhas regras." Ela se levantou,
caminhando até um quadro na parede. Com um movimento suave, revelou um cofre oculto. "Helena tem provas: fotos, vídeos, documentos, tudo que precisamos para destruir Rodrigo e Gisela." "Por que agora?" "Porque Helena está cansada de ser a outra. Ela quer Rodrigo para ela, mas não por amor, por vingança. Quer vê-lo perder tudo: a empresa, a família, você. E quanto a mim?" Riu. "Cansei de ser a filha inválida. Quero minha liberdade." As horas seguintes foram preenchidas com revelações cada vez mais chocantes. Helen não era apenas uma amante; era uma ESTV que havia planejado cada detalhe da destruição
dele. Ela havia infiltrado-se em sua vida profissional, ganhando sua confiança enquanto minava seus negócios por dentro. "Ela está em Paris agora," Clarissa mencionou casualmente. "Meses se passaram. Quando comentamos sobre os negócios em comum, estávamos em meio ao caos interno. Agora, querida cunhada, você tem uma escolha a fazer." Clarissa se aproximou, seus olhos brilhando com uma intensidade perturbadora. "Pode continuar fingindo que não sabe de nada, sendo a esposa devota de um homem que te traiu da pior maneira possível, ou pode se juntar a nós e garantir que Rodrigo e Helena destruam um ao outro." "Por que
eu confiaria em você?" "Por ela," sorriu. "Diferente deles, estou sendo honesta sobre minhas intenções. Não quero seu marido, não quero sua vida. Só quero minha liberdade e ver aqueles que me prejudicaram pagarem por seus atos." Naquele momento, algo dentro de mim mudou. As palavras de minha mãe ecoaram em minha mente: "Nunca precise depender de ninguém." Eu havia falhado com esse ensinamento ao confiar em Rodrigo, ao acreditar em seu amor. Não cometerei o mesmo erro duas vezes. "O que exatamente Helena planeja?" perguntei, surpreendendo-me com a frieza em minha própria voz. Clarissa sorriu satisfeita. "Ela vai expor
tudo durante o jantar de aniversário da empresa, daqui a um mês. Todos os principais acionistas estarão lá, será um espetáculo e tanto." "E qual seria meu papel nisso tudo?" "Simples: continue sendo a esposa dedicada. Deixe que Helena pense que tem o controle total da situação. Enquanto isso, vamos garantir que ele também caia quando Rodrigo observar." "Não vou participar do seu jogo ou do de Helena." "Vou destruir Rodrigo do meu jeito, no meu tempo." O sorriso de Clarissa vacilou por um instante. "Tem certeza? Helena é perigosa, Carminha. Ela não vai hesitar em te destruir também." "Que
tente," respondi, sentindo uma força nova crescer dentro de mim. "Mas, diferente dela, não preciso de plateia para minha vingança." Naquela noite, enquanto Clarissa retornava à sua cadeira de rodas, mantendo sua farsa para os empregados, comecei a planejar. Não seria um espetáculo público, como Helena desejava, nem uma manipulação elaborada, como Clarissa sugeria. Seria algo mais profundo, mais pessoal. Um dia antes, o recado escrito em batom vermelho era claro: "Quer saber mais sobre seu marido?" Helena não estava apenas provocando; estava declarando guerra. As fotos mostravam mais que encontros furtivos; revelavam a intimidade de um casal que não
se importava em ser discreto. Em uma delas, jantavam no restaurante do hotel onde Gisela supostamente estava hospedada. O sorriso presunçoso de Helena enquanto alimentava Rodrigo com morangos me causou náusea. "Ela sempre foi assim," Clarissa comentou quando lhe mostrei as fotos. "Helena adora esfregar sua vitória na cara dos outros. Na faculdade, roubou o namorado da melhor amiga só para humilhá-la." "Na verdade," prossegui, "são imagens diferentes das que eu pensei." Ao longo dos últimos meses, Rodrigo não a presenteava com meu dinheiro, mas com minhas próprias joias. "Isso é típico dela," Clarissa continuou. "Helena tem uma coleção de
troféus de cada relacionamento que destruiu. Ela guarda algo pessoal de cada esposa que arruinou." Meu celular vibrou com uma mensagem de número desconhecido. Era um vídeo: Helena usando meu colar de pérolas, presente de noivado da minha falecida mãe. Filmava-se no quarto de hotel. "Querida Carminha," sua voz era suave como veludo envenenado. "Espero que não se importe que eu tenha pegado emprestado. Combina mais comigo, não acha?" A raiva que senti foi diferente de tudo que já havia experimentado; não era apenas pela traição de Rodrigo, mas pela crueldade calculada de Helena. Ela não queria apenas meu marido,
queria me destruir completamente. "Tem mais," Clarissa revelou, deslizando seu tablet pela mesa. "Helena tem um histórico. Nos últimos 10 anos, destruiu três casamentos de executivos. Sempre o mesmo padrão: seduz, manipula, arruína. Mas com Rodrigo é diferente; ela realmente o quer, não apenas para destruí-lo, mas para provar que pode ter tudo o que Gisela tentou negar a ela." As próximas horas foram dedicadas a descobrir mais sobre Helena Bergman. Cada revelação era mais perturbadora que a anterior. Ela havia crescido em uma família tão rica quanto a de Rodrigo, mas seu pai perdeu tudo em um escândalo financeiro.
Helena jurou recuperar seu status social a qualquer custo. Conheceu Rodrigo na faculdade, Clarissa explicou. "Foi seu primeiro amor verdadeiro, mas Gisela interferiu, convenceu o conselho da empresa que Helena era perigosa para os negócios da família. Rodrigo, sempre o filho obediente, terminou com ela. E agora ela voltou para se vingar." Concluí: "Não apenas isso. Helena reconstruiu seu...". Império do zero: cada homem que destruiu a ajudou a recuperar um pouco do poder que havia perdido. Agora ela é mais rica e influente que nunca. Rodrigo é sua obra-prima, a vingança perfeita contra Gisela. Meu celular vibrou novamente: outro
vídeo de Helena, desta vez usando meu vestido favorito, aquele que Rodrigo sempre elogiava. "Sabe o que é mais delicioso?", querida, ela sussurrou para a câmera. "Ele me diz que você nunca soube usá-lo como eu." A humilhação queimava, mas me recusei a demonstrar fraqueza. Helena queria me ver quebrada, implorando, talvez até confrontando-a publicamente, seria seu tipo favorito de entretenimento. Ela tem um evento planejado, Clarissa revelou: uma festa beneficente no próximo mês, todos estarão lá: a alta sociedade, a imprensa. Helena pretende me curar publicamente, expor, diz ela, como uma manipuladora e anunciar seu relacionamento com Rodrigo, um
espetáculo completo. Exatamente, Helena sempre foi teatral. Mas há algo que ela não sabe, Clarissa hesitou: Rodrigo não é tão apaixonado por ela quanto pensa, ele está jogando um jogo duplo. Isso chamou minha atenção. "Como assim?" Enquanto promete amor eterno a Helena, ele está negociando a venda de ações da empresa dela por baixo dos panos. Ele é tão cobra quanto ela, só não tão bom em esconder. A ironia da situação quase me fez rir: dois traidores se traindo mutuamente, cada um pensando que tinha o controle da situação. Mas Helena era mais perigosa; ela não tinha nada
a perder. Recebi mais uma mensagem, desta vez uma foto de Helena usando minha aliança de casamento. A legenda era cruel: "Ele disse que sempre pertenceu a mim, que você foi apenas uma substituta enquanto ele me esperava voltar." "Ela está tentando te provocar", Clarissa observou. "Helena adora quando suas vítimas perdem o controle. Foi assim que destruiu a última esposa que enfrentou; a fez ter um colapso nervoso em público." Mas eu não era como as outras. As palavras de minha mãe ecoavam mais forte que nunca: "Nunca precise depender de ninguém." Helena podia ter os vestidos, até mesmo
Rodrigo, mas não teria minha dignidade. "Sabe o que é interessante sobre cobras?", comentei, observando mais uma foto que Helena enviou, desta vez dela e Rodrigo em um momento íntimo. Elas são mais vulneráveis logo depois de atacar. O sorriso de Clarissa vacilou. "O que está planejando?" "Helena quer um show. Vou dar a ela algo para assistir, mas não será o espetáculo que ela espera." Passei as próximas horas planejando. Cada mensagem provocativa de Helena, cada foto humilhante apenas fortalecia minha determinação. Ela pensava que estava lidando com mais uma esposa desesperada, mais uma vítima para sua coleção de
troféus. "Você não conhece Helena como eu," Clarissa advertiu. "Ela é capaz de qualquer coisa quando contrariada. Na faculdade, uma garota que a desafiou teve que mudar de país depois do que ela fez." "Ela não me conhece também," respondi calmamente. "E, diferente das outras, não tenho nada a perder." Naquela noite, recebi um último presente de Helena: uma caixa contendo todas as minhas joias roubadas, cada peça quebrada ou desfigurada, junto a um cartão: "Algo velho, algo novo, algo emprestado, algo azul. Adivinhe quem será a próxima noiva?" Clarissa esperava que eu explodisse, que ligasse para Rodrigo exigindo explicações,
que confrontasse Helena publicamente. Em vez disso, guardei cada joia quebrada, metodicamente. Seriam lembranças do dia em que decidi que algumas pessoas merecem perder tudo que conquistaram através da crueldade. Helena tem razão em uma coisa, disse a Clarissa enquanto observava o pôr do sol pela janela: "Algumas coisas precisam ser quebradas para serem verdadeiramente apreciadas." A semana seguinte transformou minha vida em um pesadelo orquestrado por Helena. Cada manhã trazia uma nova provocação; cada noite, uma nova humilhação. Ela havia transformado sua tortura psicológica em uma forma de arte perversa. Na segunda-feira, recebi um álbum de fotos digital; Helena
havia recriado com precisão doentia cada momento especial do meu relacionamento com Rodrigo: o pedido de namoro, o noivado, até nossa lua de mel. Ela reproduziu cada cena usando os mesmos lugares, as mesmas poses, até as mesmas roupas. "Estou aperfeiçoando o que você nunca soube fazer direito," dizia a mensagem. Na terça, ela enviou um vídeo de Rodrigo dormindo em sua cama em Paris. A câmera percorria o quarto lentamente, mostrando minhas roupas rasgadas e espalhadas pelo chão. "Ele disse que essas peças combinam mais comigo. Não se preocupe, comprei outras para substituí-las." Um guarda-roupa inteiro de vestidos vermelhos
havia sido entregue em minha casa naquela manhã. Quarta-feira trouxe uma surpresa ainda mais cruel: Helena havia contratado uma equipe para redecorar meu quarto enquanto eu estava fora. Cada foto minha com Rodrigo havia sido substituída por fotos dele com ela. Meus pertences pessoais estavam trancados em caixas no porão. No espelho, escrito com batom vermelho: "Uma precisa de seu castelo." "Isso é loucura," Clarissa comentou, observando as mudanças. "Helena sempre foi obsessiva, mas isso é outro nível." Não respondi; estava ocupada descobrindo que Helena havia hackeado meu celular e computador. Todas as minhas senhas haviam sido alteradas, meus e-mails
redirecionados para ela. Cada aspecto da minha vida digital estava sob seu controle. Na quinta, ela começou a me por nas redes sociais, postando fotos antigas minhas com legendas humilhantes, sugerindo instabilidade mental e dependência química. Quando tentei desmentir, descobri que ela havia bloqueado meu acesso às contas. "Você precisa fazer algo," Clarissa insistiu. "Helena está te destruindo sistematicamente." Mas eu estava fazendo algo. Cada ataque de Helena revelava mais sobre ela própria do que sobre mim: sua obsessão por controle, sua necessidade de humilhar, seu desejo doentio de não apenas conquistar, mas aniquilar. Tudo isso formava um padrão. Na
sexta, Helena deu seu golpe mais audacioso: organizou um jantar em sua cobertura e convidou todas as minhas amigas. Para minha surpresa, todas compareceram. O menu? Receitas que eu costumava fazer, agora aperfeiçoadas por ela. O entretenimento? Histórias íntimas sobre meu casamento contadas por Rodrigo, entre risos. Ninguém recusou o convite; Helena me escreveu. Depois, anexando fotos do evento, talvez porque finalmente encontraram uma anfitriã à altura. No sábado, ela enviou convites para um evento beneficente que organizaria no fim do mês. O tema: Renascimento e Redenção. O código de vestimenta, vermelho, é claro no convite. Uma nota especial para
mim, querida Carminha: "Venha testemunhar o início do meu felizes para sempre com o homem que sempre foi meu." Mas foi no domingo que Helena mostrou verdadeiramente suas garras. Descobri que ela havia contratado detetives particulares para investigar meu passado. Cada aspecto da minha vida havia sido vasculhado, cada segredo exposto. Sua mãe era uma mulher admirável; ela escreveu: "Imagine como se sentiria vendo você agora, tão patética, tão facilmente substituível." Aquilo deveria ter me quebrado; era o que Helena esperava. Em vez disso, me fez rir pela primeira vez em dias. Ri genuinamente. “Você enlouqueceu,” Clarissa perguntou, preocupada. Não
respondi, ainda sorrindo, apenas percebi algo sobre nossa querida Helena: ela é previsível. Passei as próximas horas analisando cada movimento de Helena durante a semana. Seu padrão era claro: primeiro, atacava algo material (roupas, joias, decoração); depois, passava para o digital (redes sociais, comunicações); em seguida, focava nas relações sociais (amigos, conhecidos); e, por fim, atacava o emocional (memórias, família, autoestima). “E daí?” Clarissa questionou. “Daí que ela segue sempre o mesmo padrão, como uma cobra que sempre dá o bote.” Da mesma forma, Helena era meticulosa em seus ataques, mas sua previsibilidade era sua maior fraqueza. Cada movimento era
calculado para causar o máximo de dano emocional, mas seguia um padrão que poderia ser antecipado. Na segunda-feira seguinte, quando Helena enviou outro álbum de fotos, desta vez de Rodrigo experimentando bolos de casamento com ela, não me abalei. Em vez disso, comecei meu próprio jogo. “O que está fazendo?” Clarissa perguntou ao me ver organizando documentos. “Aprendendo com o inimigo,” respondi. “Helena quer guerra psicológica. Vamos jogar.” Meu primeiro movimento foi sutil; enviei para Helena um único objeto: o diário que Rodrigo mantinha na adolescência, encontrado entre as coisas antigas de Gizela. Nele, páginas e páginas dedicadas ao seu
primeiro amor: não Helena, mas outra garota. A resposta veio em minutos: uma enxurrada de mensagens furiosas, todas deletadas segundos depois. Helena, a rainha do controle, havia perdido a compostura. Por um momento, “Você não devia provocá-la,” Clarissa advertiu. “Helena é perigosa quando contrariada.” “Exatamente,” respondi, “e pessoas perigosas cometem erros quando perdem o controle.” Os próximos dias foram um jogo de xadrez psicológico. Para cada ataque de Helena, eu respondia, não com desespero, mas com calma calculada. Quando ela enviou mais fotos íntimas com Rodrigo, respondi com registros antigos de suas cirurgias plásticas, todas feitas para se parecer com
a garota do diário. “Você está brincando com fogo,” Clarissa insistiu. Mas eu havia aprendido algo importante sobre Helena: por trás de toda sua elaborada maldade, havia uma insegurança profunda. Cada ato de maldade era uma tentativa de provar seu poder, seu controle. Na quinta-feira, Helena cruzou um novo limite: conseguiu acesso às câmeras de segurança da mansão e começou a transmitir ao vivo minha rotina para Rodrigo. “Ele adora ver como você está perdida sem ele,” escreveu. Foi seu primeiro erro verdadeiro: no momento em que invadiu as câmeras, revelou sua própria vulnerabilidade digital. Agora, eu tinha um caminho
direto para seu sistema. “Você não vai revidar?” Clarissa perguntou, vendo minha aparente passividade diante das provocações. “Não ainda,” respondi. “Helena precisa acreditar que está vencendo. Pessoas como ela baixam a guarda quando pensam que têm o controle total.” No domingo, recebi o que Helena considerava seu golpe final: um convite para seu casamento com Rodrigo, marcado para o mesmo dia do evento beneficente. O vestido de noiva: uma réplica exata do meu, apenas em vermelho. “Patético,” Clarissa comentou. “Ela realmente acha que te destruiu?” Sorri, guardando o convite cuidadosamente. “E é exatamente isso que ela precisa continuar pensando, porque
enquanto Helena estava ocupada criando seu espetáculo de crueldade, eu estava aprendendo. Cada provocação revelava mais sobre suas fraquezas; cada ataque expunha mais de suas vulnerabilidades.” “O que você realmente está planejando?” Clarissa perguntou, notando algo diferente em meu olhar. “Helena quer um show,” respondi, observando o pôr do sol tingir o céu de vermelho. “E ela terá um. Só que não será o show que ela espera.” O som de vidro quebrando me acordou no meio da noite. Helena havia invadido a mansão. Não pessoalmente, claro; ela era refinada demais para sujar as próprias mãos. Seus capangas haviam feito
o trabalho sujo, destruindo sistematicamente cada objeto que me pertencia. “Arte, performance,” dizia o bilhete deixado sobre os cacos do porta-retratos de minha mãe. “Estou recando sua vida como ela deveria: em pedaços.” A destruição era metódica, quase cirúrgica. Cada item havia sido quebrado de uma maneira específica, criando um padrão macabro: roupas cortadas em tiras precisas, joias derretidas em formas grotescas, fotos queimadas em padrões geométricos. No centro da sala, um manequim usando meu vestido de noiva, agora tingido de vermelho com o que parecia ser sangue. “Isso é loucura,” Clarissa sussurrou, observando o cenário. “Helena sempre foi obsessiva.”
“Mas isso é apenas o começo,” completei, notando uma pequena câmera instalada no teto. Helena queria assistir minha reação ao vivo. Como se para confirmar meus pensamentos, meu celular vibrou com uma mensagem dela: “Gostou da redecoração, querida? Rodrigo adorou as fotos; disse que combina mais com sua personalidade quebrada e sem valor.” As horas seguintes trouxeram mais presentes de Helena. A cada hora, ex mente no momento marcado, algo novo acontecia: à 1 da manhã, todas as luzes da mansão começaram a piscar em vermelho; às duas, um coral contratado apareceu para cantar uma versão distorcida da música do
meu casamento; às três, dezenas de ratos foram soltas pelos dutos de ventilação. “Ela está tentando te enlouquecer,” Clarissa observou, vendo-me manter a calma enquanto os ratos corriam pelos destroços de minha vida. Não respondi; estava ocupada notando os padrões nos ataques de Helena. Cada novo presente revelava mais sobre sua psique perturbada. A precisão... Dos cortes nas roupas, a simetria na destruição, a temporização exata dos eventos, tudo indicava um nível de obsessão que ia além da simples vingança. Às 4 da manhã, Helena enviou seu golpe mais cruel: um vídeo ao vivo de Rodrigo dormindo em sua cama
em Paris, cercado por fotos minhas, todas marcadas com X em vermelho; ao seu lado, um documento parecia ser um requerimento de internação psiquiátrica com meu nome. "Rodrigo está tão preocupado com sua saúde mental", querida Helena escreveu. "Afinal, que tipo de pessoa normal vive em uma casa destruída, cercada por ratos? Talvez alguns meses de tratamento intensivo sejam necessários." O sol nascente revelou mais surpresas: o jardim, orgulho de Gisela, havia sido transformado em um cemitério simbólico. Cada planta morta tinha uma placa com meu nome e uma data diferente, representando as mortes de diferentes aspectos da minha vida:
10 de janeiro, morte da esposa fiel; 15 de março, morte da mulher desejável; 20 de abril, morte da sanidade. Clarissa leu, a sua voz tremendo: "Helena realmente perdeu o juízo." Mas havia mais: no centro do jardim, uma escultura de gelo derretendo lentamente, uma réplica perfeita de mim, vestida de noiva, com uma corda no pescoço. A mensagem era clara: Helena não queria apenas me substituir; queria me apagar completamente. Ao meio-dia, recebi um convite para um funeral simbólico que Helena planejava realizar antes de seu casamento com Rodrigo, para enterrar adequadamente a antiga senhora Mendonça, dizia o convite
em papel preto com letras vermelhas. "Você não pode deixar isso continuar", Clarissa insistiu. "Helena está completamente fora de controle." Mas eu via algo que Clarissa não percebia: cada novo ato de crueldade de Helena era mais elaborado, mais obsessivo que o anterior, e, com cada nova demonstração de poder, ela revelava mais sobre suas próprias inseguranças. À tarde, Helena começou sua próxima fase: contratou atores para se passarem por meus pais falecidos, enviando-os para caminhar em frente à mansão. O homem e a mulher, maquiados para parecerem cadáveres, carregavam placas: "Nossa filha morreu no dia em que se casou
com Rodrigo." "Isso é doentio", Clarissa murmurou, vendo os atores através da janela. "Como ela consegue pensar nessas coisas?" A resposta veio através de um novo vídeo de Helena: ela estava em seu closet em Paris, cercada por manequins vestindo minhas roupas. Cada manequim tinha uma máscara com meu rosto, cada um representando uma fase diferente da minha vida. "Veja querida," ela falou para a câmera enquanto caminhava entre os manequins, "estou colecionando todas as suas versões. Mas sabe qual é a melhor?" Ela parou em frente a um manequim sem máscara. "Ainda falta a última versão: a Carminha quebrada,
derrotada, internada em uma clínica psiquiátrica." O resto do dia trouxe mais horrores psicológicos: Helena havia contratado pessoas para me seguir, cada uma vestida como eu em diferentes fases da vida. Quando saí para comprar comida, encontrei cinco carinhas no supermercado, todas me observando em silêncio. "Ela está em todo lugar", Clarissa notou, vendo mais uma Carminha passar pela janela. "Como você consegue manter a calma?" A verdade era que cada novo ataque de Helena apenas fortalecia minha determinação. Sua obsessão em me destruir havia se transformado em uma fixação doentia que consumia cada vez mais sua sanidade. À noite,
recebi o que Helena considerava sua obra-prima: um álbum digital com fotos manipuladas de momentos importantes da minha vida. Em cada imagem, ela havia inserido digitalmente a si mesma no meu lugar, apagando completamente. "Estou corrigindo o passado", ela escreveu. "Em breve, será como se você nunca tivesse existido." Foi nesse momento que percebi: Helena não estava apenas tentando me substituir; ela estava tentando se tornar eu. Sua obsessão havia ultrapassado a vingança e se transformado em algo mais sinistro. "O que você vai fazer?" Clarissa perguntou, vendo-me observar calmamente as fotos manipuladas. "Nada", respondi, guardando o celular. "Helena está
fazendo todo o trabalho por mim, porque enquanto ela estava ocupada tentando me destruir, estava, na verdade, destruindo a si mesma. Cada ato de crueldade, cada demonstração de poder apenas expunha mais sua instabilidade." À meia-noite, Helena enviou sua última mensagem do dia: uma contagem regressiva para o funeral e seu casamento, junto a uma foto de Rodrigo dormindo, agora cercado por manequins usando minhas roupas. "Ele nem percebe mais a diferença entre você e minhas réplicas", ela escreveu. "Talvez porque você sempre foi apenas uma cópia mal-feita do que eu deveria ter sido." Olhei para Clarissa, que esperava ver
em mim algum sinal de desespero. Em vez disso, sorri. "Helena acha que está me destruindo", disse calmamente, "mas não percebe que está cavando sua própria cova." Na manhã seguinte, encontrei Helena sentada na sala de estar da mansão, vestindo uma réplica exata do pijama que eu usava. Seu sorriso gélido não demonstrava qualquer traço de sanidade. "Surpresa em me ver, querida?", ela perguntou, girando uma taça de vinho tinto. "Rodrigo me deu uma cópia das chaves. Afinal, logo esta será minha casa." Mantive-me calma, observando os detalhes perturbadores de sua aparência: Helena havia tingido o cabelo para imitar o
meu tom exato; suas sobrancelhas estavam redesenhadas no mesmo arco que as minhas; até suas unhas estavam pintadas com meu esmalte favorito. "Sabe o que é mais interessante sobre você, Carminha?", ela continuou, levantando, com movimentos estudados, sua previsibilidade. "Cada manhã você acorda às 6, toma seu café preto, sem açúcar, caminha pelo jardim por exatamente 20 minutos." Ela riu, um som artificial. "Venho te observando há tanto tempo que poderia ser você." "Por que todo esse esforço?", perguntei, notando como ela tentava imitar até minha forma de falar. "Esforço?", ela se aproximou, seu perfume, agora o mesmo que eu
costumava usar, invadindo meu espaço. "Não, querida, é arte. Estou te aperfeiçoando, melhorando cada detalhe que Rodrigo sempre achou inadequado." As próximas horas foram um exercício surreal em observar Helena interpretar sua versão distorcida de mim. Ela preparou o café da manhã exatamente como eu fazia, usando os mesmos gestos. Rotina. Até sua risada era uma imitação estudada da minha. Viu como é melhor assim? Ela perguntou, servindo o café. "Uma versão superior de você. É isso que Rodrigo sempre quis: alguém como você, mas melhor." Foi quando notei as cicatrizes sutis próximas às suas orelhas. Cirurgias plásticas recentes, provavelmente,
para ajustar seus traços aos meus. A obsessão de Helena ia além da simples imitação; ela estava literalmente tentado se transformar em mim. Clarissa me contou sobre sua fixação. Comentei, observando-a tensionar levemente, mas não imaginei que chegaria a este ponto. O sorriso de Helena vacilou por um momento. Clarissa devia aprender a ficar calada, assim como você. É interessante, continuei, mantendo minha voz calma. Toda essa dedicação em se tornar outra pessoa deve ser exaustiva. "Não estou me tornando outra pessoa", Helena sibilou, sua máscara de controle rachando levemente. "Estou me tornando a pessoa que sempre deveria ter sido,
a pessoa que Rodrigo realmente ama." Foi então que ela revelou seu plano completo. Não bastava roubar meu marido ou destruir minha vida; Helena queria literalmente me substituir. Havia estudado cada aspecto da minha existência, memorizado cada hábito, copiado cada maneirismo. "Logo, ninguém vai se lembrar da verdadeira Carminha", ela declarou, abrindo sua bolsa para revelar documentos. "Tenho tudo planejado. Depois que você for internada, porque, querida, você claramente está tendo um colapso nervoso, eu cuidarei de tudo: sua casa, sua vida, sua identidade." As páginas detalhavam um plano meticuloso. Helena havia construído uma narrativa complexa sobre meu suposto desequilíbrio
mental, incluindo testemunhas pagas para confirmar comportamentos erráticos, médicos comprados para atestar instabilidade. "É quase poético", ela continuou, servindo mais vinho. "Você vai desaparecer em uma clínica psiquiátrica enquanto eu vivo a vida que sempre foi destinada a ser minha." E Rodrigo? Perguntei, observando sua reação. "Ele sabe sobre tudo isso." Helena riu, mas havia algo forçado em seu som. "Sabe o que precisa saber. Ele entende que algumas mudanças são necessárias." Foi nesse momento que percebi algo crucial sobre Helena: por trás de toda sua obsessão em me substituir, havia um medo profundo, o medo de não ser suficiente
por si mesma. "Deve ser difícil", comentei suavemente, "viver sempre na sombra de outra pessoa, mesmo quando essa pessoa sou eu." O copo de vinho tremeu levemente em sua mão. "Você não entende nada. Estou te fazendo um favor, realmente transformando sua vida medíocre em algo extraordinário." E todas as cirurgias? Continuei, notando mais marcas sutis de procedimentos recentes. "A dor deve ser intensa. Beleza exige sacrifício", ela respondeu automaticamente, mas sua mão livre tocou inconscientemente uma cicatriz próxima ao queixo. Helena passou as próximas horas detalhando como havia estudado cada aspecto da minha vida. Tinha gravações das minhas conversas,
análises dos meus padrões de fala, até um diário documentando meus gestos mais sutis. "Veja isso", ela disse, mostrando um vídeo em seu celular. Era ela, há meses, me imitando em situações sociais. " pratiquei tanto que às vezes até eu me confundo sobre quem é a verdadeira Carminha." A obsessão tinha níveis que beiravam o sobrenatural. Helena havia decorado não apenas minhas preferências atuais, mas também detalhes do meu passado. Sabia o nome da minha professora da primeira série, a cor do vestido que usei em aniversários. "Rodrigo me contou sobre você", ela explicou, um brilho maníaco nos olhos.
"Cada segredo. E sabe o que é mais interessante? Prefere minhas versões das suas histórias; diz que as conto com mais vida." Foi quando ela revelou seu triunfo final: uma série de vídeos manipulados mostrando meu suposto desequilíbrio mental, cenas cuidadosamente editadas, testemunhos forjados, tudo construindo uma narrativa de uma mulher à beira do colapso. "Em duas semanas", Helena disse, checando seu relógio idêntico ao meu, "você terá seu primeiro episódio público. Será durante um evento beneficente. Imagine a respeitável senhora Mendonça tendo um colapso nervoso na frente da alta sociedade." Seu plano era meticuloso: drogas para me deixar desorientada,
pessoas estrategicamente posicionadas para testemunhar meu surto, médicos prontos para recomendar internação imediata. E o mais bonito, ela sorriu, "é que Rodrigo será o marido dedicado, sofrendo ao ver sua amada esposa sucumbir à loucura. E eu, bem, eu serei o ombro amigo que o consolará." Observei Helena terminar seu vinho; seus movimentos, uma cópia perfeita dos meus. Ela havia se tornado uma versão distorcida de mim, um espelho quebrado refletindo uma obsessão doentia. "Sabe qual é seu único erro?", Helena, perguntei finalmente. Ela ergueu uma sobrancelha, exatamente como eu faria. "E qual seria?" "Você estudou tanto quem eu pareço
ser que esqueceu de descobrir quem eu realmente sou." Por um momento, vi algo passar por seus olhos, um lampejo de dúvida, talvez medo, mas logo sua máscara de confiança voltou ao lugar. "Isso não importa mais, querida", ela respondeu, levantando-se para sair. "Em breve, serei uma versão muito melhor de você do que você jamais foi." Observei-a partir de seus passos, uma imitação perfeita dos meus. Helena havia se tornado sua própria prisão, tão ocupada em me copiar que havia perdido completamente sua própria identidade. O dia do evento beneficente se aproximava, e com ele, Helena intensificava seu jogo
doentio. Cada manhã trazia uma nova surpresa macabra; cada noite, uma nova ameaça velada. Mas agora eu estava preparada, observando sua obsessão se transformar em sua própria armadilha. Na quarta-feira, uma semana antes do evento, acordei para encontrar meu closet completamente vazio. No lugar das minhas roupas, dezenas de vestidos vermelhos idênticos, aos que Helena usava. Em cada cabide, uma foto dela usando a peça específica, sempre imitando minhas poses, meus gestos. "Seu guarda-roupa precisava de uma atualização", dizia o bilhete preso ao espelho. "Agora você pode se vestir como uma verdadeira senhora Mendonça. Ou melhor, como a futura senhora
Mendonça." Mas não era apenas o closet. Helena havia transformado cada cômodo da mansão em um museu distorcido de sua obsessão. As paredes estavam cobertas com fotos dela recriando momentos da minha vida, cada imagem uma representação perturbadora de sua fixação em me substituir. Ela redecorou tudo enquanto dormíamos. Clarissa observou, percorrendo os corredores. Como conseguiu fazer isso sem fazer barulho? A resposta veio através das câmeras de segurança: Helena havia drogado o jantar da noite anterior. Não o suficiente para nos fazer dormir profundamente, mas o bastante para nos manter inconscientes durante sua invasão noturna. Vejo que descobriu minha
pequena surpresa; sua mensagem chegou pontualmente às 9 da manhã. Rodrigo adorou as fotos da nova decoração; disse que finalmente a casa parece ter uma senhora. Anexo à mensagem, um vídeo: Rodrigo e Helena em Paris, recriando nossa de mel, cena por cena, cada momento. Timo cada memória especial profanada por sua versão distorcida da realidade. Observe como ele sorri mais comigo. Helena narrava no vídeo como seus olhos brilham quando me vê usar suas roupas: ocupar seu lugar é quase como se você nunca tivesse existido. Mas havia algo diferente em sua voz, uma nota de desespero mal disfarçada,
uma urgência quase frenética em provar sua superioridade. A máscara de controle de Helena começava a mostrar rachaduras. À tarde, ela enviou sua equipe de "Carinhas", as mulheres contratadas para me imitar, para uma performance macabra no jardim; cada uma representava uma fase diferente da minha vida, todas seguindo um roteiro escrito por Helena. Veja como suas memórias ficam mais bonitas quando interpretadas por profissionais. Ela escreveu que até sua infância parece mais interessante quando não é você vivendo-a. A apresentação era um espetáculo bizarro de obsessão; as atrizes haviam sido treinadas para copiar cada detalhe do meu comportamento, cada
nuance da minha personalidade. Mas havia algo artificial em suas performances, algo que revelava a natureza doentia da ação de Helena. "Ela está perdendo o controle," Clarissa comentou, observando uma das atrizes ter um colapso nervoso ao tentar me imitar perfeitamente. "A obsessão está consumindo-a." Helena apareceu pessoalmente ao anoitecer, agora usando uma peruca idêntica ao meu cabelo. Suas feições, alteradas por cirurgias recentes, eram uma tentativa perturbadora de espelhar as minhas. "Não está feliz em ver como melhorei sua aparência?" Ela perguntou, girando diante do espelho. Rodrigo diz que agora sim pareço uma verdadeira esposa para ele. Observei em
silêncio enquanto ela percorria a casa, tocando objetos, ajustando quadros, sempre verificando sua reflexão nas superfícies espelhadas; cada movimento seu era uma cópia estudada dos meus, cada gesto uma imitação obsessiva. "Sabe o que é mais interessante?" ela continuou, servindo vinho exatamente como eu faria. "Quanto mais me torno você, mais Rodrigo me ama. É quase como se ele sempre soubesse que eu seria uma versão superior de sua esposa." Mas, enquanto Helena se vangloriava de sua transformação, eu notava os sinais de sua deterioração mental: suas mãos tremiam levemente ao segurar a taça, seus olhos moviam-se nervosamente, verificando constantemente
seu reflexo. "E o evento beneficente?" perguntei, observando-a tencionar ao som da minha voz, a voz original que ela tanto tentava copiar. "Será perfeito," ela sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. "Você terá seu colapso nervoso, manifestando todos os sinais clássicos de instabilidade mental, e eu, naturalmente, estarei lá para consolar Rodrigo." Helena passou a hora seguinte detalhando seu plano para me destruir publicamente. Cada aspecto havia sido meticulosamente planejado, cada detalhe considerado. Mas, em sua obsessão por controle, ela revelava cada vez mais suas próprias vulnerabilidades. "Contratei os melhores especialistas em comportamento," ela explicou, agora andando em
círculos pela sala. "Eles me ensinaram cada detalhe seu: como você anda, como respira, até mesmo como seu coração bate. Posso ser você melhor do que você mesma." Foi quando notei algo crucial: quanto mais Helena tentava me copiar, mais perdia sua própria identidade. Sua obsessão em se tornar uma versão superior de mim estava, na verdade, transformando-a em uma casca vazia. "Deve ser exaustivo," comentei suavemente, "tentar ser outra pessoa 24 horas por dia." Por um momento, vi algo quebrar em seus olhos, um lampejo de pânico, talvez a realização de seu próprio vazio. Mas logo a máscara voltou
ao lugar, agora mais rígida que antes. "Você não entende," ela sibilou, sua voz perdendo a estudada imitação da minha. "Não estou tentando ser você; estou te aperfeiçoando, corrigindo todos os seus defeitos." "E quem é Helena Bergman?" Isso tudo. A pergunta a atingiu como um tapa. Por um instante, ela pareceu fusa, como se tivesse dificuldade em lembrar sua própria identidade. "Helena Bergman é uma obra em progresso," ela finalmente respondeu, mas sua voz tremia. "Em breve será apenas uma memória, assim como você." Antes de partir, ela fez questão de mostrar mais um aspecto de seu plano doentio.
Em seu celular, vídeos de suas sessões de treinamento: horas e horas praticando meus gestos, minha forma de falar, até mesmo minha respiração. "Viu como sou dedicada?" Ela perguntou, um brilho maníaco nos olhos. "Ninguém jamais se dedicou tanto a ser você quanto eu." Observei-a dar passos, uma imitação perfeita dos meus, mas agora eu via claramente que cada cópia perfeita que Helena fazia de mim era mais um passo em direção à sua própria destruição. "Ela vai se quebrar," Clarissa comentou depois que Helena saiu. "Ninguém pode manter essa fachada para sempre." "Não," respondi calmamente. "Ela já está quebrada,
só ainda não percebeu." Porque, enquanto Helena estava ocupada tentando se transformar em mim, havia perdido completamente a noção de quem ela realmente era. Sua obsessão em me substituir havia se tornado uma prisão de espelhos, cada reflexo mostrando não a Helena que ela queria ser, mas o vazio em que ela havia se tornado. A semana do evento beneficente chegou, trazendo consigo a fase final do plano obsessivo de Helena. Cada dia era uma nova demonstração de seu controle deteriorante sobre a realidade, cada ação revelando mais rachaduras em sua fachada cuidadosamente construída. Segunda-feira começou com Helena transmitindo ao
vivo seu ensaio geral para me substituir. Ela havia transformado sua cobertura em uma réplica exata da mansão dos Mendonça, cada cômodo uma cópia perturbadora do original. Em cada tela de segurança, eu podia vê-la percorrendo os ambientes, praticando sua versão do que seria minha rotina. Diária. Observe como aperfeiçoei seus movimentos. Sua voz ecoava pelos alto-falantes que ela havia instalado pela casa; cada gesto seu, cada expressão, refinada até a perfeição. Rodrigo diz que agora sim encontrou sua esposa, mas havia algo diferente em sua performance; os movimentos, antes estudados e precisos, agora tinham um toque de desespero. Suas
mãos tremiam ao segurar objetos, seus olhos moviam-se nervosamente entre os espelhos que cobriam cada parede. "Veja como cuido melhor das suas coisas do que você!" Helena continuava, sua voz oscilando entre imitação e histeria. Em sua cobertura, ela havia recriado cada detalhe da minha vida, incluindo réplicas de objetos pessoais e fotos de família. Terça-feira trouxe uma nova dimensão à sua loucura. Helena apareceu na mansão vestida exatamente como eu no dia do meu casamento. Seu vestido não era apenas uma cópia; era o original, roubado do meu closet meses antes. "Estou praticando para o grande dia," ela anunciou,
girando pelo salão. "Quando Rodrigo e eu renovarmos os votos, usando as mesmas palavras do seu casamento, será como reescrever a história, dessa vez com a noiva certa." Observei em silêncio enquanto ela recitava os votos do meu casamento; cada palavra, uma imitação perfeita da minha voz, mas havia fissuras em sua performance, momentos em que sua própria voz escapava, momentos em que sua máscara escorregava. "Por que não está reagindo?" ela exigiu, sua frustração quebrando a ilusão. "Deveria estar devastada, implorando, lutando." "Por que deveria?" respondi calmamente. "Você já está fazendo um ótimo trabalho em se destruir sozinha." Aquilo
a enfureceu; pela primeira vez, vi Helena perder completamente o controle. Seu rosto, alterado por cirurgias para se parecer com o meu, contorceu-se em uma expressão de ódio puro. "Você não entende!" ela gritou, sua voz abandonando totalmente a imitação da minha. "Eu sou você! Uma versão melhor, mais perfeita! Rodrigo vê isso! Por que você não consegue?" Quarta-feira marcou o início de sua verdadeira desintegração. Helena começou a confundir suas próprias memórias com as minhas. Em suas mensagens, misturava eventos de nossas vidas, como se sua existência e a minha tivessem se fundido em sua mente perturbada. "Lembra quando
mamãe morreu?" ela escreveu, referindo-se à minha mãe. "Como eu sofri! Como foi difícil continuar! Não espere! Essa foi você ou fui eu? Às vezes, é tão difícil lembrar quem viveu o quê." Na quinta-feira, seu colapso acelerou. As câmeras que ela havia instalado pela mansão captaram sua invasão noturna: Helena vagando pelos corredores, conversando com seu reflexo nos espelhos, alternando entre sua própria voz e sua imitação da minha. "Quem é a verdadeira Carminha?" ela perguntava a cada reflexo. "Sou eu! Não sou! Tenho que ser! Pratiquei tanto, me dediquei tanto! Rodrigo diz que sou mais real que a
original." Sexta-feira trouxe o ápice de sua obsessão. Helena apareceu na mansão de madrugada, seus olhos vidrados, suas mãos tremendo. Havia cortado o cabelo exatamente como o meu, pintado na mesma cor, estilizado do mesmo jeito. "Olhe!" ela exigiu, me arrastando diante de um espelho. "Somos idênticas agora! Não consegue ver? Eu me tornei você! Uma versão superior, mais digna do amor de Rodrigo!" Mas ao nos ver refletidas lado a lado, algo pareceu quebrar dentro dela. Seus olhos moviam-se freneticamente entre nossos reflexos; sua respiração, cada vez mais errática. "Não!" ela murmurou, tocando seu próprio rosto. "Tem algo errado!
Não está perfeito! Ainda preciso de mais cirurgias, mais ajustes!" "Helena," falei suavemente, "você se perdeu tanto tentando ser eu que esqueceu quem é." "Não!" ela gritou, quebrando o espelho com um soco. "Você não entende! Eu sou você! A verdadeira você! A você que Rodrigo sempre quis!" Sábado a encontrou em completo delírio. As câmeras de segurança a mostravam vagando pela cobertura réplica, falando ora como ela mesma, ora como eu, incapaz de distinguir qual personalidade era a real. "Querida Carminha," ela gravou um vídeo, sua voz alternando entre dois tons diferentes, ou seria "querida Helena"? "Não importa! Somos
a mesma pessoa agora! Não somos? Rodrigo não vê diferença, então que diferença faz?" No domingo, véspera do evento beneficente, Helena fez sua última visita à mansão. Estava irreconhecível, não porque se parecia mais comigo, mas porque havia se tornado uma casca vazia, um quebra-cabeça de duas identidades que não mais se encaixavam. "Amanhã," ela anunciou, sua voz um sussurro instável, "todos verão a verdadeira senhora Mendonça! A esposa perfeita que Rodrigo merece!" "E quem seria essa?" perguntei. "Helena ou Carminha?" A pergunta a congelou por um longo momento. Ela ficou ali, boca aberta, olhos vidrados, como se tentasse lembrar
quem realmente era. "Eu... eu sou ela," gaguejou, olhando em pânico para seu reflexo na janela. "Sou a verdadeira! A única! Eu sou..." Observei enquanto ela cambaleava para fora da mansão, sua máscara de controle completamente destruída. Helena havia se perdido em seu próprio labirinto de espelhos, cada reflexo mostrando uma versão diferente da mulher que ela não sabia mais ser. "O que acontecerá amanhã?" Clarissa perguntou depois que Helena partiu. "Amanhã," respondi, observando o sol se pôr, "Helena finalmente enfrentará seu pior pesadelo: ela mesma." A manhã do evento beneficente chegou com uma descoberta perturbadora: Helena havia invadido a
mansão durante a madrugada, não para destruir ou ameaçar, mas para algo muito mais sinistro. Havia transformado meu quarto em um santuário dedicado à sua obsessão. As paredes estavam cobertas com milhares de fotos, não apenas minhas, mas dela, recriando cada momento da minha vida. Uma linha do tempo meticulosamente organizada mostrava sua transformação gradual em mim; anotações obsessivas detalhavam cada aspecto da minha personalidade que ela havia aperfeiçoado. "É lindo, não é?" sua voz surgiu atrás de mim, me fazendo virar. Helena estava parada na porta, usando uma cópia exata do vestido que eu planejava usar no evento, uma
exposição da minha evolução de Helena para Carminha, de imperfeita para perfeita. Seu rosto, ainda inchado de cirurgias recentes, era uma máscara grotesca de determinação. Nos últimos dias, ela havia se submetido a mais procedimentos, tentando desesperadamente eliminar qualquer traço que a diferenciasse de mim. Rodrigo. Chorou quando viu. Ela continuou, sua voz oscilando entre a dela e sua imitação da minha. Disse que finalmente encontrara a esposa que sempre quis: uma Carminha sem defeitos, sem aquela, como ele disse. "Ah, sim, aquela irritante". Observei enquanto ela percorria o quarto, tocando as fotos com uma reverência doentia. Cada imagem contava
a história de sua obsessão crescente, primeiro apenas copiando minhas roupas, depois meus gestos e, finalmente, alterando seu próprio rosto para espelhar o meu. "Veja esta série", ela apontou para um conjunto particular de fotos. "Três meses de estudo apenas para aperfeiçoar seu sorriso, o jeito como seu lábio superior se move ligeiramente mais que o inferior". Rodrigo nunca notou esse detalhe conscientemente, mas seu subconsciente registrava. Quando comecei a sorrir exatamente como você, ele passou a me olhar de forma diferente. Helena havia documentado tudo: cadernos cheios de anotações sobre meus hábitos, gravações de minha voz analisadas por especialistas
em fonética, até amostras do meu DNA coletadas secretamente para estudar minha composição genética. "O evento desta noite será minha obra-prima", ela declarou, seu olhar febril fixo em seu próprio reflexo. "Quando você tiver seu colapso nervoso, estarei lá, a imagem perfeita da esposa dedicada que você nunca conseguiu ser". Foi então que notei algo novo em sua aparência: pequenos cortes recentes próximos às orelhas, ainda mal cicatrizados. "Mais cirurgias", apenas alguns ajustes finais. Ela respondeu, tocando os cortes delicadamente. O formato das suas orelhas tinha algo na curvatura que eu ainda não tinha conseguido replicar perfeitamente, mas agora seu
sorriso se alargou de forma antinatural. "Agora sou você em cada mínimo detalhe". As horas seguintes foram um exercício surreal em observar a completa dissolução da identidade de Helena. Ela alternava entre momentos de lucidez assustadora, descrevendo em detalhes científicos como havia estudado e replicado cada aspecto do meu ser, e momentos de confusão total, onde parecia genuinamente incapaz de distinguir suas memórias das minhas. " lembra da nossa primeira boneca?" Ela perguntou em determinado momento, seus olhos perdidos em uma memória que não lhe pertencia. "Mamãe trabalhou horas ex para comprá-la". "Não, espere". Ela franziu a testa, confusa. "Essa
memória é sua ou minha? Às vezes é tão difícil diferenciar". Clarissa observava tudo com um horror crescente. "Ela enlouqueceu completamente", não respondi, observando Helena praticar meus gestos diante do espelho. Ela apenas levou sua obsessão à conclusão lógica. "Tarde, Helen", fase de seu plano. Não bastava me substituir, ela planejava apagar completamente minha existência. "Veja", ela abriu seu laptop, mostrando dezenas de documentos. "Cada registro seu, cada prova de que você existiu, sendo metodicamente alterada. Em alguns meses, será como se você nunca tivesse existido. Todos os registros mostrarão que eu, Helena, não Carminha sempre fui a esposa de
Rodo". Sua voz tremia de excitação enquanto detalhava como havia manipulado registros, subornado funcionários, criado uma rede complexa de mentiras para sustentar sua nova realidade. "O mais fascinante", ela continuou, agora andando em círculos pelo quarto, "é como a mente humana é maleável. Apresente a pessoas evidências suficientes de uma nova verdade e elas começarão a duvidar de suas próprias memórias. Em um ano, até seus amigos mais próximos questionarão se você realmente existiu como pensam que existiu". Mas havia algo em sua voz, uma nota de desespero, um tremor de dúvida. Quanto mais ela falava sobre apagar minha existência,
mais parecia lutar para manter sua própria identidade intacta. "Helena", falei suavemente, "quem você era antes de começar tudo isso?" A pergunta a atingiu como um tapa. Por um momento, vi pânico puro em seus olhos. "Eu, eu era..." ela gaguejou, olhando freneticamente para as fotos nas paredes. "Não importa quem eu era. O que importa é quem sou agora, quem me tornei". "E quem seria essa?" Ela se virou para o espelho, seus olhos arregalados fixos em seu reflexo. "Eu sou, sou a verdadeira Carminha, a Carminha que Rodrigo merece". Sua voz falhou, tremendo. "A Carminha que, por um
momento, vi sua máscara de controle desmoronar completamente". No reflexo do espelho, ela não via nem Helena nem Carminha, apenas uma colagem grotesca de duas identidades que não mais se encaixavam. "O evento desta noite", ela finalmente disse, recompondo-se com esforço visível, "será o início da minha vida verdadeira e o fim da sua". Antes de partir, Helena fez questão de me mostrar o vestido que usaria: uma réplica exata do meu vestido de noiva, mas em vermelho sangue. "Apropriado, não acha? O vermelho do amor verdadeiro, substituindo o branco da falsa inocência". Observei a partir de seus passos, uma
imitação cada vez mais instável dos meus. Em suas últimas palavras, havia algo além da obsessão: havia medo, medo de que ao tentar se tornar completamente eu, ela havia perdido irremediavelmente a si mesma. "Ela vai se quebrar esta noite", Clarissa comentou depois que Helena saiu. "Não há como manter essa fachada por muito mais tempo". "Sim", respondi, observando o sol se pôr através da janela. "E quando isso acontecer, Helena enfrentará seu pior pesadelo: o vazio que ela mesma criou". O evento Vicente começou como um espetáculo de elegância e falsidade. O salão do hotel mais luxuoso da cidade
estava decorado em tons de vermelho e dourado, as cores que Helena havia escolhido para marcar seu triunfo. Cada detalhe havia sido planejado para espelhar momentos do meu casamento com Rodrigo, mas com uma distorção doentia que refletia a mente perturbada de Helena. "Bem-vinda à sua última noite como Senhora Mendonça", Helena sussurrou ao me receber na entrada. Ela estava usando não apenas uma réplica do meu vestido de noiva em vermelho sangue, mas havia tingido seu cabelo em um tom idêntico ao meu, estilizado da mesma forma. Suas feições, ainda inchadas das últimas cirurgias, eram uma tentativa grotesca de
espelhar as minhas. Os convidados circulavam pelo salão, muitos claramente desconfortáveis com a atmosfera estranha do evento. Helena havia posicionado enormes espelhos em cada parede, criando um efeito caleidoscópico que multiplicava sua imagem infinitamente, cada reflexo uma nova versão de... Sua obsessão, Rodrigo, chegará em breve. Ela continuou, seu sorriso uma máscara perfeita de cordialidade; ele mal pode esperar para me ver, nos ver juntas uma última vez. Observei enquanto ela se movia pelo salão, uma performance meticulosamente ensaiada de cada um dos meus gestos, mas havia algo diferente agora. Seus movimentos tinham um toque de desespero, como se ela
estivesse lutando para manter o controle de sua própria identidade. “Está tudo preparado,” ela murmurou, me puxando para um canto. Seus olhos, alterados por lentes de contato para imitar os meus, moviam-se nervosamente. “Em alguns minutos, você começará a sentir os efeitos; nada letal, querida, apenas o suficiente para criar o espetáculo perfeito.” Helena havia planejado cada detalhe de meu suposto colapso nervoso. O champanhe que ela mesma havia me servido estava drogado, calculado para causar desorientação e confusão. “Dentro de meia hora, os médicos já estão a postos,” ela continuou, seu sorriso vacilando levemente. “Testemunhas foram preparadas, declarações já
redigidas; será o fim perfeito para a imperfeita senhora Mendonça.” Mas enquanto Helena detalhava seu plano, algo começou a mudar em sua expressão. Cada vez que ela passava por um dos muitos espelhos, seus olhos se fixavam um pouco mais longamente em seu reflexo, como se tentasse confirmar sua própria existência. “Veja como sou você,” ela murmurou, mais para si mesma do que para mim, tocando seu reflexo no espelho mais próximo. “Cada detalhe, cada nuance.” “Rodrigo diz que às vezes esquece quem é a original.” Foi quando Rodrigo entrou no salão e a máscara de Helena começou a rachar
visivelmente. Ele estava acompanhado de Gisela, ambos claramente tensos, como se presentissem o desastre iminente. “Querido,” Helena avançou em sua direção, sua voz uma imitação perfeita da minha. “Estava te esperando.” Mas Rodrigo recuou, seus olhos arregalados de horror. As últimas cirurgias de Helena haviam distorcido suas feições em algo grotesco: nem completamente ela, nem completamente eu, mas uma versão perturbadora entre as duas. “Helena!” ele perguntou, hesitante. “O que... o que você fez?” Helena riu, o som estranhamente agudo. “Não seja bobo, querido. Sou eu, Carminha, sua Carminha, a única Carminha que você realmente amou.” O salão inteiro parecia
ter congelado, todos os olhos fixos na cena que se desenrolava. Helena, perdida em sua própria ilusão, continuava avançando em direção a Rodrigo, seu sorriso cada vez mais artificial. “Não reconhece sua própria esposa?” Ela perguntou, sua voz oscilando entre a dela e sua imitação da minha. “Depois de todo o esforço que fiz para ser perfeita para você?” Foi quando ela passou por outro espelho e seu mundo começou a desmoronar. No reflexo, viu não apenas a si mesma, mas a mim ao seu lado, a verdadeira Carminha, inabalada por suas drogas, inalterada por suas manipulações. “Não!” ela murmurou,
seus olhos movendo-se freneticamente entre nós duas. “Isso não está certo! Eu sou você, me tornei você, melhor que você!” O pânico em sua voz era palpável agora. Helena começou a tocar seu próprio rosto compulsivamente, como se tentasse confirmar que suas feições ainda estavam no lugar. “Rodrigo!” ela gritou, sua voz perdendo completamente a imitação da minha. “Diga a eles! Diga a todos que eu sou ela, que sou melhor, que me tornei a esposa que você sempre quis.” Mas Rodrigo apenas recuou, mais horror evidente em seu rosto. “Meu Deus, Helena, o que você fez consigo mesma?” Aqueles
palavras foram o catalisador final. Helena se virou para outro espelho e, dessa vez, o que viu a fez gritar. No reflexo, não havia mais nem Helena nem Carminha, apenas uma colagem grotesca de duas identidades, uma máscara sem rosto. “Não!” ela gritou, atacando seu próprio reflexo. “Eu sou real! Sou a verdadeira, a única, a perfeita!” O som de vidro quebrando ecoou pelo salão enquanto Helena destruía espelho após espelho, como se tentasse eliminar todos os reflexos que mostravam a verdade de sua própria dissolução. “Você!” ela se virou para mim, sangue escorrendo de suas mãos cortadas. “Você fez
isso! Destruiu minha perfeição, minha transformação!” Mas quando ela avançou em minha direção, parou abruptamente diante do último espelho intacto. No reflexo, viu finalmente a verdade completa de sua obsessão: não uma transformação em mim, mas a destruição total de si mesma. “Quem?” ela sussurrou, tocando seu reflexo com dedos trêmulos. “Quem é essa?” O salão inteiro assistia em silêncio mórbido enquanto Helena enfrentava seu próprio vazio. Cada tentativa de recuperar sua performance só tornava mais evidente sua perda total de identidade. “Sou Helena,” ela perguntou para seu reflexo, sua voz pequena e perdida. “Ou Carminha? Quem, quem eu deveria
ser?” Foi nesse momento que ela finalmente quebrou, com um grito que misturava duas vozes diferentes: a dela e sua imitação da minha. Helena atacou seu próprio reflexo uma última vez, como se tentando destruir a evidência final de seu fracasso em se tornar outra pessoa. O caos que se seguiu ao colapso de Helena transformou o elegante evento beneficente em uma cena de horror psicológico. Cacos de espelho cobriam o chão do salão, cada fragmento refletindo uma faceta diferente de sua loucura. O vestido vermelho, antes imaculado, estava manchado de sangue por seus cortes, criando um quadro grotesco de
sua obsessão destruída. “Eu sou real!” ela continuava gritando, alternando entre sua própria voz e sua imitação da minha. “Sou a verdadeira, a única, a perfeita senhora Mendonça.” Os médicos que ela havia contratado para me internar agora corriam em sua direção, mas não para executar seu plano original. O espetáculo que Helena havia meticulosamente planejado para minha destruição estava se voltando contra ela própria. Rodrigo permanecia paralisado, seu rosto uma máscara de horror e culpa. Ao seu lado, Gisela observava a cena com uma mistura de repulsa e fascinação mórbida. Os convidados, antes plateia do que deveria ser meu
colapso forjado, agora testemunhavam a desintegração pública da identidade de Helena. “Querido!” Helena se arrastou em direção a Rodrigo, seus movimentos uma paródia grotesca dos meus. “Não vê? Fiz tudo isso por você! Me transformei na esposa…” "Perfeita na sua Carminha, perfeita. Mas Rodrigo recuou novamente, agora com lágrimas nos olhos. Meu Deus, Helena, o que eu fiz com você? Foi essa rejeição final que desencadeou a última fase do colapso de Helena. Com um grito que parecia vir de duas pessoas diferentes, ela começou a arrancar a peruca que imitava meu cabelo, revelando seus próprios fios descoloridos e danificados
por tinturas sucessivas. — Não! — ela gritou, agora atacando seu próprio rosto com unhas afiadas. — Se não posso ser ela perfeitamente, não serei ninguém! Os médicos finalmente a alcançaram, tentando contê-la enquanto ela se debatia, alternando entre súplicas e ameaças, cada palavra revelando mais da extensão de sua obsessão. — Vocês não entendem! — ela gritava enquanto era segurada. — Estudei cada detalhe, cada gesto, pratiquei por meses, anos! Me tornei ela, melhor que ela! Por que ninguém vê isso? Foi então que Rodrigo finalmente encontrou coragem para se aproximar de mim. Seu rosto estava marcado por uma
mistura de culpa e arrependimento que jamais esquecerei. — Carminha — ele começou, sua voz tremendo — eu... eu não sabia que ela... — Não! — Helena gritou, sua voz cortando o ar como uma navalha. — Não ouça! Fale com ela! Eu sou sua Carminha agora, eu apenas eu! Os seguranças do evento já haviam chegado, juntando-se aos médicos na tentativa de conter Helena, que agora alternava entre momentos de lucidez assustadora e explosões de fúria psicótica. — Sabem quanto tempo levei? — ela perguntou aos médicos, que asseguravam sua voz, subitamente calma e analítica. — Três meses só
para aperfeiçoar o sorriso. O lábio superior dela se move um milímetro a mais que o inferior quando sorri. Um milímetro! Vocês fazem ideia da precisão necessária para replicar isso cirurgicamente? Então, sem aviso, voltava ao frenesi. — Me soltem! Preciso terminar! Ainda não está perfeito, preciso de mais cirurgias, mais ajustes! Rodrigo tentou novamente se aproximar dela. — Não! — ergui a mão, detendo-o. — Não há nada para dizer! — falei calmamente. — Você alimentou essa obsessão. — Não era para assim! — ele protestou, fracamente. — Helena, ela era apenas... apenas o que? — interrompi. — Sua
amante? Seu plano de fuga? Ou a marionete perfeita para seu ego? Helena, ouvindo nossa conversa, teve outro surto. — Não! Não era assim! Eu o controlava! Eu era meu plano, minha vingança! — Mas suas palavras foram interrompidas por seu próprio soluço histérico. Ao passar por outro fragmento de espelho, no reflexo quebrado, seu rosto aparecia distorcido, uma metáfora perfeita. — Sutil, Carminha, como havia planejado para mim! Mas em uma instituição psiquiátrica de verdade, não podem fazer isso! — ela gritou enquanto era levada. — Tenho um evento para terminar, um marido para reclamar, uma vida para roubar!
Rodrigo assistia a tudo com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto. Quando Helena estava quase na porta, ele finalmente encontrou sua voz. — Helena, me perdoe! Aquelas palavras provocaram sua última explosão de lucidez. Virando-se nos braços dos paramédicos, ela o encarou com um sorriso que misturava suas duas personas. — Perdoar? — ela riu, um som que arrepiou todos os presentes. — Querido, eu deveria te agradecer! Você me deu o papel da minha vida, literalmente. Pena que não consegui mantê-lo até o final do espetáculo. Então, virando-se para mim com aquele mesmo sorriso perturbador: — E você, Carminha? Obrigada
por ser uma personagem tão fascinante de estudar. Pena que nunca consegui reproduzir aquela sua força irritante, aquela... como é mesmo? Ah, sim, independência! Enquanto Helena era levada, seus gritos ainda ecoavam pelo salão, uma mistura confusa de duas vozes, duas identidades, nenhuma delas mais completamente real. Rodrigo permaneceu parado, olhando alternadamente para a porta por onde Helena havia saído e para mim. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de uma súplica patética. — Podemos conversar? Tentar consertar? — Não há nada para consertar! — interrompi, minha voz firme. — Você não destruiu apenas Helena com seus jogos, destruiu
qualquer possibilidade de confiança entre nós! — Mas eu te amo! — ele protestou, fracamente. — Ama? — perguntei, permitindo que um leve sorriso tocasse meus lábios. — Ou ama a ideia de ter alguém que pode moldar e controlar? Helena não foi a única a tentar me transformar em algo que não sou. Você apenas foi mais sutil em suas tentativas. Deixei-o ali, em meio aos cacos de espelho que refletiam os fragmentos de suas próprias ilusões destruídas. Na saída, passei por Gisela, que me olhava com uma mistura de respeito relutante e medo. — Você venceu! — ela
murmurou. — Não, Gisela — respondi calmamente. — Não havia nada para vencer, apenas verdades para serem reveladas. Seis meses se passaram desde o colapso público de Helena. A mansão dos Mendonça, antes um campo de batalha psicológico, agora estava silenciosa. Os espelhos que Helena havia instalado foram removidos, deixando marcas retangulares nas paredes, cicatrizes visíveis de sua obsessão. Recebi notícias dela através dos jornais. O incidente do baile vermelho, como a imprensa o apelidou, gerou manchetes por semanas. Helena estava internada em uma clínica psiquiátrica de luxo, onde continuava sua performance distorcida. Segundo os relatórios médicos, ela alternava entre
três personalidades distintas: Helena Bergman, sua versão de Carminha e uma terceira entidade que chamava de "a perfeita", uma fusão perturbadora das duas. — Ela ainda pergunta por você — Clarissa me informou durante sua última visita. — Nos dias lúcidos, tenta analisar onde errou em sua transformação. Nos outros, acredita que conseguiu e exige que a chamem de senhora Mendonça. Os médicos descobriram a extensão assustadora de sua obsessão: o apartamento de Helena havia sido transformado em um museu dedicado à minha vida. Cada cômodo revelava uma fase diferente da minha existência, com manequins usando réplicas das minhas roupas,
diários analisando cada aspecto do meu comportamento e gravações estudando o padrão da minha fala. O mais perturbador, Clarissa continuou, foram os registros das cirurgias. Helena se submeteu a 23 procedimentos diferentes nos últimos dois anos, todos tentando replicar suas características. Alguns médicos se recusaram, mas ela sempre encontrava outros dispostos a realizar suas exigências. Rodrigo tentou me contatar diversas vezes após o incidente: cartas, e-mails, mensagens, todas detalhando sua versão dos fatos, suas justificativas, suas súplicas por perdão. Em cada tentativa de comunicação, percebia-se..." O mesmo padrão de manipulação que ele havia usado com Helena. Você é diferente dela,
ele escreveu em sua última carta: mais forte, mais verdadeira. Helena era apenas uma sombra do que você é. Por favor, me deixe provar que posso ser diferente também. Mas eu havia aprendido a ver através de suas palavras. Rodrigo não procurava redenção; procurava outro projeto, outra mulher para moldar segundo suas expectativas. Helena havia sido apenas sua obra mais extrema, o ápice de sua necessidade de controle. Gisela, surpreendentemente, foi a primeira a entender. Ela vendeu a mansão três meses após o incidente, incapaz de conviver com as memórias do que acontecera ali. "Criamos isso", ela me disse no
dia da venda, "eu, com minha obsessão por controle, e Rodrigo, com sua necessidade de dominar." Helena era o resultado previsível de anos de manipulação. Os advogados finalizaram meu divórcio em tempo recorde; Rodrigo não contestou nenhuma das minhas exigências. Talvez seu último ato de controle tenha sido essa rendição calculada, mais uma tentativa de provar que havia alguma performance na sua clamorosa falência. Você falhou em se tornar você. Falhou em escolher a versão certa de você para copiar. Passa horas analisando fotos suas de diferentes épocas, tentando identificar o momento exato em que deveria ter começado sua transformação.
Rodrigo a visitava regularmente, alimentando, sem perceber, sua obsessão. Em cada visita, Helena apresentava uma nova versão de sua Carminha: às vezes doce e submissa, às vezes forte e independente; sempre uma distorção grotesca da realidade. "Ela o testa", explicou um dos médicos em seu relatório. "Apresenta diferentes versões da senhora, observando qual delas provoca mais reação nele. É como uma atriz ensaiando diferentes interpretações do mesmo papel, buscando a que mais agrada seu público." Recebi uma última carta de Helena seis meses após sua internação. Diferente das anteriores, esta era lúcida, quase científica em sua análise. "Querida Carminha, finalmente
entendi meu erro. Não foi técnico; minhas cirurgias eram perfeitas, minha imitação impecável. Foi conceitual: tentei me tornar uma versão sua que não existe. A esposa perfeita que Rodrigo imaginava. Devia ter percebido que sua imperfeição, sua irritante independência, era justamente o que o atraía. Mas não se preocupe, estou aperfeiçoando uma nova abordagem. Quando sair daqui, começarei do zero. Dessa vez estudarei a verdadeira você, não a versão que Rodrigo desejava, mas a mulher que se recusou a ser moldada. Aguarde, Helena, ou quem sabe a futura verdadeira Carminha." A carta foi meu sinal para partir. Vendi tudo que
me ligava àquela vida, mantendo apenas a aliança de minha mãe, a única joia que Helena nunca conseguiu replicar perfeitamente. Mudei-me para o litoral do Maranhão, voltando à minha infância. Comprei uma casa simples, onde o som das ondas abafa as memórias dos gritos de Helena, onde os reflexos do mar nos vidros das janelas não mostram sombras de identidades roubadas. Clarissa às vezes me manda notícias. Helena continua sua performance, agora para uma plateia de médicos fascinados. Rodrigo segue suas visitas regulares, alimentando tanto a obsessão dela quanto sua própria necessidade de controle. Gisela vendeu tudo e mudou-se para
o exterior, fugindo dos fantasmas que ajudou a criar. Quanto a mim, encontrei paz na simplicidade que Helena tanto desprezava. Nas manhãs, caminho pela praia onde meu pai morreu, não mais temendo os fantasmas do passado. Nas tardes, observo o pôr do sol através de janelas sem espelhos, apreciando o reflexo natural da luz na água. Às vezes, quando o vento sopra forte e as ondas batem com mais força, imagino ouvir ecos distantes: Helena ensaiando suas diferentes versões de mim, Rodrigo tecendo suas manipulações sutis, Gisela tentando manter o controle de seu mundo perfeito. Mas são apenas ecos, cada
vez mais fracos, cada vez mais distantes, porque aprendi a lição mais valiosa de toda essa experiência: nossa verdadeira identidade não está no reflexo que os outros veem, mas na força que encontramos para permanecer fiéis a nós mesmos. Helena continua tentando se tornar uma versão perfeita de mim. Rodrigo segue buscando alguém para moldar. Gisela ainda tenta controlar o incontrolável. Mas eu... eu finalmente sou apenas eu mesma, e isso percebi, é a única perfeição que importa. Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e partilhe! Obrigada por fazer parte da nossa comunidade. Até o
próximo vídeo!