O FUNDO RELIGIOSO DA GUERRA CULTURAL | ENTREVISTA A RODRIGO CONSTANTINO

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Padre José Eduardo
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Video Transcript:
[Música] [Música] [Música] Olá, boa tarde! Sejam todos muito bem-vindos para mais uma live. Tudo consta que é um crescimento dos meus patronos: www.
rodrigocostantino. com. Vai lá, você pode se tornar um patrono e contribuir com esse programa diário totalmente independente, ou faça parte da minha comunidade no Local.
Já são quase 30 mil pessoas, mesmo eu censurado no Brasil ainda, e é mais de mil e cem apoiadores. São vocês que tornam possível a manutenção e o crescimento desse programa. Normalmente, eu falo sobre os assuntos do dia, conjuntura, e abro sempre com o tema de guerra cultural.
Vocês já estão acostumados — aqueles que me acompanham há mais tempo — e eu sei que tem muita gente ansiosa aí para ver eu falando sobre André Janone xingando Nicolas Ferreira e Flávio Dino mentindo, né? CCJ, essas coisas todas que mobilizam a política do dia, mas eu vou deixar esses assuntos menores com política de p minúsculo para amanhã, porque eu mesmo já cansei de dizer aqui que, para mim, existe a guerra política, mas acima dela existe a guerra cultural. Por isso, eu abro sempre com esse assunto.
E acima da guerra cultural, para mim, eu estou cada vez mais convencido disso, existe uma batalha espiritual. Existe aí realmente uma disputa — não vou nem dizer entre o bem e o mal, mas entre aqueles que sequer reconhecem que existe o bem e o mal e aqueles que tentam defender tudo que é bom, belo e verdadeiro. E para focar nisso, hoje nós vamos ter uma live muito especial, diferente: uma hora mais ou menos de bate-papo com um convidado, apenas um convidado ilustre, e vamos falar desses assuntos todos, voltados mais para guerra cultural e guerra espiritual.
Com vocês, Padre José Eduardo. Boa tarde, Padre! Boa tarde, Rodrigo.
É um prazer imenso, uma honra para mim conversar com você. Bom, prazer é todo meu, Padre. Deixa eu, antes de mais nada, fazer aqui uma confissão pública.
Eu tenho um tio padre, tinha, ele já faleceu recentemente, que era padre, né? O padre José Roberto, um padre muito influente no Rio de Janeiro, Igreja da Ressurreição, estava bem ali na divisa de Ipanema com Copacabana. Ele, inclusive, rezava as missas para a família Marinho, da Rede Globo.
Ele era uma luz de sabedoria e generosidade cristã, cáritas, com o sobrinho rebelde, adolescente, metido a inteligentinho ateu, né? Então, graças ao querido e saudoso Padre José Roberto, meu tio Zezinho, eu já tinha ali muito disso plantado, só não estava colhido. Eu brinco que Deus é muito paciente e me guardou aí de volta para casa nesse período.
Eu queria começar, Padre, fazendo essa pergunta, né? Eu sempre abro aqui a minha live falando de guerra cultural. Eu queria a avaliação do Senhor em relação a isso e se o senhor concordaria com essa minha afirmação de que, acima dessa disputa cultural, existe uma disputa mais essencial, mais profunda, que é realmente uma batalha espiritual que a gente trava no dia a dia.
Sem dúvida nenhuma! Olha, Jesus fala disso no Pai Nosso. Quando ele ensina aos discípulos o Pai Nosso, ele começa com a palavra "pai" e termina com a palavra "maligno".
Ele não fala do mal como uma qualidade do mal, qualitativo; ele fala do mal substantivo. Ele está falando do diabo. E quando nós lemos, por exemplo, o livro do Apocalipse, o capítulo 12, a parte central é chamada visão central do livro, e ali aparece a luta entre a mulher — que representa a Igreja — e a serpente, que é um dragão com sete cabeças e dez chifres.
Nota que, ali no capítulo 12 do Apocalipse, se diz: “Esse dragão com sete cabeças etc. é a antiga serpente. ” Ou seja, o que o livro está dizendo?
Está dizendo que aquela cobra do Gênesis virou um dragão com sete cabeças, que inclusive tem coroas. Portanto, tem um poder político, mas tem sete cabeças. Sete cabeças que falam de uma força ideológica, porque é com a cabeça que a cobra morde.
E Paulo diz a mesma coisa nas suas cartas: ele diz que o deus deste mundo cegou a inteligência dos incrédulos para que eles não vejam a luz. É isso, na verdade, o que nós vemos, digamos assim, é o palco da realidade material, por detrás da qual existem bastidores muito mais antigos e muito mais atuantes do que a gente imagina. E é uma disputa realmente interessante, Padre, porque é bom.
Qualquer besteira que eu falar, por favor, me corrija. Essa não é minha praia, mas eu gosto sempre de lembrar que Lúcifer não era necessariamente burro. O pecado dele não era o desconhecimento, muito pelo contrário, né?
Não lhe faltava inteligência; o que faltava era outra coisa. E eu vejo, eu tenho uma frase que eu repito muito do Kraus, que era um mestre dos aforismos contemporâneo de Freud, que dizia: “Refreia tuas paixões, mas cuidado para não dar asas soltas à tua razão. ” Então, a gente vê exatamente essas ideologias tentando substituir o cristianismo, substituir Deus, que vem desde os sábios atemporais, também gregos, quer dizer, tentar roubar o fogo dos deuses, e a punição de Prometeu não foi muito suave, né?
Essa ideia de tentar substituir Deus eu acho que está na origem de muitas dessas seitas modernas ou ideologias. Eu queria a sua avaliação: não é isso mesmo? Isso é antigo.
A gente vê lá já no capítulo 3 do livro do Gênesis, o diabo oferece à mulher o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ou seja, um conhecimento que se ergue contra Deus, que torna o homem autônomo, que o faz ter a impressão de ser sujeito da sua autodeterminação, enquanto, na verdade, ele está sendo determinado por um poder oculto. Quando a gente chega na Idade Moderna, nós temos esse tipo de empoderamento espiritual dado ao ser humano para que ele crie uma filosofia independente de Deus. Até mesmo contra Deus, isso vai se agravando.
Desde quando Decartes, por exemplo, erige o conhecimento e o pensamento humano como uma pedra de toque do conhecimento filosófico até os desenvolvimentos posteriores, nós estamos simplesmente caminhando na direção de um antropoteísmo, em que o homem se dirige como Deus no lugar do Deus supremo. Então, não há dúvida de que nós estamos, efetivamente, numa guerra de fundo altamente religioso. É curioso isso que o senhor mencionou, Padre, porque nós vimos agora, recentemente, na pandemia, exatamente o perigo disso, né?
Alguns que falam em nome da ciência, como se — e já é uma visão tanto preconceituosa quanto, cá entre nós, ignorante — a ciência fosse antagônica ao legado cristão. Muito pelo contrário! Mas nós vimos alguns cientistas, eu colocaria assim, como se fossem profetas, como se fossem deuses, né?
Eu tenho um em mente aqui, perto dos Estados Unidos, mas não quero ficar fulanizando, mas o Dr Fauci, né? Com arrogância. Nós vimos isso durante a pandemia e talvez faltou compreender que o campo da ciência e o método científico são fundamentais como pilares do saber humano.
Mas eles não dão conta de responder às questões mais essenciais. E não, não tem problema nisso, né? Não existe uma competição; eu acho que, muitas vezes, são complementares.
O perigo reside quando o cientista tenta ir além do que prevê a ciência e dar todas as respostas, que não é do campo da ciência, mas do campo da teologia, né? Ou que fala de Telos, por exemplo. Porque a ciência nada diz sobre a finalidade moral de certas coisas; ela observa fatos e pode checar ali, com o método científico, né?
De forma objetiva, a validação ou não desse fato. Mas nada disso fala sobre a finalidade, né? Da própria existência humana.
E, cada vez mais, eu acho que alguns cientistas sérios resgatam a tese de Deus, do Criador, para explicar, para dar sentido, né, e propósito a essa bagunça toda que vem. Quer dizer, aquilo que se hoje é chamado de ciência, na verdade, é apenas uma parte dela. O que é chamado de ciência experimental — é a ciência experimental, por definição, que precisa fazer um recorte da realidade.
Ela analisa uma parte da realidade, e essa parte ainda precisa ser analisada em recortes menores, ou seja, precisa ser medida, experimentada, precisa ter protocolos de experimentação, e assim por diante. Ora, quando eu tento fazer com que Deus caiba dentro dessa restrição, eu estou cometendo uma extrapolação metodológica que é sumamente científica. Eu lembro, por exemplo, do debate do Richard Dawkins, em que ele dizia que acreditar em Deus é como se Deus se apresentasse, né?
Se Ele chegasse aqui e dissesse: "O problema é o seguinte, é que Deus não pode. . .
" Quer dizer, imagina! Deus é uma espécie de supercoisa, algo que está fora do universo e que é, digamos assim, eu posso, de alguma maneira, conhecer como ente exterior. Eu já não entendi nada!
A minha imagem de Deus é de uma pobreza. As categorias metafísicas, as categorias cognitivas e epistemológicas que nós precisamos ter para enfrentar uma teodiceia são extremamente sofisticadas e não estão à disposição de quem pretende fazer com que o método da ciência experimental se aplique a um objeto que, por si mesmo, é infinito e que não pode ser restringido a nada. Eu confesso, hoje em dia, Padre, que eu vejo quase como um infantilismo isso.
É como no livro do Carl Sagan, também querendo falar do "dragão invisível", né? Os métodos de identificação do ser são uma coisa quase infantil. E aí eu lhe faço uma pergunta: Deus e a crença no cristianismo, em particular, né, colocam réguas morais muito elevadas.
Muita gente acha que é um amuleto para pessoas; é o papai do céu, papai Noel dos adultos, essas bobagens que a gente escuta, enquanto que o verdadeiro crente leva muito a sério isso e sabe que é o contrário: é um fardo muito grande, é uma exigência muito pesada. E o relativismo moral sempre foi muito tentador. Ao longo da história, desde a história antiga, nós encontramos lá os relativistas tentando anular Deus para criar o vale-tudo, né?
Para que ter essa régua, para quem tem esse norte, para que ter esse juiz, né, se nós podemos assumir o papel de Deus? O senhor ainda acredita que é isso, esse mesmo escape, essa mesma tentação que leva tanta gente a se afastar de Deus hoje em dia? Eu acho que é um pouco isso, mas não só.
Tem muitos outros fatores que entram em jogo, né? Mas, de uma maneira, assim, muito, muito, muito objetiva, eu diria o seguinte: para anular a moral, eu preciso antes anular a ideia de natureza humana. Porque a natureza humana pede que o homem se comporte de modo racional.
Se eu quero um tipo de moral que não faça contas com a racionalidade, eu preciso desligar essa moral completamente da natureza humana. Então, antes, eu tenho que desfazer a ideia de natureza humana. Foi exatamente isso que começou a ser feito lá no século 13, com os nominalistas, que disseram que não existe natureza humana, não existe natureza, não existe essência.
O problema qual é? É que quando as paixões ficam soltas, elas criam um obstáculo intransponível para a razão. Ninguém pode se dedicar, por exemplo, à vida intelectual, que é aquilo que todos os filósofos de todos os tempos sempre disseram que é a atividade mais elevada para o ser humano, tendo um alvoroço passional continuamente solicitando a sua atenção, o seu pedágio.
Então, não tem jeito! A própria vida intelectual exige do homem a disciplina moral. Não tem jeito.
Então, o que acontece é o seguinte: quando nós falamos dos valores do Espírito, e aí nós entramos na dinâmica da Graça. Da comunicação da vida de Deus a nós pela fé, e Deus é Espírito. Diferentemente de nós, ele não tem essência; ele é o seu ser.
Para que eu possa, digamos, contemplá-lo em toda a sua transcendência, não é que as minhas paixões tenham que estar apenas disciplinadas; elas têm que estar calibradas, precisam estar verdadeiramente em ordem. O que significa isso? Que uma besta moral jamais vai conseguir penetrar nas alturas da religião.
Não vai conseguir penetrar nas alturas da religião; é simples assim. Então, o cristianismo exige do homem uma espécie de saneamento moral. Jesus, por exemplo, da montanha, que é o sermão mais importante do Evangelho, começa falando sobre a moral, uma moral elevada.
E depois ele diz, no capítulo 6 de São Mateus: "Aí você vai e começa a rezar". O que as pessoas estão querendo hoje? Aliás, é muito interessante isso, Rodrigo.
Por que hoje em dia, por exemplo, o esoterismo faz tanto sucesso? O mundo está meio que se paganizando de novo. Por quê?
Porque, diferentemente do cristianismo, que exige um saneamento moral, no esoterismo não existe nada disso. Você vai lá, faz um rito, apresenta uma superstição, faz uma feitiçaria qualquer e tem, entre aspas, o resultado que gostaria de ter pela manipulação das coisas divinas. Não existe uma reforma moral com Deus.
O cristianismo não interessa. Se você quiser, Jesus diz: "Se você tiver ódio e não perdoar, nem venha trazer sua oferta, porque isso não vai ser aceito". Você tem que ir lá, tem que reconciliar, tem que pedir perdão, tem que perdoar; e aí você vem trazer sua oferta, porque Deus não é de modo nenhum comprado por qualquer rito que o homem faz.
Por isso que o cristianismo é exigente, e as bestas quadradas do mundo de hoje, que querem viver uma moralidade completamente deslocada, não podem entender isso, senão como legalismo, moralismo, autoritarismo, etc. Então, é surto e ficam espalhando essas rotulações a torto e a direito. É engraçado, né, padre?
Porque eu mesmo sou um liberal, aí já entrando um pouco na questão política. Sou um liberal com viés conservador, já flertei com uma visão mais libertária e hoje vejo, com muita clareza, que muitos desses movimentos ditos progressistas de libertação do homem são o contrário; eles escravizam, porque transformam o homem na besta. É tirar do homem o que é o diferencial humano: o Sagrado em nós, que é justamente essa capacidade de buscar Deus, olhar para cima, o mais elevado, e não olhar para baixo, dentro de um processo evolutivo e arrogante, diga-se de passagem.
Então, eu vejo eles libertarem-se de tabus, libertar-se da família, das construções sociais, das amarras morais. E a gente vai vendo essa garotada achando que está se libertando de tudo isso, se libertando até da biologia. O que são discussões antigas, né?
O corpo, a finitude. . .
o corpo, às vezes, decreta; é como se houvesse uma separação entre corpo e alma. E, de repente, a gente acaba com a insanidade geral, com antidepressivos batendo recorde de venda, com as pessoas infelizes. E tudo isso, em nome da libertinagem, da licenciosidade.
Aliás, de uma pseudo-libertação dessas amarras, né? É do mundo que era o pai do conservadorismo moderno. Ele mesmo era um liberal e dizia: "Quem não encontrar freios internos para as paixões, os desejos, os apetites, vai acabar esbarrando em bilhões externos".
E a gente está vendo isso, né? Em nome da libertinagem, cada vez mais a demanda por controle minucioso estatal. Então, eu queria a sua opinião sobre isso, porque se os seres humanos fossem formados, domesticados, melhores, como cristãos, por exemplo, com esses freios morais internos, precisaríamos muito menos desse aparato todo, burocrático, tecnológico, do Big Brother, que visa a nos controlar em cada mínimo detalhe.
É que não tem jeito, né? Quando você se separa, quando você tenta criar um tipo de política fundado em uma moral descolada da natureza humana, ela não consegue se impor sem rigoroso moralismo. O progressismo é altamente moralista, porque veja o policiamento em torno do politicamente correto.
Ou seja, se uma pessoa diz algo que é menos aceitável aos ouvidos suscetíveis e delicadíssimos do moralismo progressista, nós somos cancelados imediatamente. Você é uma prova disso. Quer dizer, a gente não pode dizer algo que ofenda a suscetibilidade.
Isso é o que é um moralismo assim. . .
coloca um moralismo nas pessoas, né? Eu não assisto televisão, acho televisão um negócio degradante, não consigo assistir, acho horrível. Mas, assim, as poucas vezes que eu tenho o prazer de assistir à televisão, como todo mundo ali, todos estão "do bem", como todos eles são bonzinhos, são maravilhosos, só querem coisas boas.
. . parecem pessoas acima do bem e do mal, pessoas tão maravilhosas que querem impor o seu modo de ver as coisas, e o fazem através de um moralismo extremamente intolerante.
Até porque é muito claro isso, né? Eu vejo os cristãos que eu admiro, que eu conheço, aqueles que levam a sério o cristianismo, não para consumo pop. E são pessoas, via de regra, muito humildes, muito humildes, porque sabem que nós todos somos pecadores.
Existe o conceito do pecado original; quando você conhece a natureza humana, você entende melhor isso. E esses progressistas, principalmente da turma mais intransigente ou revolucionária, é impressionante como eles se consideram a última bolacha do pacote, a última coca-cola do verão. Eles acham que nunca houve, pelo planeta, almas mais bondosas e magnânicas.
E aí, a gente vai cobrar coerência e ver o que eles praticam no dia a dia; não bate, não existe. Então, ali, uma cruzada moralista que é muito mais uma fiel, numa busca de uma vibe, uma sensação estética, do que um compromisso real com o próximo. É como Nelson Rodrigues brincava: é fácil.
Amar a humanidade, uma construção abstrata difícil, é amar o próximo, e a mensagem de Jesus é clara: ame o próximo como a ti mesmo. Exatamente, mas assim, nome disso, as pessoas hoje em dia estão fazendo as loucuras e absurdidades. Então, por exemplo, esse discurso: temos que nos libertar da família, como se a família fosse uma restrição da liberdade.
Ao longo da história, a conquista de poder do homem, constituir uma família só veio graças aos favores da Igreja, porque antes disso, só podia constituir família o cidadão, o homem livre. Os escravos, por exemplo, não podiam constituir família. Como é que os escravos descarregavam a sua libido em bacanais, em orgias?
Justamente porque eles não podiam ter o direito de constituir família, de constituir prole. E hoje, esses malucos que estão tentando barbarizar o mundo, eles apresentam como a máxima libertação poder fazer orgias, não ter família, não ter pai, não ter filho; você ser uma mente solta nas mãos do mercado, como uma força produtiva desprovida até de identidade, como querem os defensores da ideologia de gênero. Então veja, eu não posso nem dizer que eu sou eu; eu não tenho mais identidade.
Identidade se torna uma construção fluida e fictícia. O que era um escravo na Antiguidade senão isso? O escravo era só uma força de trabalho, ele não tinha direito a ser, a existir enquanto indivíduo.
Ou seja, em nome de uma suposta liberdade, o que esses barbarizadores estão fazendo é nos livrar do resto de liberdade que ainda sobrou para que nós sejamos escravos, mão de obra no sistema. Só isso. Perfeito.
E é interessante que o senhor mencionou isso, porque nós estamos aqui com esse assunto do dia por conta de mais um desses tiroteios que aconteceu. Dessa vez, e como não encaixou na narrativa pré-determinada da imprensa, né, porque eles têm uma narrativa pronta. Quando não é um homem branco cristão do lado ruim, eles desviam o foco, matam a história.
Quando é uma das minorias que perpetrou algum tipo de malfeito, ou barbaridade, ou ato terrorista, eles criam até os transformers: né, carro mata, avião mata, caminhão atropela. E agora foi exatamente isso: uma mulher biológica, que confusa se considerava um homem, né, ela abriu o fogo e matou sete pessoas, inclusive crianças, numa escola cristã. E aí deu bug na turma da imprensa inteligente.
Não faltou comentarista na mídia mainstream aqui tentando inferir com a cronologia dos fatos e com o que eles trouxeram à tona no noticiário. Tentam inserir que a culpa, vejam só, seria da vítima, a intolerância num estado conservador. Os cristãos não abraçam a comunidade trans?
Vejam que absurdo! Passaram uma lei que dificulta a mutilação de crianças e adolescentes que acham que são de outro sexo, né? E eles conseguiram transferir a culpa de um ato terrorista para as vítimas, porque são cristãs.
É realmente impressionante o que a ideologia de gênero está fazendo com as pessoas. É como assim a hipocrisia, né? Nós estamos vivendo num momento histórico em que as pessoas [música], então elas acreditam que a realidade não existe, que tudo é uma questão de narrativa, de construção retórica.
É o que está acontecendo no Brasil, né? Então no Brasil você chama de democracia um absolutismo. Você condena como autoritário quem simplesmente obedece as leis, quem está cumprindo o seu papel dentro do Estado democrático; e todos os que estão invadindo e fazendo absurdidades, imoralidades, são considerados democratas.
A ideologia de gênero não é um elemento solto na retórica contemporânea; é uma forma. Ou seja, ninguém acredita mais que há algo em si. Tudo se reduziu a mera retórica, a performatividade narrativa.
E como é que o homem normal se orienta nisso? Todo mundo hoje em dia lamenta muito a crítica que se faz ao mestre. Todo mundo lamenta o tempo todo; quer criminalizar a divergência com fé, quando na verdade o que se quer conservar é apenas o monopólio das fake news.
Tão somente isso. E silenciar o homem normal. E aqui eu acho que efetivamente o Brasil está numa situação muito melhor do que o resto do mundo, porque ainda temos, graças a Deus, um povo que é raiz, que é família, um povo sertanejo, que é do que se chama Brasil profundo, que ainda tem coragem de pensar com a própria cabeça e tem ousadia de enxergar com os próprios olhos.
De certo modo, essa espécie de pasmaceira que estamos vivendo hoje, né? A gente sente um clima de desânimo, um clima de descrédito; na verdade, é um cansaço existencial de toda uma população que precisa colocar o nariz de palhaço na cara. E é curioso também que essa turma enche a boca para falar do vitimismo, né?
Uma coisa que a gente mais vê hoje em dia é todo mundo alegando ser vítima; é quase uma competição para ver quem consegue chorar mais, né? Interseccionalidade, ela é isso: ela mede quantos quesitos de minoria vitimizada você consegue marcar. Enquanto que a visão do cristão leva, até pelos pilares, né, diante de toda a criação, de toda a maravilha que é Deus e da dádiva que é a vida.
A visão do cristianismo leva justamente à gratidão. A primeira coisa que percebo nos cristãos é isso: uma gratidão constante por tudo aquilo que eles têm, enquanto que essa turma fica aí disseminando mimimi, né? Banca vítima.
Quem não chora não mama, e aí você vai ganhar privilégios, né? Quer dizer, inverteram totalmente a lógica de amadurecimento. Hoje em dia a gente vê uns adultos decentes, adultos e adolescentes fazendo birra, dando piti.
Gente grande que tinha que estar trabalhando, debatendo e está lá. De George Washington porque George Washington teve escravo, quer dizer, o cara não consegue nem colocar dentro de um contexto histórico que aconteceu e se acha de novo aquela arrogância, o melhor ser humano que já esteve no planeta, né? A ponto de julgar todos os antepassados e condená-los, né?
Porque é pior, é o cristianismo. Não é à toa que o ato central de culto no cristianismo é a Eucaristia. A palavra Eucaristia, em grego, significação de Graças, porque o cristão precisa aprender a agradecer até pelo que é ruim.
Nós estamos aí à beira da Semana Santa, nós vamos viver novamente a Paixão de Cristo, sua morte, sua sepultura, sua ressurreição. E nós aprendemos o que com a igreja nesse período litúrgico tão forte? Que as cruzes da vida, elas nos fazem bem, nos ajudam a crescer, nos fazem ganhar musculatura, que elas são caminhos de ressurreição.
O cristão agradece pelas humilhações, porque as humilhações me recolocam na minha posição real, mostram que eu sou muito contrária do que essa gente aí patética diz: eu sou ruim, eu sou pecador. É a Missa católica; ela começa com um humilde ato de culpa: todo mundo diante de Deus: “minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. ” Eu não começo louvando, bem dizendo, não.
Eu começo reconhecendo que eu não presto, porque por aí que começa tudo. Então, longe de mim vitimizar, o cristianismo mostra que isso, a gente, uma vítima: o Deus que se fez homem para morrer no nosso lugar. Porque quem merecia o pior era a gente pela ruindade do nosso coração.
Mas, para nos salvar, ele que é santo se fez homem e morreu na cruz para pegar o nosso pecado. Então, se tem uma vítima aqui, é Cristo. Nós somos culpados, nós merecemos, nós que mereceremos sobre castigo.
Então, essa inversão é que tenta vitimizar as pessoas para gerar ódio, né? Ódio, porque, no fundo, você tá gerando revolta. Ódio é luta, guerra dialética, prática na sociedade; isso não pode levar a nada de bom, porque segregar, isso não gera simbiose.
Ao contrário, quando eu bato um peixe: “minha culpa, minha culpa,” eu reconheço que eu sou pecador, que eu sou salvo por um outro, por Cristo, que ele sim é santo e ele se fez vítima para mim, para me salvar. Isso gera em amor, amor por ele e amor por todas as pessoas, porque todos nós igualmente pecamos. Então, não tem como.
A gente tem que ser solidário, a gente tem que amar as pessoas que são à nossa volta. O ágate do cristianismo nasce aí. Agora, o ódio revolucionário, nasce de onde?
Nasce justamente da inveja, é do sentimento de revolta, dos sentimentos de rebelião causado por essas vitimizações infantis que fazem as pessoas nunca saírem do mesmo lugar. Eu lembro de uma fé progressista, homenageada por um rapaz que a conheceu desde que ele era menor, abandonado, e agora era morador de rua. Quer dizer, o coitado nunca proveu nada na vida, é por culpa do vitimismo ideológico.
E aquela história, né? Ame o pecador e odeie o pecado. Então, o que as pessoas às vezes confundem é que, em nome de uma pseudo-tolerância, eles querem que o cristão, que o crente, né, abdique do julgamento acerca do comportamento pecaminoso.
E aí morre o cristianismo, morre a régua moral, morre a possibilidade de salvação por meio até mesmo do arrependimento dos pecados. Em vez de você se arrepender dos pecados, os moderninhos querem que você considere que não existe mais pecado. Quem somos nós para falar sobre graça?
Você veja, Rodrigo, se não existe pecado, eu vou me arrepender de quê? Exato. Se eu não me arrependo, você não entende que me arrepender para quê?
Eu não preciso de Salvador. Então, esse cristianismo que quer se livrar da ideia de pecado, na verdade, está se livrando da ideia de Cristo e está fazendo um antropoteísmo. Está colocando o homem como se ele fosse o máximo e a gente sabe que a gente não é o máximo.
A gente sabe que a gente não presta, atenção! É isso aí. E padre, muita gente querendo falar de esquerda.
Eu até fiz uma live hoje mais cedo com meu amigo Pedro Henrique Alves da LVM Editora e do Clube, porque nós lançamos pela LVN o livro do padre cíclico americano aqui sobre a economia nas parábolas. É um livro muito interessante, mas a Bíblia está acima disso tudo. A tentativa de politizar a Bíblia é muito ruim, na minha visão, o que não quer dizer que a mensagem cristã não leve a uma certa visão de valores que, se você seguir esses valores, vai ser considerada de uma certa denominação política-partidária, sei lá.
Então, a pergunta que eu faço é a seguinte: primeiro, é possível ser católico de esquerda? Qual a sua visão da teologia da libertação, um casamento meio forçado entre Marx e Jesus, com 99% de Jesus e 1% de Marx? E se Jesus era um socialista, como alegam alguns revolucionários ignorantes?
Olha, são três perguntas que cada uma delas daria uma live de algumas horas, né? Porque são muito profundas. Eu sou teólogo e vou começar pela do meio, que é a teologia da libertação.
Em primeiro lugar, acho que a gente tem que entender que a teologia da libertação não surgiu do nada. Ela foi precedida por uma corrente teológica, por sua vez foi precedida por uma outra corrente teológica, né? Houve o modernismo, que foi denunciado por São Pio Décimo, que era fruto da crítica bíblica e que tentava, entre aspas, desmistificar a Divina Revelação e imanente usá-la, torná-la, digamos assim, mais fruto da história do que propriamente de uma revelação transcendente de Deus.
Sobre o décimo, bateu forte, censurou como igual uma porção de gente e os modernistas se esconderam. Bom, quando chega a década de 20, a década de 30, surge a chamada do velho teologia. O que é?
No velho, a teologia muito simples é um tipo de teologia que se faz em profundo diálogo com a filosofia e as ciências humanas, filosofia moderna e as ciências humanas, porque os autores da nova teologia notaram, com razão, que os teólogos da escola tonista ou neltonista tinham feito uma espécie de gueto, e que, enquanto isso, a civilização estava numa marcha filosófica completamente desligada disso. Então, eles propuseram uma reconexão, mas essa reconexão foi errada, porque ela desembocou no historicismo. O historicismo é a ideia de que todos os fenômenos têm que ser explicados à luz da história, que a história é um conceito bastante complexo, mas que é o elemento em que todas as construções teológicas emergem.
Bom, disso para o materialismo histórico é um pulo, né? E, de fato, isso acontece. O teólogo chamado faz uma espécie de síntese de uma síntese teológica de todas as correntes anteriores, a partir da filosofia hegeliana.
Aliás, heideriana, ele é um heideriano de total adesão. E como Raiva esvazia o ser no tempo, no fundo, o que o Caranner faz é esvaziar toda a teologia na história, né? No fundo, Deus está se revelando na história, nos acontecimentos históricos, e não deve existir uma espécie de dicotomia entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, tal como queria Agostinho.
Um dos alunos, ligado à teologia política, era extremamente conectado à escola de Frankfurt, Walter Benjamin, por exemplo, amigo profundo dele. E Gustavo, que foi aluno do Next, fez a transposição disso para a metodologia dialético-materialista, ou seja, por Marxismo, gerando a teologia da libertação. Então, o que é a teologia da libertação, né?
Isso o Gutierrez mesmo diz no livro chamado "Teologia da Libertação", que as pessoas não leem, mas lá está tudo escrito. Ele disse que, em primeiro lugar, a teologia da libertação é uma nova abordagem teológica cujo objetivo é analisar criticamente os fundamentos da teologia à luz dos pressupostos econômicos, políticos etc. Isso, Constantino, em si, já é um absurdo, porque estou partindo do pressuposto que a revelação divina é tão somente um fenômeno histórico, um transcendente imanente importante, que está sujeita às regras, aos jogos de poder do seu tempo.
Então, ele disse que a primeira finalidade da libertação é essa; e a segunda, ele diz isso na segunda parte do livro, é, no fundo, fazer com que a Igreja se identifique com o mundo, que a Igreja abrace, digamos assim, as causas do mundo, rompendo a distinção entre Igreja e mundo, o que também é um absurdo, justamente porque a Igreja está aí para ser sal da terra, luz do mundo, como diz nosso Senhor, e não para ser terra da terra e nem mundo do mundo. Nosso Senhor previu uma distinção e, inclusive, uma hierarquização, em que o sobrenatural está sobre o natural, e ele determina as coisas naturais. Dito isso, então responda à sua terceira pergunta: "Jesus era um revolucionário?
" Um absurdo, porque isso significa aplicar os critérios hermenêuticos, os critérios interpretativos da libertação a Cristo. Então, você está criando um espantalho; você está relendo, fazendo uma espécie de ressignificação da cristologia em função dessa ideologia teológica, que é realmente inválida, não pode ter valência. E aí vou para a sua primeira pergunta, porque, no fundo, a conclusão moral é: é possível um católico ser de esquerda?
E o que eu vou dizer para você é o seguinte: essa pergunta é tão genérica que, dependendo do momento histórico em que a gente estiver, podemos respondê-la de forma diferente. Por exemplo, se estou vivendo um totalitarismo de direita, um católico, nesse contexto, deve ser contra aquele totalitarismo, né? Porque eu estou dizendo isso?
Estou dizendo isso porque os termos direita e esquerda não estão fixos, sim, eles mudam na história, eles mudam. Então, quando você diz hoje, hoje em 2023, se você está me falando de uma esquerda identitária, abortista, multiculturalista etc. , eu não tenho dúvida de dizer que um católico não pode ser isso; aí não tem sentido, não tem pé nem cabeça.
Assim como eu não posso dizer que a esquerda mais antiga, por exemplo, a esquerda ligada ao mundo do trabalho, aos trabalhadores, digamos assim, a chamada revolução operária, ali até pode existir alguns elementos de consonância, apesar do que eu entendo, quando o Senhor. . .
Mas é sempre bom lembrar que a mensagem de Jesus, de caridade, né, cáritas, é dissociada de uma visão estatal de um elferes. Exato! O que eu estou querendo demonstrar é o seguinte: a esquerda de 30 anos atrás era infinitamente melhor do que essa porcaria que temos aqui hoje, né?
Então, eu acho compreensível que uma pessoa sem muitas orientações tenha abraçado aquele caminho histórico, que eu não faria, mas eu acho mais compreensível do que essa loucura desconstrucionista que está aí hoje, com certeza. E aí eu não vou deixar de trazer a polêmica, padre, porque muita gente pega no pé, né, com o Papa Francisco, que, aliás, desejo melhoras, pois ele foi internado com problemas respiratórios. Hoje, então, desejamos, obviamente, aqui, pronta recuperação para o Papa.
E também há uma confusão entre as visões, às vezes, políticas do Gregório, do Papa mesmo. Mas, antes que eu me esqueça, é daquilo que é dito "ex-cátedra", né, daquilo que realmente é a infalibilidade papal dos assuntos doutrinários. Então, é perfeitamente possível o católico divergir da visão política eventual ou pontual do Papa, e muita gente acaba implicando muito com o Papa Francisco.
Eu queria saber a opinião do Senhor em relação a isso; eu acho que o Papa andou sendo até muito firme na questão do aborto. Essa é uma questão essencial. Né para o catolicismo e isso eu não consigo entender, né?
Alguém que se diz cristão e vai lá e vota em partido ou político abortista ou não liga para essa questão, para essa causa. Isso parece estranho. Você veja bem: a Igreja não é um partido político; o que eu quero dizer é que nós não tratamos os nossos superiores como numa república.
Você trata um soberano, orindo, deixa daquele partido, né? Isso é muito importante para nós, porque nós estamos vivendo num momento de confusões e de orientação. Não quero muito católicos levianos em relação à autoridade do Santo Padre.
Mas, respondendo você honestamente, né, então é um papa. Cada um tem riquezas e cada um tem limitações. Por exemplo, Bento XVI era um homem extremamente intelectual, era um teólogo refinadíssimo, era um homem que estava ativo nos debates culturais mais altos do seu tempo e respeitado por toda a classe intelectual.
Só que Bento XVI tinha um limite pastoral, dificuldade de governo, etc. O Papa Francisco, de certo modo, é o oposto. Ele não é um papa oriundo da intelectualidade, ele não é um papa teólogo, não é um papa filósofo.
Então, eu não posso esperar dele aquilo que ele não é; eu tenho que esperar dele aquilo que de fato ele é. E o que ele é? Ele é um papa latino-americano, foi formado na década de 70, naquele contexto de Igreja.
Portanto, tem uma visão muito mais pastoralista, tem a vantagem de que ele sabe governar. Então, ele tem feito bastante bem à Igreja nesse sentido. As reformas administrativas que ele fez no Vaticano são admiráveis, as reformas que ele tem feito em muitos aspectos da vida da Igreja são profundas e boas, e têm colocado muita coisa no lugar, têm agido com bastante firmeza em relação a comportamentos não adequados tidos por membros do clero, etc.
Ele realmente tem feito bem, né? Agora, eu não posso esperar que ele seja bom em tudo, então haverá dificuldades teológicas. Ele, às vezes, quando se expressa de uma maneira muito livre, pode cometer algumas impr precisão, mas ele mesmo disse que não é magistério; isso aqui não deve ser considerado como opinião, como um comentário, e assim por diante.
Da nossa parte, como católicos, merecemos em cada geração, né? Cabe-nos rezar e cabe a nós guardar a fé para que as próximas gerações a recebam de uma maneira intacta. Faço uma ressalva que eu acho muito importante: ainda que o Santo Padre, algumas vezes, em momentos em que fala de uma maneira abrutalhada, como vocês dizem em italiano, tenha realizado algumas impressões, algo desse tipo, ele sempre manifestou o desejo de que todo o seu ensino sempre fosse interpretado de acordo com a doutrina perene da Igreja.
Isso é importante dizer, porque todos nós às vezes podemos cometer algum tipo de impr precisão, mas o que nós queremos é sempre nos submeter à chamada regra da fé. Perfeito, padre! Tem muitas coisas que eu queria abordar com o senhor, mas como nossa conversa é de uma hora e estamos chegando ao fim, eu vou jogar uma questão para o senhor avaliar e trazer ou não uma visão mais otimista para alguns, que são mais, digamos, pessimistas ou estão até de acordo com a catologia cristã, talvez aguardando ansiosamente o juízo final, né?
Com esse mundo meio chato e perigoso. Recentemente, falou de católicos, e eu queria explicar o que são os católicos. Mas a pergunta é a seguinte: qual a situação da Igreja hoje, dois mil anos depois?
Eu pergunto isso porque nós abordamos aqui vários ataques. O tema é esse, né? O ataque ao cristianismo, à família, aos pilares da fé, né?
E muita gente acha que nunca antes na história deste planeta a Igreja passou por desafios ou obstáculos tão ameaçadores. E eu fico pensando, às vezes, quando eu mesmo sou tragado por esse pessimismo, falando todo santo dia no começo da minha live de guerra cultural espiritual e mostrando as coisas insanas do mundo, eu me pego pensando às vezes: "pera aí, a Igreja Católica enfrentou Saladino, teve que fazer as cruzadas, passou por tanta coisa, será que vai ser o Felipe Neto que vai colocar de joelhos a Igreja Católica? ".
Então, às vezes, eu gosto de colocar em contexto para não entrar em desespero. Então, eu queria uma avaliação do senhor: em que pé está a Igreja Católica hoje? Há uma juventude buscando a Deus.
Eu, pelo menos, na missa aos domingos, tenho visto uma garotada jovem. Isso é alvissareiro! E só para explicar, antes da resposta mais essencial, o que o senhor entende por católico.
Eu, ontem, fiz essa postagem, porque, né, eu sou padre e tenho muitos colegas. Esse fenômeno realmente tem nos incomodado muito; o que eu quero dizer é: "Fulano se converteu ontem e já se sente o doutor da Igreja". Ele não tem aquela conversão que o faz ir para o arrependimento mais profundo, aprender a caridade; ele já quer chegar causando, né, e apresentando uma visão, uma versão do catolicismo extremamente dura, extremamente amarga às vezes.
Enfim, então foi desse fenômeno que eu quis dar conta ontem. Mas, respondendo à sua pergunta, há um livro do Ruggie chamado "Reformation", é um livro muito interessante, vale a pena ler. Eu não sei nem se nunca foi traduzido para o português, acho que não, mas valeria a pena ler e traduzir também.
Ele conta coisas da vida da Igreja no passado, né? Esse livro, não sei se temos em português, mas o Clube Ludovico, do qual eu sou parte, lançou o livro do Rogner, "A Vitória da Razão", que é um livro maravilhoso, explicando como que o cristianismo e o catolicismo estão na origem de tudo que é ciência moderna e visão racional, que os inteligentes, por ignorância, acabam desprezando e cuspindo no prato daquilo que. .
. Tornou possível a visão de mundo dele. Então, o que?
Então veja: nunca houve um período na história em que a Igreja não estivesse passando por crises, né? Então, no começo, eu vi a perseguição dos mártires; depois, quando essa fase termina, há uma espécie de crise interna na Igreja, em que há uma espécie de desconformidade com a mediocridade da vida normal. Então, uma parte da Igreja vai para o deserto, vai às horas religiosas.
E a Igreja da Idade Média, longe do que as pessoas pensam hoje em dia, viveu um período de extrema dificuldade até a criação do Sacro Império Romano-Germânico. Depois disso, houve uma espécie de trégua, mas, ao mesmo tempo, o envolvimento da Igreja com a autoridade secular fez com que surgissem crises morais internas muito grandes. Depois, vem a crise da Reforma; após a Reforma, as outras revoluções que sucederam, e nós chegamos ao século 20, num momento que é profundamente paradoxal, porque há uma confusão e uma desorientação doutrinal muito grandes.
Isso a gente percebe: existem ideologias teológicas que causam danos verdadeiramente à consciência dos fiéis, mas, ao mesmo tempo, os católicos do século 21 são mais bem formados do que os católicos do passado, são mais engajados, inclusive na vida eclesiástica, mas não apenas na realidade temporal. São mais convictos, são mais espirituais. Vejam: os católicos de hoje, percentualmente, assistem mais à missa do que em muitos séculos atrás.
Na Idade Média, por exemplo, a frequência à missa era menor; o Rogner Stark demonstra isso nesse livro, ele faz uma análise estatística. Então, hoje eu estou vendo, inclusive, um fenômeno muito interessante no Brasil, que é o seguinte: há um crescimento, uma explosão das igrejas evangélicas. E, obviamente, eu não acho que esse crescimento é a mesma coisa que um inchaço.
Então, há hoje o surgimento de um evangelicalismo bastante medíocre, né? Em que as pessoas não se convertem de verdade, em que elas estão ali mais por modismo, digamos assim, um crescimento quantitativo com um crescimento qualitativo. O que eu estou vendo na Igreja Católica é exatamente o contrário: eu estou vendo aparecer, por exemplo, mesmo entre celebridades, conversões verdadeiramente carismáticas.
O que eu quero dizer com isso? O fulano tinha tudo para não ser cristão, para não ser católico; de repente, ele descobriu a graça, sei lá, fez uma peregrinação para Medjugorje, foi para a Terra Santa, viu a vida do Padre Pio, assistiu ao documentário da irmã Clare, entrou em crise de fé, se transformou, fez uma confissão, virou católico e se tornou um católico de voto, que dá testemunho, que é entusiasta, etc. Eu tenho muitos amigos que são pastores evangélicos, e eles me falam da influência positiva que, por exemplo, as mulheres católicas exercem sobre as mulheres evangélicas, na moda de falar sobre modéstia, sobre abertura à vida, querendo ter filhos, querendo ser mães, querendo ser esposas.
É nesse processo de volta ao lar, né? Então, eu acho que nós estamos vivendo um momento extremamente empolgante para o católico ser católico. Acho que nunca foi tão gostoso como nos nossos dias, com todas as dificuldades que existem, mas é um momento de profundas conversões e de conversões que realmente fazem a diferença nas nossas comunidades.
Então, eu acho que, paradoxalmente, é um momento de muita crise, mas, no meio da crise, tem muita graça. Eu não podia ser diferente, porque São Paulo disse que, onde abundou o pecado, superabundou a graça. E sabe, Rodrigo, vai te dizer uma coisa: a decepção política que nós estamos vivendo agora vai nos fazer muito bem.
Nós temos que tirar os olhares dos homens e voltar os olhos para Cristo. Olhar para a vida espiritual, e as verdadeiras transformações acontecem pelo protagonismo da graça. A política a gente deixa para depois.
É isso mesmo, padre! Eu sou testemunho vivo disso também. Cada vez mais, pretendo usar esse dom que Deus me deu de comunicação e a base que já tenho de seguidores para levar a minha própria experiência.
Cada vez mais, eu brinco que Deus é tão paciente que espera o bom filho retornar à casa. Tô aqui com meu escapulário. E que legal: quem conseguiu a entrevista, o contato do senhor, foi minha querida sogrinha, né, que é uma católica bem devota em São Paulo, e a filha também é uma católica.
Ela diz exatamente isso: ela diz que, antes de se considerar conservadora, o seu cristianismo a levou a pensamentos ou bandeiras consideradas conservadoras. Mas, acima de tudo, ela se identifica como uma cristã, uma católica, né? E essa questão dos protestantes e católicos dá uma live inteira à parte.
Tenho muito interesse de contar novamente o feedback aqui, padre. Mais de 3 mil pessoas acompanhando a nossa live; um feedback altamente positivo, muita gente dizendo que foi a melhor live do ano, que foi maravilhosa, que querem que você volte. Então, temos muitos assuntos, né?
Essa questão do catolicismo com protestantismo… bom, o próprio casal Bolsonaro tem essa complementariedade, historicamente falando, já deu muita atenção. Mas eu gosto de ver como complementar em muitos aspectos. Apesar de ser, eu mesmo, um católico, hoje em dia, digo isso com muito orgulho e graça e gratidão.
Padre, muitíssimo obrigado pelo tempo e pela sabedoria compartilhada aqui conosco. Até a próxima! Considerações finais?
Rodrigo, é uma delícia falar com você. Eu sempre te admirei, sempre acompanhei teu trabalho, sou teu fã. Queria pedir uma colherzinha de chá: pessoal que está assistindo, me siga no Instagram, assine meu canal no YouTube, tem pregação diária, tem coisas, eu produzo conteúdo diariamente.
Me acompanhe lá, @pbr é Eduardo, né? Bíblia também sobre tudo isso. Tô dando cursos agora na internet.
Enfim, o importante é nós estarmos juntos nessa caminhada rumo à eternidade. Um grande abraço, Rodrigo. Obrigado, padre.
Até a próxima! Eu adorei a participação, foi um prazer. Grande abraço!
É isso aí, turma maravilhosa! A live, a conversa com o padre, agregou muito; tenho certeza de que vocês adoraram, assim como eu. Até pelos comentários aqui, né?
Então, vamos fazer mais, vamos fazer mais vezes isso. Eu acho que isso agrega muito mais valor às vezes do que ficar ali. Óbvio que eu entendo também, né, a demanda por análises conjunturais.
Hoje vocês vão se divertir um pouco, desabafando em conjunto. Às vezes eu falo que a minha live, tudo concha, serve para a gente lembrar que nós não estamos malucos; são eles que estão tentando nos enlouquecer. Então, seria divertido, né?
Eu falar aqui dos Janomes e tudo mais. Mas como um bate-papo desses agrega muito mais, né? Eu acho que a mensagem que o padre trouxe no final é exatamente essa: a crise política às vezes vai nos desviar a atenção para coisas mais importantes, mas relevantes e elevadas, né?
Deus e Jesus vieram para tentar salvar cada um de nós. Então, quando a gente quer salvar o planeta, isso costuma ser um desvio perigoso. Vamos tentar, antes de mais nada, nos salvar, pecadores que somos.
Muito obrigado e amanhã tem mais!
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