Olá amigos! Estamos, aqui, para mais um episódio do nosso estudo do livro Gênesis de Moisés à luz do Espiritismo, do Consolador Prometido. No episódio anterior, nós comentamos, em linhas gerais, alguns símbolos que se destacam nesse Capítulo 4 do livro de Gênesis.
Lembrando que, aqui, nós fazemos um voo panorâmico sobre os temas, porque não é permitido um aprofundamento maior em cada versículo. Não é a nossa intenção fazer esse aprofundamento. Esses episódios são um estímulo para que todos possam estudar mais apronfundadamente os temas do Velho Testamento e fazerem a conexão com o Novo Testamento.
É muito importante nós compreendermos as raízes do Novo Testamento, algumas expressões, algumas palavras de Jesus, algumas metáforas, símbolos mesmo por Ele utilizados porque foram retirados do Velho Testamento. E, falando em símbolos, nós comentávamos que esse texto é um artesanato. É preciso compreender isto: cada cultura, cada comunidade se destaca por um tipo de habilidade.
Então, é comum nós visitarmos o nordeste brasileiro e encontrarmos aqueles atores populares, artistas populares, melhor dizendo, os repentistas que são aqueles que compõem cordéis, que conseguem, no improviso, assim de relâmpago, rimar palavras, contar histórias, compor textos que se encaixam, que transmitem uma mensagem, seja ela de humor, seja ela de, sabedoria - não importa -, e eles conseguem criar porque aquilo está entranhado na cultura. Nós precisamos reconhecer que o povo hebreu, ao menos aqui no início da sua formação, quando esses textos nasceram, quando eles foram gerados, era um povo de pastores e agricultores. Mas, possuíam uma habilidade ímpar, sem igual: de construir textos.
É muito importante que nós digamos isto: se os egípcios se destacavam pela construção das pirâmides, se os babilônios se destacavam pelas suas cidades e pela sua organização, os gregos também pela polis - a cidade grega - e construções, os hebreus concentravam toda a sua inteligência, todo o seu talento, sua criatividade nos textos. Portanto, os textos do VelhoTestamento são na expressão extraordinária do benfeitor Emmanuel, “monumentos” das ciências secretas do povo hebreu. É assim que Emmanuel vai se referir a estes textos no livro A Caminho da Luz: "monumentos", "construções".
Para nós sairmos dessa metáfora de construção civil, de edifícios, de casa, de cidades, nós vamos tentar trazer para algo mais palpável: imaginem que você faça aquele passeio dos sonhos da suas férias, vai numa praia no Nordeste e lá se encanta com uma toalha feita por uma mulher rendeira. Compra a tolha e traz para cá, coloca na sua mesa, fica linda e você fica observando os detalhes daquele artesanato, daquela obra de arte. Você percebe que - é claro!
- a toalha é feita de fios. Isto mesmo: fios! Da mesma maneira esse texto: é um texto construído de orações, frases.
Orações Orações que, como os fios, se entrelaçam. E essas orações, por sua vez, compostas de palavras. Elas reúnem palavras e vão tecendo o texto.
É óbvio que naqueles pontos em que os fios se encontram, você forma figuras: uma flor, um animal, um outro objeto e a toalha vai assumindo contornos, ganhando uma beleza, nesse momento em que os fios se encontram. Aqui, também a mesma coisa: quando as orações e as palavras se misturam, quando a narrativa é construída, alguns símbolos se destacam. Esses símbolos que se destacam vão aparecer ao longo de vários textos do Velho Testamento.
vários textos E, hoje, em especial porque é um símbolo muito denso, profundamente denso, extremamente denso, nós vamos nos concentrar no ‘cordeiro’. Há uma parte nesta narrativa que, ao leitor desatento, parece sem propósito, sem sentido ou injusto, que é o fato de Caim, um lavrador trazer as primícias da sua colheita, quer dizer, aquilo que vem primeiro. Você tem uma plantação de milho, por exemplo, alguns vem antes.
A lavoura não dá toda de uma vez, algumas espigas surgem ali extemporâneas, mais apressadinhas, vamos dizer assim. Essas apressadinhas tem o nosso de primícias. Então, Caim traz essas primícias, uma forma antiga, ali do Oriente.
Vários povos ali do entorno, Babilônia, perto da região de onde hoje é o Irã, a Mesopotâmia já possuía a tradição de dedicar aos seus deuses oferendas e essas oferendas, muitas vezes, consistiam nas primícias da colheita de grãos, da colheita do que estava se plantando. Caim vem, aqui, e oferece as suas primícias. Abel, que era um pastor de rebanho miúdo (por rebanho miúdo vamos entender as ovelhas e os cabritos) oferece, então, o primogênito, o cordeiro macho mais velho, que nasceu primeiro com a sua gordura para o sacrifício.
E, na linguagem profundamente simbólica do Velho Testamento, Deus se agrada mais da oferenda de Abel que da oferenda de Caim, o que leva a Caim a ficar com ciúme, com inveja e a matar o seu irmão. Primeiro elemento que nós precisamos tomar muito cuidado: toda a referência que o texto faz a Deus é extremamente simbólica. Não seja ingênuo de imaginar que Deus é um ser humano, que ele tem, raiva, preferências, que ele escolhe.
Não faça isto! Esta é uma armadilha. Não é isto que o texto quer que se faça.
Por trás dessa maneira de dizer, o texto, na verdade, está fixando um valor. Qual é o valor? O valor, aqui, é a primazia do cordeiro, a primazia da oferenda, a oferenda melhor, a mais excelente.
Então, aqui, se você quiser, em uma linguagem mais contemporânea, o que está acontecendo, aqui, é um padrão de qualidade: está selecionando o excelente e deixando o bom ou o ótimo para trás. Não que a oferenda da primícia seja ruim. Não é isto!
Mas, ela não é excelente. A oferenda excelente é a oferenda do cordeiro e isto nos leva a uma pergunta simples, direta e objetiva: por quê? Por que a oferenda do cordeiro?
E, aqui, nós vamos nos inteirar de uma técnica de interpretação dos textos do Velho Testamento, uma técnica preservada pelos sábios do povo hebreu e que, Saulo de Tarso, aprendeu aos pés de Gamaliel que por sua vez aprendeu do seu avô Hilel, uma grande técnica de interpretação do texto bíblico. Em que consiste essa técnica? Essa técnica se chama midrash.
Midrash é o infinitivo do verbo darash que é o verbo buscar, escavar, procurar, detetive e, se você gosta de seriado, C. S. I.
: Miami (só que, aqui, não será C. S. I.
Miami, será C. S. I PH).
Então, vamos lá: tem que buscar. Como que eu busco? Eu estou expondo a técnica, aqui, para vermos que não tem nada de místico, nada de exotérico.
Os elementos da técnica são elementos imprescindíveis. Como é que eu busco algo sobre o cordeiro, se eu tenho apenas o capítulo 4? Como é que você faz?
O cordeiro mal aparece aqui, a palavra sequer é citada. A palavra não é citada, o que é citado, aqui, em Gênesis 4:4 é que Abel ofereceu do primogênito do rebanho de gado miúdo e da gordura. Daí, você tem que saber o que é gado miúdo e o que é gado graúdo.
Animal miúdo é a ovelha. Não tem outro caminho: isto é um dado cultural. Então, você tem que conhecer da cultura para você entender a palavra.
É o primeiro elemento da técnica: tem que conhecer a cultura para entender a palavra, porque eu não posso interpretar a palavra para fora da cultura. Isto é um palavra em hebraico, eu não posso interpretar essa palavra hebraica na cultura chinesa. Percebe porque eu não uso a cultura chinesa para interpretar o Velho Testamento?
Porque ela não é uma cultura que vai auxiliar, aqui, neste ponto específico. Nos aspectos gerais da cultura chinesa pode auxiliar em alguma coisa. Não estamos, aqui, desmerecendo a cultura, mas vamos dizer que temos que mergulhar na cultura onde o texto nasceu, parece lógico isto?
Claro que sim. Você não vai ler Shakespeare estudando a cultura do pantanal brasileiro. Não adianta você ir lá no pantanal, conviver com as pessoas, com a cultura, para entender Shakespeare.
Parece óbvio isto. Por que não é óbvio quando as pessoas vão estudar a Bíblia? Por conta de interesses outros, que não vem ao caso, que acabaram mascarando ocultando, acabaram despistando nosso olhar para o elemento essencial.
Por isso, o nome da técnica é busca, procura na cultura Se eu me inteiro dos elementos culturais, que eu me aprofundo na cultura do povo hebreu, eu sei que esse gado miúdo é o rebanho de ovelhas e o primogênito, aqui, do rebanho de ovelhas, é o cordeiro. Vê que até o símbolo está escondido. Então, eu achei o símbolo.
Mas, se você tem apenas o capítulo 4 do livro de Gênesis, o que você vai fazer para investigar? Você, agora, é um investigador de símbolos bíblicos: acaba de ser promovido! E, eu só te dou o capítulo 4 do livro Gênesis: o que você faz?
Você senta, faz uma prece e chora. Por quê? Você não vai encontrar nada.
Então, o segundo elemento da técnica: quanto mais textos você examinar, mais chances de encontrar o sentido do texto. Perceberam? Isto é importante.
Então, vamos lá: respira, toma uma água. Primeiro elemento da técnica midrash: conheça o ambiente cultural onde o texto foi produzido, porque nem sempre você vai encontrar a palavra dando a dica. Como bom investigador, você vai ter que procurar por pistas, não tenha a palavra ‘cordeiro’, aqui, no texto, tem a palavra ‘primogênito do rebanho miúdo’.
Primogênito do rebanho miúdo, culturalmente, nós sabemos que é o cordeiro. É o passo um. Se não conhecer os elementos da cultura, você está perdido.
Segundo: precisa examinar o máximo de textos possíveis. É por esta razão que a pessoa abre a passagem da última ceia e vai estudar aquela passagem. Digamos que, elas só tenha essa passagem e elas acham estranho Jesus ter chamado os apóstolos antes da crucificação para cear, para comer com eles uma refeição.
E, é estranho porque ela não sabe o porquê daquela bebida (o vinho), o que ele está comendo, o que que ele está distribuindo, o que que se está celebrando. Ela não sabe! O que faz?
Primeiro passo: aprofundar-se no ambiente cultural onde o texto foi produzido. Esse texto foi produzido em Israel. O Novo Testamento, os Evangelhos, foram produzidos por pessoas da cultura hebraica.
Que ceia eles estavam fazendo? A ceia da Páscoa. Se você quiser saber mais sobre isto, vai ter que investigar sobre a cultura, sobre o estado dos costumes daquele povo na época em que Jesus esteve entre eles.
Parece razoável isto? Bastante razoável. Passo dois: apenas com o texto da última ceia, você não sai do lugar.
É fato! Você vai precisar de mais textos. Então, eu vou te auxiliar: texto da última ceia e, daí, eu te dou o texto de Êxodo quando ocorreu a primeira Páscoa.
E lá você vai encontrar o cordeiro primogênito que ser qual o cordeiro que nasceu primeiro, não pode ter defeito, nenhuma deficiência. Os ossos dele não podem ser quebrados. Eu tomo esse cordeiro: o sangue não pode ser comido, a lã - claro - você não come não (precisa dizer, tira a lã), separa a gordura (porque a gordura é queimada, é uma parte importante do sacrifício), o sangue é extraído, o sangue foi usado para marcar as casas que o anjo da morte pulou.
Então, tem todo um contexto. Daí, a história começa a fazer sentido. Agora, você, que é investigador, tem algumas pistas.
O cordeiro aparece em Abel, aparece no Êxodo e aparece na última ceia. Ele aparece em mais momentos. O cordeiro aparece em um texto importantíssimo chamado “Akedá de Isaque”, todo mundo conhece esse texto.
Na linguagem simbólica do Velho Testamento, Deus pede para Abraão sacrificar seu filho mais velho: Isaque, o primogênito. Isaque é levado para o sacrifício e quando Abraão vai sacrificá-lo, eis que Deus diz: ‘Não faça isto! Queria testar sua fé!
Está aqui algo que será sacrificada no lugar de Isaque. Vamos substituir. Não será Isaque.
’ Mas, quem será? O cordeiro. E eis que lá estava preso para ser sacrificado: um cordeiro!
Curiosa esta história. Eu tenho, aqui, o cordeiro de Isaque, tenho o cordeiro da Páscoa, tenho o cordeiro que Abel ofereceu (e a oferta agradou a Deus, mais do que a oferta de Caim), temos o cordeiro da última ceia e temos os textos do Novo Testamento que vão dizer assim, se referindo a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Olha as pistas!
E, agora, nós vamos ter que reuni-las. É disto que nós estamos falando. O midrash, então, é esta técnica que permite que você identifique um elemento, no caso, aqui, o cordeiro - este é o elemento que nós estamos investigando, lembram?
O cordeiro. Nós estamos em busca do significado da palavra cordeiro. E, para isto, o que nós fizemos?
Sem nenhum tipo de preconceito de prevenção, nós selecionamos o máximo de textos possíveis daqui da Bíblia, do Velho e do Novo Testamento, para a nossa investigação do sentido do símbolo cordeiro. Tem outras passagens, aqui, mas nós vamos nos contentar com essas, porque o midrash é isto, você pode ser detalhista e, hoje, nós temos ferramentas para isto: eu quero pegar todas as ocorrências de cordeiro na Bíblia, do início ao fim. Ótimo!
Isto é fantástico! Você tem, hoje, nos computadores mecanismos de pesquisa poderosos e você faz isto na hora. Hilel fazia isto porque sabia tudo decor.
Ele fazia isto mais rápido do que você com o computador, porque ele sabia todos os textos decor. todos os textos Você falava um símbolo, ele citava para você todas as ocorrências de memória. Mas, o sentido aqui é qual?
É que eu tenho que investigar, investigar, reunir, é como se você olhasse para a toalha de renda e falasse assim: ‘olha ali aparece uma flor, aqui aparece a mesma flor, aqui também, ali também, aqui também. . .
’ Não é? É uma técnica. Vamos usar uma outra metáfora agora: uma outra metáfora na composição do período clássico, do período romântico (agora, estamos falando de música), existe algo que é chamado de tema.
Em linhas gerais, de um modo grosseiro, o tema é uma melodia completa, que tem princípio, meio e fim, uma cadência completa, então, é uma estrutura musical completa, pequena bem pequena e esta estrutura é o bloco, é o tijolo que vai construir toda a obra, seja uma sonata, uma sinfonia, uma suíte, não importa! Então, a quinta sinfonia de Beethoven tem um tema famosíssimo! Tã tã tã tã, tã tã tã tã.
. . : este é o tema, é este o tijolo.
A partir deste tijolo Beethoven vai compor toda a nona sinfonia. Como ele vai fazer isto? Ele vai pegar este tema e vai torcer ele, vai mudando, vai fazendo variações e mudanças e dialogando com o tema e, daí, ele compõe toda uma sinfonia.
Mas, a base da sinfonia são essas notas, este terma que é completo: tã tã tã tã, tã tã tã tã. . .
está completo. Você acrescentaria uma nota nesse tema? Então, a técnica, aqui, do midrash é que nós sejamos capazes de buscarmos temas, essas pequenas estruturas que dão sentido ao todo.
que dão sentido ao todo. Nós encontramos o cordeiro. Você imagina que se, na fase anterior, o elemento da discórdia foi a serpente, aqui, agora, o elemento da discórdia é o cordeiro.
Não é? Por que graças ao cordeiro oferecido por Abel, Caim inflamou-se de ciúme, de inveja, matou seu irmão e começou a colocar em movimento a roda, o mecanismo, a engrenagem do mal. Aqui é o primeiro elemento da engrenagem.
Tudo o mais que vai acontecer na Bíblia é uma progressão exponencial do mal. Exponencial por quê? Porque ela não é aritmética.
Não é assim: 1 + 1 +1. . .
não! É 2, 4, 8, 16. .
. vai se multiplicando ao quadrado, exponencial. O crescimento é enorme até abranger toda a Terra.
O ato de inveja, ciúme, violência e ódio de Caim espalhou-se por toda a Terra, exterior e interior, porque esta marca de Caim está dentro de mim, está dentro de você e o maior desafio da evolução, hoje, em plena transição planetária é calar a voz do Caim que existe dentro de mim para que o Abel possa falar. Eis o desafio! O desafio que pessoas como Gandhi reforçou: eliminar todas as raízes de violência, de ódio, de rancor, de mágoa, de inveja, de ciúme que possam existir dentro de nós, por que essas raízes alimentam o nosso Caim interior.
O texto tem esse símbolo e o cordeiro permeia essa história: dois irmãos. Isto me lembra aquela história que é uma parábola do índio americano: foi visitado e no meio da conversa, da entrevista, o índio solta uma pérola. Ele diz assim: há dois cães dentro de mim e eles estão em luta.
Um é manso, dócil, amigo, alegre, carinhoso. O outro é raivoso, violento, malvado, perverso. E eles estão em luta.
E a pessoa ficou tão intrigada com essa imagem utilizada pelo índio que perguntou: e qual deles vai vencer? O cão carinhoso, manso, pacífico ou o violento, o invejoso, o ciumento, raivoso? Qual vai vencer?
Caim ou Abel? E o índio respondeu: aquele que eu alimentar. Qual que você vai alimentar?
Esta é a história! Dois irmãos dentro de nós, dentro de mim e dentro de você: qual nós vamos alimentar? Acontece que há milhares de anos, ao longo de uma fieira de encarnações, nós temos alimentado Caim.
Este é o lado que nós temos privilegiado, este é o lado que nós temos incentivado, que nós temos reproduzido. A palavra 'reproduzido' é importantíssima, porque o que vai acontecer? Logo que Caim mata Abel, ele sai ele foge.
A fuga. Descumpriu o dever, qual é o próximo passo? A fuga.
Ele foge e se torna um errante. E, o que ele vai fazer? Reproduzir-se, multiplicar-se.
Eu terei uma geração de Caims. Claro! São filhos, netos, bisnetos que vão receber outros nomes, mas é a mesma coisa.
Vamos ver que o filho de Caim será um assassino, o neto de Caim será um assassino e o bisneto de Caim será um assassino e isto vai se multiplicar. O ódio, a violência e o assassinato vão se multiplicar. Esta é a herança de Caim.
Esta é a genealogia de Caim. Sua genesis e o seu legado. Sua órigem e o seu legedo Caim é o pai, é o patriarca da violência, do ódio, do ciúme, do homicídio.
Este é Caim na linguagem simbólica do Velho Testamento. Então, percebe que é muito sutil como que as coisas se encaixam. Por isso, Jesus, no Capítulo 8 e 9 no Evangelho de João, quando conversa com os fariseus, Jesus tem uns diálogos que, se você não está treinado no C.
S. I. Miami, não entende.
Se você não fez essas investigações, você não entende. Lá eles discutiam se Jesus era filho de Abraão, se não era filho de Abraão, porque ser 'filho de Abraão' significa seguir as tradições do povo hebreu, cumprir os preceitos da tradição do povo hebreu, ser um bom judeu, um praticante. Isto é que estava em jogo.
Jesus, então, começa a conversar com eles e eles falam: ‘mas, nós temos por pai Abraão’. E, Jesus fala: vós tendes por pai ao diabo e vos esforçais para fazer a vontade dele, ele foi homicida desde o princípio’. É um texto lindo que Jesus faz uma conexão digna de um Cristo, dizendo: Não!
O ancestral de vocês é Caim. Essa violência que vocês tem dentro de vocês vem de Caim, esse ciúme, essa inveja que vocês estão manifestando contra mim, vem de lá e vocês vão me assassinar como Caim assassinou Abel, porque eu sou o novo Abel. Eu sou o novo que irá ser assassinado para que o velho mantenha estruturas arcaicas, ultrapassadas, violentas, truculentas, perversas.
É um texto profundo. Como você entende esse diálogo de Jesus com os fariseus, se você não mergulhou, aqui, se você não juntou essas pecinhas, se você não investigou? Isto diz um pouco da pergunta que sempre nos fazem: mas por que vocês estão estudando Gênesis de Moisés no SER?
Por que vocês estão estudando o Velho Testamento? Eu tenho uma pergunta melhor: e por que não estudar? Diante de uma fala dessa de Jesus, diante lá da ceia, diante da expressão ‘cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’, como não estudar?
Como não comparar todos os textos? Então, vamos ultrapassar esse ponto e entender o terceiro princípio: não há antes, nem depois no texto bíblico para a técnica do midrash. Deixa eu explicar isto: é claro que eu posso fazer uma leitura história da Bíblia.
Se você fizer uma leitura histórica, o que eu vou fazer? Vou descobrir que parte do livro de Gênesis é mais antiga, porque tem um hebraico mais arcaico e as outras partes que compuseram, aqui, são partes mais novas do que essa parte mais antiga, porque o hebraico utilizado nelas é um hebraico um pouco mais adiante no tempo que este. E, daí, eu vou fazendo um trabalho historiográfico.
Eu vou conseguir distinguir que os textos não foram compostos todos de uma vez, que era composto o núcleo e, depois, vinha e dava uma aperfeiçoada, dava um toque. Esta é uma visão histórica importantíssima de ser feita. Mas, não para esta técnica do midrash.
Por que se você quiser entender sobre cordeiro, aqui, não adianta eu te falar qual texto veio antes. Qual veio depois Qual a importância disso? Nenhuma, porque nessa investigação está fazendo uma análise sistêmica do símbolo.
Então, não existe antes, nem depois. Eu pego o cordeiro que está em Êxodo, pego o cordeiro que está no capítulo 4 de Gênesis, pego o cordeiro que está lá no Evangelho de João, e junto todos. Só que o Evangelho de João para o livro de Gênesis, nós temos quase 3000 anos de tempo transcorrido.
Sim! Mas, qual o problema? Você pega uma peça de Villa Lobos, nosso grande compositor, em que ele faz uma referência no prelúdio 3, por exemplo, de uma peça de Johann Sebastian Bach, mais de duzentos anos antes dele.
Qual o problema? Não há antes, nem depois. Por isso, nós selecionamos os textos, vamos estudando o sentido destes textos, como que os símbolos se conectam e, a partir do quadro que se monta, nós vamos descobrindo o significado.
Agora, olha que bonito: se você entendeu o significado de cordeiro, isto serve para o capítulo 4 de Gênesis, isto serve para o Êxodo, isto serve para passagem de Isaque e isto serve para a última ceia de Jesus. Uma vez interpretado o símbolo, você consegue interpretar todas essas passagens no que diz respeito ao símbolo cordeiro. Não é interessante?
Você deve estar aí morrendo de curiosidade: ‘meu Deus, então, o que significa esse cordeiro? O que nós podemos concluir sobre este cordeiro? ’ Mas, daí esse assunto é para o próximo episódio.
Um abraço e até lá.