Vamos falar sério sobre essa questão de metas de ano novo, sem a superficialidade e a agitação das redes sociais, que só reforçam o quanto somos levianos e como somos vagos na nossa intenção e no nosso propósito de mudar de vida. Para retificar o nosso caminho, há dois pontos centrais nessa conversa. Em primeiro lugar, é necessário um compromisso com o autoconhecimento.
É necessário saber quem nós somos, qual é a nossa vocação, o que estamos fazendo aqui, qual é a gravidade da nossa existência, o que precisamos conquistar, qual é a nossa meta e quais são os defeitos do nosso caráter que precisam ser enfrentados. Esse exame de consciência começa na busca pelo defeito dominante, aquele vício arraigado no nosso caráter que pode vir do nosso temperamento ou de uma má formação. Todos nós somos formados pela nossa família, pela nossa sociedade, pela nossa escola, pela nossa comunidade religiosa, pela mídia e assim por diante.
Ora, muitas vezes somos mal formados ou deformados quando os valores e as virtudes que essas instituições nos infundem não realizam a natureza humana e nos degradam, nos viciam. Portanto, podemos ser preguiçosos, intemperantes e fracos quando colecionamos uma série de intenções não cumpridas. Pense no que você prometeu no ano passado: você se limitou a querer emagrecer, a querer fazer atividade física, a cuidar da saúde, a querer trabalhar mais, sem saber o porquê, sem saber qual é o peso espiritual de cada dia, sem saber o que você está fazendo aqui.
Por isso você não cumpriu. Por isso, são metas vagas, são coisas bobas. Então, é necessário listar, de fato, os defeitos que têm que ser enfrentados e as virtudes opostas.
Mas, para entender quais são as virtudes que você precisa buscar, em primeiro lugar, você tem que saber qual é a sua força, qual é o seu calibre, qual é o seu quilate. Humildade não tem nada a ver com pusilanimidade; humildade não tem nada a ver com não saber qual é a sua própria potência. Muito pelo contrário, humildade é não pensar muito em si, mas não é pensar pouco de si.
Pelo contrário, a humildade vem acompanhada de magnanimidade, de querer coisas grandes, e o ideal do cristão é sempre o próprio Deus, que é perfeito, que é belíssimo, que é boníssimo, que é misericordiosíssimo, que é justíssimo, que é perfeitíssimo. Deus é todo superlativo, e nós temos que querer a grandeza. Nós somos feitos para isso, e o amor é o caminho para a excelência e para a perfeição.
Então, amando a Deus sobre todas as coisas, nós vamos buscar nos amar a nós mesmos, porque é desse tipo de amor que nós vamos amar ao próximo. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quem não se ama a si mesmo e não busca ser virtuoso, quem não busca ser santo, que é o ideal supremo da perfeição moral, não vai poder amar os outros com qualidade.
Aliás, o amor é a forma suprema das virtudes, é a perfeição. É a virtude por excelência, exatamente porque depende de uma personalidade madura, plena, rica, cheia. Então, em primeiro lugar, você vai buscar o que já conquistou.
Você vai fazer um exame de consciência das suas forças morais, que são as virtudes. O que você já conquistou no trabalho, na família, diante de Deus, com a sua comunidade? O que você já fez de bom?
Porque isso vai lhe dar vigor, otimismo, vai lhe dar vibração, vai lhe dar esperança de poder realizar mais coisas. Depois, vem o que lhe falta, sempre em continuidade com o que você já conquistou. Então, você vai querer aperfeiçoar o que já tem, porque, a partir do que você já tem, você vai se sentir forte, capaz.
Então, digamos que você queira aprender uma língua estrangeira. Tá, mas você já aprendeu a falar um pouco o vernáculo, o português. Então, você tem que desenvolver o que já sabe, que é o português.
E se você já começou uma segunda língua estrangeira, desenvolva essa segunda língua. Não parta para uma terceira, quarta, quinta, deixando várias línguas mal faladas pelo caminho. O mesmo vale, por exemplo, para a profissão: você quer mudar de área, quer fazer uma transição de carreira, mas não está fazendo bem a área em que você já está.
Você não atualizou ao máximo as suas potências no que já se propôs a fazer. Por isso você é fraco, você é inconsistente, você é inconstante, você não tem perseverança. Você quer mudar de relacionamento, quer encontrar um novo amor, mas não amou suficientemente a pessoa que estava à sua frente.
Por isso você não confia no seu taco, não confia na sua força, naquilo que você é capaz de fazer. Então, veja o que você já realizou, o que você já fez de bom. Desenvolva isso e busque novas coisas a partir do que está ao seu alcance.
Os segredos são metas realistas, são metas prudentes. Metas que ganham corpo na agenda, que têm que ser a sua amiga. Se você ainda não tem uma agenda de 2025, se você ainda não pensou nos meses de 2025, nos semestres, nos trimestres, você está atrasado.
Não será hoje, surfando na rede social e vendo um bando de propostas e fórmulas mágicas, que você vai pensar no seu ano. O seu ano está num contexto de um lustro, de uma década. O lustro são 5 anos, a década são 10 anos.
O século são 100 anos. Dificilmente nós vivemos 100 anos. Você pensa a longo prazo; você que tem filhos, né, filhos pequenos, você tem que pensar em 15 anos, 20 anos.
Isso inclui, do ponto de vista financeiro, ter uma área, um trabalho rentável que vai lhe dar dinheiro ao longo do tempo, e não apenas de uma única vez. Importante me parece estar não só nessas metas concretas na agenda a partir do que você já tem, mas divididas em seis áreas fundamentais. Em primeiro lugar, Deus: como você vai amar mais a Deus?
Como você vai se aproximar mais de Deus e da sua mãe, Maria Santíssima? Tenha um santo de devoção, conheça a vida dos santos, proponha-se a ler ou assistir a cursos e aulas sobre os santos, porque eles são modelos. Tenha a intenção de ler a Sagrada Escritura, porque é a Palavra de Deus.
Tenha a intenção de ir mais à missa ao longo da semana, além do preceito dominical. Tenha a intenção de saborear a Eucaristia, de chegar antes e ficar até mais tarde depois da missa para viver esse momento de modo pleno e profundo. Conheça a doutrina da Igreja Católica.
Em segundo lugar, a família: a família é exatamente as pessoas que estão próximas e unidas por sangue ou por vínculos sociais com você. A família é o próximo que Deus manda amar: "amar o próximo como a si mesmo". A família é exatamente quem está mais próxima de você, a sua família nuclear.
No meu caso, a minha esposa, os meus filhos, as minhas funcionárias, as pessoas que moram comigo e estão perto de mim. Essas pessoas são as que eu tenho que amar. Os meus seguidores que me acompanham aqui diariamente, os meus alunos, os meus leitores, as pessoas que me escrevem e que estão interessadas no que eu tenho a dizer.
Essas eu posso amar plenamente de corpo e alma, e não amar à distância, fazendo um PIX para uma caridade. Em terceiro lugar, a sua profissão: o seu trabalho. Não adianta fazer metas evasivas, metas que vão tirar do seu local atual.
As metas têm que ser do trabalho que já está sendo feito, trabalho mais bem feito, mais bem acabado. Para isso, você precisa de muitas virtudes: acordar mais cedo, ter um tempo de oração de manhã, ter um tempo de preparação. Se você não tem tempo para preparar o seu dia, acorde mais cedo para isso; durma mais cedo para isso; diminua o tempo de celular, que eu acho que é uma meta universal.
Mas não pode ser uma meta desconectada do todo e do texto da sua vida. Você diminui o uso do celular porque nos perturba, nos dispersa, nos dissipa a todos nós, para ter tempo para outras coisas, como para a família, para o trabalho, para Deus, para os amigos. Esse é o quarto âmbito que vale a pena ter metas: o âmbito social, o âmbito de sociabilidade, de convivência.
Tenha bom humor, tenha alegria, se interesse pelos outros. Ligue para um amigo, procure um amigo, receba um amigo em casa, combine alguma coisa. Abra os olhos plenamente para os outros; pense neles, nos nomes deles, no que eles fazem, deixam de fazer, no que eles se interessam, e queiram iluminá-los com o fogo do amor que vocês trazem no coração, pelo carinho e pela atenção que vocês têm a eles.
Depois, em quinto lugar, como vocês empregam o tempo livre de descanso, de lazer, com esportes, com cultura, com a leitura. Entra aqui para a grande maioria das pessoas que não têm uma vida intelectual profissional, que não trabalham com a vida intelectual. Eu tenho centenas ou milhares de alunos que querem ser intelectuais, mas na verdade podem ser, e eu ensino a ser.
Eu ajudo para que eles leiam, a que eles se esforcem, mas serão amantes, no bom sentido, porque eles têm, antes, uma vida profissional, um trabalho a cumprir, pelo qual eles podem pagar os meus cursos e os livros que eles têm que ler. Mas isso não quer dizer que a vida de um amador não será dedicada, não será disciplinada. Nada impede que leiam aos finais de semana, que leiam 15 minutos por dia antes de dormir, que leiam no intervalo do almoço ou de manhã cedo, mas o tempo de trabalho, noutra área que não seja propriamente intelectual, será cumprida.
E em sexto lugar, a saúde: veja que eu coloquei a saúde em sexto lugar, e que muitos nutrólogos, talvez educadores físicos, fiquem decepcionados comigo, e eu peço desculpa, porque não é a minha intenção negar a saúde, negar o corpo, negar a necessidade de um bem-estar físico, de uma boa alimentação, de atividade física. Eu vou ao médico constantemente, faço exames e procuro me cuidar na minha alimentação, porque preciso dela para o vigor. Eu pratico jejum intermitente, que eu considero uma maravilha, mas isso é o meio e não o fim em si mesmo.
Você precisa disso, como precisa abastecer o carro. Claro, nós somos corpo; nós não temos um corpo, nós somos a unidade substancial de corpo e alma, e estão intrinsecamente ligados. Muitas vezes, o seu mal-humor vem de uma noite mal dormida, muitas vezes a sua ansiedade vem da fome ou do excesso de comida, e assim por diante.
É a virtude da temperança que liga os desejos da carne com a unidade do espírito. Mas cuidado para não considerar isso o mais importante, para priorizar isso como fim em si mesmo. É como querer priorizar adquirir alguma coisa, comprar alguma coisa; é como querer priorizar o dinheiro.
Isso é uma estupidez: o dinheiro é um meio para você adquirir outras coisas boas, mas a partir do momento que você esquece que ele é um meio e o busca como um fim em si mesmo, você já está num vício, numa deturpação, que é o vício da ganância, da avareza. Então, eu espero ter ajudado. Encaminhe este vídeo para os seus amigos, para os seus familiares, para que eles possam ter uma reflexão de final de ano realista, palpável, prudente, ordenada e pautada em um verdadeiro exame de consciência e numa verdadeira resposta à sua vocação que dá gravidade aos seus dias, aos seus meses e aos seus anos.
Muito obrigado e até a próxima. Feliz Ano! Novo.