Entre os anos de 1996 e 2003 mais de 6 milhões de pessoas morreram aqui em Ruanda. Essa foi uma guerra marcada por uma brutalidade e uma violência sem precedentes. O horror foi tão grande que este se tornou o conflito mais sangrento desde a Segunda Guerra Mundial por isso você deve imaginar que Ruanda foi completamente devastada pelo horror da guerra… mas alguns números mostram justamente o contrário.
Desde essa guerra, Ruanda se reconstruiu e se tornou um dos países mais importantes e mais bem desenvolvidos da África. Seu PIB per capita aumentou mais de 350%. A pobreza diminuiu pela metade.
A expectativa de vida mais do que dobrou. E hoje, mais de 80% da população tem acesso à eletricidade. Alguns anos se passaram e nós chegamos em 2025.
Hoje esse conflito volta aos holofotes do mundo já que dessa vez, Ruanda decidiu atacar seu vizinho: a República Democrática do Congo um país 90x maior que eles. Mas, como isso é possível? Quais são as causas que levaram Ruanda a invadir a República Democrática do Congo?
Esse conflito pode ser um dos mais marcantes do século XXI justamente porque esses dois países controlam um abastecimento essencial para a criação de celulares. Um conflito sem precedentes pode estar vindo por aí. Então, o que está acontecendo no Congo?
Hoje no investigando - Sapiens. Oi, eu sou o Tinôco já se inscreve no canal e para entender a nossa história nós precisamos tirar um pouco o foco no Congo e dar um pouco mais de foco no seu vizinho, a Ruanda. Historicamente, essa região é dividida principalmente por dois grupos diferentes os Hutus e os Tutsis que nunca se deram bem e sempre estavam em algum conflito.
O problema é que os Tutsis sempre foram uma minoria representando apenas 14% da população enquanto os Hutus representam 86%. Toda essa região foi colonizada pelo mesmo país: a Bélgica que instaurou um regime extremamente violento marcado pela tortura e pela sanguinolência. Os belgas dividiram a estimularam uma hierarquia entre os povos que viviam ali.
Eles notaram que os tutsis eram geralmente mais altos tinham traços mais finos e apresentavam uma semelhança maior aos povos do norte. Assim, eles foram tratados como superiores aos outros povos de lá o que foi suficiente para os Hutus acusarem eles de se alinharem aos colonizadores. Pouco tempo depois, em 1962, Ruanda se tornou independente e foram os Hutus que assumiram o poder assim, não demorou muito para que eles começassem a usar a política para oprimir os tutsis.
Com toda essa perseguição os tutsis formaram diversos grupos rebeldes que queriam acabar com essa opressão e talvez o principal deles seja a Frente Patriótica Ruandesa, conhecido como FPR liderada por um nome que vai ser muito importante na nossa história: Paul Kagame. Assim, as tensões entre os dois grupos nunca pararam de crescer e o estopim aconteceu em 1994. No dia 6 de abril, o presidente do país, Juvénal Habyarimana partiu de Dar es Salaam, na Tanzânia para o Aeroporto Internacional de Kigali, a capital de Ruanda.
Quando ele estava se aproximando do local, o avião foi abatido. Até hoje, não há um consenso sobre quem foi o responsável pelo ataque no entanto, os hutus colocaram a culpa nos tutsis e usaram essa justificativa para iniciar um dos maiores massacres da história onde mais de 1 milhão de pessoas perderam suas vidas em um período de apenas 100 dias. Os tutsis, liderados pela FPR, não deixaram barato e começaram uma ofensiva para tomar o poder dos hutus… e eles conseguiram.
Assim, quem chega ao poder é Paul Kagame atual presidente de Ruanda que, junto da ONU implementou um processo de união nacional julgando os crimes daqueles relacionados ao genocídio. Ele baniu o uso das identidades “hutu” e “tutsi” nos documentos oficiais promovendo uma identidade nacional única para evitar divisões étnicas. Ruanda também criou tribunais comunitários chamados Gacaca onde quase 2 milhões de casos foram julgados permitindo que muitas vítimas obtivessem justiça e promovendo um processo de reconciliação entre os hutus e os tutsis.
Ruanda abriu seu capital para investimento estrangeiro atraindo empresas por suas isenções fiscais infraestrutura moderna e combate à corrupção. Só pra você ter uma noção, o país se abriu a ponto de que hoje o governo de lá é o principal patrocinador do Arsenal na Inglaterra. Todas as escolas se tornaram gratuitas.
A alfabetização chegou a 75%. E mais de 90% da população passou a ter acesso ao seguro saúde público. Ao longo dos anos, Ruanda pode sair do buraco em que ela foi enfiada só que, independente disso, os hutus extremistas não conseguiam se ver liderados por um tutsi assim, muitos daqueles que fizeram parte do massacre fugiram em direção ao oeste e é justamente aqui que entra a República Democrática do Congo.
Por isso, eu pedi para Tanguy Baghdadi mestre em Relações Internacionais pela PUC-Rio e produtor do podcast Petit Journal para me explicar melhor tudo isso. [Tanguy Baghdadi] Na República Democrática do Congo a gente teve a formação das Forças Democráticas de Libertação de Ruanda. Que se organizaram exatamente para tentar resistir a presença agora dominante, dos tutsis em Ruanda.
Aliás, o próprio Kagame é um tutsi. Ele é uma figura muito importante na política ruandense por parte dos tutsis. Em particular quando a gente fala sobre os tutsis é importante a gente perceber que eles também estão presentes em vários países da região.
Então, o atrito que a gente tem hoje é principalmente entre hutus e tutsis reproduzindo, portanto, aquilo que aconteceu lá em Ruanda muito baseado também numa tentativa dos tutsis que vivem no Congo para se protegerem contra o hutus. Que, em grande medida, participaram direta ou indiretamente daquele genocídio em Ruanda em 1994. O problema é que esses tutsis do Congo foram apoiados pelo próprio governo de Ruanda que estava interferindo diretamente no território de outro país.
Assim, os dois países passaram a se acusar mutuamente. Essa rivalidade contribuiu para a instabilidade na região alimentando conflitos que levaram às chamadas Guerras do Congo que eu falei no início deste vídeo onde diversos outros países foram envolvidos resultando em mais de 6 milhões de mortes sendo este o maior conflito armado desde a Segunda Guerra Mundial. Essa luta durou muitos anos, até que em 23 de março de 2009 Ruanda e a República Democrática do Congo negociaram um acordo de paz o problema é que diversas cláusulas deste acordo não foram cumpridas e assim o conflito seguiu acontecendo.
Por conta disso tudo surge mais um grupo rebelde, o M23 fazendo referência ao dia 23 de março. Eles foram apoiados pela Ruanda que alegaram que a República Democrática do Congo não havia cumprido sua parte do acordo. Esse grupo pôde se organizar de lá pra cá e depois de diversas tentativas, em 2025 eles tomaram a importante cidade de Goma.
Essa é a maior cidade da região leste do país tendo um dos maiores centros comerciais da região um aeroporto internacional e sendo um dos pontos mais importantes para o trânsito de minerais valiosos. Essa região tem um dos maiores depósitos de coltan do mundo um mineral extremamente valioso usado para a produção de celulares. Com tudo isso, o avanço da M23 sob o controle de Goma se tornou um assunto de extrema importância geopolítica mundial já que mais uma guerra está se desenrolando.
Diversas tropas já estão se movimentando na região e a República Democrática do Congo anunciou recentemente que cortou relações diplomáticas com a Ruanda acusando a nação vizinha de equipar os rebeldes com armas. Um relatório produzido pela ONU avaliou a situação e entendeu que “o verdadeiro objetivo do M23 continua sendo a expansão territorial a ocupação e a exploração de longo prazo dos territórios conquistados”. O M23 diz que quer governar a região tanto que eles retomaram a energia elétrica e os serviços de dados móveis que estavam fora do ar há dias no país.
A fronteira com Ruanda, uma conexão vital para a cidade, foi reaberta. E as autoridades dentro do grupo afirmaram que treinaram centenas de administradores para assumir funções estratégicas. Quando Paul Kagame foi perguntado sobre o conflito ele respondeu que “estamos prontos pra lutar.
Não temos medo de nada. ” O grupo, inclusive, chegou a afirmar que pretendia "prosseguir com a marcha" em direção a Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Hoje, o mundo segue de olho no desenrolar dessa história.
Os conflitos resultantes de tudo isso pode e deve impactar a sua vida. A gente não sabe o que pode acontecer dessa vez então o que nos resta é seguir observando de longe esse conflito. Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado.
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