Reler e grifar textos, varar a véspera da prova estudando. . .
Será que as táticas usadas por décadas e décadas para estudar para provas são realmente as mais eficientes? Eu sou Paula Adamo Idoeta, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou detalhar as técnicas de estudo que funcionam ou não, segundo pesquisas de ciência do aprendizado. Quem me explicou tudo foi o professor Matthew Bernacki, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
Ele se dedica a estudar formas práticas de ajudar alunos, principalmente universitários, a desenvolver hábitos de estudo mais produtivos - algo que tem efeito não só sobre as notas, mas também sobre a motivação. Vamos direto às táticas Começo com reler um texto, técnica simples que nem sempre dá bons resultados. É que reler pode dar a sensação, às vezes falsa, de que você domina o conteúdo.
A questão é: você consegue explicar o que leu e releu? Se não conseguir, é grande a chance de você esquecer bem rápido o que acabou de ler. O mesmo raciocínio vale para grifar.
Se você usar as marcações com uma intenção clara – por exemplo, refletir ou se aprofundar em determinado trecho – daí é bem produtivo. Mas se é só uma tentativa de continuar atento ao texto, provavelmente não vai ser muito proveitoso. E o que fazer em vez disso?
O Centro de Aprendizado da Universidade da Carolina do Norte recomenda focar no que eles chamam de aprendizado ativo. Por exemplo, você pode criar perguntas ou um quiz sobre o que você estudou. Pra você mesmo responder.
Ou explicar a si mesmo, em voz alta, com as suas próprias palavras, qual o conteúdo que você precisa aprender pra prova. Ou encontrar exemplos concretos para o que você está estudando. No caso de um problema matemático, vale anotar o passo a passo da solução.
Tudo isso vai ajudar a dar significado àquilo que está nos textos e nos materiais didáticos. Um outro hábito comum é deixar pra estudar tudo na véspera da prova. E tem muita gente que vara a noite pra dar conta.
Talvez até te renda uma nota satisfatória, mas é grande a chance de você esquecer o conteúdo pouco depois. E perder todo aquele esforço do estudo. Aqui, vale lembrar algo que eu falei num outro vídeo sobre aprendizado, eu vou deixar o link na descrição deste vídeo.
É que aprender, na prática, consiste em criar correntes cerebrais novas ou mais fortes. Se você deixa o estudo pra véspera da prova, deixa pouco tempo para o cérebro fortalecer as correntes daquele aprendizado. E o que fazer em vez disso?
Talvez você nem precise estudar mais horas, e sim transformar essas horas em sessões curtas, mas diárias, ao longo de vários dias. Isso aumenta a chance de transformar o conhecimento em uma memória mais duradoura, e não só porque você vai fortalecer as correntes cerebrais. Mas também porque, em sessões de estudo mais curtas, é mais fácil manter a concentração.
Aliás, a concentração também é tema da minha próxima dica. Se você estuda sem se desconectar do WhatsApp ou do TikTok, por exemplo, está desperdiçando esforço e dividindo sua atenção. O Matthew Bernacki diz que o mero ato de ficar trocando de aparelho ou de aplicativo já gasta tempo e energia que vão levar a menos aprendizado.
Aqui, de novo, a sugestão é espaçar os estudos em blocos. Por exemplo, você marca 35 minutos no cronômetro. E nesse intervalo desliga todas as distrações, focando apenas no que precisa estudar.
Depois disso, você tem, digamos, cinco minutos para checar suas mensagens no WhatsApp, assistir a algum vídeo curto, enfim, dar alguma recompensa pro cérebro. Daí faz mais 35 minutos de estudos, seguidos por mais cinco minutos de distração, e assim por diante. Essa técnica é conhecida como pomodoro, em referência àqueles cronômetros em formato de tomate.
Ela ajuda não só a evitar o tempo perdido com a distração, mas também a manter o cérebro motivado e concentrado durante o período dos estudos, com a perspectiva da "recompensa". Bom, essas dicas não são passes de mágica, que funcionam em todos os momentos e circunstâncias. O Matthew Bernacki enfatiza que estudar com eficácia passa pelo que ele chama de autorregulação No caso de uma fórmula matemática simples, por exemplo, talvez memorizar o raciocínio seja suficiente.
Um conhecimento mais complexo ou conceitual vai exigir estratégias mais elaboradas de estudos. O pesquisador tem testado técnicas de autorregulação e aprendizagem ativa em pesquisas científicas com estudantes universitários, em particular os de cursos de engenharia, ciências e matemática. E um dos focos dele é nos universitários de primeira geração, ou seja, aqueles que são as primeiras pessoas da família a chegar na universidade.
Esses jovens costumam ter menos repertório para fazer a transição entre escola e universidade, onde o conhecimento e as tarefas tendem a ser muito mais complexas. E as pesquisas do Matthew Bernacki mostram que, em comparação com grupos de controle, estudantes que aplicam métodos de aprendizado mais eficazes tendem a se sair melhores. E você, usa algum desses métodos?
Acha eles úteis pra estudar? Conta pra gente nos comentários. Obrigada pela audiência e até a próxima.