É comum a gente receber mensagens de pessoas descrevendo sintomas ou situações que andam vivendo e perguntando se elas possuem algum transtorno mental. Seria ótimo se a gente conseguisse dar uma resposta super específica e pontual para cada uma delas, mas a verdade é que esse tipo pergunta não é nada simples. Eu sou o André, tenho um doutorado em psicologia e hoje quero te explicar o que é exatamente um transtorno mental, quais são alguns indícios de que alguém possa ter um deles e qual é a melhor forma de você averiguar se possui um.
Se achou válido a gente abordar esse tema, clica no joinha, inscreva-se no canal, siga a gente nas redes sociais e acompanhe o nosso podcast no Spotify. Um transtorno mental é um conjunto de sinais e sintomas ligados a grandes dificuldades em regular as próprias emoções, pensar e agir. Essas dificuldades resultam do mau funcionamento de algum processo psicológico, biológico ou de desenvolvimento que viabiliza o funcionamento das nossas mentes.
Vale ressaltar que nenhuma definição de transtorno mental consegue abarcar todas as particularidades que as pessoas podem viver em termos de dificuldades ou sofrimento. Apesar disso, essa definição que apresentamos engloba a maioria das condições mais comuns na população. Os sintomas de um transtorno mental são alterações percebidas por alguém no seu próprio corpo ou mente.
Exemplos disso incluem tontura, dor de cabeça, cansaço, irritação, desânimo ou ansiedade. Já sinais são mudanças na estrutura física ou no funcionamento típico do corpo de alguém que podem ser observadas por outra pessoa. Alguns exemplos de sinais são a temperatura corporal e a pressão arterial.
A principal diferença entre ambos é que sintomas só são observados pela própria pessoa, enquanto sinais podem ser notados por outros. Os transtornos mentais possuem diferentes combinações de ambos, sendo que muitos deles compartilham de sintomas ou sinais em comum. Uma das grandes dificuldades com aquelas mensagens que a gente recebe aqui no canal é o fato de que todos os sintomas são inespecíficos.
Isso significa que um determinado sintoma que alguém está sentindo não indica de maneira inquestionável a presença de um transtorno mental específico. Dito de outra forma, um mesmo sintoma pode estar presente em vários transtornos diferentes. Vamos pegar como exemplo a tristeza.
É difícil não pensar na relação que esse sintoma tem com o transtorno depressivo maior, mais conhecido como depressão. O problema é que a tristeza não é um sintoma exclusivo da depressão. Pessoas exibindo outros transtornos que já abordamos aqui no canal, como a distimia, o transtorno bipolar e o transtorno disfórico pré-menstrual, só para citar alguns, também apresentam esse sintoma.
A mesma lógica se aplica para vários outros sintomas, ou seja, nenhum sintoma isolado é suficiente para demonstrar que alguém possui um transtorno. Se a mera presença de um sintoma ou outro não é tão informativa assim, então o que poderia sugerir que alguém possui um transtorno mental? Talvez um dos indícios mais fortes seja a existência de um sofrimento persistente e debilitante.
Uma pessoa que vem se sentindo muito mal por uma grande parte do dia, durante vários dias e que tem dificuldades para realizar suas atividades cotidianas pode estar assim por diferentes motivos, sendo a presença de um transtorno mental um deses possíveis motivos. Outra razão comum para alguém sofrer bastante é a morte de uma pessoa querida. Como explicamos no vídeo sobre luto, esse evento pode deixar alguém muito debilitado e por uma quantidade de tempo que varia na população.
Quando uma pessoa reage de uma forma que já é esperada dentro da sua cultura, por mais que ela esteja sofrendo muito, isso não sugere a presença de um transtorno mental. Um aspecto importante a se considerar é como andam as diferentes áreas da vida da pessoa. Além de provocarem sofrimento, transtornos mentais costumam vir acompanhados de outras consequências negativas.
Elas podem ser conflitos nos relacionamentos, dificuldades escolares, problemas no trabalho ou na vizinhança, por exemplo. O tipo de consequência negativa depende muito de quem é a pessoa em termos da sua idade, condição econômica, profissão, personalidade, em que cultura ela está inserida e com quais pessoas ela mais convive. Isso também varia a depender de qual é o transtorno, já que alguns tendem a causar estragos maiores e por mais tempo do que outros.
Essas consequências negativas não se manifestam necessariamente o tempo todo, todos os dias ou em todas as áreas da vida. Qual é o transtorno da pessoa também faz muita diferença nesse quesito, assim como quais são as suas circunstâncias de vida. Outro fator relevante é se a pessoa já fez ou faz tratamento para lidar com a sua condição.
Alguém que teve depressão por um tempo, mas já fez ou faz atualmente um tratamento adequado e efetivo, pode passar a maioria dos seus dias sem sofrer prejuízos ligados à ela. Em algum momento da vida, a maioria das pessoas apresenta uma grande parte dos sintomas e sinais de vários transtornos. Isso não quer dizer que elas realmente tiveram todos esses transtornos, mas sim que tentar se autodiagnosticar envolve alguns problemas.
Um deles é que o autodiagnóstico é muito vulnerável ao viés de confirmação. Você lê sobre um sintoma, recorda-se espontaneamente de ocasiões em que o apresentou e pode ficar com a impressão de que tem um transtorno, mesmo que isso não seja verdade. Outro problema envolvido no autodiagnóstico é que normalmente ele é feito por quem não possui o conhecimento, as competências ou a experiência adequada para fazer esse tipo de coisa.
Frequentemente, isso resulta em análises muito superficiais, incompletas e descontextualizadas do que está acontecendo com a pessoa. Testar a hipótese de que alguém se enquadra dentro de um diagnóstico exige a condução de uma avaliação psicológica. Ela é um tipo de investigação que envolve uma coleta abrangente de dados para ajudar a responder uma pergunta sobre uma pessoa específica.
A pergunta pode ser, por exemplo: "fulaninho apresenta a agorafobia? " Depois que o objetivo da avaliação estiver claro, o profissional pode conduzir entrevistas com a própria pessoa, com parentes, aplicar testes, coletar dados a respeito da história de vida da pessoa e pode usar outras técnicas além dessas para entender o que está acontecendo com ela e quais são as suas circunstâncias atuais de vida. Com base nas evidências coletadas, o profissional chegará a uma conclusão a respeito de qual é a melhor forma de caracterizar aquela pessoa em termos psicológicos e de quais são as opções de tratamento mais prováveis de ajudá-la.
Aqui vão algumas dicas do que você pode fazer para entender melhor o que está acontecendo com você caso esteja suspeitando que possui um ou mais transtornos mentais. Dica número 1: avalie o impacto dos sintomas que tem sentido no seu dia a dia. Como você tem se sentido nos últimos dias?
Você tem apresentando alguma dificuldade que está atrapalhando muito a sua vida? Aqui vale tanto dificuldades recentes quanto aquelas mais antigas. Analise cuidadosamente as áreas mais importantes da sua vida e anote como as coisas estão indo em cada uma.
Como estão os seus relacionamentos, o seu trabalho, os seus estudos e os seus momentos de lazer? Existe algo que anda te incomodando muito? Se sim, isso poderia ser um indício ou não, ecaberia a um profissional avaliar isso com mais cuidado.
Dica número 2: não se preocupe muito em descobrir por conta própria se você se enquadra em um diagnóstico ou não. A verdade é que um diagnóstico é muito mais útil para os profissionais da saúde do que para quem é diagnosticado. Diagnósticos de transtornos mentais servem principalmente para ajudar os profissionais da saúde a se comunicarem melhor, a entenderem os seus clientes de uma forma mais organizada e a proporem as intervenções mais interessantes para cada caso.
Dica número 3: procure pela indicação de um profissional competente para ser avaliado ou avaliada. O melhor atalho para encontrar um bom profissional é através da sua rede de contatos, então pergunte para pessoas próximas se elas recomendam alguém. Tanto profissionais da psicologia quanto da psiquiatria possuem formações adequadas para realizar esse tipo de avaliação, então o que importa é você ter um acompanhamento profissional, seja ele conduzido por alguém da psicologia, da psiquiatria ou, melhor ainda, por um de cada área.
Muito mais importante do que saber se você tem ou não um transtorno mental é saber o que anda acontecendo na sua vida, como você tem se sentindo a respeito disso e o que pode ser feito para melhorar a sua situação. Se as coisas não andam bem e a sua cabeça, muito menos, é uma boa ideia procurar ajuda profissional. Muitas pessoas não atendem direitinho a todos os critérios de um transtorno mental e isso não significa que elas estão bem ou que a ajuda profissional é dispensável no caso delas.
Na verdade, muitas delas que não se enquadram dentro de nenhum diagnóstico poderiam se sentir mil vezes melhores se procurassem essa ajuda. Eu também falo sobre esse assunto no livro que eu finalmente estou prestes a lançar cujo título é "Ser humano: Manual do usuário - As origens, os desejos e o sentido da existência humana". Inclusive, ele já entrou em pré-lançamento na semana passada e você consegue reservar o seu exemplar no link que está aqui embaixo, na descrição do vídeo.
Aí assim que o livro for lançado para valer no início de novembro, a livraria vai te enviar o exemplar. Eu juntei nesse livro algumas das respostas oferecidas pela psicologia para perguntas bem fundamentais sobre os seres humanos, como por exemplo: de onde nós viemos, quem somos nós e o que estamos fazendo aqui? Essas perguntas vêm sendo feitas há muito tempo por filósofos e a ciência já é capaz de nos ajudar a responder parcialmente algumas delas.
Se quiser saber mais sobre isso, apareça nas lives que eu tenho feito toda sexta feira aqui no YouTube, vai ser ótimo poder conversar um pouco mais sobre as minha inspirações para esse livro. Muito obrigado a todos vocês que fazem parte do programa de apoiadores do Minutos Psíquicos. Vocês são uma grande motivação para a gente fazer vídeos como o de hoje, e se você curte o nosso trabalho aqui no YouTube, mas ainda não é um apoiador nosso, clique em "SEJA MEMBRO" aqui embaixo para saber quais são os benefícios exclusivos que a gente oferece em troca do seu apoio.
Hoje te expliquei o que são transtornos mentais, sintomas e sinais. Também descrevi 2 indícios importantes de que alguém pode possuir um transtorno: a presença de um sofrimento debilitante e prejuízos em áreas importantes da vida. No final, falei sobre os problemas envolvidos no autodiagnóstico e dei algumas dicas do que você pode fazer para averiguar a gravidade do que você anda sentindo.
Se você gostou do vídeo de hoje, clica no joinha, comenta a sua opinião aqui embaixo, inscreva-se no canal e clique no sininho para acompanhar os próximos vídeos. Um outro vídeo que é um bom complemento ao de hoje é aquele no qual a gente descreveu 4 fatos sobre a saúde mental no Brasil.