nesse vídeo você vai conhecer o dia em que Lampião foi chamado não para saquear mas para fazer justiça uma senhora do Sertão implorou por ajuda e ele atendeu o que aconteceu naquela Vila mudou tudo se essa história te prender do começo ao fim já deixa o like e se inscreve no canal o sol castigava o Sertão de Pernambuco naquele dia sem vento quando Lampião e seu bando surgiram por entre a poeira das estradas cavalgando em silêncio com as armas cruzadas no peito e os olhos atentos a cada vulto que se mexia no Mato Seco chegaram
em um Vilarejo sem alarde como quem só queria descanso e um Pouco D'água fresca antes de seguir viagem era assim que Lampião fazia quando o sangue não gritava entrava bebia ouvia os ventos e partia mas naquele dia o destino tinha outros anos no meio da pequena Praça de Chão Batido entre a igrejinha branca e o mercadinho coberto de lona uma velha se arrastava feito sombra usava um vestido gasto de algodão e um pano sujo cobrindo os cabelos brancos Ela olhava para o chão como se a própria Terra tivesse vergonha de escutar sua dor quando viu
Lampião desmontando do cavalo com a cartucheira cruzando o peito e o chapéu adornado de medalhas reluzindo ao sol a velha não hesitou caminhou até ele com as pernas trêmulas e se ajoelhou meu filho pelo amor de Deus me escute Lampião estranhou era comum gente se ajoelhar com medo mas não era medo que ele via nos olhos daquela mulher era raiva era dor fale Dona Tô ouvindo ela levantou os olhos engoliu seco e falou baixo para que só ele ouvisse o Coronel Severo ele acabou com minha neta a menina tem 15 anos meu neto irmão dela
tentou impedir tá ali entre a vida e a morte os jagunços Bateram nele até o sangue parar de sair e o povo daqui calado porque quem fala some igual o pai da menina sumiu H TR meses Lampião arregalou os olhos mas não respondeu a mulher eu não vim pedir esmola nem Justiça de polícia vim pedir a justiça de quem ainda tem honra de quem faz o que precisa ser feito quando os covardes se escondem disseram que o senhor é ruim mas eu prefiro o ruim que tem palavra do que o bom que finge que não
vê Lampião olhou ao redor os cabras estavam calados observando o povo da Vila também uma tensão invisível pairava no ar onde ele mora perguntou Lampião olhando pra senhora lá no alto do morro tem uma casa grande cercada de jagunço o povo chama de o palácio mas aquilo é só uma cala disfarçada Lampião se abaixou pegou a mão da velha e a fez levantar com respeito levante Dona que hoje Deus mandou sinal ela tentou dizer algo mas chorou Lampião chamou Corisco e meia-noite os dois cabras mais ligeiros Sigam a trilha do Gado quero saber quantos homens
T lá como é o terreno quantas entradas tem sem chamar atenção depois se virou pro bando ninguém tira a arma da cinta ninguém Levanta A voz hoje a gente é sombra quem quiser saber o que viemos fazer aqui diga que foi só beber água o povo da Vila que ouvia à distância não sabia se se escondia ou se agradecia alguns baixavam a cabeça outros apenas observavam com olhos grandes como se vissem o próprio julgamento final se aproximando Lampião então caminhou até a igrejinha e ficou em silêncio diante da Porta Fechada tocou a madeira olhou pro
céu e murmurou se for da vontade de Deus que o justo não morra no mesmo instante uma brisa leve soprou pelas folhas secas e uma revoada de pássaros se ergueu da árvore mais próxima a velha olhou aquilo e sussurrou ele ouviu seu Lampião ele ouviu Lampião apertou os olhos o sangue começava a ferver mas ele sabia que a raiva era inimiga da estratégia e se ia enfrentar um coronel com poder precisava mais que bala precisava de paciência precisava de fé e precisava de tempo naquela noite o bando não dormiu era o silêncio antes da Tempestade
a Vila acordou com um silêncio estranho no ar era como se até os galos essem medo de cantar naquele dia o povo olhava pelas frestas das portas coava nos cantos mas ninguém ousava falar alto a notícia corria feito rastro de pólvora Lampião estava na cidade e não vinha para saquear não vinha por raiva vinha Por Justiça o Coronel Severo Nogueira morava numa casa grande no alto do morro com vista privilegiada do Vilarejo era mais um Palacete do que uma casa tinha torre varanda galpões e até um açude só para ele chamavam aquilo de o palácio
mas para quem vivia sob sua sombra era só um inferno com reboco e luxo Severo era temido desde jovem herdou as terras do pai que fora amigo de da capital e sabia usar jagunço como quem usa enchada mas foi Severo quem transformou a cidade em um Curral de silêncio com dinheiro e pólvora comprava policiais juízes e até padres e com os jagunços homens violentos sem alma e sem passado resolvia tudo o que não podia comprar não era raro uma moça sumir da Vila por dias e voltar calada com o olhar morto algumas nunca mais voltavam
outras se casavam às pressas com Forasteiros como se quisessem apagar o nome quem falava demais sumia quem chorava era silenciado o medo era a lei Corisco e meia-noite voltaram do reconhecimento ao entardecer cobertos de poeira com os olhos alertas tem uns 20 jagunços armados uns fazem ronda pela outros ficam de Tocaia nas pedras que cercam O terreiro disse Corisco e a casa perguntou o Lampião com a mão apoiada no queixo dois andares a cozinha fica nos fundos com entrada separada os cavalos ficam amarrados perto do Açude na frente tem um terreiro Largo dava para um
casamento de igreja respondeu meite entrada que saber quatro pela frente pelos fundos por um alçapão lateral que os empregados usam e por um túnel velho que sai na mata mas esse parece desativado Lampião fechou os olhos por um instante o plano se formava na mente como um novelo desenrolando no centro da vila o clima era de tensão o povo não sabia se corria se rezava ou se esperava o pior mas havia algo novo no ar uma fagulha um sopro de esperança que misturava medo com desejo de ver Justiça feita mesmo que pelas mãos de quem
sempre fora o terror do Sertão Lampião andava pelas ruas de cabeça baixa mas com os olhos varrendo tudo observava onde os jagunços tinham influência quem falava com quem onde a polícia local se escondia ele sabia um coronel como severo não mantinha poder só com bala era com medo e se reinava no meio da praça uma moça de vestido Claro e olhar apagado cruzou o caminho de Lampião seus olhos se encontraram por um instante ela não disse nada só abaixou a cabeça e seguiu mas aquele olhar Aquele olhar dizia tudo e Lampião sentiu o sangue ferver
outra vez à noite ele reuniu o bando debaixo de uma árvore seca nos arredores da cidade esse Coronel pensa que é Deus e o povo aqui esqueceu o que é viver sem medo pois vamos lembrar mas para isso temos que cortar a cabeça da cobra sem ela ver a lâmina Corisco olhou desconfiado vai querer invadir de frente não vamos sumir primeiro fazer ele achar que fomos embora Enquanto isso a gente entra pelo sangue dEle os empregados os Vaqueiros Os que tão cansados de ver moças indo e corpo aparecendo no mato a gente infiltra e se
ele desconfiar perguntou meia-noite aí vai ter guerra mas vai ser uma guerra com nome com rosto vai ser a guerra que esse povo aqui precisa ver naquela mesma noite dois cangaceiros ferrolho e trinca eixo foram escolhidos para se infiltrarem na fazenda do coronel iriam como Vaqueiros Famintos fugidos da seca pedindo trabalho e pouso eram bons de conversa sabiam lidar com gado e sabiam matar sem fazer barulho antes de partirem Lampião entregou a cada um um pequeno santinho de papel amarelado pelo tempo bote no bolso protege mais que bala e lembra Justiça não Vingança quem decide
o fim dele não somos nós na manhã seguinte a Vila parecia respirar de novo o bando havia partido Pelo menos era o que todos pensavam menos a velha menos a neta que agora se levantava da rede com os olhos vermelhos e a alma em brasa e menos Lampião que observava tudo de cima da Serra com o terço da Rezadeira enrolado no punho e a mão firme sobre o punho do rifle o céu amanheceu tingido de Cinza como se o próprio firmamento pressentisse o que estava por vir o povo da vila ainda desconfiado começava a sair
de casa devagar mas os olhos continuavam inquietos a Lagoinha parecia suspensa Entre Dois Mundos o da opressão e o da mudança a notícia da partida de Lampião se espalhara como um alívio para uns e como uma decepção silenciosa para outros mas ninguém sabia que nos arredores o bando ainda respirava entre as árvores secas e os Barrancos ocultos da Serra naquela manhã Lampião cavalgou sozinho até o casebre de taipa de uma das figuras mais respeitadas da região Dona Arlinda Rezadeira antiga mulher de mão pesada e oração forte diziam que ela fazia sangrar o mal com folha
de Arruda e que nenhum jagunço ousava cruzar sua porta sem tirar o chapéu ela estava no quintal de costas soprando fumaça de um cachimbo torto quando ouviu o trotar do cavalo não se virou só disse já sei o que veio buscar Lampião mas cuidado quem mexe com serpente tem que saber onde pisa Lampião desmontou respeitoso tirou o chapéu e colocou debaixo do braço vim saber se o caminho é de Deus ou do diabo ela se virou lentamente os olhos pequenos e Fundos como poço de Cacimba observou o Lampião de cima a baixo como quem vê
o interior do outro depois entrou no casebre sem dizer uma palavra ele a seguiu lá dentro cheirava a defumador e mato fresco no canto uma pequena mesa de madeira abrigava imagens de Santos velas derretidas e terços emaranhados como Cipó Dona Arlinda acendeu uma vela sussurrou palavras em latim que nem Lampião compreendia direito e soprou a fumaça do cachimbo sobre uma com água vi seu caminho Lampião vi sangue vi um terreiro pegando fogo vi um coração de mulher chorando por Justiça mas vi também um homem cercado de escuridão Lampião não falou só fechou os olhos ela
então mergulhou a mão num baú velho e tirou um terço de contas pretas cada conta marcada por cicatrizes feitas à navalha esse aqui passou por três guerras e quatro mortes não se vende Não se Empresta se aceitar tem que levar até o fim Lampião estendeu a mão ela colocou o terço no seu pulso enrolando como se fosse corda de salvação depois encostou o dedo em sua testa e murmurou um espírito de dor vai se levantar essa semana mas a justiça só virá se for feita por quem sofreu Lampião franziu a testa vai morrer alguém Dona
Arlinda apenas respondeu vai se libertar alguém do lado de fora o vento soprou forte levantando poeira e folhas secas que dançavam no terreiro era como se o sertão respirasse diferente naquele instante Lampião montou no cavalo e partiu carregava no pulso o terço preto no bolso o escapulário da V da vila e no peito uma vontade crescente de fazer algo que não fosse por ouro nem por revanche mas por fé enquanto isso na fazenda do coronel a festa já era anunciada alguns trabalhadores limpavam O terreiro penduravam bandeirolas e preparavam cachaça em Barris a notícia era que
Severo ia comemorar a chegada de novos Vaqueiros como Se Tudo Fosse celebração mas por trás da festa havia desconfiança os dois cangaceiros infiltrados ferrolho e trinca eixo já estavam lá dentro um cuidava dos Cavalos o outro ajudava na cozinha sabiam onde ficavam os armamentos quantos jagunços dormiam bêbados nas Varandas e quais corredores estavam vazios à noite passavam as informações para Lampião por um menino órfão que ia vender farinha na Vila o menino esperto e mudo de nascença era o correio feito foi por ele que a notícia chegou festa confirmada quinta-feira cachaça sanfona e bagunça Lampião
leu o bilhete em silêncio depois queimou o papel e enterrou as cinzas chamou Corisco meia-noite e mais três cabras de confiança quinta-feira é dia de Santo Antônio dizem que é santo casamenteiro Pois vamos fazer o casamento da Justiça com a bala Corisco Rio e a lua a lua vai tá cheia ilumina os pecados melhor do que Lampião aceso Lampião Então se levantou encarou os homens e disse a gente vai entrar sem avisar quando ele tiver de costas rindo e se embriagando com o que roubou dos outros a gente mostra o que é se achar maior
do que Deus naquela noite ninguém dormiu nos arredores da Mata Lampião passou horas deitado olhos abertos sentindo o terço apertar o pulso murmurava orações que só ele conhecia pedindo luz para uma justiça que não viria pela lei no escuro no silêncio na espera a vingança amadurecia como fruta no pé na quarta-feira à tarde o céu de Alagoinha escureceu antes da hora nuvens pesadas se amontoavam no horizonte como um Presságio no centro da vila os moradores caminhavam com pressa olhos baixos cochichando entre dentes a notícia da festa na fazenda do coronel Severo se espalhara haveria comida
cachaça música e nenhuma vergonha o povo sabia o que acontecia nessas festas era quando o Coronel mais se mostrava embriagado de poder moças pobres eram convidadas algumas iam obrigadas outras enganadas e algumas simplesmente desapareciam os homens da Vila por medo fingiam não ver mas dessa vez o destino se preparava para algo diferente Lampião reuniu seu bando num esconderijo entre pedras e mandos num cant alto da serra com vista pro Vale onde se escondia a fazenda do coronel o lugar era seco cheio de espinhos mas permitia ver sem ser visto ali o plano foi traçado com
detalhes como só ele sabia fazer vai ser assim começou o Lampião com um galho fino riscando o chão A festa começa no fim da tarde quando o sol baixar os jagunços vão estar alegres e armados mas relaxados a gente vai dividir o bando em três grupos um entra pela Mata dos Fundos outro pelo alçapão lateral da cozinha e o terceiro pelo terreiro principal depois que o sinal for dado E qual vai ser o sinal pergunta meia-noite Lampião olhou pro céu e respondeu quando a sanfona Parar de tocar Corisco o rio encostado numa pedra e se
não tiver sanfona Então vai ser quando os cachorros começarem a latir eles sempre sentem primeiro o grupo ficou em silêncio aquilo não era apenas um ataque era uma resposta uma resposta pensada medida e envolta em fé e fúria ferrolho e a eixo os dois cangaceiros infiltrados já tinham decorado os horários de Ronda dos jagunços sabiam quais portas rangiam quais paredes eram mais finas onde estavam as armas e quem era o mais covarde entre Os capangas tem dois jagunços que só fingem ser Valentes um deles o Malaquias treme só de ouvir Trovão contou trinca eixo se
a gente cercar ele primeiro o resto se espalha igual Cupi em Fogo Lampião assentiu com a cabeça então Tirou do bornal um pano vermelho dobrado esse pano aqui vai ser amarrado no portão principal da Fazenda quando virem ele balançando é porque o Coronel já tá cercado ele se calou por um instante olhando para os homens ao redor não eram soldados não eram Santos eram cangaceiros mas ali naquela missão havia algo diferente não havia ouro no meio nem vingança pessoal era como se o próprio sertão gritasse por socorro e ele estivessem escutado aquele homem pensa que
é dono de mulher dono de filho alheio dono da terra pensa que pode pisar na pureza das moças e ficar rindo depois pois essa risada vai ser a última disse Lampião apertando o punho em volta do terço Preto Corisco que sempre tivera o Sangue Quente se aproximou e se os outros coronéis ficarem sabendo que a gente mexeu com Severo Lampião virou os olhos com firmeza que fiquem que tremam que saibam que o sertão tem dono não e que agora Quem mexer com mulher inocente vai dormir com o capeta naquela noite o bando se dividiu três
cangaceiros desceram primeiro com roupas de vaqueiro e espingardas velhas só de enfeite para não levantar suspeita iriam se misturar com os trabalhadores da festa outros quatro iriam pela Mata cortar caminho e abrir brechas nos cercados Lampião e mais cinco homens ficariam prontos para o ataque Central O que viria pela frente quando tudo começasse o menino mudo o mesmo que levava recados ficou encarregado de levar um bilhete final até Fer olho que já estava dormindo num dos galpões da Fazenda o papel dizia apenas na hora certa a sanfona vai parar e o sertão vai cantar Justiça
do Alto da Serra Lampião observava A Fazenda se iluminando aos poucos luzes de lamparinas tremulavam gente ia e vinha carregando bandejas sanfoneiros afinam os instrumentos o Coronel Severo gordo e com um copo de cachaça na mão já gargalhava no Alpendre cercado de seus jagunços bêbados e moças com olhos tristes era uma cena que se repetia há anos mas naquela noite o cenário estava montado para outra coisa a lua subiu devagar cheia como Promessa de guerra e Lampião com os olhos fixos na Casa Grande sussurrou Só para si que Deus perdoe quem merece perdão porque o
que vier depois é fogo chumbo e Redenção a noite caiu quente abafada como se o próprio Sertão segurasse o fôlego a lua cheia iluminava o mato ralo lançando sombras longas sobre os caminhos de terra que levavam até a fazenda do coronel Severo lá em cima entre lamparinas acesas Gritos e gargalhadas tomavam conta do terreiro a festa havia começado sanfona comia solta um sanfoneiro de óculos escuros puxava os fôlegos com raiva Enquanto três mulheres de rosto apagado e sorrisos ensaiados dançavam na varanda jagunços bebiam feito condenados uns deitados na grama outros se desafiando em brigas de
braço gargalhando alto como se fossem donos do mundo a mesa do coronel colocada bem no centro era a mais farta carne de bode assada milho farinha e g e mais garrafas de cachaça o Coronel Severo gordo e inchado como um porco Prestes ao abate ria com o rosto vermelho suado com um lenço de seda amarrotado pendendo do pescoço Hoje é noite de esquecer as miséria gritava ele aqui quem manda sou eu e quem não gostar que vire bicho e fuja pro mato os cabras ao redor Riam com ele alguns batiam Palmas outros só os copos
e se embriagam olhando de rabo de olho pras moças que serviam a comida enquanto isso os cangaceiros já se moviam como sombras nos limites da Fazenda ferrolho estava junto aos cavalos cuidando da água trinca eixo dentro da cozinha fingia ajudar com os caldeirões de sarapatel e torresmo os três que haviam descido antes disfarçados de Vaqueiros agora estavam misturados aos outros empregados esperando o momento certo Corisco e meia-noite se aproximavam pela mata agachados entre os espinhos e as pedras ao sinal de um aobo curto eles pararam diante deles o menino mudo deitado no chão apontava pro
barranco no portão principal balançando discretamente ao vento estava o pano vermelho de Lampião o sinal dentro da festa ferrolho viu quando o coronel levant o copo de cachaça e berrou traga aquela menina nova a que chegou semana passada hoje ela dança aqui na frente ou vai dormir na cenal o sangue de ferrolho Ferveu era a neta da velha ele sabia a menina entrou hesitante de cabeça baixa empurrada por dois jagunços trinca eixo que viu tudo da janela da cozinha se aproximou devagar da porta dos fundos onde outro gaseiro Já esperava com a espingarda envolta num
pano E então a sanfona Parou foi como se o mundo tivesse prendido o ar um silêncio repentino cobriu a fazenda o Coronel virou a cabeça Confuso com os olhos semiabertos de tanto álcool que foi isso por que parou o sanfoneiro gaguejou ah a corda arrebentou o coronel mas antes que ele terminasse a frase o primeiro tiro ecoou na noite não foi um tiro de aviso foi um tiro de execução a bala atravessou o peito de um jagunço encostado na varanda antes que o corpo caísse O terreiro explodiu em gritos da Mata surgiram os primeiros cangaceiros
atirando certeiro um jagunço caiu de Costas com os olhos arregalados outro tentou puxar o rifle mas caiu com um tiro na testa ferrolho Puxou a arma escondida no Bebedouro dos cavalos e disparou contra um capanga que vinha em sua direção trinca eixo trancou a porta da cozinha por dentro e começou a varrer os fundos com chumbo abrindo o caminho para os cabras entrarem Corisco liderava o ataque pela frente com o rosto pintado de preto o chapéu baixo e o punhal na mão entrou chutando à porta principal meia-noite vinha logo atrás derrubando dois jagunços que tentavam
se esconder Atrás da mesa de cachaça apareceu por último com os olhos em brasa o terço Preto enrolado no pulso e o rifle cruzado no peito caminhou pelo terreiro como um padre entrando na missa olhando de lado disparando só quando era preciso ninguém toca nas mulheres gritou ele quem correr se entrega quem atirar morre a ordem era Clara e justa muitos dos empregados da fazenda que não eram jagunços nem tinham parte com o Coronel deitaram no chão com as mãos na cabeça sabiam que o Rei do Cangaço fazia Justiça à sua maneira mas não punha
fogo em inocente o Coronel trôpego tentou correr pela porta dos fundos mas foi agarrado por ferrolho vai aonde porco Severo grunhiu tentou lutar mas apanhou com a Coronha da arma no estômago e caiu a neta da velha que ainda estava no terreiro viu tudo de olhos arregalados tremia da cabeça aos pés Lampião se aproximou dela devagar fique calma agora ele vai pagar naquele instante A Fazenda inteira era fumaça tiro e grito mas o núcleo da Tempestade estava ali no centro do terreiro Lampião com os olhos Em Chamas e o Coronel dominado cuspindo sangue no chão
amanhã Esse povo vai acordar sem dono disse Lampião com os olhos fixos no inimigo e a justiça ainda nem tinha começado a madrugada virou um incêndio de bala poeira e grito a cada segundo mais jagunços tombavam no chão do terreiro muitos ainda com a cachaça escorrendo pelos lábios a festa do coronel Severo antes repleta de deboche e pecado agora era um cenário de guerra Lampião caminhava entre os corpos como um anjo vingador com o terço Preto enrolado no punho dando ordens curtas e certeiras os vivos amarrem os mortos deixem pro sol cuidar os cabras obedeciam
eram cangaceiros acostumados ao inferno mas naquela noite Havia algo diferente no olhar de cada um estavam ali por um propósito que ia além do saque era o povo do Sertão pedindo voz e quem deu foi Lampião o Coronel Severo gordo e machucado jazia no chão do terreiro com o rosto sujo de terra e Sangue dois cangaceiros o seguravam pelos braços ainda tentou espernear cuspir ordens no vento Ah eu sou o dono dessa Vila Vocês estão mexendo com coisa grande Lampião se abaixou diante dele olhos semicerrados dono de quê coronel da dor dos outros das filhas
dos Pobres do Silêncio do medo o Coronel Cuspiu sangue e Ódio sou amigo de políticos de delegado isso vai custar caro Lampião riu um riso frio sem pressa Não mais do que custou para essas meninas que o senhor arrastou para dentro dessa casa como se fossem cabra de açou apontou pro alto da varanda Tragam todas elas subiram as escadas com cuidado lá estavam quatro moças entre 13 e 20 anos acuadas nos cantos olhos vazios de t Lampião olhou Cada uma com respeito baixou o chapéu e disse hoje vocês falam e ninguém vai calar a mais
velha dela se adiantou tremendo ele ele fazia isso com todas dizia que podia porque era o dono da Terra e da gente o povo que começava a se aproximar da fazenda em silêncio escutava tudo do portão vieram em grupos pé ante pé achando que encontra morte mas encontraram justiça e foi então que a senhora da Vila a velha que iniciara tudo surgiu do meio da multidão segurando o braço da neta a menina violentada ela estava fraca mas em pé com os olhos vermelhos e as mãos trêmulas quando viu o Coronel no chão algo dentro dela
mudou Lampião caminhou até elas entregou uma arma de Cabo Branco pequena leve falou com a voz baixa não sou eu quem vai julgar Nem meus cabras isso aqui é com vocês a menina olhou pra arma depois pro Coronel e chorou ele matou Meu pai minha infância minha alma Lampião assentiu e agora vai deixar ele rir de novo ela andou até o Coronel encarou o homem que um dia parecia Invencível ele tremia pedia chorava mas as lágrimas dele eram de desespero não de arrependimento tentou dizer algo mas a menina levantou o braço e disparou o tiro
Foi seco o Coronel caiu de lado os olhos ainda abertos como se não acreditasse no próprio fim O silêncio que seguiu foi absoluto depois um grito não de medo mas de alívio um choro coletivo um soluço que parecia vir do próprio chão rachado Lampião recolheu a arma das mãos da menina a abraçou com firmeza Agora sim a vila pode dormir mas o trabalho ainda não tinha acabado Ele ordenou que os galpões fossem Queimados as armas escondidas na fazenda destruídas os jagunços Sobreviventes amarrados e deixados na entrada da cidade com bilhetes no peito a justiça Chegou
antes da lei enquanto os cabras atavam fogo o céu começou a clarear a primeira luz da manhã rasgava o tingindo de dourado o campo que antes era só pó e dor Lampião reuniu seu bando no terreiro agora vazio olhou ao redor a velha rezava de joelhos a neta era acolhida pelas outras moças e o povo o povo estava em pé de cabeça erguida hoje vocês enterraram o medo mas não esqueçam o mal gosta de nascer de novo só que quando ele voltar lembrem-se de que a justiça também sabe carregar espingarda Corisco se aproximou e agora
Capitão Lampião olhou pro céu depois pro terço no pulso agora a gente parte quem tinha que cair caiu montaram os cavalos deixaram a fazenda ardendo atrás de si como símbolo não havia ouro não havia saque apenas a fumaça subindo e o cheiro de terra Renovada a Vila amanhecia com gosto de liberdade o sol já ia quando os últimos cavalos desapareceram entre os caminhos de pedra e poeira que cercavam a cidade a fumaça da Fazenda ainda pairava no ar como um lembrete visível da noite anterior mas agora era o cheiro de liberdade que se espalhava pelas
ruas da Vila um cheiro que o povo não sentia havia muito tempo a notícia se espalhou mais rápida do que qualquer ordem do coronel já havia se espalhado peão tinha feito justiça e não com saques nem com medo mas com a coragem de ouvir uma velha de dar voz a uma moça e de lembrar ao Sertão que nem todo poder é eterno As pessoas Saíram de casa devagar como quem Testa o próprio passo a praça antes palco de medo agora era lugar de reencontro família se abraçavam velhos choravam baixinho crianças corriam com os olhos brilhando
A Vila tinha sido lavada Não com água mas com sangue suor e fé na igreja pela primeira vez em anos as portas se abriram sozinhas o padre que durante tanto tempo se calou por medo do coronel agora ajoelhava diante do altar com os olhos marejados uma das moças violentadas entrou na igreja caminhou até à frente e acendeu uma vela que isso aqui nunca mais precise de bala para fazer justiça disse ela Antes de Voltar para casa na mata em um ponto alto da estrada de Barro Lampião desmontou por um instante Corisco meia-noite e os outros
aguardavam em silêncio o capitão caminhou até uma pedra que dava Vista paraa Vila ao longe apoiou o rifle no ombro e tirou do bolso o escapulário que a velha lhe dera no primeiro dia beijou e guardou de novo missão cumprida Capitão perguntou Corisco Lampião respirou fundo sem pressa missão de Deus Às vezes vem de boca de pobre aquela velha me fez lembrar que não é só Vingança que move a bala às vezes é fé ficou em silêncio por um momento depois tirou o terço preto do pulso e o amarrou com cuidado no galho de um
Mandacaru esse aqui fica para proteger o que deixamos para trás Corisco franziu a testa vai deixar o terço ele já cumpriu o que tinha que cumprir aqui nessa vila ele virou escudo montou de novo no cavalo mas antes de dar a ordem de partida Se Virou pro grupo com um sorriso leve no rosto e agora vamos sair do mapa antes que alguém tenha a Brilhante ideia de chamar a gente de Salvador os homens riram riso contido como sempre mas era sincero galaram pela estrada de terra levantando como uma procissão sem Santo mas com propósito E
à medida que se afastavam a Vila ia ficando menor atrás deles mas a lembrança essa já tinha virado lenda meses depois em outras bandas do Sertão contava-se a história de uma vila onde Lampião não saqueou não matou por ouro nem levou donzelas Mas onde fez justiça com as próprias mãos e com a coragem de ouvir uma mulher esquecida pelo mundo diziam que ele partiu sem nada apenas com um bilhete deixado na porta da igreja escrito à mão com letra firme a fé da gente é o que nos separa dos Bichos e a justiça é o
que nos aproxima de Deus e por muitos anos o vilarejo seguiu em paz o medo nunca mais criou raiz naquele chão porque toda vez que alguém tentava abusar do Poder bastava alguém sussurrar cuidado porque Lampião volta nem que seja só em memória se você gostou da história se inscreva no canal para acompanhar mais histórias do Herói do Sertão