A Filosofia de Byung-Chul Han - Lucas Nascimento | Aula 1

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com a nossa essa transição para o que o Hans chama de uma sociedade do desempenho se transforma um pouco Essa maneira de produzir capital para se preservar diante da Morte né e aqui a gente pode dizer sem muito medo de errar que na sociedade do desempenho caracterizada aí por um excesso de positividade né o trabalho o que se Visa produzir por meio do trabalho é antes de tudo imediatamente a si próprio eu sou o Lucas Machado professor de história da filosofia pela UFRJ Doutor em filosofia pela USP Eu também sou atual diretor da associação latino-americana
de Filosofia intercultural e um dos tradutores da obra do Brasil esse é o nosso curso é para repensar o mundo humano uma introdução filosofia do Binho chuchuhan e a ideia aqui é fazer uma breve apresentação da filosofia do autor na maneira com que ele pensa a nossa vida sobre o capitalismo mas também outras formas de vida possíveis né Que tipo de vida seria uma vida para além das demandas do capitalismo hoje bom então uma das principais características Aí talvez da filosofia do rã um problema com que ele está sempre se debatendo é de tentar caracterizar
o que seria final a o nosso modo de existência sobre o capitalismo né De que maneira operaria a existência segundo a lógica capitalista né Esse é um dos grandes problemas com que ele se ocupa na sua filosofia e o nome que a gente poderia dar para esse modo de vida sobre o capitalismo de uma maneira geral seria de existência econômica e oham em diferentes momentos diferentes fases da sua filosofia ele tá de todo o modo sempre preocupado em mostrar como essa existência Econômica opera uma das formulações fundamentais que sempre usa para se referir é o
capitalismo é que essa ideia de que mais capital equivale a menos morte né Que que isso significa exatamente em certo sentido o rã enxerga o capitalismo e o modo de vida sobre o capitalismo basicamente como uma luta contra a morte a morte sempre entendida justamente como aquilo que nega a minha existência né A minha o meu modo de ser a minha identidade enquanto indivíduo né de alguma maneira então é o propósito da vida sobre a vida sobre um regime capitalista é preservar a si mesmo tanto quanto possível diante da Morte né é tentar prolongar a
sua existência tanto quanto possível e sempre tentando mantê-la Idêntica a si própria porque o que interessa é que você Preserve a si mesmo né E isso se faz isso se busca fazer pelo menos acumulando o capital Porque afinal a capital são os recursos os elementos que te permitem de alguma maneira mobilizar as coisas em função da sua própria existência né nesse sentido em diversos momentos da sua filosofia o han também insiste que economia vem de óicos né do grego oicos que significa casa e donomia aí né que teria essa ideia de manutenção de alguma maneira
manutenção da casa né mas o que que significa Nesse contexto da manutenção da casa significa a preservação desse espaço que é o meu espaço o espaço da minha existência onde eu levo a minha existência que é o espaço dedicado a ela e a preservação desta existência que é a minha né e para essa manutenção da casa justamente para essa manutenção do meu espaço o que o indivíduo sobre Esse regime esse modo de existência capitalista faz é acumular capital né ou seja capital como justamente essa transformação do outro de outras existências em uma ferramenta para dar
continuidade a minha própria né é essa é a grande característica comum geral que a gente poderia dizer por meio da qual o Hanna Lisa o capitalismo nas diferentes fases nos diferentes momentos da sua filosofia né Por mais que ele passa a filosofia passe muitas vezes por mudanças significativas no uso que faz de alguns vocabulários como por exemplo de negatividade de positividade de si mesmo e assim por diante algo permanece invariável no diagnóstico do rank essa ideia de que o capitalismo seja qual forma seja lá qual for a forma que ele adquire é sempre uma luta
contra a morte é sempre essa busca de preservar a sua própria existência Idêntica a si mesma né manter preservar um senso de uma identidade própria da sua e dessa identidade da sua existência como sendo Aquilo em função de que tudo tem que girar na sua vida né Essa autopreservação E aí De que maneiras honra Analisa Então porque a gente está vendo o que que seria o objetivo desse modo de vida né que seria ser preservar a todo custo Mas quais seriam as maneiras por meio das quais o aquele que leva uma existência Econômica né ou
simplesmente a existência Econômica de uma maneira geral buscaria preservar a sua própria existência de que tipo de estratégias de que tipo de atividade ela se Valeria para fazer isso tem duas explicações diferentes do Ram em duas fases diferentes da sua filosofia que correspondem também a dois momentos distintos na própria sociedade em que ohan analisando né em um primeiro momento nos livros antes da sociedade do cansaço que é o grande Marco aí da filosofia do rã né ele considera que o principal modo da existência Econômica dar continuidade a si mesmo é por meio de daquilo que
nesse contexto ele chama de uma certa negatividade né O que que significa essa negatividade Nesse contexto significa estabelecer limites rígidos que separam eu do outro né E que preservam o espaço da minha existência da minha identidade em relação ao outro né Ou seja é criando esse espaço esse espaço da casa justamente né lembremos lá do Oikos esse espaço que é dedicado a minha existência a preservação dessa existência e a preservação da identidade dessa existência com um amigo mesmo consigo mesma né que leva aí a operar de modo a deixar do lado de fora tudo aquilo
que não corresponde essa identidade tudo aquilo que possa ameaçá-la tudo aquilo que possa transformá-la comprometê-la deixá-la de deixar do lado de fora Portanto o outro né aquilo que se coloca como uma outra existência que poderia me decentrar da minha própria né e fazer com que a minha própria existência se Voltasse a algo outro que não a sua própria preservação Nesse contexto Então o que o que ocorre nessa maneira de proceder da perspectiva do rã é uma busca de estabelecer um limite rígido né entre o eu e o outro mantendo o outro do lado de fora
e criando assim um espaço de transcendência do eu né Pode parecer estranho falar isso Nesse contexto em que a gente está falando capitalismo com algo que né tem uma evidentemente uma base material muito forte mas a transcendência aqui se refere ao fato de que segundo Essa maneira de proceder o que interessa para o sujeito é constituir um espaço no qual ele se relacione apenas consigo mesmo e que portanto não esteja situado no mundo como nós geralmente o compreendemos certo porque o mundo é justamente esse lugar em que nós nos relacionamos com tudo aquilo que está
lá fora né com o outro com os outros objetos com as outras coisas com os outros animais seres humanos e assim por diante né então para que seja para que se possa preservar essa identidade consigo mesmo é necessário criar um espaço de transcendência em relação ao mundo que é o lugar onde eu me relaciono com o outro né Ou seja é preciso operar aí nesse sentido de transformar na verdade toda relação que se tenha com o outro em uma relação que apenas serve para prolongar para reforçar e preservar a minha própria existência e por isso
mesmo não é uma relação de fato com o outro é apenas uma relação comigo mesmo por meio do outro né submetendo o outro transformando o outro em um recurso em uma ferramenta né em algo que gira em torno da preservação da minha própria existência quando o Ram faz esse tipo de diagnóstico da existência Econômica né antes de escrever ou Sociedade do cansaço ele tá pensando o modelo de sociedade que depois ele vai falar com todas as palavras também é no Sociedade do cansaço mesmo né mas ele parece ter em mente principalmente o que seria o
modelo da sociedade disciplinar tal como focou descreve né Essa sociedade em que Justamente esse Visa promover a vida em certo sentido fazer com que o indivíduo viva e seja produtivo né mas é o estabelecer limites bastante rígidos para sua forma de vida né E nessa maneira e nesse modo estabelecer separações de economias entre o normal e o patológico entre o a esfera do trabalho e a esfera do descanso uma rígida a separação entre os espaços que garante aí De algum modo que se dê continuidade a esse modo de vida voltado para produtividade né e a
produtividade ela mesma Como o modo de preservar essa identidade consigo mesmo dessa existência Econômica né aqui em um determinado momento o rã vai considerar que Justamente a nossa sociedade passa por uma mudança de paradigma né uma mudança de paradigma por meio da qual a gente passa da sociedade disciplinar Para a Sociedade do desempenho que é aquilo de que ele fala Justamente na sociedade do cansaço e a partir desse momento na verdade ele vai considerar que essa existência Econômica ela não vai mais operar segundo essa lógica da negatividade da exclusão da Separação né de manter o
outro do lado de fora de estabelecer limites Claros tanto para o outro quanto para mim a própria atividade que é o que garante que ela seja com serve digamos assim uma espécie de identidade eu consigo mesmo né aqui na verdade se chegar a conclusão que a maneira mais eficaz de aumentar a produtividade de maneira gerar Mais Capital que que contribua portanto para lutar contra a morte para lutar contra isso que me forçaria a me decentrar da minha própria existência né é não impor limite algum para o indivíduo é não impor limite algum para sua atividade
para atividade por meio da qual ele produz e gera capital né é Não impor regras né é demarcações Claras no interior das quais ele deveria realizar essa atividade mas pelo contrário fazer com que isso permeia todas as esferas da sua vida e isso que o rã vai chamar Nesse contexto justamente de positividade ou Mais especificamente um excesso de positividade né O que que significa esse excesso de positividade aqui exatamente bom se o a negatividade era justamente essa atividade caracterizada por estabelecer limites estabelecer demarcações distinções a positividade aqui vai ser essa maneira de proceder justamente por
meio da qual muito pelo contrário se desfaz essas distinções que separam eu do outro né é que criam espaços delimitados de atividade por exemplo e identificação a consequência disso nesse nesse contexto é que o indivíduo né condicionado por esse excesso de positividade ele busca-se afirmar a cada instante por meio de tudo que ele faz e ele não enxerga em nada algo que se opõe a essa afirmação de si mesmo e da sua própria existência e da sua própria identidade né ora a consequência aí dessa perspectiva do rã é que aqui a gente acaba tendo uma
forma de Capitalismo né uma uma configuração da vida capitalista da existência Econômica que acaba sendo muito mais opressora do que aquela da sociedade disciplinar que era caracterizada pela negatividade né Por quê Porque se lá nessa sociedade disciplinar se operava por meio da negatividade para si afirmar essa essa existência Econômica né ou seja estabelecendo um limite Claro entre a existência do sujeito que tenta preservar a si mesmo e tudo aquilo que se situaria fora dela e que não prestaria não cumpriria um propósito não serviria de nenhuma maneira para preservação dessa existência essa demarcação de limites ao
mesmo tempo é o que garantia que em algum lugar ainda existisse espaço para esse outro e ainda estivesse aberta a possibilidade de se relacionar a isso que não tem como sempre a minha própria existência e a preservação dela né é um pouco diferente quando justamente por meio da ideia de excesso de positividade a gente sequer julga que haja algum lugar no mundo alguma coisa né no na nossa vida alguma coisa lá fora que pudesse nos Colocar diante de algo que nos decentraria de nós mesmos né que não geraria em torno da nossa própria existência Porque
a partir de agora na verdade a gente não vê limites que separem eu do outro mas de tal maneira que faz Justamente que eu identifique todas as coisas como cumprindo servindo ao propósito de preservar a minha própria existência de afirmar a minha própria identidade de por meio delas eu me confirmar naquilo que eu sou né então aqui e isso justamente de novo como uma maneira de buscar triunfar sobre a morte né nessa maneira nesse sentido de que aqui a preocupação é justamente se em nenhum lugar eu encontro alguma coisa que me faça me relacionar com
algo que vai além dessa preocupação com a minha própria existência né então a consequência que dessa maneira de um modo muito mais radical tudo se torna [Música] mero reflexo médio espelho de mim mesmo para mim em tudo eu apenas vejo uma maneira de ou melhor né nem simplesmente uma maneira de continuar a minha própria existência em tudo eu realmente vejo simplesmente a prolongação da minha própria identidade no que eu faço no que eu vejo em quem eu me relaciono eu sempre só enxergo a mim mesmo só do sentido essas coisas por considerar que de alguma
maneira elas dão continuidade a minha própria identidade a consequência desse modo portanto é que nesse sentido o rainciste né nessa nessa Sociedade do excesso de positividade na verdade nós viveremos como espécies de mortos vivos né ou seja qual que é o preço que nós temos que pagar para triunfar sobre a morte Nesse contexto é nós vivermos de um modo que exclui inteiramente a relação com o outro e que faz com que em todo lugar não seja possível nós transformarmos que nós somos nós nos colocarmos diante de uma experiência transformadora que nos de sempre porque em
tudo a gente sempre encontra de novo a mesma a mesma modo de existir a mesma preocupação com se afirmar e se afirmar através do outro e portanto a gente se encontra naquilo que o han chama de inferno do igual ou seja um contexto em que não mais a gente tem aí a possibilidade de se relacionar com algo que nos traga essa experiência do que nos leva além da nossa própria existência e lá além daquilo que gira em torno da sua própria preservação né mas pelo contrário aqui tudo tudo existe apenas em função dessa compulsão de
sobrevivência né uma compulsão de sobrevivência que se traduz aí justamente como essa nessa atividade de buscar afirmar a si mesmo buscar afirmar a sua capacidade como indivíduo e nisso ver a sua a sua individualidade assegurada reafirmada sua identidade reforçada aí né por meio da sua produtividade né por meio do quanto você produz por meio daquilo que você faz e apenas nessa produtividade se considerar de fato livre porque só aí você sente que você está se afirmando na sua própria existência como indivíduo e nada mais né e é por isso que na próxima aula nós vamos
discutir um pouco mais afinal o que que é o paradoxo dessa condição né do indivíduo nesse novo regime da existência Econômica digamos assim né que esse regime caracterizado por esse excesso de positividade por essa afirmação irrestrita sem limites de si mesmo né e que tipo de paradoxo e sem gênero Que tipo de problemas isso gera do ponto de vista da forma de vida que nós levamos e da exploração aquela acaba sendo submetida então para sintetizar né a gente pode dizer que para o rã o modo de o nosso modo de vida sobre o capitalismo né
isso que a gente poderia chamar aí de existência Econômica ele é caracterizado fundamentalmente pela busca de triunfar sobre a morte né mas triunfar sobre a morte significa preservar a sua própria existência preservar-se idêntico a si mesmo e a maneira fundamental de se fazer isso vale a pena salientar aqui é justamente o trabalho certo é por meio do trabalho que de alguma maneira eu garanto os meios para minha existência para minha subsistência na verdade né então esse vai ser sempre o objetivo do capitalismo de uma maneira geral gerar Mais Capital por meio do trabalho de maneira
garantir a minha sobrevivência né a preservação da minha identidade mas os mecanismos por meio dos quais Ele vai operar Para realizar isso se configuram se transfigura ao longo do tempo né no caso aí da sociedade disciplinar de acordo com o trabalho que se faz para produzir esse Capital que que é preserva ajuda a se preservar diante da Morte né é justamente o trabalho do negativo a gente poderia dizer esse trabalho de você de alguma maneira converter as coisas em algo que cumpre o propósito que contribui para o propósito de preservar a sua existência né E
aí eu trabalho nesse sentido até um pouco mais mais corriqueiro que a gente está habituado então sei lá se você por exemplo quer precisa se aquecer no inverno você corta uma árvore e faz lenha Porque a partir disso você transforma essa outra existência em uma coisa que tá ali e que passa a cumprir existir ali de uma maneira que serve unicamente a cumprir o propósito de garantir que se você continue existindo aí né cumprir um propósito para a sua vida só que com a nossa essa transição para o que o Hans chama de uma sociedade
do desempenho se transforma um pouco Essa maneira de produzir capital para se preservar diante da Morte né e aqui a gente pode dizer sem muito medo de errar que na sociedade do desempenho caracterizada aí por um excesso de positividade né o trabalho o que se Visa produzir por meio do trabalho é antes de tudo imediatamente a si próprio né produzir essa afirmação de si mesmo que é uma coisa que a gente vê o maior exemplo disso é claro seriam as redes sociais certo na rede social aquilo que você tá produzindo já é imediatamente assim mesmo
uma imagem de si mesmo né uma um recorte de si mesmo uma aparência de si mesmo que é aquilo por meio do qual você espera dar continuidade a sua própria existência né então esse note inclusive que nesse tipo de trabalho já não se passa mais por essa mediação com um outro que primeiro oferece alguma resistência e que por isso mesmo me força me relacionar com ele para que então eu converta em algo que pode servir ao propósito de prolongar em minha existência né Não aqui a produtividade é uma maneira de me relacionar diretamente comigo mesmo
e com a minha própria existência e de produzi-la continuamente sem que exista nada mais além disso né e por isso mesmo acaba sendo da perspectiva do Ram é uma maneira uma forma de Capitalismo muito mais eficaz né em sua demanda de produtividade justamente em sua demanda de triunfar sobre a morte mas também ao mesmo tempo muito mais exploratória né que depreda em certo sentido de uma maneira muito mais profunda existência humana
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