[Música] [Música] acho que a primeira coisa importante a dizer é que tem muitas concepções de currículo né então assim eh para algumas pessoas currículo é apenas um documento que vai dizer o que deve ser ensinado e às vezes avança inclusive para dizer como deve ser ensinado enfim eh na concepção que eu adoto eh currículo é mais do que uma lista de conteúdos é mais do que um documento que diz o que a escola deve fazer o documento em si que é resultado de uma série de discussões que envolvem muitos interesses diferenciados ele expressa um equilíbrio
que se conseguiu chegar nesse momento em relação à escolha que tem que ser feita sobre o que a escola vai ensinar então ele é basicamente um documento para dizer o que a escola deve ensinar certo mas o que será de fato esse currículo vai muito além do que o que a escola deve ensinar Então aí é bom retomar a ideia de que a escola Tem uma função diretamente ligada ao ensino de determinados conhecimentos mas ela também tem uma função muito importante de formação do cidadão a escola básica é o lugar de formação do cidadão né
em outras bases diferentes do que a família já faz então então e associando essas duas funções é que a escola acaba desenvolvendo um currículo real né que vai de alguma maneira guardar relações com esse documento vai guardar relações com os materiais produzidos pra escola e tudo mais mas que é mais do que o que consta nesse documento agora isso não quer dizer que o documento não tenha peso e não tenha importância o documento ele cria as bases para o trabalho da escola ser desenvolvido e o trabalho do professor igualmente então ele é muito importante a
partir dele vão ser produzidos documentos para que o professor possa usar em sala de aula então essa já é uma importância muito grande que o documento assume e de fato ele expressa Qual é o plano o que é que a gente pretende fazer tá certo o que que a gente vai ensinar para esses alunos para que eles se tornem os cidadãos que a gente hoje acha que devem ser os cidadãos necessários pra nossa sociedade então o currículo é uma segunda etapa Primeiro é preciso ter clareza de quem é esse cidadão que eu quero formar e
depois pois Qual é a escolha que eu vou fazer para formar esse [Música] cidadão Essa é uma das críticas que a gente ouve em relação a à base Nacional comum curricular Então se por um lado a base a discussão da base nacional com um curricular que foi capitaneada aí pelo MEC eh Ela traz um uma grande fator de enriquecimento porque tá provocando discussão sobre sobre o que a escola deve ensinar e porque a escola deve ensinar por outro lado uma das críticas é que a gente não partiu da conversa sobre qual é o cidadão que
você quer formar Então isso é muito problemático não tá claro no texto da base o que é que a gente quer qual é o nosso plano Afinal né ela já vai direto pra escolha de quais são e entre aspas aí os conteúdos dessa educação mas ela pula a etapa da conversa sobre quem é esse cidadão que se quer formar e aí acho que uma das coisas que pode de responder por essa ausência por essa lacuna é o próprio tempo muito acelerado paraa produção desse documento quer dizer você formou ali um grupo de assessores que são
especialistas nas disciplinas portanto vão focalizar a questão do conhecimento especializado específico da disciplina mas eh pulou se essa etapa da discussão de para quê Quem é o cidadão que a gente quer formar que é uma etapa essencial importantíssima aí o eu vou falar da minha perspectiva do que para que serve a escola né Para que que a gente tem a escola na nossa sociedade eu entendo que a escola é o lugar de você ter acesso a conhecimentos que não estão disponíveis no seu dia a dia ou seja um conhecimento distinto do conhecimento da experiência do
cotidiano do dia a dia e esse conhecimento distinto é um conhecimento que tem as suas raízes na nas disciplinas acadêmicas mas não são retratos das disciplinas acadêmicas né são conhecimentos escolares são conhecimentos que estão voltados para aquela função da Escola de Formação do cidadão e de instrução em alguns conhecimentos eh disciplinares então Eh qual é a questão que é preciso manter em vista aí nessa conversa a escola é um lugar onde a maioria da população especialmente num país como nosso com grandes carências e grandes lacunas sociais e a escola é o lugar onde a maioria
das das crianças e jovens vai poder ter contato com esses conhecimentos que vão permitir que elas olhem pro próprio mundo pra prática social onde elas estão inseridas e tenham elementos para questionar esse mundo não ajam em relação ao mundo como se ele fosse algo dado e não uma construção social né Então esse é o lugar a escola é o lugar de estranhar o mundo de perguntar de questionar de se incomodar com algumas coisas que são apresentadas pra gente como naturais entre aspas [Música] toda a conversa de currículo é uma conversa sobre poder isso tá embutido
em todas as dimensões então isso já começa dentro dos campos acadêmicos Então vamos dizer por exemplo a geografia tem que definir qual é a geografia que é importante para est no currículo escolar isso não é tranquilo dentro do campo da geografia tem várias correntes que vão defender linhas Opostas inclusive paraar currículo quem vai conseguir falar mais alto quem tem mais poder dentro do campo da geografia algumas dessas vozes vão ser silenciadas não vão aparecer de jeito nenhum algumas podem até ser distorcidas né e outras vão se projetar com mais eh força né Isso é resultado
da configuração de Poder da sociedade neste momento portanto é uma escolha situada uma escolha contextualizada neste momento foi o que nós conseguimos fazer agora as escolhas não param no campo acadêmico então quando eu vou escrever um documento curricular eu tenho que ter uma ideia de quem é o cidadão que eu quero formar e aí eu posso ter por exemplo uma inclinação a responder que é um cidadão que vai se inserir no mercado de trabalho se a resposta for essa todas as escolhas vão tentar responder à formação pro mercado de trabalho então eu posso ter um
currículo mais instrumental um currículo mais voltado para resolver problemas imediatos do dia a dia ou posso ter um currículo mais voltado para análise de questões mais relacionais da vida enfim né dependendo da Escolha eu vou caminhar para um lado pro lado pro outro mas isso é deste momento é do que é possível agora nessa situação específica de poder que a gente tem na sociedade então o documento ele é um retrato da configuração atual de poder é o que a gente conseguiu nesse momento é o melhor talvez seja o melhor para agora foi o possível neste
momento mas ele tem que ser encarado como um documento que é temporário é provisório porque aquelas vozes que foram silenciadas ou que foram distorcidas vão continuar tentando se fazer ouvir dentro do currículo e é assim que tem que ser a conversa de currículo não acaba nunca a gente nunca vai chegar no currículo que pronto acabou é o melhor de todos não então a gente precisa levar isso em conta alguém tá falando mais alto mas quem não falou mais alto agora vai continuar brigando para falar e Em algum momento vai conseguir alguma projeção um exemplo disso
eh os conteúdos da história africana e afro-brasileira por causa dos movimentos sociais dos movimentos negros muito basicamente por causa disso de alguma maneira conseguiram se fazer ouvir e inclusive foram inseridos num artigo na RDB que isso agora é obrigatório isso é resultado de luta de grupos que foram silenciados por muito tempo e que continuaram lutando para que isso estivesse no currículo significa que tá na lei é exatamente o que tá acontecendo lá na sala de aula não não significa mas é um passo importante porque uma vez que está na lei de alguma maneira a gente
vai ter que fazer um movimento para isso ser contemplado então já é resultado de luta esse é só um exemplo de como as coisas vão permanecendo aquelas que são silenciadas elas vão ficar ali vão continuar brigando a questão de gênero por exemplo nos planos de educação né uma grande polêmica no momento a tendência neste momento de de extremo conservador adorismo que nós estamos vivendo é de retirada dessa discussão agora isso não significa que as pessoas que estão fazendo esse debate vão parar de pressionar elas vão continuar fazendo pressão para que isso mude e espero que
em breve a gente consiga reverter esse quadro e trazer de volta essa conversa com toda a ênfase que ela [Música] merece a gente tem uma grande disputa de poder entre as disciplinas também e isso ISO muitas vezes é fomentado por um por políticas externas à escola por exemplo as avaliações externas ao incidirem sobre determinadas disciplinas acabam conferindo um peso diferenciado para essas disciplinas no currículo escolar Então se a gente quer que os alunos tenham bons resultados às vezes eu preciso abrir mão de determinadas aulas para treinar mais paraa prova fazendo mais aulas de português de
matemática e eventualmente de ciências Quais são as disciplinas que perdem com isso educação física artes né são as disciplinas que normalmente T menos eh valorização em função dessas escolhas que são externas à escola então é mais uma expressão de poder que já tá dentro da escola qualquer professor dentro da escola sabe que isso é verdade quer dizer se tiver que abrir mão de alguma aula vai ser de determinada disciplina não é de português e de matemática e por quê Porque tem pesos diferenciados e tudo isso vai configurando o currículo Real de uma maneira que responde
à configurações de poder que são do contexto então em tese sim né quer dizer se você tem um projeto pedagógico discutido dentro da escola no âmbito de uma gestão democrática onde as escolhas feitas elas são compartilhadas não é que elas são 100% consensuais porque nunca serão mas elas fecham um acordo provisório ali em que todo mundo acredita pelo menos por um determinado tempo vai ser o que vai pautar a prática da escola eh em tese é possível você trazer temáticas que foram até silenciadas aí nos documentos curriculares porque a escola compreende que aquilo é premente
é importante pro seu grupo né agora o que preocupa é que às vezes outras políticas que vê associadas à base possam restringir esse espaço da escola fazer esse tipo de escolha então por exemplo se eu tenho um documento que é a base que eh tá muito muito preocupado com a avaliação externa e a avaliação externa de fato tá pautando as escolhas práticas da escola é isso reduz a possibilidade de eu fazer qualquer outra coisa diferente do que tá previsto né no documento curricular então é preciso entender que não é o documento sozinho isolado é ele
atrelado a outras coisas ele por exemplo atrelado aos livros didáticos se o livro didático traz única e exclusivamente o que tá no documento curricular sem abrir possibilidades para outras escolhas do professor é mais uma ameaça de restrição a esse espaço de escolha da escola e do professor então a gente precisa olhar isso num contexto mais amplo a base sozinha não pode tudo a base sozinha não significa a um aprimoramento da qualidade da educação mas ela atrelada a outros fatores pode gerar uma melhora na qualidade da educação Como pode gerar também uma piora dependendo de quais
são essas outras políticas atreladas a ela [Música] na definição curricular mais de centralizada né de produção de um documento isso é difícil de ser considerado porque você vai ter realidades muito diferentes nas escolas né então é um documento mais genérico É um documento que vai apontar para um plano Mais amplo do que deve ser ensinado enfim agora é preciso que esse documento não seja restritivo demais a ponto de não permitir que a escola faça os ajustes dentro das condições reais que ela tem e esses ajustes é que vão trazer essa perspectiva que você tá falando
então da onde vem esse aluno o que ele traz né O que que ele já possui o que que a escola vai oferecer da onde a escola vai partir né dentro desse diagnóstico de quem é esse aluno Quem é essa comunidade o que acontece nesse ambiente onde o aluno circula com que instituições a escola pode estabelecer vínculos para pensar essa formação desse aluno né então acho que eh existe aí uma uma preocupação em fazer pensar política curricular de uma maneira que não invada demais o espaço de escolha da escola e do professor porque é esse
espaço de escolha que garante a possibilidade deesse de que esse currículo faça sentido para essa escola né que responda de fato aquilo que a escola lê na sua no seu público e na comunidade onde ela tá inserida caso contrário se não houver espaço para isso é quase como se a gente dissesse pra escola independente da onde você está independente do público que você recebe é isto aqui que você tem que fazer isso é impossível não tem como não fazer este ajuste isso é próprio do trabalho do professor é com isso que trabalha o professor qualquer
professor precisa saber quem é seu aluno de onde ele vem Quais as condições em que ele vive o que ele sabe o que ele não sabe o que ele conhece do mundo da onde eu vou partir para poder chegar naquilo que é apresentado no currículo como eh um conhecimento essencial importante a ser adquirido na [Música] escola olha Sem dúvida nenhuma a escola precisa ser apoiada nas suas escolhas e esse apoio vem inicialmente da Secretaria Municipal Estadual dependendo do vínculo da escola então o apoio é importantíssimo ela tem que ter o espaço das suas escolhas e
tem que ter apoio e esse apoio pode vir inclusive na forma de parcerias com outras instituições no meu ponto de vista e aí tô falando de uma perspectiva muito pessoal eu acho que esses apoios Todos devem ser pensados com base na centralidade na escola é a questão do meu ponto de vista é como a gente pode ter apoios para garantir que a escola cumpra a sua função social e aí este é o eixo norteador na minha concepção não é a única né Há quem pensa em outras possibilidades do meu ponto de vista é a escola
que é o centro de articulação de tudo isso que Pode garantir uma formação mais integral do sujeito né agora uma coisa que é importante a gente pensar também que é o seguinte eh o currículo não é só o documento então ele é aquilo que acontece na articulação de várias dimensões Então hoje no Brasil nós não temos um currículo Nós temos muitos currículos e esse é um grande problema para nós porque para uma boa parte da nossa população eu diria que pra maioria da nossa população o currículo que se está desenvolvendo na escola é um currículo
muito esvaziado de conhecimento no entanto aqueles que podem que tem recursos para pagar escolas mais estruturadas e mais eh com um trabalho em condições mais favoráveis garantem aos seus filhos acesso a um conhecimento que é pleno de conhecimentos isso para nós é um grande problema recorrente no Brasil nós sempre tivemos realidades muito distintas em termos de currículo então para alguns a passagem pela Escola acrescenta muito pouco em termos de conhecimento para outros a passagem da escola traz muito conhecimento e isso tende a manter as pessoas nas suas posições sociais de origem quem pode pagar continua
tendo acesso ao melhor currículo em termos de conhecimento e quem não pode pagar vai tendo acesso a um currículo cada vez mais empobrecido as chances dessas pessoas mudarem de posição social são muito pequenas dentro dessa perspectiva então é uma um bom exemplo de como a escola nas suas escolhas e nas escolhas das políticas curriculares pode funcionar para aprisionar as pessoas nas suas posições sociais de [Música] origem a escola tá inserida numa sociedade desigual justa não há a menor possibilidade da gente ter uma escola Justa e igualitária numa sociedade desigual a desigualdade extrapola os Muros da
escola né então é impossível a gente querer que a escola seja uma instituição absolutamente Justa e igualitária numa sociedade que não o é certo assim como não dá para pensar numa escola 100% democrática numa sociedade que não o é certo então é é só ter a a a noção de que a escola pode muito pode muita coisa mas ela não pode tudo dizer que ela será igualitária justa democrática numa sociedade que não é nada disso é atribuir a uma única instituição um papel que ela não é capaz de cumprir certo então ela tem possibilidades mas
as possibilidades delas são limitadas dentro de uma questão de que ela é apenas uma instituição na sociedade o currículo é um um dos caminhos pelos quais a gente pode tentar fazer com que a escola cumpra um papel em relação a essa desigualdade então As pessoas chegam na escola com eh proximidades muito diferentes daquilo que a escola oferece né algumas vão chegar muito perto daquele conhecimento que circula na escola e outras vão chegar muito distantes disso né é necessário que o currículo traga e permita um espaço para que a escola Trabalhe com essa desigualdade de chegada
dos alunos de modo a permitir que todos acompanhem o que virá né e possam de alguma maneira serem colocados num patamar próximo pelo menos e não se trabalhar sempre com essa distância tão grande então o currículo tem um papel muito importante nisso quer dizer ele é ele tem que ser claro no que é preciso que esses alunos adquiram de conhecimento e ele não pode ser excessivamente recortado no tempo porque senão a escola não consegue ajustar as coisas aos alunos reais que ela tem e isso reduz a possibilidade de trabalhar com a diversidade dos alunos por
outro lado algumas questões de desigualdade social que chegam na escola não são possíveis de serem trabalhadas pela Escola E E então pais que não têm trabalho crianças que não tê moradia digna não tem alimentação são questões que extrapolam as possibilidades da escola né a escola pode por um lado mas não pode tudo agora se ela mantém Clara a atenção sobre esse fato de que as esc as crianças não chegam na mesma condição na escola e que portanto a gente precisa considerar isso para todas as escolhas que se vai fazer dessa maneira a gente rompe com
aquela ideia pobre de meritocracia né de que ah se o aluno se esforçar Ele pode tudo na escola e des considerando que esses pontos de chegada são muito diferentes quem chega na escola chega em Pontos diferentes então é mentira que a escola oferece o mesmo para todos e é mentira que ela cobra de todos o mesmo não porque como Cada um chega num ponto diferente o que ela vai cobrar é muito fácil para alguns e é muito difícil para outros alguns alunos para terem sucesso na escola vão ter que superar coisas que os outros nunca
precisaram superar e a gente não pode lidar com isso sem ter a CL de que esses são pontos da sociedade não são só da escola né cabe a escola tentar lidar com isso mas ela não resolve Então toda aquela conversa de escola como e o lugar da salvação Tudo começa com a escola a escola é a salvação da Pátria a gente precisa recusar essa conversa porque essa é uma conversa que não vai nunca dar certo nunca uma instituição vai poder resolver todos os problemas de desigualdade social sozinha e enquanto a gente não negar esse papel
a gente vai est dando um tiro no pé porque a gente não vai cumprir isso e a gente vai ser acusado de não cumprir isso é preciso dizer não não cabe tudo a escola o que que cabe a escola a nossa parte é a formação intelectual o desenvolvimento desses alunos num conjunto de conhecimentos que vão permitir que eles entendam esse mundo que eles entendam inclusive as desigualdades às quais eles são submetidos o tempo todo então acho que essa essa é uma questão pra gente pensar pode algumas coisas não pode outras da escola não é salvação
da Pátria Olha eu acho que o tempo é um dos nossos grandes problemas na escola né porque tudo acontece de forma muito acelerada na escola são muitos conteúdos para tempos muito recortados e alunos muito diferentes nas suas possibilidades e aí com essa urgência a gente não consegue fazer os ajustes necessários né então o tempo é uma questão fundamental então quando se pensa numa escola que amplia o seu seus tempos de permanência de jovens crianças na escola e professores Eu acho que isso tem um potencial enorme para pensar o currículo porque isso poderia nos levar a
pensar em um trabalho com o conhecimento com mais profundidade com mais vagar com mais ajuste de tempo às necessidades reais dos alunos a possibilidade de você construir sentido junto com os alunos para aquilo que tá sendo ensinado quando você tem tempos ampliados é muito maior quando você tem que fazer isso na correria muitas vezes não faz sentido nem pro professor e nem pro aluno Então você acaba passando pelas coisas só para cumprir Um Plano mas que na verdade não faz sentido nem para um nem para [Música] outro