Você já parou para pensar como o diabo uma figura tão controversa conseguiu se enraizar tão profundamente na cultura de uma região tão profundamente católica quanto o nordeste brasileiro é provavelmente não Mas recentemente eu estive lendo excelente livro que é interessante e te prende na história do início ao fim logo nas primeiras páginas um personagem em particular me chamou a atenção pelo seu ar de mistério o próprio diabo trata--se do livro Bahia do meu amigo Vitor Santos essa obra me fez refletir sobre como o diabo como uma figura simbólica tem uma presença marcante na cultura nordestina
já há muito tempo ele está nas páginas de Vittor Santos nos altos de Ariano Suaçuna na literatura de cordel no cinema nos Repentes dos cantadores e principalmente na oralidade é no Imaginário Popular que ele se manifesta com mais força tendo sido por lá que surgiu e se consolidou inicialmente isso Pode parecer contraditório uma região tão profundamente católica ainda assim manter viva a imagem do diabo ou talvez seja exatamente por isso que ele está tão presente podemos lembrar do que mencionei no outro vídeo sobre terror folclórico comunidades mais isoladas tendem a preservar suas tradições com mitos
que causam medo e Respeito isso é perceptível no tipo de homem que o sertão nordestino moldou marcado pela luta constante contra as adversidades a necessidade de expansão colonizadora empurrou o homem para além do litoral longe das matas verdes e Ricas o colocando em um ambiente hostil seco e perigoso lá ele enfrentou nativos onças e um clima Implacável foi nesse cenário que surgiu um tipo diferente de homem individualista autônomo Senhor da sua própria vontade e acima de tudo um improvisador Nato e Como disse Gustavo Barroso esse homem vivia ignorando quase que por completo a civilização moderna
em contato diário com as tradições únicas da raça e do Meio revendo o passo em todas as manifestações da vida se enchendo de preconceitos de outros tempos procurando imitar os antepassados e praticar hoje ações compatíveis com o estado social de séculos atrás agora já sabendo disso antes de nos aprofundarmos mais no Diabo na literatura música cinema etc vamos ver como ele chegou aqui e por ele ficou Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil não desembarcou apenas com marinheiros e religiosas mas também com símbolos poderosos que mudariam a cultura do país Deus e o Diabo enquanto
Frei Henrique de Coimbra celebrava a primeira missa e finca a cruz Cristã no solo brasileiro o diabo encontrava seu espaço entre as tentações humanas os marinheiros desgastados por meses no mar sucumbiam a Luxúria diante das mulheres indígenas que que por sua vez vinham nos portugueses quase que figuras divinas assim o diabo tirava a atenção dos portugueses da missa e a direcionava a nudez das Índias na época O diabo já era uma figura poderosa na imaginação europeia temido e respeitado ele aparecia em lendas e superstições e sua presença era evitada até mesmo pelo uso de apelidos
a tradição oral portuguesa trouxe para o Brasil um repertório de nomes para o diabo impressionante desde tinhoso até capeta com a intenção de não invocar diretamente sua presença essa prática Ganhou ainda mais força no nordeste onde o cotidiano arduo e a religiosidade intensa moldaram a maneira como o povo lidava com as forças do bem e do Mal Os Missionários preocupados em conter os pecados da carne que marcavam as primeiras décadas da colonização usaram a imagem do diabo como uma ferramenta pedagógica o pintando como uma criatura aterrorizante preto com chifres rabo e cheiro de enxofre sempre
segurando um esp essa representação não apenas reforçou o medo mas também C Mou a figura do diabo como símbolo do Mal absoluto na cultura popular nordestina no entanto o diabo não ficou restrito aos sermões religiosos ele se enraizou nas expressões culturais e na literatura oral da região nos cordéis aparece frequentemente como um personagem astuto e maléfico mas muitas vezes enganado por figuras Humildes histórias como a mulher que prendeu o diabo em uma garrafa mostram a esperteza popular triunfando sobre o mal o diabo transformado em fumaça entra na garrafa para provar sua habilidade apenas para ser
aprisionado novamente mostrando que mesmo temido ele é vulnerável à inteligência humana esse tipo de diabo que é enganado e vencido pela esperteza do sertanejo foi chamado por Câmara Cascudo de demônio logrado a presença do diabo no nordeste vai além das histórias ela está também na linguagem cotidiana enquanto os homens por machismo ou frustração mencionam o diabo frequentemente em seus desabafos as mulheres preferem apelar a Deus e aos santos expressões como minha nossa senhora e graças a Deus são comuns entre elas enquanto os homens recorrem a frases como tá com diabo ou é a besta fera
mesmo para expressar indignação essa dualidade reflete a luta diária do Povo Nordestino que busca na fé e na cultura popular formas de lidar com as adversidades da vida nos folguedos o diabo é uma figura recorrente muitas vezes representado como vilão no bumba me boi por exemplo ele aparece para tentar os personagens mas é constantemente derrotado no pastoril tenta desviar as pastoras a caminho de Belém mas é frustrado pela intervenção divina essas representações mostram a força simbólica do diabo como antagonista Mas também como figura cômica que frequentemente acaba se lascando Outro ponto interessante são os provérbios
populares que reforçam a presença do diabo como metáfora para os desafios da vida dizeres comumente vazia A Oficina do Diabo ou Quando Deus dá a farinha o diabo rasga o saco refletem a percepção do Mal como parte inevitável da condição humana mas nem sempre o diabo é sinônimo de desgraça em algumas expressões como o diabo de saia ele assume um tom mais leve e até com significados mais interessantes se é que vocês me entendem no nordeste o diabo é mais que um símbolo do mal ele é parte integrante da cultura popular representando as lutas internas
e externas de um povo que enfrenta a dureza da vida com criatividade e fé seja nas histórias de cordel nas brincadeiras dos mamulengos ou nas expressões do dia a dia o diabo permanece uma figura complexa ao mesmo tempo que temida e desafiada ajudando a contar a história de um povo resiliente e de imaginação fértil apesar do diabo os seus demônios serem mencionados no Brasil desde a chegada dos europeus fosse atormentando os índios ou assombrando dos colonizadores que adentravam as matas foi somente em meados de 1594 e 1595 que ele foi documentado pela primeira vez com
as primeiras visitas do Santo Ofício nesses registros podemos encontrar Bruxas fiéis a ele e até Feiticeiras que prendiam o diabo dentro de uma garrafa o obrigando a servi-las e dando origem ao famalar eram comuns também as histórias daqueles que Encruzilhadas invocavam e faziam pactos com o próprio tinhoso um relato interessante mencionado pelo o historiador Pereira da Costa é do diabo de Casa Forte palco da Batalha Contra os holandeses em 1645 ao longo do século X a Bahia presenciou várias aparições do diabo queimando casas à vista das pessoas furtando bens rasgando roupas em público e até
mesmo perseguindo ameaçando e agredindo pobres Miseráveis após esses relatos do Coisa Ruim atazanando as pessoas vemos uma mudança em suas ações passando a agir de outra forma agora Os relatos come a descrever possessões pelo próprio diabo Essas possessões eram descritas como afetando as vítimas tanto fisicamente quanto mentalmente além de impactar o ambiente que mudava por completo relatos incluem alterações no clima a luz do dia que desaparecia barulhos estranhos e até mesmo odores desagradáveis o demônio Só podia ser expulso mediante a um Exorcismo realizado por um padre uma história marcante da época do domínio Holandês conta
sobre uma moça da cidade de Pojuca que possuída exigi a presença de um padre específico para exorcisar inicialmente os holandeses presentes não levaram o caso tão a sério Mas de repente a mulher começou a falar em neerlandês os acusando tanto de Pecados cometidos em suas terras natais quanto os pecados cometidos no Brasil após isso eles finalmente trouxeram o padre solicitado que conseguiu de fato expulsar o demônio e até mesmo fez com que a mulher cuspe um anel de azeviche que serviu como uma espécie de troféu esse evento fez com que os irlandeses passassem a respeitar
profundamente os religiosos católicos que aqui viviam e assim o diabo permaneceu por séculos atormentando possuindo e cometendo crimes no nordeste atazanando qualquer um que cruzasse seu caminho relatos como esses amplamente documentados em cartas e documentos oficiais mostram sua forte presença como algo real e que causava medo em todos ficando marcado para sempre no folclore daquele povo talvez por ter uma vida mais sossegada em contato direto com a natureza e com mais tempo para pensar e dar asas à imaginação as pessoas que moram na zona rural sempre se dedicaram mais às coisas da religião e suas
tradições do que aquelas que vivem nos grandes e médios centros na zona rural e em pequenas cidades a vida se move de forma diferente o dia tem de fato 24 horas permitindo que o homem tenha tempo para trabalhar se divertir pescando caçando conversando nas calçadas ou nos Bancos da Praça É um tipo de homem bem diferente daquele das grandes cidades que mal tem tempo para dormir e vive Como Um Robô Em um passado não tão distante enquanto os grandes centros sofriam com a poluição sonora de buzinas máquinas e carros de som o silêncio nas pequenas
comunidades era quebrado apenas pelas badaladas do Cine ao meio-dia para o almoço às 18 horas anunciando que acabou-se o dia e às 21 horas para indicar que era hora de dormir essa população rural é mais riosa e pensa muito em Deus e no Diabo com seus mais variáveis apelidos o diabo em especial é muito temido e costuma receber a culpa por tudo de ruim que acontece se não choveu se uma vaca morreu por picada de cobra ou mesmo se alguém caiu do cavalo os poetas populares nascidos e criados nos Brejos catingas e pés de serra
retratam em seus folhetos toda a atmosfera religiosa que envolve esse povo Rural a figura do diabo preto com chifres caluda em forma de seta cheiro de de enxofre e segurando o espeto é muito popular esse tema é amado não só pelos poetas mas também pelos consumidores nas Feiras das cidades vilas e povoados o povo gosta de ouvir histórias onde o diabo aparece faz suas maldades e no final acaba se dando mal Um Bom exemplo disso é o Cordel a mulher que Enganou o Diabo de José costelete que começa assim vou descrever um Trancoso que vem
do meu bisavô ele contou um dia ao meu velho avô meu avô contou ao meu pai depois meu pai me contou a história segue com um homem chamado Otaviano que durante uma pescaria encontrou uma garrafa com uma fumaça azulada dentro e decidiu levá-la para casa sua mulher chamada Isabel acabou abrindo a garrafa e de dentro saiu o próprio diabo isso deu início a uma grande confusão e muita discussão entre os dois Até que a mulher começou a duvidar que o diabo realmente tivesse saído da garrafa ela então o desafiou a provar que podia sair e
entrar novamente para provar sua habilidade o diabo entrou na garrafa e outra vez Isabel o prendeu mas a história não termina por aí ela segue com a mulher enganando o diabo mais vezes e levando vantagem em cima do capeta e na cilha final o poeta termina dizendo Já expliquei ao povo como é que mulher faz o seu dom de atrás soar sei que não se acaba mais tanto que ela enganou até mesmo Satanás e esse foi apenas um exemplo existem incontáveis cordéis que tem o diabo como tema mesmo em muitos que não possuem menção ao
coisa ruim no título sua história está em Volta nas tramoias do diabo o ponto interessante de se notar é que o diabo quase nunca sai dessas histórias como vencedor ele sempre acaba derrotado e enganado em meio aos pactos e acordos com sertanejos Vale ainda citar que muito além da literatura de cordel o Diabo se faz presente também em livros clássicos da nossa literatura tanto nos mais populares quanto nos mais ditos obras como Grande Sertão Veredas onde o Diabo se apresenta como uma forma simbólica e constante na vida do sertanejo sendo mais do que uma presença
Física ele é uma ideia uma presença que permeia as escolhas humanas riobaldo o protagonista acredita ter feito um pacto com o diabo em sua busca por poder e Justiça no entanto a obra de Guimarães Rosa nunca revela claramente se o pacto foi real ou fruto da Imaginação atormentada de Rio Baldo o diabo aqui não tem chifres ou cheiro de enxofre mas se manifesta nas dúvidas medos e tentações humanas refletindo o dilema moral do protagonista entre o bem e o mal essa ambiguidade faz do diabo uma força ainda mais poderosa pois ele habita o íntimo dos
personagens representando as escolhas e os conflitos internos do sertanejo diante de um mundo hostil e sem respostas Claras já em outra obra o famoso Alto da Compadecida o diabo assume um papel cômico e caricato refletindo o talento de Ariano Suassuna para mesclar humor e religiosidade na cultura aqui o diabo é uma figura que tenta seduzir as almas dos mortos em um julgamento no além mas acaba enganado pela esperteza de João Grilo o protagonista ele é retratado como antagonista atrapalhado que perde espaço para a misericórdia divina representada por nossa senhora ao mesmo tempo sua presença reforça
a ideia de que o mal e a tentação estão sempre à espreita Mas podem ser vencidos pela inteligência pela fé e claro pelo senso de humor e cara existem ainda dezenas de outros trabalhos que tem o diabo como personagem seja ele agindo por trás os panos como um dos principais antagonistas ou apenas aparecendo de forma ocasional nas tramas das histórias narradas é então fica com vocês a missão de procurar mergulhar mais nessas [Música] obras tanto Deus e o céu quanto o diabo e o inferno por força da religiosidade do destino Rural continuam sendo constante na
linguagem popular da região adorando a Deus uma vez por semana quando assiste a missa e temendo o diabo a semana inteira um atuando em função do outro O Nordestino do interior mais do que o das cidades mantém viva essa dualidade em seu dia a dia nos desabafos o homem da cidade muitas vezes substitui a Invocação do diabo por um palavrão mas o sertanejo tradicionalmente menciona o Capiroto em momentos de revolta ou Ira às vezes ainda fazendo referência até mesmo ao seu reino inf em contraste a mulher nordestina interiorana tende a fazer o oposto docemente dedicada
à família quase sempre em casa e Envolvida com as coisas da igreja ela invoca o nome de Deus e dos Santos em momentos de aflição ou alegria na linguagem Popular feminina é comum ouvir menções a nossa senhora nosso senhor Virgem Maria Padre Cícero ou qualquer outro Santo de sua devoção talvez talvez pelo medo associado ao nome do diabo as mulheres evitem mencioná-lo diretamente optando por eufemismos como coisa Capiroto ou futé essa dualidade na linguagem nordestina nos leva de volta à pergunta porque Deus e principalmente o diabo participam tanto da expressão popular na região sem dúvidas
a estrutura secular e religiosa é um dos principais fatores além disso a adversidade da natureza quase sempre hostil e incerta o trabalho duro no campo a injustiça social e o abandono em que muitos ainda vivem também parecem ser responsáveis por essa angústia desespero e alguns outros outros problemas que aos poucos estão sendo solucionados Mas voltando ao tema da linguagem popular em momentos de admiração surpresa tristeza ou alegria é comum uso principalmente por parte das mulheres de expressões como minha nossa senhora mãe do céu e muitas outras além de abreviações dessas mesmas mas o diabo e
o inferno são ainda mais frequentes no diálogo nordestino talvez porque aconteçam mais coisas ruins do que boas a necessidade de xingar o nome do capeta fez com que que a linguagem popular desenvolvesse mais de uma centena de apelidos para o diabo muitos deles extremamente criativos esses apelidos frutos da Imaginação Popular ultrapassaram as fronteiras do Nordeste e se espalharam pelo Brasil impulsionados pelo comércio e pela migração e é aí que Surge mais uma pergunta por que tantos nomes nesse caso a criatividade não foi exatamente pela imaginação mas sim pelo medo antigamente se acreditava que apenas pronunciar
o nome e do diabo poderia acabar o invocando e trazer infelicidade para a família assim o povo criou outros nomes para evitar de dizer Satanás demônio ou diabo começaram então com abreviações como diá demo e Satan em seguida inventaram palavras semelhantes como jhu jangas ou Jano e bem nesse livro de Mário soutto maior que eu usei como guia para boa parte desse livro estão catalogados dezenas de apelativos para o diabo apenas no nordeste a além de mais algumas dezenas de expressões que fazem referências a ele e como vimos ao longo do vídeo o diabo sendo
uma figura extremamente popular no nordeste está presente em praticamente tudo nas manifestações populares como o Momo lengo ou Bumba Meu Boi e os caretas na linguagem popular na literatura de cordel e nas histórias contadas à noite À Luz da fogueira ou do candeeiro nos alpendres nas bodegas à beira das estradas e nas praças sem nos esquecermos é claro de sua presença Marcante na cultura regional e no cinema assim o Nordeste pode ser visto como verdadeiro território da danação onde o diabo está intrinsecamente presente no folclore desse povo forte e castanho o diabo é tão presente
no sertão quanto o próprio sertanejo e em certos momentos parece tão presente quanto sua força maior que é [Música] Deus e bem antes de finalizar o vídeo por favor comprem o livro que eu citei no início do vídeo Bahia do meu amigo Vitor porque ele não patrocinou nada aqui ele nem sabe que eu tô fazendo esse vídeo mas o livro é realmente bom tô recomendando porque o livro é bom eu li e gostei Então é isso o link vai est na descrição e bom eu sou o cesion espero que vocês tenham gostado do vídeo Se
gostou deixe uma curtida e um comentário para ajudar no engajamento quero deixar um agradecimento em especial aos membros do canal que apoiaram esse vídeo que vocês assistiram Então é isso valeu e até a próxima osim