Se você já quis mandar seu chefe pra aquele lugar e nunca mais voltar, saiba que existe um movimento de pessoas que está fazendo justamente isso. Esse fenômeno transformador ganhou força nos últimos anos, ecoando em corredores de escritórios, ressoando nas mentes dos trabalhadores em todo o mundo e colocando medo no patrão. Um movimento que desafia as noções convencionais sobre emprego, carreira e satisfação profissional, chamado de 'Great Resignation'.
O 'Great Resignation' não é apenas uma onda de pedidos de demissão em massa, é uma revolução nas mentes e nos corações dos trabalhadores. É a percepção de que a vida é mais do que um contracheque mensal. É a compreensão de que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é uma necessidade, não um luxo.
É exatamente esse pensamento que impulsiona um dos maiores movimentos do mercado de trabalho nos últimos anos. Esse fenômeno, que tem se espalhado por diversos países ao redor do mundo, é o resultado de quando muita gente percebe que não está satisfeito com o seu emprego, e chega à conclusão que o melhor a se fazer é pedir demissão, e procurar algo melhor, levando ao pé da letra a expressão os incomodados que se retirem. Essa onda de demissões voluntárias já atingiu países como Estados Unidos, China, Reino Unido e até mesmo o Brasil.
Mas por que exatamente, de uma hora pra outra, as pessoas resolveram se demitir, mesmo em países onde a oferta de empregos não é exatamente abundante? E o que tem acontecido com aqueles que resolveram largar seus empregos em busca de melhores condições: eles estão finalmente felizes? São muitas as razões pelas quais as pessoas deixam seus postos de trabalho para começar uma nova vida.
Motivos financeiros, insatisfações de natureza pessoal e situações de mudança podem ser alguns dos motivos que nos levam a refletir sobre qual é a nossa posição atual e onde queremos chegar. Seja qual for a razão, um pedido de demissão quase nunca é fácil. Mas nos últimos anos, algumas coisas parecem estar mudando, e a realidade no mundo corporativo já não é mais a mesma de 10 anos atrás.
Um exemplo disso é que nos Estados Unidos, um novo movimento vem tomando forma e se espalhando rapidamente como um grande fenômeno. Conhecido como "Great Resignation" ou em uma adaptação para o português: A Grande Renúncia, esse novo cenário adquiriu força e vitalidade recentemente. Esse movimento revolucionário envolve um número crescente de indivíduos deixando para trás suas posições profissionais, nos mais diversos setores.
Os eventos de 2020 perturbaram a rotina, mas também convidaram cada indivíduo a mergulhar em uma espécie de introspecção, reavaliando prioridades e traçando novos objetivos de vida. Talvez por esse motivo, em 2021, mais de 47 milhões de americanos deixaram seus postos de trabalho voluntariamente. Ainda que o movimento de demissão voluntária em massa dos trabalhadores não tenha um começo preciso na linha do tempo, a mudança brusca com certeza desencadeou um efeito dominó em todo o país.
Mas os norte-americanos não foram os únicos a tomarem essa decisão: no Reino Unido, o pico de pedidos de demissão em massa ocorreu no segundo trimestre de 2022, quando foi registrado o recorde de mais de 400 mil desistências. Além disso, o número de pessoas inativas, que são aquelas que não estão trabalhando por força maior, por decisão própria ou simplesmente por não procurarem trabalho, também cresceu mais de meio milhão em relação a antes da pandemia. O termo “Great Resignation” foi cunhado pela primeira vez em 2021 pelo renomado professor de administração Anthony Klotz, da Texas A&M University, que realizou estudos mais profundos sobre a saída de centenas de trabalhadores dos seus postos de trabalho.
Segundo ele, a situação atípica enfrentada naqueles anos levou a uma reflexão mais aprofundada sobre “onde, como e por que trabalhamos? ” O tempo livre, que antes era escasso, veio como uma tela em branco para que milhões de pessoas pudessem pensar num novo quadro de possibilidades. Mas esse cenário causou não somente a movimentação de saída dos trabalhadores como também levou as grandes empresas a repensarem suas jornadas de trabalho.
Pra convencer os colaboradores a manterem seus cargos, algumas medidas foram tomadas. Mais empresas começaram a priorizar o bem-estar de seus funcionários e propor jornadas reduzidas ou até mesmo o trabalho remoto — modalidade que caiu como uma luva nos tempos do distanciamento social. Ao que parece, o mundo do trabalho como ele era já não atraía tanto quanto antigamente, a velha cultura corporativa do funcionário dentro da empresa, sentado à sua mesa e engajado somente com a produtividade da equipe já não é mais tão bem vista.
Mas seria apenas a busca por novas oportunidades que levaria essas pessoas a não aceitarem mais alguns comportamentos ou as novas gerações são simplesmente preguiçosas e sensíveis demais? Pode até parecer frescura, mas não é. A sociedade moderna mudou e demanda uma incessante busca por produtividade, onde cada minuto se torna precioso demais pra desperdiçar.
Afinal, tempo é dinheiro. A competição por postos de trabalho está se tornando cada dia mais acirrada, enquanto, por outro lado, milhões de trabalhadores enfrentam uma carga exaustiva que, frequentemente, parece não fazer sentido e nem estar alinhada com os objetivos pessoais da grande maioria. O que nos leva a crer que o fenômeno das demissões voluntárias em massa não é recente e nem tampouco foi motivado pela pandemia, mas sim por uma ordem de fatores que a antecedem.
Já em 2017, uma pesquisa do Instituto Gallup, revelou que mais de 50% da força de trabalho americana estava insatisfeita com o trabalho e, consequentemente, em busca de novas oportunidades. O que era favorecido por uma taxa de desemprego de quase 5% e uma onda de novas contratações. Outra pesquisa do mesmo instituto realizada em 2019, revelou que o índice de trabalhadores que se consideravam dedicados ao serviço era de apenas 14% entre os americanos e 15% globalmente, evidenciando a falta de conexão entre os trabalhadores e seus empregos.
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que alguns fatores podem impulsionar essa movimentação como: a falta de alinhamento entre o trabalho e os valores e objetivos pessoais, a ausência de oportunidades de crescimento na carreira, a sobrecarga de trabalho exaustiva e a falta de autonomia e controle sobre as responsabilidades individuais. Esses elementos combinados criam um ambiente propício para a desmotivação e minam o engajamento de qualquer trabalhador. Todos esses fatores combinados geralmente levam a consequências psicológicas muito maiores à longo prazo, como a síndrome de Burnout — também conhecida como “síndrome do esgotamento profissional” — que se tornou um fenômeno em larga escala nos mais diversos ambientes de trabalho.
Uma pesquisa da Stress Management Association apontou que em 2019, mais de 30% da população economicamente ativa do mundo enfrentava o problema de esgotamento por estresse no ambiente de trabalho. Com a pandemia, esse número subiu exponencialmente: em países como o Brasil, nos anos de 2021 e 2022, mais de 80% da população afirmou se sentir verdadeiramente esgotada após um dia de trabalho. Além do esgotamento, sentimentos de frustração também foram recorrentes em mais de 50% dos trabalhadores.
No caso das mulheres, o cenário dos anos de 2021 e 2022 foi ainda pior: o isolamento social acentuou consideravelmente as dificuldades enfrentadas pelo público feminino, que se viu sobrecarregado com responsabilidades adicionais em relação aos homens. Com o fechamento das escolas e o aumento do número de pessoas doentes, a necessidade de cuidar dos familiares recaiu em grande parte sobre as mulheres, resultando em um acréscimo significativo de tarefas. Mais de 40% delas relataram trabalhar ainda mais durante o período de quarentena.
É fato que as relações de trabalho foram transformadas e em alguns casos precarizadas, se intensificou o estresse e em consequência a frustração dos trabalhadores. Mas uma pesquisa feita em 2022, com brasileiros pela consultoria de recursos humanos EDC Groups, mostrou novamente que o desejo de transição não foi meramente uma resposta à necessidade. Os números apontam que mais da metade dos entrevistados de vários setores já havia perdido o interesse pela atividade que desempenhava antes mesmo do período de isolamento.
Nesse período, muitas pessoas acabaram descobrindo novas habilidades ou até mesmo aptidão para desempenhar novos papéis dentro do seu ambiente de trabalho, afinal, a necessidade de se adaptar pra que a economia continuasse operando tirou muitas pessoas da zona de conforto. Além da insatisfação de quem já estava no mercado, um estudo realizado pelo Linkedin no primeiro semestre de 2023, quase 70% dos jovens americanos da Geração Z, também conhecidos como nativos digitais, afirmaram que pretendem deixar seus empregos ao longo do ano. Essa tendência aponta que mesmo após a superação da crise de saúde mundial, os jovens trabalhadores seguem insatisfeitos e buscam novas oportunidades e ambientes profissionais mais alinhados com suas aspirações e valores.
Não é de se surpreender quando pensamos que a Geração Z é a mais instruída da história, o que naturalmente os leva a buscar um senso de propósito em suas carreiras. Diante de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e dinâmico, essa geração busca se destacar e encontrar um equilíbrio entre suas ambições profissionais e uma vida com significado. Isso pode ser confundido com uma geração que é preguiçosa e não gosta de trabalhar, mas no fim o que eles querem é só satisfação pessoal.
Mas além disso, os fatores pelos quais as pessoas estão renunciando se diversificaram graças à novas perspectivas. Um exemplo disso é que alguns profissionais não querem mais aceitar posições que exijam a presença constante no local de trabalho, por entenderem que em alguns casos específicos, o trabalho remoto supre sim as principais demandas. Em países onde o custo de vida é relativamente baixo e as ofertas de emprego consideráveis, buscar uma recolocação profissional que esteja alinhada com seus valores e que te satisfaça é um caminho quase que lógico.
Já em um cenário econômico de um país onde o custo de vida ainda é alto e onde as taxas de desemprego ainda são elevadas, é de se considerar que as pessoas tenderiam a segurar mais as pontas e aceitar posições mais precárias de trabalho. Mas isso não é o que mostra pesquisas realizadas em países como Itália e Espanha. No Brasil esse movimento já chegou, mas dados mostram que nesse país o perfil do movimento é um pouco diferente.
No Brasil, trabalhadores também estão optando por abandonar suas carreiras. O fenômeno da Grande Renúncia, revela um retrato claro de mudança que supera barreiras e econômicas antes tidas como limitadores sociais, parece que o medo de trabalhar sem propósito superou o medo de não trabalhar. Na Espanha, um país onde o índice de desemprego chegou a ultrapassar 13% em 2022, o movimento de saída voluntária dos trabalhadores começou a ganhar força no mesmo ano, ainda que de maneira mais tímida que em comparação aos Estados Unidos, ainda assim foi capaz de chamar a atenção.
O governo espanhol começou a demonstrar certa preocupação quando se deu conta que quase 110 mil vagas de emprego não tinham sido preenchidas. Em contraste, mais de 30 mil pessoas desistiram voluntariamente dos seus empregos em 2021 no país europeu. Na Itália, quase meio milhão de pessoas optaram pela demissão voluntária, apenas no segundo trimestre de 2021.
O desemprego por lá quase atingiu os 10% da população economicamente ativa, mas isso não impediu uma tendência bastante curiosa: muitos jovens e empresários de setores diversos decidiram largar a vida agitada das cidades pela tranquilidade do campo. Dentre os principais motivos para deixar a cidade e procurar o campo, alguns trabalhadores relataram o estresse do dia a dia e as horas de trabalho frenético que pareciam não ter fim. O fenômeno da Grande Renúncia também chegou ao Brasil, ao mesmo tempo que o desemprego afetava mais de 12 milhões de brasileiros, segundo dados oficiais do governo.
Mas o fato é que por aqui, a onda de demissões acontece de uma forma um pouco diferente. De acordo com dados da agência de consultoria internacional Blue Management Institute, no Brasil, a maioria das demissões ocorreu entre profissionais com ensino superior completo, um contraste com o que aconteceu nos Estados Unidos, onde até mesmo trabalhadores menos qualificados têm abandonado seus empregos. Essa diferença de padrão entre os dois países revela nuances interessantes do fenômeno da Grande Renúncia em cada contexto.
Só em 2022, quase 7 milhões de brasileiros pediram demissão de forma voluntária — o que equivale à população inteira do Estado do Maranhão — e representa um terço do total de desligamentos registrados em todo o país, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Entre os trabalhadores com certificado de pós-graduação, a demissão voluntária ultrapassou os 50%. De acordo com o economista da agência LCA Consultores, Bruno Imaizumi, esse movimento se deve ao fato das pessoas estarem normalizando suas rotinas e procurando empregos mais condizentes com suas áreas de formação.
Para Bruno, existem dois “Brasis” no mercado de trabalho formal: a grande maioria é composta por aqueles trabalhadores de base, com pouca formação, mas aqueles que têm um pouco mais de qualificação acabam exercendo maior poder de barganha. A movimentação de profissionais tem atingido todos os setores do mercado, mas em especial, o de tecnologia, que ainda enfrenta maior escassez de profissionais com mão de obra qualificada, o que de certa forma, favorece os profissionais que buscam se recolocar nesse setor. Com mais de 200 mil posições em aberto, a alta demanda por profissionais acaba criando um ambiente de “guerra” por mão de obra, fazendo com que oportunidades muito boas surjam a todo momento e fique a critério dos profissionais selecionar a melhor.
Além disso, há também a crescente ameaça das empresas estrangeiras que estão recrutando profissionais brasileiros para trabalhar e residir no exterior, ou até mesmo oferecendo a possibilidade de trabalho remoto a partir do Brasil. Países como Portugal, Irlanda e Canadá são alguns dos exemplos mais proeminentes deste movimento. Essa nova dinâmica no mercado de trabalho amplia ainda mais as opções disponíveis para os profissionais brasileiros, abrindo portas para oportunidades internacionais e melhores possibilidades de remuneração.
A competição por talentos qualificados transcende fronteiras, e os profissionais agora têm a possibilidade de buscar carreiras internacionais sem precisar deixar o país fisicamente. De uma maneira geral esse movimento mostrou que o trabalhador não quer mais viver somente para trabalhar, e principalmente, quer encontrar flexibilidade nas jornadas de trabalho, o que leva a uma busca por esse equilíbrio e a coragem de encarar novas oportunidades. Em diversos países, pessoas de diferentes classes sociais experimentaram a onda da Grande Renúncia, que gerou uma verdadeira reviravolta no mundo do trabalho como conhecíamos.
Com um ar quase romântico e utópico, esse movimento parecia a resposta para os pesadelos do trabalhador, mas existiam alguns dados nas entrelinhas dessas pesquisas. Já em 2021 um estudo americano apontou que 80% dos funcionários que deixaram seus empregos se arrependeram. A agência de recursos humanos Paychex, que realizou a pesquisa, divulgou que todos os entrevistados estão empregados atualmente, mas que demoraram meses para se recolocar no mercado.
E pelo visto, as coisas não mudaram tanto assim: aqueles que pediram pra sair durante a Grande Renúncia têm pouco mais de 10% de chance de ficarem mais satisfeitos com os novos salários do que com o que ganhavam antes. Metade dos trabalhadores respondeu que está satisfeita com o seu novo local de trabalho, enquanto para os mais jovens da Geração Z, questões como saúde mental e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional não melhoraram tanto assim. Uma demissão vai fechar um ciclo profissional, e isto pode gerar consequências significativas em diversas esferas da vida pessoal e profissional.
Ter um plano de ação bem estruturado é importante, com objetivos claros e entendimento dos caminhos que precisam ser traçados pra se chegar onde deseja. Tentar estabelecer um diálogo com o empregador deve ser o plano A na maior parte das vezes, já que nenhuma empresa quer perder um bom funcionário, e o desgaste será de ambas as partes. Mas com certeza, o movimento da Grande Renúncia trouxe um alerta ao mercado, sobre modelos tóxicos de gerenciamento, e um alerta aos trabalhadores, mostrando que nem todas as tendências de mercado se confirmam, afinal, nem sempre a grama do vizinho é mais verde, e é essencial estar consciente que altas expectativas podem não ser correspondidas em uma nova posição ou empresa.
E aí, o que você acha desse movimento que está mudando conceitos e fazendo com que muitas pessoas simplesmente larguem seus empregos para um estilo de vida menos corrido? Você vê algum benefício nisso? Comenta aqui abaixo e dá uma olhada no que o pessoal tá falando sobre isso.
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