Maioridade Penal | Nerdologia

Sejam bem vindos ao Nerdologia! Eu sou Atila: biólogo, pesquisador e ainda dá para trazer ciência para essa discussão. Hoje vamos entender para que funcionaria reduzir a maioridade penal ou não.

Você já teve que se controlar para continuar a fazer um trabalho muito chato? Ou parou para jogar só um pouco enquanto estava estudando e quando viu, já era de madrugada? Esse tipo de situação que demanda autocontrole.

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. . pode revelar muito mais do que você imagina.

No final da década de 1960, Walter Mischel, Yuichi Shoda e Monica Rodriguez. . .

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usaram marshmallows para estudar o autocontrole de crianças de 4 anos, na Universidade de Stanford. O teste era bem simples: o pesquisador entra na sala, deixa o marshmallow na frente da criança e diz: vou sair da sala e volto em 15 minutos; se você não comer esse doce até eu voltar, te dou mais um e você ficará com 2; mas se você comer esse doce, quando eu voltar você não ganha mais nada. É só a criança se controlar por alguns minutos e terá uma recompensa ainda maior.

Se não se controlar, perde um ganho futuro. Elas olhavam pro doce, cheiravam, lambiam, mexiam, se distraiam. .

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. e faziam o que podiam para não comer. Muitas não resistiram e comeram o marshmallow.

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. . em média 3 minutos depois de serem deixadas sozinhas.

Só uma em cada três crianças aguentava até o final. Bem simples, não? O grande achado de Mischel.

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. . foi voltar a estudar o que aconteceu com aquelas crianças mais de 10 anos depois.

Os adolescentes que foram crianças que tinham autocontrole. . .

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e conseguiram esperar para ganhar o segundo marshmallow. . .

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se desenvolveram com maior desempenho escolar,. . .

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menos problemas cognitivos, sociais e até menos estresse. A habilidade de se controlar e adiar a recompensa por algo melhor. .

. se estendia pras outras tarefas e situações na vida delas: conseguiam ficar em casa estudando quando precisavam, por exemplo. Acompanhando esse grupo até a idade adulta (mais de 40 anos depois dos primeiros testes),.

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. . aqueles que foram mais impulsivos e comeram o doce mais cedo.

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. . foram os que tiveram maiores problemas profissionais,.

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. . menor formação e até maior uso de drogas.

Repetições do experimento do marshmallow. . .

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ainda demonstraram que as crianças aceitavam esperar muito mais. . .

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quando tinham certeza de que seriam recompensadas. . .

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do que em situações incertas. Como Dan Gilbert comenta no já citado e ótimo "O que nos faz felizes". .

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. vivemos uma disputa com nossos impulsos. .

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. entre o que queremos no presente. .

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. e o que queremos no nosso futuro. Quando você escolhe não gastar o nosso dinheiro.

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. . com algo supérfluo agora, está guardando dinheiro pro seu "eu futuro".

Quando você não faz um trabalho que precisa fazer,. . .

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você está sacaneando o seu "eu futuro". Passamos nossa infância na escola,. .

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. não por quê ela é legal,. .

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. mas sim por quê quando adultos, vamos precisar do conhecimento que ganhamos lá. E se o futuro é incerto, damos menos peso ainda.

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. . para o valor de esperar agora.

Esse é um dos propósitos da pena criminal: dar uma punição para que você não ceda ao impulso agora. . .

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pensando no que o seu "eu futuro" vai sofrer por anos. . .

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se você for parar na cadeia. Quando discutimos se menores de 18 anos deveriam seguir penas. .

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. essa é uma das justificativas que se dá para reduzir a maioridade penal: se os adolescentes souberem que serão punidos,. .

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. não vão cometer os crimes que pensavam em cometer. Afinal, se já são maduros o suficiente para cometer o crime,.

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. . são maduros o suficiente para sofrer as consequências.

O problema com esse raciocínio. . .

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é que ele depende da capacidade de quem pensa em cometer o crime. . .

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de adiar o que quer agora para não prejudicar o "eu futuro", justamente uma habilidade que a essa altura você deve imaginar. . .

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que não é muito desenvolvida entre os mais propensos a cometer crimes. Os Estados Unidos passaram por esse problema. .

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. quando debatiam se condenariam à morte Cristopher Simmons,. .

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. que aos 17 anos assassinou cruelmente uma mulher. O relatório neurológico apresentado por 8 associações médicas foi bem claro: adolescentes ainda não amadureceram o lobo frontal,.

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. . responsável por julgar punições e conter atitudes impulsivas.

Aliás. . .

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qualquer passeio no YouTube. . .

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é suficiente para mostrar que adolescentes são péssimos em julgar as consequências de atitudes. Longe de justificar o crime,. .

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. os médicos julgaram que não adianta ameaçar adolescentes. .

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. com uma punição maior ou pior. .

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. que eles provavelmente não vão levar isso em conta. Um estudo de mais de 54 mil homicídios cometidos por adolescentes e adultos na Califórnia.

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. . concluiu o que vários outros trabalhos reforçam: homicídios são explicados muito mais por pobreza e falta de perspectiva.

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. . do que pela idade de quem comete o crime.

Tanto que assassinatos cometidos por adolescentes. . .

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são raros entre os mais ricos. Esses crimes são mais comuns entre jovens. .

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. simplesmente porque populações mais pobres, onde eles acontecem,. .

. tem uma proporção maior de jovens. Menores de idade são capazes de crimes horrendos.

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. . e muitos que os cometem.

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. . não deveriam conviver com a sociedade.

O próprio Chris Simmons está cumprindo prisão perpétua pelo que fez. A prisão, aqui, é uma proteção pra sociedade. .

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. e uma punição pro que ele fez. Se você busca uma punição ou uma vingança.

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. . que traga um senso de justiça.

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. . contra o crime que o menor já cometeu,.

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. . reduzir a maioridade pode ser um ótimo caminho para aplicá-lo em mais gente.

Mas se você quer prevenir os crimes cometidos por menores,. . .

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ameaçar adolescentes com uma punição futura. . .

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não vai mudar a propensão de cometerem os crimes agora. A punição está em um futuro muito distante. .

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. pra diferenciar entre 20, 30, ou 40 anos presos. Quem consegue se conter agora em favor de um benefício futuro.

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. . nem estaria cometendo um crime para começar.

De repente, dar educação e perspectiva de vida para quem ainda não cometeu crimes. . .

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poderia dar os motivos para que eles nunca cometam. . .

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e a mentalidade para reconhecer o valor disso. Se conter agora é um impulso bem menos controlável. .

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. quando não há nenhum marshmallow a ser perdido. .

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. nem outro a ser ganho no futuro. Não se esqueça de curtir e compartilhar o vídeo.

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Novamente. . .

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agradecimentos ao autor de obras de divulgação científica "Livro dos Milagres" e "Pura Picaretagem". . .

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Carlos Orsi. . .

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e ao professor e autor do blog Cognando. . .

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André Souza. (Jovem Nerd) - Esse Nerdologia foi um oferecimento da Nerdstore. .

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