No Brasil, o racismo é um tabu. Muitos brasileiros gostam da ideia de que não somos um país racista. Infelizmente, os dados evidenciam uma realidade muito mais desagradável.
No vídeo de hoje, falaremos sobre alguns fatos conhecidos a respeito do racismo contra pessoas negras no Brasil. Fato número 1: o racismo contra pessoas negras no Brasil está profundamente enraizado no modo como a nossa sociedade funciona. Isso já foi tão bem estabelecido e naturalizado por aqui que muitos podem ter dificuldade de enxergá-lo ou reconhecê-lo mesmo em situações escancaradas.
Essa dificuldade pode surgir por vários motivos, tais como a pessoa ter uma existência privilegiada que a proteja dessa realidade ou ter um conhecimento incompleto a respeito da história do racismo no Brasil e dos dados que mostram a desigualdade racial que existe aqui. Fato número 2: o racismo parte do princípio de que um grupo racial é inferior a outro, mas suas consequências vão muito além disso. Um sistema de opressão pode se estabelecer quando um grupo dominante categoriza pessoas dentro de grupos raciais e usa o seu poder para desvalorizar, desempoderar ou restringir o acesso desses grupos a oportunidades e recursos valiosos.
As ideias racistas podem ser difundidas de várias maneiras pela sociedade e ganhar um nível de profundidade tão grande em uma cultura ao ponto de membros dos próprios grupos desvalorizados compartilharem delas. Fato número 3: apesar da origem do racismo contra negros no Brasil ser mais antiga, a sua presença é bem atual. Ele é uma consequência de ideias sobre a inferioridade de negros em relação a brancos que se fortaleceram durante os períodos de colonização e escravização, as quais se difundiram desde então e continuam se difundindo.
O Brasil só aboliu oficialmente a escravização à qual os negros foram submetidos desde o período colonial há 132 anos. Sim, faz pouco tempo e isso ajuda a entender alguns dados atuais. Por exemplo, pessoas negras têm, em média, menor nível de escolaridade, maior nível de desemprego e rendas menores do que pessoas brancas.
Durante a escravização, negros eram vistos como inferiores. Depois que ela foi abolida oficialmente, não é como se isso tivesse mudado magicamente da noite para o dia. Na verdade, é necessário pouco esforço para encontrar sinais na internet de que essa visão persiste.
Deixados à própria sorte depois da abolição e sofrendo diversos tipos de opressão, desfavorecimentos e violência ao longo de gerações, não surpreende que os índices de desigualdade racial que existem por aqui sejam tão gritantes. Fato número 4: o racismo se manifesta de várias formas em uma sociedade, tais como na cultura, nas instituições e nas pessoas. O racismo cultural se refere a todas as formas pelas quais o racismo é estimulado e mantido em uma cultura.
Isso envolve todos os valores, os símbolos, os aspectos linguísticos e as ideias que reforçam o racismo e que criam as condições sociais para que negros sejam sistematicamente discriminados. Esse tipo de coisa te atinge todos os dias por meio da mídia, da internet ou dos esterótipos de negros presentes nos filmes que assiste, por exemplo. Como o racismo é muito difundido, o seu cérebro se acostuma, até mesmo de forma inconsciente, com muitas ideias racistas que poderão afetar seu comportamento futuro.
Por isso, é perfeitamente possível que uma pessoa não tenha consciência plena de que possui concepções racistas na própria mente e acabe discriminando alguém, ou seja, tratando essa pessoa de forma diferenciada por percebê-la como parte de um grupo social. É exatamente isso o que acontece com muita gente. Quando se vive em uma cultura racista, a tendência é que as pessoas reproduzam esse racismo no cotidiano mesmo que não tenham a intenção de agir assim.
Um dos reflexos disso é o racismo institucional, ou seja, o racismo presente nas leis e nas práticas das instituições que compõem uma sociedade. No Brasil, existem várias práticas institucionais que ajudam a perpetuar o racismo e podemos observar isso em muitas ações da polícia. Negros são muito mais frequentemente vistos como suspeitos por policiais do que brancos e 75% das pessoas que morrem em ações policiais são negras.
Fato número 5: o racismo prejudica e mata a população negra. Pelo modo como são discriminados rotineiramente, negros possuem uma maior probabilidade de ter o seu bem-estar reduzido, exibir sintomas depressivos e terem menor acesso a um tratamento médico de qualidade do que brancos. 75% das vítimas de assassinatos no Brasil são negras.
Essas pessoas têm 2,7 mais chances de serem assassinadas do que brancos e esse padrão veio aumentando nos últimos anos. A pandemia do coronavírus também vem escancarando essa desigualdade racial. Um estudo conduzido por pesquisadores das universidade de Cambridge, Oxford e do Espírito Santo, que levou em conta dados de mais de 11 mil casos de morte por covid-19 no Brasil, indicou que a mortalidade era consideravelmente maior em regiões do norte e entre negros e pardos em comparação com brancos.
Esses dados fazem sentido se levarmos em conta que a mortalidade mais elevada ocorreu em regiões com um menor desenvolvimento socioeconômico em comparação com as outras e entre as populações que costumam ter menos acesso a serviços de saúde de qualidade. Quando alguém fala que "vidas negras importam" é porque a vida dessas pessoas está realmente em maior risco. As vidas de outras pessoas também importam, mas além disso ser óbvio, ignorar os dados sobre a realidade racista que vivemos aqui é mais uma manifestação do próprio racismo e que contribui para a sua manutenção.
Brancos e negros no Brasil não têm a mesma chance de serem abordados por policiais, vigiados por seguranças em supermercados, de concluírem um curso universitário ou ocuparem cargos de importância em instituições. Em uma cultura racista, não basta repudiar o racismo, é necessário que todos nós tenhamos uma postura antirracista ativa e explícita. Se quiser entender mais sobre a importância disso, leia o "Pequeno manual antirracista" da Djamila Ribeiro.
Se gostou do vídeo, clique no joinha, inscreva-se no canal e clique no sininho para acompanhar os nossos próximos vídeos. Assista ou reassista o nosso vídeo sobre preconceito, estereótipo e discriminação.