conheça-se a história extraordinária de Dona Jovita ela relata Como foi a vida de uma Parteira nos turbulentos anos 60 os desafios os dramas e os milagres que ela presenciou vão te emocionar Ela guardou segredos de tirar o fôlego descubra como uma decisão tomada no calor do momento teve consequências que mudou o rumo de sua vida para sempre o desfecho desta história é simplesmente inacreditável deixa o seu like e se inscreva no canal se ainda não for inscrito Olha só quem está aqui obrigada por me visitar vou te contar um pouco da minha vida eu já
tô com 83 anos nas costas e carrego comigo o peso de milhares de vidas não não sou uma assassina ou algo do tipo sou Parteira ou melhor era por mais de três décadas minhas mãos foram as primeiras a tocar tantos bebês que Perdi as contas tem gente que pergunta se eu lembro de todos que nada como é que ia lembrar mas os que não consegui salvar Ah esses eu não esqueço nunca cada rostinho cada chorinho que não chegou a dar é um peso que uma Parteira carrega se eu fechar meus olhos agora eu consigo ver
eles minha mãe Teresa Aprendeu o Ofício com minha avó Lourdes e eu era a quarta geração seguida de Parteira da minha família imagina só quatro gerações de mulheres trazendo vida ao mundo era uma tradição forte passada de mãe para filha como um segredo sagrado eu já tinha uns 11 anos quando minha mãe me levou às pressas para ver um parto e ajudar a minha avó Betina fez o mesmo com ela mas o primeiro parto que a mãe ajudou foi Aos 9 anos nunca vou esquecer a primeira vez que vi a cabecinha de um bebê saindo
Ave Maria fiquei tão assustada que passei noite sem dormir direito Aquilo me marcou de um jeito que você nem imagina eu ficava pensando como é que pode uma coisa dessas nessa época eu vivia dizendo para minha mãe que nunca ia me casar Sabe porquê Porque ela sempre falava que quando a gente casava vinham filhos e depois de ver aquilo tudo eu não queria nem em passar por isso fiquei com tanto medo que disse PR minha mãe que não queria mais acompanhar ela nos partos Nossa como ela ficou triste e disse minha filha você vai quebrar
o ciclo de parteiras da nossa família aquilo Doeu no meu coração viu ver minha mãe daquele jeito decepcionada mas eu era só uma menina assustada não entendia direito o que estava acontecendo só sabia que tinha medo muito medo certa vez eu escutei ela falando pra comadre Cássia que ia esperar mais um tempo para me levar que talvez eu fosse nova demais e foi isso quando ela estava saindo ela perguntava se eu queria ir junto eu sempre dizendo não a minha irmã Marilda já não quis também ficou traumatizada ela trabalhava na fábrica de fósforos então a
mãe apostava todas as suas fichas em mim eu via nos olhos dela a esperança toda vez que me convidava era como se ela esse ess medo de perder não só a filha mas toda a tradição da família isso me pesava muito eu me sentia culpada por desapontar ela aí quando eu tinha 13 anos decidi dar uma chance ver se tinha mudado de opinião lembro como se fosse hoje era uma noite quente de verão e a mãe foi chamada às pressas para ajudar a Dona Zulmira que tava tendo o quarto filho eu disse Mãe posso ir
junto os olhos dela brilharam de um jeito que nunca vou esquecer nessa época ela já nem estava me chamando mais ela pegou a maleta dela me deu um chale para cobrir os ombros e lá fomos nós pela estrada de terra chegando lá a cena foi forte não vou mentir o cheiro os gritos o sangue mas por incrível que pareça eu não entrei em Pânico fiquei ali observando cada movimento da minha mãe como ela acalmava a Dona Zulmira como suas mãos pareciam saber exatamente o que fazer e quando o bebê nasceu aquele choro forte enchendo o
quarto eu senti algo diferente não era mais medo era facino vi minha mãe segurando aquela coisinha pequena limpando cuidando e pensei é isso que eu quero fazer naquela noite voltando para casa eu disse para minha mãe mãe a senhora me ens quero aprender tudo ela parou no meio da estrada me abraçou forte e eu juro que vi uma lágrima escorrer pelo rosto dela foi assim que começou de verdade daí em diante eu acompanhava ela em todos os partos aprendia cada detalhe cada segredo passado por gerações aos poucos O medo foi dando lugar à confiança e
eu entendi porque minha mãe amava tanto o que fazia então quando eu tinha 1 anos a mãe finalmente me deixou fazer um parto sozinha lembro como se fosse agorinha mesmo cada detalhe daquele dia tão especial era uma tarde quente de verão o sol já tava se pondo quando chegou o recado Dona Celeste lá da Fazenda dos Oliveira tava com as dores do parto prestes a dar à luz como de praxe Saímos às pressas Chegamos na casa dos Oliveiras já de noitinha o cheiro de café forte misturado com o aroma de ervas que a mãe sempre
levava preenchia a sala Dona Celeste estava deitada numa cama improvisada na sala cercada por mulheres da família o marido dela andava de um lado pro outro nervoso que só a mãe avaliou bem a situação da moça disse que seria tranquilo mas eu já sabia também viu entendia como era só de encostar na barriga sabia a posição que o bebê estava e pelo toque para ver a dilatação mesmo assim Meu Coração batia forte quando a mãe disse Jovita Essa é sua minha filha quando me viu tão Nova Dona Celeste ficou com medo de eu fazer o
parto os olhos dela se arregalaram e ela apertou a mão da mãe dela mas minha mãe com aquela voz Calma que só ela tinha acalmou ela dizendo que estaria ali do lado se precisasse vi a confiança voltar aos olhos de Dona Celeste e isso me deu força cimei dela sentindo o cheiro de suor misturado com medo toquei sua barriga sentindo os movimentos do bebê tá tudo certo eu disse tentando passar confiança e comecei a trabalhar as horas passaram devagar eu orientava Dona Celeste a respirar a cada contração o corpo dela se curvava e o suor
escorria por sua testa sentia o cheiro forte de alecrim que minha mãe havia queimado para purificar o ambiente o tempo todo sentia o olhar dela sobre mim mas não era um olhar de preocupação era de orgulho Então finalmente vi a coroa da cabeça apontando meu coração disparou Mas minhas mãos estavam firmes com jeitinho guiei aquela cabecinha para fora força Dona Celeste eu dizia tá quase e de repente num momento mágico o bebê escorregou para as minhas mãos Ah minha Santa Que lindo de ver e ouvir o chorinho era uma menina forte e saudável com uma
cabeleira preta que nem a mãe é uma menina anunciei e a sala explodiu em alegria o pai que estava quase desmaiando de nervoso começou a chorar de felicidade cortei o umbigo como a mãe tinha me ensinado limpei a pequena com um pano macio que minha mãe me passou e a entreguei pra mãezinha o nome dela é rosa Dona Celeste disse com lágrimas nos olhos a sala tava cheia os familiares todos querendo ver a pequena Rosa o pai da bebê tava feliz da vida era o segundo filho deles depois fui cuidar da placenta retirei com cuidado
e Entreguei pro marido enterrar como era de costume a mãe tinha me ensinado o significado da placenta que eu achei lindo era o ciclo da vida e morte sabe a placenta que nutriu o bebê durante a gestação era vista como parte importante desse ciclo enterrá-la era uma forma de reconhecer a importância desse órgão e de garantir que ele retornasse à Terra completando assim um ciclo natural além disso em algumas culturas acreditava-se que a placenta continha a alma da criança ou parte da energia da mãe enterrá-la em um local específico ou com determinados rituais era uma
forma deeg a mãe e o bebê de energias negativas ou de espíritos malignos enquanto o marido de Dona Celeste saía para enterrar a placenta eu fiquei ali cuidando dela e da pequena Rosa ajudei ela a amamentar pela primeira vez vendo aquela coisinha miúda agarrar no peito da mãe com força naquele momento olhei para minha mãe ela estava encostada na porta me observando com um sorriso no rosto eu sabia queha feito bem tinha honrado a tradição da minha família tinha trazido uma vida ao mundo com minhas próprias mãos Saímos de lá já de manhãzinha e na
carroça a mãe abriu um sorriso largo para mim o sol nascia quando voltamos para casa e eu me sentia diferente não era mais uma menina era uma Parteira de verdade foi então que a mãe pegou um embrulhinho de pano que o seu João pai da bebê rosa tinha entregado para ela antes de sairmos ela desembrulhou com cuidado e vi que eram algumas notas de dinheiro e umas moedas Olha só minha filha ela disse os olhos brilhando esse aqui é o seu primeiro pagamento como Parteira mas antes Olha só como você se sujou eu olhei para
baixo e vi que minha roupa estava toda manchada de vermelho minhas mãos e braços já estavam limpos eu tinha lavado bem antes de sair mas o vestido Ah esse tava um horror sujo até a Barra dele e olha que eu usei um avental e toalhas a gente caiu na risada ali mesmo na carroça um dia você vai conseguir fazer um parto sem nenhuma sujeirinha na roupa minha filha a mãe disse com aquele jeitinho dela de quem sabia das coisas eu balancei a cabeça pensando comigo que ia demorar um bocado para eu ficar tão boa quanto
ela naquela época as coisas funcionavam diferente sabe não tinha esse negócio de plano de saúde ou de pagar com cartão era tudo na base da confiança e do que as pessoas podiam dar a mãe continuava me explicando que o pagamento variava muito às vezes era em dinheiro mesmo como naquele dia outras vezes a gente recebia em forma de alimentos uma galinha uns ovos um saco de feijão tinha família que pagava com serviços também seu Antônio o carpinteiro uma vez fez uma mesa nova pra gente em troca do parto que a mãe fez pra mulher dele
O importante ela dizia é que a gente nunca deixava de atender alguém por causa de dinheiro se a família não podia pagar a gente ia do mesmo jeito me lembro que Fiquei impressionada com a quantidade que tinha ali naquele embrulhinho parecia muito para mim mas a mãe explicou que era porque tinha sido um parto longo que tinha durado a noite toda ela disse me entregando o dinheiro esse aqui é seu você fez o trabalho você merece fiquei sem palavras era a primeira vez que eu ganhava meu próprio dinheiro fruto do meu trabalho como Parteira senti
um orgulho danado a mãe continuou me explicando como as coisas funcionavam a gente nunca cobrava um valor fixo cada família dava o que podia os mais ricos geralmente pagavam mais e isso compensava quando a gente atendia as famílias mais pobres que não podiam pagar nada ela me contou que às vezes nas famílias mais abastadas além do pagamento em dinheiro a gente ganhava presentes também um chale bonito um par de sapatos novos coisas assim mas o mais importante ela sempre dizia é o respeito e a confiança que a gente ganha isso não tem preço naquela manhã
voltando para casa com meu primeiro pagamento no bolso e a roupa toda suja eu entendi que tinha escolhido não só uma profissão de vida mas um modo de servir a comunidade de estar presente nos momentos mais importantes da vida das pessoas e também fiz uma promessa que com o tempo eu sairia dos partos com a roupa tão limpa Quanto minha mãe sempre conseguia quando chegamos em casa depois de um banho relaxante e merecido a mãe e eu fomos direto pra cozinha acendemos o fogão à lenha e começamos a preparar uma comida especial o cheiro gostoso
foi enchendo a casa enquanto a gente esperava o resto da família chegar do trabalho a mãe tava com um ar de quem guardava um segredo e eu mal podia conter minha animação primeiro chegou minha irmã Marilda ela entrou com aquele cheirinho de fósforo que sempre trazia da fábrica onde trabalhava parecendo cansada mas logo ficou curiosa com o movimento na cozinha depois chegaram meus dois irmãos mais novos João e Celso suados e cansados da colheita os dois vieram direto pra cozinha atraídos pelo aroma por último entrou o pai com aquele jeitão quieto dele ele tirou o
chapéu pendurou na porta e veio devagar até a cozinha farejando o ar com um sorrisinho no canto da boca A mãe pediu para todo mundo se reunir em volta da mesa antes de qualquer coisa ela disse vamos agradecer primeiro Jovita minha filha você faz a oração hoje pega de surpresa eu juntei as mãos e comecei Senhor agradecemos pelo alimento de hoje e por toda a bondade que o Senhor nos dá abençoe nossa família e fiz uma pausa olhando para minha mãe ela assentiu com a cabeça me encorajando então continuei e agradeço por me dar força
para fazer meu primeiro parto sozinha hoje foi aí que a cozinha explodiu em surpresa e alegria Marilda Quase derrubou a cadeira de tanto que pulou Para me abraçar os meninos começaram a bater palmas e gritar viva e até o pai abriu um sorriso de orelha a orelha tô orgulhoso de você filha ele disse me dando um abraço apertado eu tava com o rosto quente de vergonha mas por dentro meu coração estava explodindo de alegria todo mundo queria saber como tinha sido faziam mil perguntas ao mesmo tempo a mãe serviu a comida tinha feijão tropeiro arroz
sol uma galinha caipira que ela guardava para as ocasiões especiais e até um doce de abóbora que era meu preferido a gente se fartou conversou riu Eu contei do parto de como tinha sido difícil mas maravilhoso ao mesmo tempo aquela noite ficou guardada na minha memória como uma das mais especiais da minha vida foi o dia em que eu realmente me tornei Parteira não só pelos meus atos Mas pelo reconhecimento da minha família e pela que recebemos e assim com a barriga cheia o coração quentinho e a alma abençoada eu fui dormir naquela noite sabendo
que uma nova fase da minha vida tinha começado uma fase de responsabilidade de cuidado com os outros Mas também de muita alegria e realização mal podia esperar pelo próximo parto pela próxima vida que eu ajudaria a trazer ao mundo Olha depois daquele primeiro parto as coisas não foram tão como eu pensava não achei que a mãe ia me deixar fazer tudo sozinha mas que nada parece que depois daquele dia só aparecia parto complicado cada vez que chamavam a gente era uma situação mais difícil que a outra a mãe achou melhor eu ficar mais como ajudante
dela aprendendo do que fazendo sozinha no começo confesso que fiquei um pouco chateada mas logo vi que a mãe tava certa Ave Maria como aparecia caso complicado teve parto que se não fosse a experiência da mãe nem sei o que teria acontecido lembro bem de uma vez que chegamos numa casa e a mulher tava com o cordão do bebê para fora prolapso do cordão umbilical a mãe explicou Nossa Senhora Aparecida Que susto que levei a mãe com aquela calma dela já foi agindo me ensinou que isso era coisa séria que o bebê podia ficar sem
ar Se o cordão ficasse apertado ela me pediu para segurar a cabeça do beb bebê enquanto ela tentava empurrá-lo de volta para dentro se a gente não fizesse nada o bebê podia morrer sufocado a gente fez o que podia a mãe ficou lá com a mão dentro da mulher segurando a cabecinha do bebê para não apertar o cordão eu rezava baixinho pedindo para Nossa Senhora proteger aquela criança foi um parto demorado e difícil mas no fim graças a Deus o bebê nasceu chorando forte a mãe sempre dizia que cada choro de bebê era música PR
os ouvidos dela e naquele dia ela até saiu com a roupa toda suja às vezes dava certo outras vezes o jeito era trazer o bebê assim mesmo com muito cuidado lembro de uma vez que a mãe ficou horas tentando empurrar mas o bebê não virava a gente rezava muito no final o bebê nasceu de bumbum mesmo mas graças a Deus era grandinho e forte a mãe ficou aliviada mas muito cansada Nessas horas difíceis a gente usava tudo que sabia os conhecimentos que a mãe tinha aprendido com a avó e mãe dela e que agora passava
para mim a gente sempre levava a nossa sacola cheia de ervas tinha chá de canela para ajudar nas contrações camomila para acalmar os nervos da mãe e Arruda para casos de sangramento Ave Maria como esses chás eram preciosos a mãe também me ensinou várias posições para ajudar o parto Às vezes a gente botava a mulher de cócoras ou de quatro dependia de como o bebê tava sempre tinha uma corda ou um pano pendurado no teto pra mulher se segurar na hora de fazer força era o jeito natural como nossas avós faziam e cada Família tinha
seus costumes viu tinha gente que queria enterrar a placenta no quintal dizia que era para dar sorte pro bebê outras guardavam o cordão umbilical seco falavam que protegia a criança a gente respeitava tudo isso afinal não era só o corpo que precisava de cuidado mas a alma também a mãe sempre dizia que cada parto era uma lição e era mesmo a gente aprendia a reconhecer os sinais de perigo a sentir quando o bebê não tava na posição certa a saber quando era a hora de mandar pro hospital da cidade mas também aprendia a confiar nos
remédios da natureza e na força da fé não era fácil não tinha dia que eu chorava de cansaço e medo mas aí a mãe pegava na minha mão e dizia minha filha nós temos um dom Deus e Nossa Senhora nos escolheram para trazer vida ao mundo não podemos fraquejar e sabe de uma coisa ela tinha razão cada vez que eu via uma mãe abraçando seu filho pela primeira vez ou ouvia o choro de um bebê que a gente ajudou a nascer eu sabia que estava no caminho certo era difícil era arriscado mas era o que
Deus tinha preparado para mim a gente estava ali não só para trazer o bebê ao mundo mas para cuidar da mãe da família respeitar as tradições e passar adiante o conhecimento que nossas antepassadas tinham deixado pra gente a mãe me contava Cada história dos partos antigos que até arrepiava vou te contar algumas que ficaram gravadas na minha memória teve uma vez que uma mulher apertou tanto a mão do marido na hora das contrações que quebrou todos os dedos dele coitado e não era só isso não já teve mulher que mordeu o braço do marido com
tanta força que deixou cicatrizes das marcas dos dentes a mãe dizia que era a natureza agindo a força da vida querendo vir ao mundo Eu ria mas por dentro ficava impressionada se você é mãe e teve parto normal sabe bem do que eu tô falando é uma dor que não dá para explicar só quem passou sabe mas a mãe sempre dizia que depois que o bebê nascia parecia que a mulher esquecia de tudo é um dos mistérios da vida lembro de um caso particularmente impressionante uma mulher era tão forte que no auge de uma contração
agarrou a cabeceira da cama e arrancou um pedaço inteiro da Madeira Ficou ali segurando o pedaço como se fosse um troféu de guerra o marido dela ficou branco que nem papel pensando no que aquela força toda podia fazer com ele a mãe sempre dizia que no nosso tempo a gente já tinha mordomia viu Luz elétrica água encanada coisa que no tempo da minha bisavó nem se sonhava uma vez no meio da noite escura que nem breu minha bisavó foi chamada para um parto ela teve que ajudar uma mulher a dar a luz num celeiro porque
não dava tempo de chegar em casa imagina só ali no meio da Palha e dos bichos ela equilibrou a lamparina como pôde para enxergar mas a moça estava com tanta dor que numa contração mais forte Meteu o pé na luzinha a lamparina virou o querozene derramou e num piscar de olhos o feno pegou fogo foi um desespero só minha bisavó não sabia se acudia a moça ou se apagava o fogo acabou fazendo os dois ao mesmo tempo gritando pro marido da mulher trazer água enquanto ela continuava o parto no fim graças a Deus o bebê
nasceu bem e o fogo foi controlado mas o susto foi Grande tinha tambéms vezes que ela tinha que atravessar Rios cheios por causa da chuva para chegar nas fazendas mais distantes uma vez a canoa quase virou no meio do caminho ela agarrou a maleta de Parteira com toda força e rezou PR Nosa Senhora e não eram só os partos que davam trabalho não às vezes ela era chamada para cuidar de gente doente também numa época de febre amarela passou dias e noites cuidando de uma família inteira mal dormindo comendo o que dava outra que me
marcou foi o parto de gêmeos que aconteceu durante uma tempestade forte a luz acabou bem na hora crítica tivemos que trabalhar a luz de velas e lanternas quando o segundo bebê nasceu um raio caiu tão perto que iluminou todo o quarto Parecia um sinal Divino uma história que nunca vou esquecer essa foi com avó e a bisa elas me contaram de uma mulher que deu a luz no meio de uma enchente era época de chuvas fortes o rio tinha transbordado e a água já tava chegando nas casas Todo mundo estava fugindo às pressas a bisa
e avó estavam num bote ajudando a resgatar as pessoas avó que na época era só uma mocinha aprendendo o Ofício tava junto Foi Quando viram um casal numa situação desesperadora A mulher zfa estava nos últimos dias de gravidez e o marido dela o Zé tinha improvisado um bar com uma porta velha tinham amarrado umas cordas e uns galões vazios pros lados para ajudar a flutuar elas se aproximaram para ajudar o casal e foi aí que as dores do parto começaram imagina só ali no meio das águas turbulentas com a chuva caindo a Zefa começou a
ter contrações a bisa não pensou duas vezes pulou pro barco deles ela dizia que aquilo mal podia ser chamado de barco a vó ficou num bote pró o podia audar ali naquela porta velha balançando nas águas da enchente com a chuva caindo sem parar a bisa fez o parto não tinha nada do que ela costumava usar nem panos limpos nem água quente nada usou o que tinha as mãos a experiência e muita muita fé o beb nasceu forte chorando alto como se quisesse competir com o barulho da chuva era um menino ali naquela confusão toda
olhando pro céu que não parava de derramar água a bisa Helena disse esse aqui só pode se chamar Noé e sabe que o nome pegou aquele menino foi batizado de Noé e a história do Nascimento dele Virou lenda na região essas experiências me ensinaram que ser Parteira é mais que uma profissão é uma missão de verdade a gente precisa estar pronta para tudo porque quando uma vida quer vir ao mundo ela vem não importa as circunstâncias pode ser numa cama macia ou numa porta boiando na enchente o milagre da vida Acontece e nosso papel é
estar lá para receber cuidar e Celebrar e claro se fosse para contar todas as situações que as parteiras já passaram a gente fica aqui por uma eternidade às vezes eu penso que se juntasse todas essas histórias dava para escrever um livro inteiro cheio de aventuras emoções e milagres Conta aí nos comentários se você conhece alguma história de parto em casa porque hoje em dia a maioria é nos hospitais minha profissão está mais escassa que água no sertão antigamente a maioria era em casa com a Parteira da comunidade agora com tanto médico e hospital por aí
a gente quase não vê mais parto domiciliar é sempre interessante ouvir essas histórias elas nos lembram de como as coisas mudaram ao longo dos anos os anos foram passando e quando eu tava com 19 anos já tinha feito cinco partos sozinha foi nessa época que conheci o Dionísio ele tinha 20 anos e tava lá no parto da mãe dele a Dona Amélia Cristo Jesus aquela mulher era um caso a parte era o 17º filho dela que tava nascendo até hoje foi o recorde de filhos que a gente atendeu fui eu quem fez o parto graças
a Deus tava tudo tranquilo a apenas o cordão umbilical estava enrolado no pescoço mas isso era uma situação que eu já tinha enfrentado antes a Dona Amélia já estava acostumada cada ano um filho parecia que os bebês dela escorregavam que nem sabão tinha vezes que a gente chegava e ela já estava segurando o bebê a gente só cortava o cordão umbilical tirava a placenta e limpava tudo eu e a mãe tínhamos ido lá nos anos anteriores mas dessa vez foi diferente quando o bebê nasceu viu um rapaz que nunca tinha notado antes era o Dionísio
filho mais velho da dona Amélia ele ficou num canto do quarto quieto mas prestando atenção em tudo depois que o irmãozinho Caçula dele nasceu ele se ofereceu para trazer água limpa pra gente lavar as mãos foi só um instante mas quando nossos olhos se encontraram senti uma coisa estranha no peito já tinha visto muito rapaz novo e bonito nos partos os parentes das senhoras que estavam dando a luz mas ele foi diferente não sei explicar direito mas era como se algo tivesse mudado no ar Claro que não deixei ninguém perceber Afinal eu tava ali como
Parteira e tinha que manter o respeito mas confesso que fiquei um pouco sem jeito coisa que nunca tinha acontecido antes num parto tratei logo de me concentrar no meu trabalho cuidando da dona Amélia e do bebê mas de vez em quando pegava meus olhos procurando o Dionísio no canto do quarto enquanto eu arrumava as o diio ficou por perto ajudando a mãe dele a se ajeitar a gente trocou umas poucas palavras e foi aí que descobri que ele era encarregado lá na fábrica de fósforos onde minha irmã Marilda trabalhava ele falou que conhecia ela e
até elogiou o trabalho dela disse que a Marilda era uma das melhores funcionárias fiquei toda boba sabe não só porque ele estava elogiando minha irmã mas porque ele falava de um jeito tão respeitoso e os olhos dele nossa senhora Que olhos bonitos mas logo afastei esses pensamentos da cabeça Afinal a mãe sempre dizia Parteira não pode se engraçar com os homens da família que a gente atende era uma regra antiga para manter o respeito então engoli aquele sentimento e me concentrei no meu trabalho mesmo assim quando fui embora naquele dia levei comigo a lembrança daqueles
olhos e daquela voz gentil só que para minha surpresa na mesma semana a Marilda veio me falar que o encarregado dela estava perguntando de mim a tal Parteira jovem que fez o parto do irmão dele ela disse que ele estava todo orgulhoso contando para todos por lá como eu era habilidosa mesmo sendo tão nova falava que nunca tinha visto uma Parteira tão jovem e tão competente eu fiquei bem animada e ao mesmo tempo envergonhada com os elogios a mãe com aquela sabedoria dela disse que não demorava muito e ele aparecia ali em casa para me
cortejar Eu fingi que não me importava mas por dentro estava ansiosa dito e feito num domingo à tarde quem aparece na nossa porta o Dionísio todo arrumado com suspensório e com um buquê de flores na mão fiquei surpresa e um pouco sem jeito ele respeitoso pediu permissão para meu pai para me visitar eu confesso que fiquei bem nervosa quando ele me entregou as flores e nossos olhos se encontraram de novo senti aquela mesma sensação estranha do dia do parto começamos a namorar e foi como se o mundo tivesse ganhado novas cores o Dionísio era um
homem tão bom tão respeitoso ele vinha me visitar todo domingo sempre trazendo uma florzinha ou um docinho a gente conversava sobretudo e ele sempre perguntava dos partos que eu fazia todo interessado logo noivamos e antes que eu me desse conta já estávamos planejando o casamento tudo aconteceu dentro de um ano e meio mais ou menos foi tudo bem simples do jeito que a gente podia o Dionísio tinha umas economias guardadas e comprou um terreninho perto da fábrica onde ele trabalhava enquanto nossa casinha não ficava pronta meus pais com toda a bondade deles deixaram a gente
ficar morando lá em casa mesmo aqueles meses morando com meus pais depois de casada foram especiais mas o o tempo foi passando e nossa casa ficou pronta no dia da mudança vi nos olhos da mãe uma mistura de alegria e tristeza ela me abraçou forte e disse minha filha como não vamos mais morar juntas não vai dar para fazermos os partos juntas Tá na hora de você seguir sozinha Aquilo me Pegou de surpresa senti como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés fazer partos sem a mãe me senti arrasada com medo mas no
fundo eu sabia que ela estava certa eu era uma senhora casada agora tinha que ter minha própria vida minha própria prática e não era só eu que estava mudando de vida nesse meio tempo minha irmã Marilda já tinha se casado e ido embora o João meu irmão também tinha arrumado uma esposa e se mudado a casa dos meus pais que antes era tão cheia de vida e barulho agora tava ficando quieta a mãe estava numa fase triste dava para ver ela dizia é assim mesmo a vida minha filha são coisas naturais eu fui embora da
casa da minha mãe e agora é a sua vez de ir mesmo entendendo era difícil cada vez que eu ia visitar via que a mãe estava mais quieta mais pensativa o pai continuava o mesmo de sempre calado mas seus olhos pareciam mais úmidos quando a gente se despedia me lembro do dia que levei minhas últimas coisas para casa nova A mãe me deu a maleta de Parteira dela aquela que eu via desde pequena agora é sua ela disse use com sabedoria e amor como eu te ensinei saí de lá com o coração apertado mas também
cheio de esperança era um novo capítulo da minha vida que estava começando eu era esposa ia ser dona de casa E continuaria sendo Parteira olhei para Trás uma última vez Antes de Partir e vi a mãe na janela acenando naquele momento Prometi a mim mesma que ia fazer ela se orgulhar de mim que ia ser a melhor Parteira e a melhor filha que eu pudesse ser mesmo à distância Foi aí que tudo mudou na minha vida eu pensava que muita alegria começaria Mas a vida tinha outros planos planos que anunciavam tempos sombrios Naquela tarde o
céu tava carregado como se a até as nuvens soubessem que algo importante ia acontecer o Dionísio chegou em casa feito um furacão ofegante com os olhos arregalados ele tinha saído do trabalho mais cedo coisa que nunca fazia e veio correndo me buscar Jovita pelo amor de Deus Vem rápido ele disse as palavras saindo cortadas pela respiração pesada é a casa dos patrões os donos da fábrica a esposa do seu Afonso tendo o bebê Senti meu coração dar um pulo e ficar na garganta gente rica eu uma simples Parteira do interior e sem a mãe ia
atender gente importante minhas mãos tremiam enquanto eu pegava minha maleta aquela que a mãe tinha me dado Me ajude minha Nossa Senhora murmurei baixinho o caminho até o casarão pareceu durar uma eternidade quando chegamos fiquei boca e aberta aquilo não era uma casa era um Palácio Jardins enormes janelas que brilhavam como diamantes uma porta de entrada que parecia maior que minha casa inteira uma criada me recebeu o rosto dela tão pálido quanto o meu devia estar ela me guiou por corredores intermináveis até chegar num quarto que era do tamanho da minha sala e cozinha juntas
e foi ali que eu vi uma cena que nunca vou esquecer deitada numa cama enorme coberta com lençóis mais brancos que nuvem estava Dona Alice a esposa do patrão meu Deus do céu ela era só uma menina não devia ter nem 15 anos o rostinho Redondo ainda com traços de criança mas os olhos os olhos dela tinham o medo de uma mulher o marido seu Afonso um homem que devia ter idade para ser avô dela andava de um lado pro outro feito uma fera enjaulada volta e meia Ele parava olhava pra menina na cama e
depois pro relógio como se pudesse apressar as coisas mas o que mais me chamou atenção foi um rapaz devia ter uns 20 anos que estava sentado do lado da cama segurando a mão de Dona Alice ele se apresentou como José Ricardo filho do seu Afonso tinha algo no jeito que eles se olhavam uma coisa que eu não não sabia explicar seu Afonso num tom que não aceitava discussão mandou o filho e as duas meninas mais novas saírem do quarto as pequenas protestaram curiosas para ver de onde vem os bebês quase ri lembrando de como eu
mesma fiquei assustada por dias quando vi meu primeiro parto e olha que eu já era bem mais velha que elas fiquei sozinha no quarto com Dona Alice seu Afonso e A Criada Cleusa que ficou para me ajudar e foi aí que a ficou feia de verdade o bebê tava virado e cada contração parecia rasgar a pobre menina ao meio Ela gritava chorava e eu rezava baixinho pedindo força para Nossa Senhora lembro como se fosse agora o seu Afonso com aquela voz grave dele perguntando pro Dionísio se eu sabia mesmo O que estava fazendo meu coração
gelou na hora mas o Dionísio Deus abençoe aquele homem respondeu com uma confiança que eu nem sabia que ele tinha em mim Sim Senhor ele disse A Jovita tem muita experiência fez o parto dos meus três irmãos mais novos e olha que o Caçula veio com o cordão enrolado no pescoço ela salvou a vida dele ele fez uma pausa e continuou apesar de ser jovem ela trabalha há muitos anos com a mãe dona Teresa que é referência em toda a cidade não tem uma mulher por aqui que não confie nelas para trazer seus filhos ao
mundo minha nossa senhora ouvindo aquilo senti o peso da responsabilidade Cair Sobre meus ombros como uma tonelada de tijolos era como se de repente eu tivesse consciência de todas as vidas que dependiam de mim naquele momento a jovem Dona Alice o bebê ainda por nascer e até mesmo o futuro do Dionísio na fábrica minhas mãos começaram a suar e por um instante me senti pequena demais para tudo aquilo Mas então Lembrei das palavras da minha mãe minha filha suas mãos foram abençoadas por Deus para trazer vida ao mundo Nunca duvide disso respirei fundo decidida a
dar o melhor de mim foram horas de luta eu suava minhas mãos escorregadias de sangue e outros fluidos Dona Alice Coitada lutava com uma força que eu não esperava de alguém tão jovem e finalmente quando eu já tava quase perdendo as esperanças ouvi o choro mais lindo do mundo era um menino gordinho e forte como um touro Samuel eles disseram que ia se chamar seu Afonso chorava feito criança beijando a testa Suada da esposa menina e segurando o filho nos braços como se fosse o maior tesouro do mundo e era para ele mas enquanto eu
limpava tudo e cuidava de Dona Alice Não conseguia tirar da cabeça o o olhar que tinha visto entre ela e o José Ricardo havia ali um segredo eu tinha certeza um segredo que podia destruir aquela família toda o seu Afonso nos pagou muito bem pelo serviço mais do que eu jamais tinha recebido na vida mas o que me surpreendeu de verdade foi o pedido que ele fez depois com aquele jeito sério dele mas com uma voz cheia de preocupação ele me chamou de lado e disse Dona Jovita A Alice é muito nova e o os
pais dela moram longe ela precisa de um apoio feminino nessa hora a senhora poderia vir duas vezes por semana para ensinar as coisas para ela trocar fralda amamentar essas coisas de mãe fiquei surpresa com o pedido dava para ver que apesar da diferença de idade e do jeito Durão ele realmente amava e se preocupava com a jovem esposa aceitei na hora Claro afinal não era todo dia que a gente tem uma chance como essa ficou combinado então que eu iria à mansão duas vezes por semana eu ensinaria a dona Alice tudo sobre cuidar de um
recém-nascido como trocar as fraldas direitinho as melhores posições para amamentar como fazer o bebê arrotar essas coisas todas que só se aprende na prática saí de lá naquele dia com a cabeça cheia por um lado feliz por poder ajudar e ganhar um dinheiro extra que ia fazer uma diferença e tanto lá em casa por outro com uma sensação estranha noito algo me dizia que essa história não ia ser tão simples quanto parecia mal sabia eu o quanto essa decisão ia mudar minha vida e me envolver nos Segredos daquela família Bom eu acho que tinha ficado
tanto tempo perto da minha mãe que me pegava pensando igual a ela normalmente o que eu pensava acabava acontecendo me vi orgulhosa disso Sempre achei minha mãe tão sábia a verdade é que minha intui aito de Dona Alice e o filho do patrão logo no primeiro dia que fui à mansão para ensinar os cuidados com o bebê quando a Cleusa Me guiou até o quarto do casal vi uma cena que confirmou minhas suspeitas o José Ricardo aquele rapaz bonito filho do seu Afonso estava lá sentado ao lado da cama de Dona Alice os dois conversavam
animadamente rindo baixinho e olhando bebê com um carinho que ia além do normal para um meio irmão quando os dois disfarçaram na hora José Ricardo se levantou num pulo como se tivesse levado um choque e Dona Alice ficou séria de repente mas eu já tinha visto o suficiente Aquele olhar entre eles o jeito como estavam próximos me fiz de desentendida Claro Afinal quem era eu para me meter nos assuntos de família mas não pude deixar de pensar na confusão que isso podia causar o seu Afonso que parecia amar tanto a jovem esposa nem desconfiava que
o próprio filho Ai meu Deus que situação complicada eu tinha me metido naquele momento enquanto eu começava a ensinar Dona Alice como dar banho no pequeno Samuel senti o peso da responsabilidade que tinha assumido não era só sobre cuidar de um bebê eu estava no meio de um segredo que podia destruir vidas e o pior não fazia ideia do que fazer com essa informação eu tentava assuntar com Dona Alice sempre que tinha uma chance eu soltava assim como quem não quer nada o seu entiado gosta muito do Samuel né mas ela sempre dava um jeito
de mudar de assunto desconversava com uma habilidade que me surpreendia para alguém tão jovem eu passava quase o dia todo lá na mansão e aos poucos fui percebendo que Dona Alice era uma boa mãe pegava rápido as coisas que eu ensinava tinha jeito com o pequeno Samuel às vezes quando ela tava dando de mamar pro bebê a gente conversava sobre coisas da vida foi numa dessas conversas que ela me confidenciou algo que me deixou de queixo caído com uma voz baixinha quase um sussurro ela me contou que seus pais tinham vendido ela pro seu Afonso
quando ela tinha apenas 13 anos imagina só uma menina praticamente uma criança ainda disse que ele pagou caro por ela e que seus pais mal se despediram só pensavam no dinheiro que iam receber o coração apertou quando ela falou da família dela eram nove irmãos vivendo na pobreza para eles vender a filha para um homem rico parecia a única saída fiquei pensando em como a vida pode ser cruel às vezes como as pessoas podem fazer coisas terríveis achando que é pro bem mas o que mais me intrigou foi quando ela disse com uma voz que
não demonstrava emoção nenhuma seu Afonso é um bom marido Fiquei me perguntando o que ela queria dizer com isso será que ela realmente acreditava nisso ou era o que ela precisava acreditar para seguir em frente saí de lá naquele dia com a cabeça cheia de perguntas como uma menina tão jovem lidava com tudo isso o casamento arranjado ser mãe tão cedo e ainda por cima aquela história com o enteado que eu desconfiava era muita coisa para uma pessoa só carregar o que eu fui percebendo com o passar dos dias é que quando eu chegava na
mansão a dona Alice se iluminava toda era como se um sol tivesse nascido só para ela aos poucos a gente foi ficando amiga de verdade acho que eu era a única amiga que aquela Coitada tinha na vida toda toda vez que eu aparecia ela vinha correndo me abraçava e me dava beijos no rosto como se eu fosse uma irmã há muito tempo perdid talvez fosse porque eu era jovem também sabe ela devia sentir uma conexão uma amizade que nunca teve chance de ter Antes a gente conversava sobre tudo ela me contava dos sonhos que tinha
antes de se casar das coisas que gostava de fazer quando era menina eu via nos olhos dela uma mistura de gratidão e alívio por ter alguém com quem conversar alguém que não a julgava e confesso que também comecei a me apegar àquela jovem mãe era impossível não se importar com ela mas quando passou o período do puerpério aqueles primeiros 40 dias depois do parto foi aí que algo horrível aconteceu era tarde da noite eu e o Dionísio já tínhamos nos recolhido o silêncio da noite só era quebrado pelo Canto dos Grilos lá fora de repente
ouvimos batidas de Palmas no portão tão fortes que pareciam querer derrubar a casa a cachorrada toda começou a latir feito a gente levantou num pulo o coração quase saindo pela boca alguns vizinhos também apareceram nas janelas assustados com o barulho Mas vendo que era na nossa casa logo voltaram para dentro eles estavam acostumados por eu ser Parteira não tinha hora para me chamarem quando a vistei no portão quase caí para trás de susto lá estavam Dona Alice o José Ricardo e o bebê Samuel todos com cara de quem tinha visto assombração recol os eles rapidinho
para dentro de casa antes que algum vizinho curioso resolvesse aparecer de novo assim que fechei a porta foi como se uma represa tivesse estourado os dois começaram a falar ao mesmo tempo as palavras saindo atropeladas misturadas com choro e soluços Dona Alice agarrada ao bebê como se sua vida dependesse disso o José Ricardo gesticulando feito louco eu e o Dionísio Nos olhamos sem entender nada era uma confusão só calma pelo amor de deus eu disse tentando botar ordem naquele caos falem um de cada vez senão a gente não vai entender nada o Dionísio foi buscar
um copo d'água para Dona Alice que parecia que ia desmaiar a qualquer momento eu peguei o pequeno Samuel no colo tentando acalmar ele que tinha começado a chorar com toda aquela agitação Foi então que num fôlego só donice a falar as palavras saindo como uma torrente eu e José Ricardo nos amamos me apaixonei por ele assim que o vi e ele por mim temos um romance as escondidas na mansão não podíamos contar pro pai dele ele nos mataria ela fez uma pausa engolindo em seco e continuou mas hoje hoje ele nos flagrou na cama fomos
pegos arrumamos algumas coisas e saímos correndo a única a ideia que tive foi pedir ajuda para vocês Senti meu sangue gelar valha-me Deus pensei daqui a pouco o homem bate aqui na porta o José Ricardo que até então estava calado completou a história com uma voz trêmula o pai não teve tempo de ver a gente saindo mas ele estava furioso gritava que ia matar um por um fiquei ali parada tentando absorver tudo aquilo o Dionísio ao meu lado parecia uma estátua de tão imóvel o silêncio na sala era pesado quebrado apenas pelo choro baixinho do
bebê Samuel de repente a realidade da situação me atingiu como um soco ali estavam eles a jovem esposa o enteado apaixonado e Um Bebê inocente todos fugindo de um homem poderoso e Furioso e eu uma simples Parteira era a única Esperança deles naquele momento mil pensamentos passaram pela minha cabeça o que eu devia fazer ajudar eles seria me meter numa confusão enorme Mas como eu poderia virar as costas para eles agora Olhei pro Dionísio buscando alguma orientação nos olhos dele ele parecia tão perdido quanto eu então respirei fundo e tomei uma decisão que eu sabia
que ia mudar nossas vidas para sempre tá certo eu disse tentando soar mais confiante do que realmente estava vocês não podem ficar aqui temos que pensar num plano e rápido seu Afonso não vai demorar a descobrir onde vocês estão Foi aí que tive uma ideia meio maluca mas era a única que me veio à cabeça naquela hora vamos pra casa dos meus pais falei não tem problema chegar a hora que for a mãe tá acostumada com chamados de emergência a qualquer hora eles estavam de carro então fomos todos juntos o caminho nunca me pareceu tão
longo quando chegamos a mãe abriu a porta ainda de camisola Ao me ver com aquela gente rica os olhos dela se arregalaram de preocupação no que você foi se meter Jovita Ela perguntou a voz baixa e tensa pedi para entrar a mãe Ficou desesperada achando que tinha algo a ver com o bebê depois que disse que não ela se acalmou eu expliquei tudo rapidinho e balançando a Cabeça Ela disse que aquilo não daria certo Mas eu insisti no fim ela cedeu mesmo contrariada Saímos de lá na carroça emprestada da mãe deixando Dona Alice José Ricardo
e o bebê para passar a noite o caminho de volta para casa foi silencioso eu e Dionísio perdidos em nossos próprios pensamentos mal tínhamos chegado em casa quando o dia começou a clarear e foi bem cedinho com o sol mal nascido que ouvimos as batidas de Palmas fortes no nosso portão o coração saltou na garganta a gente já imaginava Quem era Afinal seu Afonso sabia que Dona Alice era próxima a mim era bem possível que a nossa fosse a primeira porta onde ele bateria Dionísio e eu Nos olhamos o medo estampado nos olhos um do
outro o que a gente ia dizer Jovita Dionísio Eu sei que vocês estão aí a voz de seu afo vej fazendo a gente tremer dos pés à cabeça naquele momento com o coração na boca e as pernas bambas eu soube que tinha que tomar uma decisão o que eu falasse nos próximos minutos poderia mudar o destino de muitas vidas Inclusive a minha respirei fundo fiz o sinal da cruz e fui em direção ao portão rezando para nossa senhora me dar a força e a sabedoria que eu tanto precisava naquela hora ele foi logo dizendo seu
vizinho disse que meu filho e minha esposa estiveram aqui ontem à noite eles confirmaram que era o carro dele eu quase infartei nem imaginava que seria confrontada daquele jeito meu plano era negar mas o Dionísio veio dizendo Eles vieram aqui sim mas a gente falou para eles irem embora seu Afonso ficou louco de brab com o Dionísio disse que era para ele ter segurado os dois ali em casa até ele chegar mas a aí já não entendi nada se ajudássemos ele também acharia ruim uma sinuca de bico então a gente não disse nada do que
sabíamos o Dionísio perguntou pro seu Afonso como se não soubesse de nada o que tinha acontecido ele não quis falar e também não quis conversa saiu acelerando e fazendo a gente comer poeira fiquei ali parada vendo o carro se afastar com o coração ainda batendo forte Olhei pro Dionísio sem saber se ficava aliviada ou mais preocupada aa a gente tinha conseguido não entregar o esconderijo de Dona Alice e José Ricardo mas agora o seu Afonso sabia que eles tinham estado na nossa casa o Dionísio me abraçou forte e sussurrou Calma mulher a gente fez o
que pode mas eu sabia que aquilo estava longe de acabar o seu Afonso não ia desistir fácil e a gente estava metido até o pescoço nessa história entrei em casa me sentindo Exausta como se tivesse vivido uma semana inteira na única manhã sabia que precisava avisar meus pais contar para eles o que tinha acontecido e também precisava pensar no que fazer dali pra frente como a gente ia proteger Dona Alice e José Ricardo e o que ia acontecer com a gente se o seu Afonso descobrisse que a gente tinha mentido me diga você o que
teria feito Qual decisão você tomaria ajudaria o casal a planejar uma nova vida longe dali ou os convenceria a voltar e enfrentar o seu Afonso sua opinião é muito importante para mim escreva nos comentários e em troca Receba um coraçãozinho naquela hora sentada na minha cozinha com uma chícara de café tremendo nas mãos eu só conseguia pensar uma coisa meu Deus onde é que eu fui me meter Dionísio foi para trabalho para não levantar suspeitas e eu fui até a casa dos meus pais o coração pesado as pernas bambas chegando lá encontrei donice Ricardo os
dois com olheiras fundas de quem não dormiu nada contei para ele sobre a visita do seu Afonso sobre como ele já sabia que eles tinham estado na nossa casa vi o medo crescer nos olhos deles enquanto eu falava então com a voz tremendo um pouco eu disse eu não tenho como esconder vocês e colocar minha família em risco Foi aí que vi algo mudar no rosto do José Ricardo ele se levantou costas retas o queixo erguido e falou a senhora tem razão o que estávamos fazendo envolvendo mais pessoas nesta mentira que fizemos eu serei homem
e assumirei minha culpa dona Alice soltou um gemido baixo apertando o pequeno Samuel contra o peito mas José Ricardo já tinha se decidido ele se ajoelhou na frente dela beijou a testa do bebê e depois os lábios dela num beijo que parecia uma despedida eu vou até a casa do meu pai ele disse Vou enfrentar as consequências dos meus atos enquanto eu via ele sair pela porta não pude deixar de pensar no pequeno Samuel A verdade é que não dava para saber se o menino era filho dele ou do seu Afonso e talvez nunca soubéssemos
fiquei ali ao lado de Dona Alice segurando a mão dela enquanto esperávamos as horas se arrastaram como se fossem dias a gente nem sabia o que esperar será que seu Afonso ia perdoar ou será que a coisa ia acabar em tragédia Esperamos o dia todo o tempo passando devagar eu fiquei na casa da mãe não conseguia deixar a dona Alice sozinha naquela situação já era quase noitinha quando o Dionísio apareceu Ele entrou na sala com uma cara preocupada o seu Afonso não foi trabalhar hoje ele disse a voz baixa e séria foi como se um
peso Extra tivesse caído sobre todos nós a dona Alice soltou um gemido abafado apertando o Samuel contra o peito minha mãe fez o sinal da cruz murmurando uma oração O Pai Ficou ali calado Mas dava para ver a preocupação nos olhos dele a gente ficou ali todo mundo em silêncio o coração pesado O que será que tinha acontecido Ninguém queria falar Mas dava para ver que todo mundo estava pensando o pior eu sentia um mau pressentimento me corroendo por dentro mas aí a mãe disse não se preocupa em notícia ruim chega rápido não há de
ser nada a dona Alice perguntou o que a gente devia fazer agora ninguém respondeu de imediato depois a mãe falou a gente espera mais um pouco se até amanhã cedo não tiver notícia aí sim a gente pensa no que fazer na hora da janta um Ronco de motor quebrou o silêncio tenso todos nós pulamos das cadeiras e corremos para fora o coração quase saindo pela boca lá estava o carro do seu Afonso imponente e ameaçador parando em frente à casa com a luz do farol alta não se via dentro do veículo o ar ficou pesado
ninguém ousava respirar quando a porta do carro se abriu foi como se o tempo tivesse parado mas então para espanto de todos quem saltou para fora não foi o seu Afonso furioso que a gente esperava mas o José Ricardo com um sorriso tão grande que iluminava a noite logo atrás dele saiu o seu Afonso não tinha raiva no rosto dele não tinha ódio tinha algo que eu nunca tinha visto antes paz foi como se uma onda de alívio lavasse todos nós o José Ricardo correu pegou a dona Alice e o bebê nos braços num abraço
tão apertado que parecia que eles iam virar uma pessoa só as lágrimas corriam soltas mas eram de alegria quando entramos todos na casa o ar ainda carregado de emoção o seu Afonso começou a falar mas as palavras mal saíram e o homem desabou a chorar eram soluços profundos de quem guarda muita coisa por muito tempo ali naquela sala simples vendo aquele homem poderoso chorar como criança eu entendi que tinha testemunhado um milagre um milagre de perdão de amor de Redenção seu Afonso começou dizendo a voz embargada Alice minha pobre Alice eu te peço perdão agora
entendo o motivo de você se apaixonar pelo meu filho José Ricardo é um homem jovem bonito cheio de vida e eu quem sou eu senão um velho tolo você foi uma vítima eu te comprei achando que estaria te fazendo um favor te tirando da pobreza não contava que estaria condenando uma menina a uma vida sem amor verdadeiro ele fez uma pausa enxugando as lágrimas que escorriam pelo rosto enrugado Dona Alice com os olhos marejados respondeu seu Afonso o senhor não merece isso O senhor sempre foi bom para mim me tratou com respeito eu é que
peço perdão por trair sua confiança seu Afonso Balançou a cabeça um sorriso triste nos lábios no leito de morte da mãe do José Ricardo eu prometi que cuidaria dele e dos irmãos jurei que faria de tudo para que tivessem a melhor vida possível e olha só o que eu fiz fiquei tão cego pela minha própria dor pela minha solidão que não vi o que estava acontecendo bem debaixo do meu nariz ele se virou para José Ricardo que estava abraçado a Alice Meu filho me arrependo por não ter observado suas intenções seus sentimentos talvez se eu
tivesse prestado mais atenção se eu tivesse sido um pai melhor as coisas não teriam chegado a esse ponto José Ricardo com lágrimas nos olhos abraçou o pai pai o senhor fez o melhor que pode nós é que erramos em Esconder em mentir então seu Afonso agradeceu a todos nós disse pros meus pais como eles tinham criado uma boa filha e que eu tinha Escolhido um genro melhor ainda o Dionísio Eles foram embora e eu e o Dionísio agradecemos meus pais e também fomos eu fiquei realmente com pena do seu Afonso imagina a dor dele amava
a esposa e decidiu abrir mão deste sentimento por amor ao filho os dias foram passando e eu me perguntava O que será que tinha acontecido com eles Dionísio ia pro trabalho normalmente mas via pouco e de longe o seu Afonso Como já era antigamente parecia que nada tinha mudado a não ser por mim percebi sintomas de gravidez estava esperando nosso primeiro filho meu coração quase explodiu de alegria Quando contei pra família foi uma festa só o Dionísio ficou parado olhando para mim com cara de bobo como se não acreditasse meu pai e os irmãos ficaram
todos contentes e a mãe Ah a mãe chorou me abraçou e depois disse algo que ficou martelando na minha cabeça me olhou com aqueles olhos cheios de Sabedoria pegou minhas mãos nas dela e disse filha você já viu muitos partos mas viver um é diferente vai sentir cada dor cada contração no seu próprio corpo vai entender porque as mulheres gritam porque apertam as mãos dos maridos até quase quebrar e quando achar que não aguenta mais que é impossível continuar vai descobrir uma força que nem sabia que tinha depois quando pegar seu bebê nos braços pela
primeira vez vai entender porque as mães esquecem toda a dor num instante é como se o mundo parasse e só existisse vocês dois aí sim você vai compreender verdadeiramente o que cada mulher que você ajudou sentiu e isso minha filha vai fazer de você uma Parteira ainda melhor guardei as palavras dela comigo a vida continuava eu seguia com meu trabalho de Parteira agora com um entendimento ainda mais profundo do milagre da vida às vezes quando eu passava perto da mansão do seu Afonso me pegava imaginando como estariam Don Alice José Ricardo e o pequeno Samuel
Será que tinham conseguido ser felizes depois de tudo será que o seu Afonso tinha realmente Perdoado o nascimento do meu filho foi um parto relativamente fácil mas mesmo assim eu senti uma dor absurda foi aí que entendi o motivo da gritaria nos partos que eu atendia que dor terrível é aquela eu que sempre achava que as mulheres exagerava um pouco descobri na pele o que elas passavam é claro que minha mãezinha Quem fez o parto era seu primeiro Neto Afinal colocamos o nome de Augusto que sonho ser mãe antes eu ia embora deixando os bebês
com suas mães mas agora era diferente eu ficava 24 horas com o pequeno entendendo pela primeira vez o que significava aquela responsabilidade constante cada choro cada suspiro do Augusto me fazia pular da cama preocupada e ao mesmo tempo maravilhada com aquela nova vida que dependia de mim a experiência do parto e dos primeiros dias como mãe mudou completamente minha perspectiva como parteiro assim como minha sábia mãe havia dito agora eu sabia no corpo e na alma o que aquelas mulheres sentiam a dor o medo a alegria indescritível de segurar seu filho pela primeira vez tudo
isso me fez uma Parteira ainda melhor mais empática e compreensiva por alguns meses eu não fiz partos estava aproveitando meu menino o Dionísio era um paizão e carinhoso com o Augusto ver ele ninando o bebê trocando fraldas e cantando cantigas de ninar derretia meu coração e meu pai nos surpreendeu ele que era sério agora ria sempre parecia outra pessoa até a mãe estranhou era bonito de ver como o pequeno Augusto tinha transformado aquele homem sisudo num avô bobo e feliz nas visitas à casa dos meus pais meu pai pegava Augusto no colo e ficava horas
brincando fazendo careta e contando histórias que a gente nem sabia que ele conhecia a mãe ficava olhando com um sorriso no rosto como se tivesse descoberto um lado novo do marido depois de tantos anos eu me pegava pensando em como a vida tinha mudado tanto em tão pouco tempo de Parteira solteira a mãe de família tudo num piscar de olhos os anos foram passando e estávamos com mais dois meninos foi um atrás do outro estava com três pequenos crescendo juntos a casa vivia cheia de barulho e alegria Os meninos cresciam fortes e levados dando trabalho
mas enchendo nossa vida de amor eu e Dionísio queríamos mais um para ver se vinha uma menina o sonho meu e da mãe para dar continuidade com a tradição da família nos partos mas Deus não quis não tivemos mais filhos somente os três Augusto Daniel e Jacó a dona Amélia mãe do Dionísio queria que eu ensinasse a Mariana irmã dele para ela ter uma profissão eu tentei Deus sabe como tentei levava ela comigo nos partos explicava tudo direitinho mas a coitada passava mal e mais atrapalhava do que ajudava toda vez que via sangue ficava branca
que nem papel e olha que já estava uma mocinha de 16 anos no fim tivemos que aceitar que ser Parteira não era para ela mesmo sem uma menina para seguir meus passos eu continuava com meu trabalho e não é que quando a menina mais velha do meu irmão Celso fez 13 anos ela resolveu assistir um parto a danada era corajosa decidiu acompanhar a tia gostou e eu ensinava tudo a ela a nossa tradição foi passada para a pequena Luzia ora ela ia comigo ora com a avó era uma alegria ver o interesse dela os olhos
brilhando de curiosidade a cada novo aprendizado Eu até tentei dizer PR os meus meninos serem parteiros Mas eles Riam e falavam que era coisa de mulher achei uma bobagem eles pensarem assim veja só quantos obstetras existem por aí mas não adiantava falar Eles tinham posto na cabeça que aquilo não era para eles a Luzia por outro lado absorvia tudo que eu e a avó ensinávamos ela com certeza tinha o dom a delicadeza com as graves o jeito calmo mesmo nas situações mais difíceis às vezes olhando para ela ajudando num parto eu me via jovem de
novo aprendendo com minha mãe os anos foram passando e a Luzia foi ficando cada vez mais habilidosa logo ela já fazia alguns partos sozinha sempre com minha supervisão Claro as mulheres da região começaram a confiar nela tanto quanto confiavam em mim e na minha mãe ver a tradição da família continuando através da Luzia me enchia de orgulho meus meninos mesmo não seguindo a profissão respeitavam o trabalho da prima às vezes até ajudavam carregando os equipamentos ou levando recados urgentes era bonito de ver como mesmo sem querer ser parteiros eles entendiam a importância do que fazíamos
Ah meu Deus do céu deixa eu contar para você o que aconteceu Parece que foi ontem mas já faz tanto tempo o meu Augusto aquele menino levado já estava com 17 anos e foi aí que o mundo virou de cabeça para baixo de novo um dia o Dionísio chegou em casa com uma cara tão triste que gelou meu coração mulher ele me disse o seu Afonso morreu Ave Maria fiquei sem chão aquele homem que um dia foi tão importante na nossa vida que a gente não via há anos tinha partido a fábrica ficou de luto
por três dias imagina só mas o que veio depois Ah isso sim me deixou boqu aberta passou uma semana mais ou menos e bateu na nossa porta um homem todo arrumado com uma maleta era um advogado o Dr Romério disse que ia ter a leitura do testamento do seu Afonso e que eu e o Dionísio tínhamos que ir fiquei muito curiosa e lá fos nós depois de tantos anos entrar naquela mansão de novo menina que nervoso logo de cara quem eu vejo o José Ricardo tava mais velho claro mas ainda bonito ele pegou na nossa
mão todo Gentil dizendo que tava feliz de ver a gente e a Dona Alice Nossa Senhora parecia que o tempo não tinha passado para ela tava uma verdadeira Madame e o Samuel aquele bebezinho que eu vi nascer agora era um moço mais alto e mais bonito que o pai tinha um monte de gente que eu não conhecia deve ser família de estranho mesmo só eu o Dionísio e o filho da Cleusa aquela criada boa que Deus já levou quando o advogado Começou a ler o testamento Ave Maria que suador frio o seu Afonso deixou uma
coisa pra gente mas não era qualquer coisinha Não primeiro ele deixou uma quantia em dinheiro que já era de fazer a gente arregalar os olhos mas o veio depois Ave Maria o seu Afonso deixou a fábrica de fósforos pro Dionísio isso mesmo que você ouviu meu Dionísio que trabalhou lá a vida toda agora era dono da fábrica você precisava ver a cara do meu marido ele ficou branco que nem papel parecia que ia desmaiar ali mesmo e eu eu tremia que nem vara verde mal acreditando no que tava ouvindo mas não parou por aí não
o seu Afonso deixou uma casa boa pro filho da Dona Cleusa aquela criada que já se foi é o homem no fim das contas tinha um coração bom mesmo o advogado leu uma carta que seu Afonso tinha deixado dizia assim Dionísio e Jovita vocês guardaram um segredo que podia ter destruído minha família Mas em vez disso ajudaram a construir uma nova essa é minha forma de agradecer pela descrição e bondade de vocês nessa hora minha filha eu desabei as lágrimas corriam que nem Rio no meu rosto o Dionísio me abraçou forte ele também tava chorando
depois o José Ricardo veio falar com a gente disse que o pai nunca esqueceu o que a gente fez que ele sempre falava da nossa bondade de como a gente tinha sido importante naquela noite e sabe o que mais aquela noite mudou não só a vida deles mas a nossa também de um dia pro outro o Dionísio virou dono de fábrica Quem Diria um homem simples como ele agora responsável por tanta coisa mas ele encarou o desafio de cabeça erguida com a mesma honestidade que sempre teve os funcionários gostavam dele e acharam Justo ele ficar
com a empresa já que se dedicava por muitos anos Olha só eu nunca imaginei que a gente receberia uma herança daquelas foi completamente inesperado para nós se você acredita que nossas boas ações neste mundo sempre voltam para de alguma forma escreve aí nos comentários o que o homem semeia isso também colherá esta passagem da Bíblia está em Gálatas bom eu continuei sendo Parteira sim isso não é só uma profissão é um chamado mesmo e uma coisa eu te digo Perdi as contas de quantas vidas estas mãos velhas aqui Já trouxeram ao mundo foram tantos e
tantos bebês que nem dá para contar mas tem uma coisa que nunca esqueci e que pesa no meu coração até hoje sei direitinho quantos nasceram mortos 131 é um número que nunca sai da minha cabeça e teve também as mãezinhas que se foram antes mesmo de pegar seus bebês nos braços foram nove infelizmente cada um desses pequeninos que não chegou a chorar ficou marcado na minha memória lembro do Silêncio pesado que ficava no quarto do Olhar devastado das Mães das Lágrimas de toda uma família eram momentos que partiam o meu coração em mil pedaços eu
abraçava aqueles corpinhos tão pequenos tão frágeis e rezava por suas alminhas pedia a Deus que os acolhesse em seus braços já que não puderam ficar nos braços das Mães aqui na terra sabe cada um desses 131 anjinhos me ensinou algo me ensinou sobre a fragilidade da vida sobre como devemos valorizar cada respiro cada batida do coração me ensinou também sobre a força das mães que mesmo na dor mais profunda encontravam um jeito de seguir em frente e me ensinou que às vezes o trabalho de uma Parteira não é só trazer vida ao mundo mas também
confortar quando a vida decide não ficar trabalhei por mais alguns anos no total foram 38 anos de dedicação foi menos que minha mãezinha que Deus a Tenha ela coitada trabalhou por 49 anos nesta profissão uma vida inteira mas vou te contar chegou uma hora que o corpo já não aguentava mais fiquei muito cansada as costas doendo as pernas pesadas Aí pensei que tava na hora de descansar um pouco e foi o que fiz comecei a usufruir daquele dinheiro que o seu Afonso deixou pra gente eu e meu velhinho o Dionísio começamos a viajar ah que
maravilha conhecemos lugares que eu nem sonhava que existiam cada viagem era uma aventura nova mas eu sempre gostava de voltar para casa nada melhor do que a nossa cama e a família essa cresceu que nem plantação bem cuidada Hoje tenho netos e até bisnetos é uma alegria só ver essa meninada correndo pela casa fazendo barulho enchendo tudo de vida quando olho para trás vejo que tive uma vida e tanto cheia de altos e baixos É verdade Mas cada momento valeu a pena cada parto cada noite sem dormir cada susto e cada alegria tudo isso me
fez quem eu sou hoje se você gostou deste relato real e quer ver mais como estes então conheça Nossa playlist de vídeos de histórias dos avós cheias de conhecimento e Sinceridade para você se emocionar que Deus abençoe você e sua família ah