CORRAMOS COM PERSEVERANÇA - Homilia - III Feira - IV TC (2025)

A carta aos Hebreus, chegamos ao capítulo 12, que é extraordinário, é muito belo. Depois de termos visto essa galeria de Heróis da Fé, homens e mulheres que, pela fé, acometeram grandes coisas, o autor da carta aos Hebreus volta para aqueles cristãos que estão fraquejando, que estão querendo ir de volta ao judaísmo, recaindo em práticas do Velho Testamento. E ele lhes diz: "Rodeados como estamos por tamanha nuvem de testemunhas, deixemos de lado o pecado que nos pesa; deixemos de lado o que nos pesa e o pecado que nos envolve.

Empenhemo-nos com perseverança na carreira que nos é proposta, no certame, no alvo que nos é proposto". Ou seja, o que ele está dizendo? Ele compara a nossa vida cristã, a vida na fé, com uma corrida atlética, mostrando que nós temos que correr rumo ao alvo.

Um atleta não pode levar consigo nada que lhe pese; um atleta não pode ser recoberto, por assim dizer, de gravidade. Ele tem que se livrar de todo e qualquer empecilho, de toda a trava, de toda amarra. Então, ele diz: "Deixemos de lado o que nos pesa; deixemos de lado o pecado que nos envolve.

" É muito interessante porque ele diz: "Rodeados como estamos por tamanha nuvem de testemunhas". A imagem é a de todos os heróis do Velho e do Novo Testamento, todos os santos, todos aqueles que viveram de fé, numa grande arquibancada torcendo por nós, testemunhando a nossa carreira, a nossa corrida, intercedendo por nós, ajudando-nos com a sua oração. Então, ele diz: "Rodeados como estamos por tamanha nuvem de testemunhas, deixemos de lado o pecado que nos pesa, o pecado que nos envolve.

Deixemos de lado o pecado". Ou seja, o pecado nos atrapalha; é aquilo que nos amarra, é o que nos detém. É como um corredor que estivesse com um sapato de chumbo e que não conseguisse correr por causa do peso.

"Deixe para lá", diz o apóstolo, "o pecado que nos envolve". E empenhemo-nos com perseverança na carreira que nos é proposta. Empenhemo-nos com perseverança.

A palavra perseverança é a palavra grega "hipomoné", que também pode ser traduzida como paciência e, muito mais do que isso, como amor. Como amor à cruz, como espírito de sacrifício, como ação de graças diante dos obstáculos. Ou seja, o que ele está dizendo é: "Olha, empenhem-se com verdadeiro amor à cruz, com resistência, com perseverança, com paciência no combate que nos é proposto".

Vejam exatamente como um atleta. Um atleta se submete a uma disciplina rigorosa; come aquilo que o preparador físico manda, faz atividade física, alongamentos. Quando corre, sente cãibras, contusões, pode se acidentar, frequentemente se machuca, até se desidrata, passa mal, mas ele quer chegar ao alvo.

Então, ele está dizendo: "Empenhemo-nos com amor à cruz, com perseverança, com paciência na carreira que nos é proposta". Será que nós temos corrido verdadeiramente como atletas ou nós temos nos comportado como cristãos preguiçosos, que arrastam os pés e que não conseguem progredir na vida interior? Não levam a sério a oração, não levam a sério o espírito de sacrifício que todos nós temos que ter para levarmos uma vida sóbria, não levam a sério o combate ao pecado, a fuga das ocasiões.

Então, ele está dizendo: "Nós temos que nos empenhar com esse amor à cruz na corrida que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus. " A imagem é de alguém que está correndo e tem como alvo a Cristo e não tira os olhos dele, que sabe, portanto, qual é o seu objetivo. São Paulo fala disso quando ele diz: "Eu corro, deixo tudo para trás, corro para a meta, considero tudo como perda, como lixo, no lugar de possuir a soberana vocação e de correr ao encontro de Cristo Jesus.

" Ter os olhos fixos em Jesus significa ter uma vida sacramental profunda, ter uma vida de oração comprometida. Isso é ter os olhos fixos em Jesus: é contemplá-lo, é fazer por causa dele. O nosso problema é que nós frequentemente não colocamos os nossos olhos em Jesus; colocamos os nossos olhos nas pessoas e, então, começamos a murmurar: "Ah, porque Fulano não gosta de mim, Cicrano falou mal de mim, outro e daquele grupinho, outro é desse jeito, outro é daquele jeito.

" Maturidade na fé significa aceitar o fato de que, nessa corrida, muita gente vai ficar para trás e que eu preciso olhar apenas para Jesus. Ele é a minha meta e ninguém pode me substituir nessa corrida. Quem não quiser segui-lo, seja livre, mas a minha escolha foi segui-lo até o fim.

Então, eu preciso olhar para ele fixamente, com os olhos fixos em Jesus, que é o autor e o consumador da nossa fé. É muito difícil traduzir isso em português; nós não temos palavras para dizer o que o autor quer dizer aqui. Mas ele está dizendo: "Jesus não é apenas o que começa.

" Ou seja, nós somos salvos pela graça, isso não vem de nós, é um dom de Deus. É ele que move o nosso coração. A fé não é apenas ele, porém, que começa em nós, a fé, mas é aquele que consuma.

Ou seja, nós lutamos porque Jesus nos dá força, nós perseveramos porque Jesus nos dá fortaleza, nós suportamos porque Jesus nos ajuda a levar o fardo. Porque é ele que produz em nós tudo. Portanto, quando eu corro, eu não corro confiando na minha força física, na minha força espiritual.

Quando eu corro, eu corro sabendo que a força vem dele. É dele que vem o impulso. É o que os santos sempre fizeram: orando, vivendo sacramentos e fazendo aquilo que tinham que fazer.

Sem conseguir explicar, muitas vezes, como conseguiram fazer aquilo porque não tinham força, mas fizeram força e, sem que eles soubessem como, a força estava lá, porque Jesus é o autor e o consumador da nossa fé. É ele que começa, é ele que termina. A minha parte é só.

Correr olhando para ele. Eu tenho que correr olhando para ele porque é ele que vai fazer tudo em mim. Eu simplesmente corro e eu não sei como, mas se eu mantenho os olhos fixos nele, eu chego sem me preocupar com o modo como eu consigo.

Porque não sou eu que consigo; é ele que faz em mim, em vista da alegria que lhe foi proposta. Suportou a cruz, não se importando com a infâmia, e assentou-se à direita do Trono de Deus. Quando a alegria lhe foi proposta?

A alegria foi proposta quando o diabo o tentou, mas ele deixou isso de lado. Ele suportou a cruz com paciência, não se importando com a infâmia, ou seja, aqueles que o xingaram, aqueles que cuspiram nele, aqueles que bateram na sua face, aqueles que o humilharam, aqueles que o condenaram. Ele não se importou com isso.

Por quê? Porque ele estava a caminho de assentar-se à direita do Trono de Deus. Queridos, isso é maravilhoso: estar com um homem sentado à direita de Deus Pai, e ninguém vai derrubá-lo do seu trono.

O diabo sabe que não pode derrubá-lo, os demônios sabem que não podem derrubá-lo, as maiores autoridades deste mundo sabem que não podem derrubá-lo. Jesus Cristo reina e reina para sempre. Diante desse poder, o que é ser humilhado, ser xingado, ser cuspido, ser destratado?

Não é nada, não é absolutamente nada. Portanto, se importar-se com nada disso, ele estava olhando para o trono. Jesus disse para os apóstolos: "Vós vos sentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.

" E no livro do Apocalipse, ele diz: "Ao Vencedor eu farei sentar-se sobre o meu trono. " Nós somos chamados a reinar com Cristo, portanto tanto faz que os homens nos ataquem ou que nos tentem prejudicar; tudo isso coopera para a finalidade suprema: chegar a Cristo no reino dos céus. Pensai, pois, naquele que enfrentou uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo.

Pensai, pois, nós temos que pensar nisso; é um exercício. Eu tenho que pensar naquilo que ele sofreu, eu tenho que pensar na sua paixão, eu tenho que pensar na oposição que ele padeceu. Eu preciso pensar nisso.

Por quê? Porque é pensando nisso que eu não vou me deixar abater pelo desânimo. Por que eu desanimo?

Por que eu fico com vontade de abandonar Cristo e ir para o pecado, ir para o mundo? Por que eu tenho vontade de deixar a igreja, de abandonar o Cristo de Nosso Senhor? Porque isso tudo me afeta.

Ah, porque eu enfrento essa dificuldade em casa; eu enfrento aquela dificuldade no trabalho. As coisas não estão indo muito bem; parece que eu estou sendo combatido o tempo todo. Depois que eu abracei a fé, as coisas ficaram mais difíceis.

E se você não olhar para Cristo e Cristo crucificado, o desânimo vai te derrubar. No capítulo 13, que é o capítulo seguinte, no versículo 1, diz: "Vamos, pois, para fora do Arraial, carregando o seu vitupério. " Que frase poderosa!

Assim como Jesus morreu fora da cidade, vamos com ele para fora do Arraial, carregando a sua vergonha, carregando o seu vitupério com coragem. Nós não seremos? "Todo aquele que quiser viver piedosamente em Jesus Cristo, sofrerá tribulação", diz o apóstolo.

"Vós ainda não resististes até o sangue na vossa luta contra o pecado. " A Beata Alexandrina resistiu até o sangue, pulando de um andar alto para a sua Santa Águida, que celebraremos amanhã. Lutou até o sangue.

Nós ainda não lutamos até o sangue; a nossa luta ainda é pequena, é superficial. Nós temos que olhar para essas testemunhas que derramaram a sua vida por Cristo e pensarmos se nós não nos poupamos demais. Como é triste que um cristão tenha dificuldade, por exemplo, de se livrar de uma dependência, uma dependência afetiva, uma dependência química, porque quer o tempo todo um conforto para os seus sentimentos.

Onde é que está a cruz? Temos que olhar para Cristo e jogar fora essas muletas, deixar de lado qualquer coisa que nos impeça de crescer na vida espiritual. Quando nós entendemos isso, nós abandonamos o que for: qualquer droga, cachaça, cigarro, dependência de jogos, dependência de dopamina através da pornografia ou coisas desse tipo.

Deixamos tudo de lado. Tanto faz; nada pode me impedir de correr rumo ao alvo que eu tenho muito fixo em minha mente, que é Cristo, a sua paixão, o seu vitupério e a sua cruz. Abracemos, irmãos, a nossa cruz, porque é uma grande torcida que está o tempo todo nos impulsionando para entregarmos a nossa vida e não voltarmos atrás.

Seja essa a nossa verdadeira motivação e aquilo que nos faz ter perseverança no caminho do Evangelho.