Cidades para quem? : Joao Whitaker Ferreira at TEDxValedoAnhangabau

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TEDx Talks
O João Whitaker Ferreira é arquiteto, professor livre-docente da faculdade de Arquitetura e Urbanism...
Video Transcript:
[Música] Bom dia a todos neste evento incrível eh eu tô chegando agora mesmo ontem à noite eh de medelim aquela cidade encravada nos nos montanes da antióquia lá na Colômbia eh onde 20.000 pessoas se reuniram especialistas nas cidades urbanistas se reuniram eh por ocasião do do fórum Urbano mundial da ONU e todos eles discutindo a questão das cidades e hoje eu tô aqui depois de viajar a noite toda tô aqui com mais 100 pessoas mais todos aqueles que nos assistem para também discutir a questão das cidades tanta gente preocupado com as cidades que isso me
faz pensar que as cidades estão com algum problema na verdade nós estamos vivendo uma crise o mundo se urbaniza mais da metade da população mundial hoje vive em cidades e as cidades de fato elas estão com grandes problemas eh todo essa toda essa gente tá pensando eh sobre as cidades e fica provavelmente pensando em qual seria a cidade ideal se é que existe alguma cidade ideal a gente tem utopias do que seja a cidade ideal na verdade cada um de nós pensa uma cidade ideal a ideia da cidade ideal é uma ideia individual cada um
de nós pensa o que seria o que é a cidade ideal para mim o que é a cidade ideal para você o que é a cidade ideal para cada um de nós vão ser cidades provavelmente diferentes o Chico Buarque naquele daquele disco do Saltimbancos ele tem uma música que se chama cidade ideal e lá ele diz que a cidade ideal do cachorro é a que tem um poste por metro quadrado a cidade ideal da galinha é a que tem minhocas por toda a rua e na verdade eh o que ele diz mesmo nessa rua nessa
nessa nessa música Vai um pouco mais longe ele ele diz assim que o sonho da cidade ideal é a cidade quem dera em que os moradores o prefeito os varredores os pintores os vendedores as senhoras os senhores os guardas e os inspetores fossem somente crianças Por que crianças Provavelmente porque as crianças quando a gente vê por aí vários trabalhos que pedem para as crianças representarem a cidade que elas gostariam de viver a cidade dos seus sonhos as crianças representam cidades plurais as crianças representam cidades abertas com parquinhos em que elas possam encontrar os seus amigos
com grandes áreas verdes que elas possam correr por aí enfim asid as crianças talvez sem saber elas representam a cidade que é a cidade de todos e não só delas as crianças têm uma imagem de cidade que é uma cidade coletiva por isso que a gente tem que resgatar o que seja a ideia da cidade plural e da cidade de todos não é que não existam cidades boas no mundo cidades melhores se a gente for viajar por aí vai ver que os países desenvolvidos talvez à custa dos países subdesenvolvidos Mas eles conseguiram ao longo da
história criar cidades com parqu com passeios com ciclovias em que os rios existem e podem ser vistos e apreciados em que as árvores estão presentes e que a gente se sente numa cidade que a gente pode se locomover numa cidade que a gente pode circular a verdade é que esse modelo de cidade que foi o da cidade europeia surgido do modernismo ele tinha um estado que minimamente organizou a cidade regulou de tal forma que nas áreas da cidade em que há infraestrutura se pusesse um maior número possível de pessoas quanto mais densidade eu tiver na
cidade que tem infraestrutura que tem coleta de lixo que tem água que tem luz que tem esgoto que tem transporte mais gente vai poder se aproveitar mais racional vai ser o uso da cidade e mais barato vai ser o uso da cidade para a população como um todo essas cidades portanto Elas têm uma funcionalidade muito maior do que aquela que a gente tá habituado a ver aqui agora nem por isso essa funcionaram perfeitamente ou continuam funcionando porque nós adotamos como modelo econômico um modelo de um certo individualismo do consumismo exacerbado e o individualismo e o
consumismo e a busca do status pelo consumo e a busca permanente do lucro são eh valores e elementos que não tendem a ser coletivos e que na hora de se traduzir pro espaço geram problemas porque a cidades elas são diferentes porque elas nada mais são do que a expressão espacial da sociedade que elas abrigam as cidades são aquilo que elas abrigam as cidades com todos os seus conflitos e todas as suas contradições são apenas o espaço no qual acontece a vida social e portanto mesmo Nessas cidades que eu mostrei com o tempo o modelo do
consumismo exacerbado o modelo eh que transformou também o espaço num produto de se de de se apropriar acabaram gerando problemas vocês conhecem os problemas que o aconteceram na Europa e na França em que justamente nas periferias eh carros foram Queimados esse símbolo da cidade do consumo mas vamos falar um pouco das nossas cidades aqui é um pouco diferente porque aqui nós nunca tivemos esse estado que pelo menos tentou regular aqui historicamente desde sempre as cidades se organizaram de tal forma que os centros eficientes aqueles com infraestrutura não foram destinados a colocar muita gente eles foram
acaparado pelas elites econômicas que fizeram dele o seu espaço quando que na verdade nas cidades lá de fora que eu falei do mundo desenvolvido entre aspas quem quiser morar numa num jardim com 250 m qu 500 m qu vai fazer isso longe na periferia e tem o custo de se locomover até a cidade aqui não aqui nós tivemos o privilégio das elites poderem ter os seus Jardins e suas casas e suas mansões no meio da cidade dentro da cidade que funciona as nossas cidades são cidades densas em alguns lugares como vocês podem ver mas absolutamente
vazias no seu miolo onde nós temos Barros com manções que ocupam a cidade que deveria ser funcional as Pesquisas mostram que no setor sudoeste da cidade de São Paulo nos Jardins em toda esta área que a gente reconhece como sendo a área nobre e o termo é muito interessante nós temos menos de 10% de pobres nós temos menos de 10% de negros nós na verdade produzimos nos país subdesenvolvidos cidades do aparthaid nós produzimos um aparthaid socioespacial e nós relegamos os pobres para as periferias distantes isso pode ser no morro do Alemão no Rio de Janeiro
Pode ser aqui no Capão Redondo em São Paulo ou pode ser em medelim onde eu tava ontem é sempre a mesma coisa nós temos mais da metade da população relegada a um exílio na periferia em que elas têm que levar H horas e horas para se deslocar e chegar na cidade que funciona essas cidades e esse exílio na periferia É que na verdade mostram o quanto nós temos uma tragédia urbana porque no mundo subdesenvolvido é cerca de 30% da população dos centros urbanos e no Brasil é assim que mora em condições de absoluta falta de
dignidade sem casa sem terra sem eh saneamento eh sem nenhuma condição de vida urbana real agora tem muita gente que acha que este é o mau modelo de cidade é a cidade ruim é a cidade que não funciona e que na cidade que funciona na cidade eh mais eh eh mais rica ali a o urbanismo é ideal e isso não é verdade porque muitas vezes nestas cidades nestas cidades da Periferia ainda há mais Element da cidade tolerante solidária ainda mais crianças brincando na rua ainda mais Vizinhos se solidarizando do que na cidade que entre aspas
funciona a cidade produzida pelo dinheiro a cidade dos dos bairros ricos porque nesses setores nobes da cidade o que Valeu foi um modelo absolutamente baseado nos valores do individualismo do consumismo exacerbado e os valores de individualismo levam e ensejam modelos de cidade em individualistas pouco tolerantes pouco funcionais cidades em que dominou o carro acima de tudo cidades em que não existem mais Rios Eles foram todos tamponados canalizados cidades que não tem mais árvores cidades em que não há mais espaço pro pedestre se o sujeito quiser atravessar aqui ele vai morrer 18 vezes atropelados não uma
vez el a gente não tem uma cidade humana e esta cidade ela se ela se isola em fortalezas ela se isola do resto da cidade em condomínios fechados para que que eu vou ter praças para que que eu vou ter parques se eu posso ter isso no meu condomínio para que que eu vou ter o espaço público se o espaço público que eu uso é o espaço privado ou do meu condomínio ou do shopping center para que que eu vou me abrir paraa cidade se eu posso viver num enclave numa Fortaleza medieval dentro da qual
eu garanto os meus privilégios individuais a cidades da riqueza são as cidades de enclaves não são as cidades da boa urbanização às vezes são cidades mais estéreis e menos humanas até do que as cidades supostamente piores das periferias distantes e mais pobres então a verdade é que nós temos que pensar Qual são as saídas que nós podemos ter para tudo isso quais são as possibilidades de mudar esse quadro trágico que nós temos aí e na verdade essas mudanças elas já começaram a acontecer e quem nos Mostra o caminho são as novas gerações que cresceram num
ambiente de democracia de possibilidade de acesso à informação de possibilidade de comparação dessas realidades e portanto é uma geração que começa a de novo alimentar coisas muito importantes como o sentimento da indignação Nós temos que nos indignar com esta situação o simento da tolerância nós precisamos começar a ser com as pessoas que não t o direito à cidade e deixar de fingir que essa cidade não existe porque é a cidade excluída é a cidade da Periferia que faz a cidade formal funcionar nós precisamos resgatar o sentimento da Solidariedade e isso deve ser feito numa transformação
individual de cada um de nós que vai propiciar a transformação coletiva coletiva e o caminho para cidades mais tolerantes ela só é possível se ela for baseada na transformação individual de cada um de nós nos nossos gestos urbanos fazendo que nós voltemos a ser cidadãos políticos ou seja preocupados com a forma com nós com que nós nos organizamos nesse espaço e com a maneira como nós devemos ser tolerantes para entender que a cidade que funciona é somente aquela que funciona para todos e não para alguns então existem caminhos para isso O primeiro é resgatar a
ocupação da cidade pública é resgatar o espaço da cidade que normalmente foi deixado pros carros e pros becos abandonados e nós estamos vendo isso acontecer do festival baixo centro aqui em São Paulo até os tão eh eh polêmicos rolezinhos são expressões de jovens que querem reocupar a cidade e dizer que eles querem espaços públicos espaços de convivência espaço de diálogo isso é um primeiro passo e é um passo importante para que daí se recoloque em Pauta as reivindicações pelos elementos essenciais da cidade que são os elementos da política pública urbana o transporte para todos o
direito à moradia para todos o direito ao saneamento o direito ao espaço de fazer por isso o segundo ponto é que se multipliquem as iniciativas as iniciativas ativistas cidadãs daqueles que propõem ideias criativas a recuperação de um parque no lugar do onde surgem Torres do mercado imobiliário eh a ocupação de vagas da zona azul eh com espaços para discussão e praças todas as a ocupação dos espaços hoje muito estéreis para fazer atividades teatrais ou ou outro tipo de atividades de de convivência e estas essas iniciativas elas precisam se multiplicar mas a gente tem que tomar
cuidado porque elas a gente não pode acreditar que são só elas que vão transformar a cidade porque a transformação real da cidade ela não vai acontecer só com a praça só com a vaga da zona azul que virou pracinha porque essas iniciativas não vão trazer saneamento para todo mundo não vão trazer casa pros 30% que não tem casa não vão trazer transporte pros confins da cidade por isso nós não não temos que esquecer nunca que junto com essas iniciativas de pressão da sociedade de iniciativas criativas da sociedade precisa ter a recuperação do papel do estado
e nós temos que aceitar que este estado inverta uma vez por todas as lógicas de investimento público nós não podemos mais nos surpreender reclamando que fazer transporte público atrapalha a minha viagem de carro nós não podemos mais nos surpreender reclamando que em vez de asfaltar pela 25ª vez minha rua se decidiu fazer uma faixa para as crianças atravessarem na frente de uma escola de Periferia nós precisamos aceitar que nós temos que durante alguns anos priorizar com tolerância e solidariedade as faixas excluídas porque a cidade só vai ser tolerante plural se além das iniciativas de cada
um se além da dos ativistas daqueles que andam de bike se além da ocupação dos centros vazios nós tivermos também um estado que trabalhe para reversão das prioridades dos investimentos públicos nas nossas cidades Então isto é extremamente importante paraa gente entender que a cidade só se transforma com este conjunto de ações e não com isoladamente Nós temos que nos inserir mesmo que sejamos militantes de alguma Causa muita muito específica importante temos que inseri-la nessa discussão maior de entender o quanto ela está somando ou e quanto nós estamos fazendo alguma coisa para ter certeza que o
estado que nós elegemos Está sim tomando uma atitude diferente uma atitude de tolerância de mudança de prioridades então neste evento que nós estamos aqui nós vamos poder ver uma coisa interessante porque às vezes essas iniciativas elas não são iniciativas tão claramente ligadas à questão espacial ou arquitetônica mudar a cidade justamente por causa de tudo isso que eu falei não é apenas eu ir lá e desenhar uma praça não é apenas eu ter transporte podem ser coisas que aparentemente estão distantes da espacialidade da cidade mas todas elas são fundamentais eu lutar para ter escola pública de
qualidade para todos é extremamente transformador eu eu lutar para que a informação possa ser acessível a todos inclusive aos mais pobres é extremamente importante para mudar a cidade eu lutar para que a cultura normalmente tão pejorativamente e considerada da da população de Periferia seja valorizada como uma cultura cidadã extremamente rica é eu aceitar que os drogados precisam ter o seu espaço de volta como cidadão e assim como expresos eu aceitar a tolerância de ter todo mundo nesta cidade e também acima de tudo isso é eu ter a certeza de que os políticos que fazem esta
cidade funcionar estão fazendo direito e no sentido daquilo que nós aqui acreditamos como ser a cidade ideal então acompanhar um político é muito importante aliás eu não sei se vocês sab sabe mas aqui mesmo neste plenário daqui algumas semanas vai ser votado um plano diretor que pode mudar pro bem ou pro mal a configuração da cidade de São Paulo e nós precisamos estar atentos saber o que acontece o que é votado fazer pressão então é isto que vocês vão poder ver aqui é essas experiências que somam a muitas outras no sentido de que eu falei
que é o a a perspectiva de transformação da cidade e eu acho que se nós fizermos isso se nós a acreditarmos nessas experiências quem sabe nós teremos uma cidade com os moradores os prefeitos os pintores os vendedores os varredores os senhores as senhoras os guardas e os e esci o último todos eles como crianças quem sabe nós consigamos ter a cidade das crianas a cidade da tolerância da pluralidade a cidade da Solidariedade e sobretudo a cidade da indignação com a injustiça e a e desigualdade Muito [Aplausos] obrigado
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