Aquele trabalho era minha última chance, mas eu teria que fazer as vontades do padre. Ele se aproveitou disso e me com vontade. Já se inscreve no canal para ficar por dentro de tudo.
Boa história, meus amores. O sol da tarde entrava fraco pela janela do quarto, iluminando as contas espalhadas sobre a mesa. Eu as olhava uma por uma, como se de repente os números pudessem mudar por milagre.
O aluguel atrasado, a luz prestes a ser cortada e o Pedro, meu filho de 8 anos, precisando de um uniforme novo para escola. "Mãe, posso levar pão com geleia hoje? ", ele perguntou, segurando a mochila já desgastada nas costas.
Sorri, mesmo sentindo nó na garganta. "Claro, amor. Mas só um pedaço, tá?
Amanhã a gente compra mais. " Ele acenou com a cabeça, feliz com a promessa que eu não tinha certeza se conseguiria cumprir. Depois que o marido foi embora, levando metade do pouco que tínhamos, a vida virou uma conta de subtração.
Todo dia algo a menos, todo dia um pouco mais de medo. Foi numa dessas manhãs enquanto caminhava rápido para evitar o olhar do senhorio que passei em frente à igreja de São Miguel. Um papel colado no mural de recados chamou minha atenção.
Precisa-se de auxiliar para a organização da sacristia. Horário de urno. Bons valores.
Meu coração acelerou. Trabalhar na igreja. Eu nem era tão religiosa, mas sabia dobrar toalhas de altar, limpar prataria, organizar livros.
Ei, mais importante era um emprego, um salário, uma chance. Entrei na igreja, o cheiro de incenso e velas queimadas enchendo o meu nariz. A luz filtrada pelos vitrais pintava o chão de azul e vermelho.
Andei até a porta da sacristia e bati minhas mãos trêmulas escondidas nas dobras do vestido. Entre A voz era calma, masculina. Quando a porta se abriu, viu o padre Ricardo pela primeira vez alto, cabelos grisalhos bem cortados, olhos que pareciam ler mais do que eu gostaria.
Ele estava sentado atrás de uma mesa, folando um missal. Bom dia, padre. Vim pelo anúncio.
Ele ergueu os olhos e, por um segundo, senti que ele não estava olhando para o meu rosto, mas sim para o meu corpo, para o jeito que meu vestido simples apertava levemente na cintura. Mas o olhar durou menos que um piscar e ele sorriu educado. Ah, sim.
Precisamos de alguém para cuidar da arrumação, dos paramentos, ajudar na preparação das missas. Você tem experiência? Já trabalhei em limpeza e organização, padre, e aprendo rápido.
Ele inclinou a cabeça, os dedos batendo levemente na madeira da mesa. É um trabalho simples, mas requer descrição. A sacristia é o coração da igreja.
Nem tudo pode ser visto por todos, entende? Não entendi bem o que ele quis dizer, mas acenei que sim. Ótimo.
Ele se levantou e eu percebi como ele era alto, como seu corpo ocupava espaço na sala. Você pode começar amanhã. O salário é modesto, mas ele fez uma pausa, os olhos escorrendo sobre mim de novo.
Há sempre espaço para benefícios extras, dependendo da sua dedicação. Algo naquele tom me fez encolher os ombros instintivamente, mas o dinheiro era real. O Pedro precisava comer.
Obrigada, padre. Estarei aqui amanhã. Quando saí da igreja, o sol estava forte, mas eu sentia um frio estranho na espinha.
Não sabia se era o medo, a esperança ou algo mais perigoso. Só sabia que a partir daquele momento, minhas orações teriam um novo peso. Os primeiros dias foram tranquilos.
Aprendi a dobrar os paramentos sagrados sem deixar vincos, a polir os cálices até que refletissem como espelhos, a organizar os livros de cânticos em ordem alfabética. A sacristia era um mundo silencioso, cheio de rituais e detalhes que eu nunca tinha percebido antes. O cheiro do incenso grudava nas minhas roupas e eu levava ele para casa como uma lembrança invisível daquele lugar.
Mas então as coisas começaram a mudar. Foi num dia quente quando eu estava sozinha arrumando os vestuários que o padre Ricardo apareceu na porta. Ele não fez barulho, apenas ficou ali observando, até que eu senti aquele frio na nuca e me virei de repente.
"Você tem mãos delicadas, sabia? " Ele disse, os olhos escorregando para os meus dedos enquanto eu segurava uma estola bordada. Sorri sem graça, sem saber se era um elogio ou algo mais.
Obrigada, padre. Ele entrou no cômodo, fechando a porta atrás de si com um clique suave. O espaço era pequeno e, de repente, parecia ainda menor.
"Você tem sido uma bênção para nós, sabia? ", continuou ele, passando os dedos sobre a gola de um dos paramentos, como se estivesse admirando o tecido. Mas os olhos dele não saíam de mim.
Muitas pessoas não entendem o valor da descrição, mas você parece entender muito bem. Engoli seco. Eu só estou fazendo meu trabalho.
Ele riu baixinho, como se eu tivesse dito algo engraçado. Sim, claro. Mas o trabalho aqui, bem, vai além do que está escrito no papel.
Ele deu um passo à frente e eu instintivamente recuei, encostando na estante atrás de mim. Você é uma mulher inteligente. Deve saber que há recompensas para quem sabe ser agradável.
O ar parecia ter saído do meu pulmões. Eu sabia o que ele estava sugerindo. Sabia que, se eu quisesse, poderia fingir que não tinha entendido, mas também sabia que se fizesse isso, talvez o emprego não durasse muito.
Padre, eu eu só quero fazer meu trabalho direito. Ele sorriu como se eu tivesse caído numa armadilha que ele mesmo armou. E você está fazendo?
Mas pense nisso como uma extensão das suas funções. Ele ergueu a mão como se fosse tocar meu rosto, mas parou a poucos centímetros, deixando o gesto no ar. Ninguém precisa saber de nada.
Minhas mãos tremiam. Eu poderia ter dito não. Poderia ter virado e saído dali.
Mas então pensei no Pedro, no aluguel, nas contas empilhadas na mesa da cozinha. E no silêncio pesado da sacristia. Eu não disse nada, foi o suficiente.
Nos dias que se seguiram, os toques ficaram mais ousados. Um aperto de mão que durava mais que o necessário. Um dedo escorrendo pelo meu poço quando ele me entregava o dinheiro do salário.
Um coxicho no meu ouvido quando passávamos por um corredor vazio. "Você é tão quietinha", ele murmurava. "Mas eu aposto que tem muito fogo guardado aí dentro".
Eu me afastava, fingia que não tinha ouvido, mas ele sempre voltava. Sempre encontrava um jeito de me deixar desconfortável, de me fazer sentir que a qualquer momento eu poderia perder tudo. E o pior, eu deixava, porque no final do dia, quando eu pegava o dinheiro e colocava na bolsa, eu só conseguia pensar no Pedro, na comida que ele teria no prato, no uniforme novo que eu finalmente poderia comprar.
Era um jogo sujo e eu estava aprendendo as regras. O calor do verão apertava, mas dentro da sacristia o ar permanecia úmido e pesado, como se as paredes guardassem segredos sufocantes. Eu já conhecia cada centímetro daquele lugar, o cheiro do óleo santo, o som dos meus passos no açoalho de madeira, o modo como a luz do entardecer pintava o crucifixo na parede de um dourado melancólico.
Foi numa tarde como qualquer outra que ele finalmente cruzou a linha que vinha desenhando há semanas. Eu estava sozinha, organizando os registros de batismo quando a porta se abriu sem aviso. Não preciseira me virar para saber quem era.
Senti o cheiro do seu perfume, algo amadeirado e caro, antes mesmo de ouvir sua voz. Asterisco, você trabalha demais. Asterisco?
O padre Ricardo veio ficar atrás de mim, tão perto que sentiu o calor do seu corpo contra minhas costas. Minhas mãos congelaram sobre os papéis, mas ele apenas alcançou por cima do meu ombro e pegou um livro aleatório da prateleira, como se estivesse apenas procurando algo. Asterisco, o senhor precisa de alguma coisa?
Asterisco? Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. Ele riu baixo, o som quente perto do meu ouvido.
Asterisco sempre asterisco. Antes que eu pudesse reagir, sua mão desceu pelo meu braço, lenta, como se estivesse medindo minha reação. Quando seus dedos se fecharam em volta do meu pulso, meu coração disparou.
Asterisco, padre, por favor. Asterisco. Asterisco.
Shhh. Asterisco ele apertou levemente, não o suficiente para doer, mas para lembrar que poderia. Asterisco, você é uma mulher tão forte, tão resistente, mas todo mundo tem um preço, não é, asterisco?
Eu deveria ter puxado meu braço. Deveria ter dito não. Mas então ele soltou minha mão e, em vez disso, colocou um envelope gordo em cima da mesa, bem na minha frente.
Asterisco, seu salário com um bônus. asterisco. Não precisei abrir para saber que havia mais dinheiro lá do que o combinado.
Muito mais. Meu estômago embrulhou. Eu sabia o que ele estava comprando.
E o pior, eu estava pensando em vender. Ele viu a hesitação nos meus olhos e sorriu vitorioso. Asterisco, leva o café para mim hoje.
Sim. No meu escritório. A porta vai estar fechada, mas não trancada.
Asterisco. Quando ele saiu, deixando apenas o cheiro do seu perfume e o peso do envelope na mesa, eu olhei para o crucifixo na parede e senti um nó de vergonha subir pela minha garganta. Mas quando o relógio bateu seis e a igreja ficou silenciosa, peguei o café e caminhei até o escritório dele.
A porta não estava trancada e eu entrei. As semanas se arrastaram como um rio de melaço, pesadas, pegajosas, impossíveis de escapar. Toda sexta-feira, o mesmo ritual, eu contava as moedas silenciosamente na cozinha antes de ir para a igreja.
O padre Ricardo me encarava durante a missa com aquele olhar que ninguém mais parecia notar. E quando os últimos fiéis se dispersavam, ele desaparecia em seu escritório. E eu, como uma pecadora obediente, levava o café.
A primeira vez tinha sido a pior. O som da fechadura girando atrás de mim ainda ecoava nos meus pesadelos. Ele não tinha sido violento, não exatamente, mas havia algo na forma como suas mãos, sempre tão cuidadosas durante os sacramentos, se tornavam possessivas na escuridão daquele cômodo.
Algo que me fazia sentir como se meu corpo não fosse mais meu. "Você gosta disso, não é? ", ele murmurava contra meu pescoço enquanto eu ficava parada, olhando fixamente para o crucifixo na parede.
"Gosta de saber que é especial? ", Eu não respondia. Se fechasse os olhos, podia quase fingir que não estava ali.
Mas o dinheiro aparecia, sempre aparecia num envelope deslizado entre as páginas do meu missal, num aperto de mão que deixava notas dobradas em minha palma. E com ele vieram as pequenas mudanças o uniforme novo do Pedro, as contas pagas em dia, a geladeira que já não estava tão vazia. A culpa, porém, era um peso constante.
Comecei a evitar os espelhos. Quando me via refletida nos cálices que polia, não reconhecia a mulher de olheiras fundas e sorriso tenso. Rezava todas as manhãs, mas as palavras tinham perdido o significado.
Eram apenas sons vazios que eu repetia por hábito. O pior eram os olhos do padre Ricardo durante a missa. O corpo de Cristo, ele dizia, colocando a hóstia na língua dos fiéis, com mãos imaculadas.
Mas quando chegava minha vez, seus dedos demoravam um segundo a mais. Seus olhos escureciam e eu sabia que mais tarde ele cobraria seu tributo. As visitas ao escritório tornaram-se um jogo perverso.
Ele gostava de me fazer esperar. Às vezes ficávamos ali parados por minutos. Ele sentado atrás da mesa, eu em pé como uma estátua, até que o silêncio se tornasse insuportável.
"Você poderia ir embora? ", ele comentou certa vez, virando uma página do seu breviário, sem me olhar. "Mas não vai, vai?
" Ele estava certo. Eu não ia porque toda vez que pensava em desistir, via o rosto do Pedro, seu sorriso despreocupado quando abria a geladeira cheia, sua alegria ao mostrar o boletim com notas melhores. Como eu poderia tirar isso dele?
Então eu voltava, sempre voltava. E o padre Ricardo sabia, sabia que me tinha, sabia que eu me venderia de novo e de novo, com tanto que o envelope continuasse aparecendo. Naquela noite, quando saí da igreja, a lua estava cheia e pálida, como uma hóstia não consagrada.
Encostei-me no muro frio e deixei as lágrimas caírem, não de tristeza, mas de raiva. Raiva dele, raiva de mim. Mas na segunda-feira, lá estava eu novamente, dobrando os paramentos com mãos firmes, como se nada estivesse errado.
Como se eu não soubesse que quando o relógio batesse seis, pegaria o café e caminharia até o escritório e entraria de novo. A chuva caía pesada naquela noite, batendo nos vitrais como dedos impacientes tentando entrar. A igreja estava deserta, iluminada apenas pelas velas tremeluzentes do altar.
Eu deveria ter ido embora horas atrás, mas algo, talvez o destino, talvez apenas minha própria condenação, me manteve ali arrumando os mesmos cálices pela terceira vez. O som de passos no corredor me fez erguer a cabeça. Não precisava olhar para saber quem era.
Aquele ritmo lento e calculado já era mais familiar do que meu próprio batimento cardíaco. Ainda aqui a voz do padre Ricardo ecuou na sacristia, mais suave que o costume, mas com uma nota perigosa por trás. Quando me virei, ele estava parado na porta, o colarinho clerical aberto, revelando um vislumbre de pele no pescoço.
A luz das velas pintava sombras dançantes em seu rosto, tornando seus olhos ainda mais profundos. Só terminando de organizar os paramentos, menti, meus dedos apertando involuntariamente a estola que segurava. Ele sorriu como se conhecesse cada uma das minhas mentiras.
trabalhadora, dedicada, admirável. Seus passos ecoaram no chão de madeira enquanto se aproximava, cada um mais lento que o anterior, como se estivesse me dando tempo para fugir. Eu não me mexi.
Quando parou a apenas um palmo de distância, pude sentir o calor emanando dele, misturado com o cheiro de vinho sacramental e algo mais terrenal, um perfume amadeirado que fazia meu estômago se contrair. Você sabe porque eu vim? Ele murmurou, sua mão subindo para afastar um fio de cabelo do meu rosto.
Seus dedos queimavam onde tocaram minha pele. Eu deveria ter recuado, mas em vez disso, meu corpo traiu-me, inclinando-se imperceptivelmente em direção ao seu toque. Padre, nós não devemos.
SH. Seu dedo pressionou meus lábios, silenciando minha protesta fraco. Ninguém está aqui para julgar.
Só você e eu. Sua outra mão encontrou minha cintura, puxando-me contra ele com uma possessividade que fez o ar fugir dos meus pulmões. Pude sentir cada linha de seu corpo através das nossas roupas da tensão muscular contida, o coração batendo acelerado contra meu peito.
"Quantas vezes vamos fingir que você não quer isso? ", ele sussurrou, seus lábios roçando minha orelha enquanto suas mãos desciam, explorando curvas que ambos sabíamos que não deveriam ser tocadas. A sacristia girava ao meu redor, os objetos sagrados tornando-se testemunhas silenciosas do nosso pecado.
Em algum lugar distante, um trovão ribombou e quando como a voz de um deus irado, ou talvez fosse apenas o sangue pulsando em meus ouvidos. Quando seus lábios finalmente encontraram os meus, foi com uma fome que há semanas tentávamos negar. Não havia mais café para servir como desculpa, nem envelopes de dinheiro para justificar minha permanência.
Apenas nós dois, envoltos na luz bruxuliante das velas, sucumbindo ao que sempre soubemos que aconteceria. Minhas mãos, antes tão hábeis em dobrar paramentos sagrados, agora se agarravam a seus ombros, como se fossem minha única âncora neste mar de contradições. Cada toque, cada carícia era um paradoxo profano e reverente ao mesmo tempo.
O som da chuva se intensificou lá fora, abafando nossos gemidos roucos quando ele me levantou sobre a mesa de madeira, empurrando os objetos sagrados para o lado com um descaso que em qualquer outro momento me horrorizaria. Você é tão linda quando cede. Ele respirou contra minha pele, suas mãos finalmente reivindicando o que há tanto tempo cobiçava.
E naquele momento, entre beijos roubados e toques proibidos, com os santos nos observando de suas molduras, eu finalmente entendi a verdade mais cruel de todas. Não importava quantas vezes eu rezasse depois disso.