Independência do Brasil e seus legados | João Paulo Pimenta

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Café Filosófico CPFL
Em sete de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga, Dom Pedro II proclama a independência do Br...
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e aí e aí e aí e aí e o que levou o brasil colônia a se libertar de portugal e a compreender a independência revelar muito da nação que nos tornamos da identidade que assumimos e dos conflitos e contradições que até hoje repercute em nossa sociedade e a independência ea formação do brasil são os temas desta série do café filosófico [Música] e em sete de setembro de 1822 às margens do rio ipiranga dom pedro segundo proclama a independência do brasil o famoso grito de independência ou morte e com até os dias de hoje a história
nos revela que mesmo depois de quase 200 anos estudar o contexto da independência ainda é essencial para compreender o nosso país porque as pessoas estudam história a muitos motivos para isso e três talvez sejam os principais muita gente estuda a história por simples curiosidade por um diletantismo com algum grau do comprometimento porque entende que o conhecimento histórico é fascinante é prazeroso nos faz sonhar essa é uma atitude legítima mas essa atitude ela dificilmente leva a uma profissionalização do estudo da história porque não é necessário porque apenas uma pequena parcela das pessoas que se interessa por
história corre efetivamente atrás dessa carreira numa atitude mais profissional mais especializada nós podemos estudar a história porque a história nos fornece uma maneira de pensar não apenas objetos não apenas temas mas formas de pensar porque porque toda e qualquer sociedade ela é constituída historicamente então entender as lojas e históricas de uma sociedade permite o pensador da história entender outras lógicas de outras sociedades uma vez e repito qualquer realidade humana tem a ver com processos tem a ver então com as coisas próprias específicas daquele processo quando a gente aprende a pensar desse modo nós aprendemos a
pensar historicamente mas é só uma operação que requer um certo grau de refinamento e nem todo mundo é obrigado a praticá-la uma vez que tenha um interesse pela história apenas os especialistas têm por dever de ofício obrigação de pensar historicamente e há um terceiro motivo para se estudar a história né que é uma espécie de zona intermediária então entre o interessado de interessado né aquele que gosta de história mas sem nenhum compromisso profissional e aquele que pratica então uma operação intelectual e com graus sofisticação tal qual a que acabo de descrever agora a pouco é
aquele que busca no estudo da história respostas para questões do presente porque entende que o presente é resultado de uma história então quando nós estamos interessados em responder a questões afetivas a questões desconcertantes a questões que nos inquietam no nosso presente nós podemos tentar fazer uma espécie de uma genealogia aquele fenômeno aquela realidade daquele pedaço da sociedade que nos interessa porque a gente sabe que se a gente voltar um pouquinho nós podemos chegar a origens e desenvolvimentos daquele fenômeno e portanto entender esse fenômeno nós historiadores não acreditamos que o nosso objeto de estudo que nosso
o interesse seja exclusivamente o passado claro nós nos voltamos preferencialmente para o passado nós temos a pretensão de desse modo com as armas da metodologia da teoria com as nossas ferramentas de conhecimento e pesquisa nós temos a pretensão também de sermos capazes de iluminar aspectos do nosso presente hora a independência do brasil é um tema muito privilegiado para entendermos o que é o brasil hoje o que somos nós brasileiros hoje o que foi a independência do brasil de modo geral foi um processo de separação política entre portugal e brasil ocorrido nas primeiras décadas do século
19 até então o brasil não era uma unidade o brasil era uma pluralidade de espaço era um conjunto de colônias não era uma única colônia inclusive em alguns momentos chegou até duas é o juiz administrativas diferente do estado do brasil estado do maranhão e grão-pará e depois virou estado do grão-pará e maranhão então o brasil chegou até inclusive duas capitais na nos tempos coloniais não eram único brasil e todos esses brasis colônias de portugal integravam o império português que era o império de dimensões mundiais assim sendo a história da separação do brasil de portugal é
necessariamente uma parte da história de portugal que por seu turno é necessariamente uma parte da história do mundo é bom que isso seja dito porque isso usar nos ajuda a colocar o conhecimento da independência do brasil num patamar mínimo de qualificação em 1807 a uma gravíssima crise imperial portuguesa em função da invasão de portugal pelos exércitos franceses comandadas por napoleão bonaparte assim sendo o regente que não era rei dom joão vem junto com sua corte com sua família vem junto com os seus ministros vem junto com o principal staff da administração imperial portuguesa fugindo dos
exércitos franceses de napoleão bonaparte que entende a corte que é possível enfrentar o exército francês napoleão bonaparte o fato de tecido uma fuga e foi uma fuga nós uma dúvida disso não diminui o caráter de medida estratégica da fuga muitas vezes exércitos fogem para não serem destruídos muitas vezes a estratégia de ataque ela é posterior de início a que se recuar para sobreviver para conseguir atacar essa estratégia muito bem sucedido na parte de dom joão e da corte portuguesa perdeu se de imediato domínio sobre o território português mas preservou sua monarquia é um preservar a
monarquia dom joão conseguiu preservar a une fim do império português então a curto prazo a transferência da corte para o brasil que se consumou em 1808 significou a sobrevivência da monarquia e do império portugueses assim foi uma medida extremamente bem-sucedida no entanto esse reforço da unidade imperial portuguesa a médio prazo tem um preço alto que preço é esse é uma nova situação porque nunca antes tinha acontecido isso de um império colonial europeu terá sua sede no antiga colônia o brasil deixa de ser colônia não pode ser colônia se é sede da monarquia mas ao mesmo
tempo não tem a mesma condição de portugal é uma relação ambígua entre os territórios do brasil e portugal que se inaugura então em 1808 e aí começam a surgir interesses divergentes entre as partes que até então conviviam em razoável a minha dentro do império português essa é a chave para o entendimento então você para ação é a criação de antagonismos entre grupos políticos e econômicos de portugal e do brasil que não existiam antes esses antagonismos não existiam eles são criados por conta dessa situação ambígua do império português a partir de 1808 venda então elevação do
brasil a reino em 1815 a uma tentativa de colocar brasil e portugal na mesma posição política vem aí a revolução de pernambuco uma revolução republicana importantíssima que durante três meses então desafiou a autoridade do império português sediado no rio de janeiro em 1817 e vem aí uma outra revolução a revolução constitucionalista da cidade portuguesa do porto introduzo então uma lógica de constituição numa monarquia que não tinha constituição a constituição então reivindicar e efetivamente implementada pouco depois pelos revolucionários da cidade do porto implicava uma limitação dos poderes do rei dom joão sexto e essas cores que
se reúnem então para elaborar a constituição portuguesa ou brigam o rei a voltar obrigam o príncipe regente que era o seu filho dom pedro a voltar e o príncipe regente não volta por quê que cada vez mais ele está um tarado por grupos políticos e econômicos de interesse no brasil e não em portugal no próximo bloco a independência não manteve simplesmente escravidão a independência tem inventou a escravidão [Risadas] e não sabemos o que de fato está por trás da independência do brasil e mais será que entendemos as suas verdadeiras implicações interpretações distorcidas mitos e falsidades
confundem o que sabemos sobre esse momento histórico por isso para entender o que foi a independência é importante entender também o que ela não foi a independência do brasil a separação entre brasil e portugal não foi o desfecho natural de uma história existe na história a história não é um organismo que evolui naturalmente em direção algum lugar a história não tem um destino pré-concebido não tem um destino traçado de antemão e a história é sempre o resultado da ação humana as coisas são sempre o resultado de processos de conflitos de ações de indivíduos em sociedade
assim não existia nada no século 16 o antes 1718 mesmo no começo do século 19 que prefigura se a separação entre brasil e portugal ninguém pensava nisso antes os inconfidentes de minas gerais não tentaram a independência do brasil eles tentaram a independência da capitania de minas gerais não porque eles fossem by revistas uma simplesmente porque não estava no horizonte de possibilidades da época aquelas pessoas pensar a independência de algo que não era um corpo unitário o brasil vai uma coisa só qual que era uma unidade dentre as muitas unidades dessas colônias portuguesas a capitania de
minas gerais a mesma coisa o anos depois na bahia em 1798 os inconfidentes baianos o grande participação a lei de estratos baixos da sociedade inclusive de escravos e ex-escravos tem uma grande diversidade social ali no movimento político da bahia de 1798 não tem sou uma república do brasil para isso uma república da bahia as condições e possibilidades da história são os limites da ação possível para cada época para cada indivíduo em cada uma das suas sociedades então repito a independência não foi desfecho natural da história mas sim o resultado de um processo dois a independência
não foi uma luta nacional de brasileiros contra portugueses não foi resultado de forças nacionalistas brasileiras e portuguesas não não existia nação nacionalidade ou identidade nacional brasileiras fim do século 16 17 18 um parte do século 19 a nação ea identidade surgiram no século 19 a partir da independência portanto repito essa separação não foi resultado de uma suposta luta nacionalista entre portugueses e brasileiros não existiam brasileiros antes do século 19 que existia eram portugueses de regiões da europa portugueses de regiões do brasil a nacionalidade era portuguesa terceira coisa a independência não foi um movimento isolado do
restante do mundo não é necessário dizer isso porque o próprio o século 19 consagrou a ideia de que o brasil surgiu de um movimento natural de um desenvolvimento necessário e uma luta nacionalista entre portugueses e brasileiros e surgiu de maneira impar é singular única como uma grande exceção no mundo isso não é verdade cada processo histórico ele é o único em si mesmo mas nenhum é completamente isolado de outros processos assim essa separação teve a ver com a independência das colônias britânicas da américa do norte que formou os estados unidos tem a ver então com
a importantes uma revolta de escravos da colônia francesa de são domingos que levou à formação da república do haiti tem a ver com as independências da américa espanhola a partir de 1810 tudo isso impactou no brasil tudo isso com e a independência do brasil com outros movimentos de independência com outros movimentos políticos com outras revoluções da época além claro da revolução francesa mas nada disso significa uma inspiração direta de uma revolução sobre a outra não a história não é assim a coisa um pouco mais complicada as pessoas que estavam vivendo aqueles grandes movimentos de transformação
política no final do século 18 podiam gostar deles podiam de testá-los podiam aprender com eles podiam rejeitá-los em partes aproveitá-los em outras partes são parâmetros de ação são exemplos históricos que vão sendo modificados a depender da necessidade de cada movimento político então digo a independência do brasil não deve ser vista como um movimento isolado separado supostamente excepcional no mundo da época 14 a independência também não foi uma simples passagem de um colonialismo a outro esse é um lugar comum é um estereótipo tão recorrente na forma como nós brasileiros pensamos a nossa história nada de importante
teria acontecido na independência porque o brasil teria deixado de ser colônia de portugal para ser colônia da grã-bretanha o brasil nunca foi colônia da grã-bretanha agora quando o brasil surge como uma nação a partir da independência ele entra em um estado como uma nação ele entra num cenário de relações internacionais uma posição desfavorável alguma posição tem que ser ocupada quando surge um país novo alguém alguma posição esse país estará por quê que o brasil deveria ser líder da competição internacional no começo do século 19 não faz sentido o fato de o brasil ter então ingressado
no sistema internacional de relações entre os estados nas e numa posição subalternas não significa que ele não tenha sido um país independente o brasil sim é uma nação independente e soberana isso é obra da independência no entanto nenhuma nação é 100 porcento independente e soberana depende da posição dela no contexto internacional e mais um ponto não é verdade que a independência tenha sido um simples acordo entre elites de cima para baixo para manutenção da dominação social para a manutenção da monarquia da escravidão e para preservar a unidade do território tudo isso aconteceu mas não aconteceu
só isso a independência foi uma grande modificação porque afinal de contas essas elites tiveram que se esforçar tiveram que projetar uma nação elas tiveram se imaginar um futuro para buscar aquilo que ela não davam que que elas almejavam a manutenção de posições sociais mas o fato dessa pose dessa manutenção ter sido conquistada não deve obliterar não deve apagar a história dos esforços para que isso tenha sido conquistado assim a independência entre como a ação social a independência não manteve simplesmente a escravidão a independência reinventou a escravidão escravidão foi mantida em parte se mas é uma
escravidão em contexto nacional e não em contexto colonial os números do tráfico negreiro comércio de escravos da áfrica para o brasil nessa época são impressionantes o comércio de escravos está crescendo na época da independência e a mesma coisa deve ser dito na monarquia e deve ser dito também do território a monarquia foi modificada parcialmente tanto é que em 1831 final do primeiro reinado quando dom pedro primeiro então é a bica eliabe dica obedecendo a pressões políticas que entendiam que ele não era um monarca verdadeiramente brasileiro ele era português e mais só dom pedro segundo aí
sim será considerado o monarca brasileiro por esses grupos políticos então a monarquia não simples a vida é a mesma família os bragança mas ela precisa se nacionalizar essa nacionaliza são tem como marco a abdicação de dom pedro primeiro 1831 que também é um fato muito importante da nossa história e finalmente o território eu não disse a vocês que o território não era unificado o séculos coloniais e não disse a vocês que haviam conjunto de colônias como então manter a unidade de um território que não tinha unidade essa é uma distorção analítica a unidade territorial do
brasil no século 19 e precisou ser construída e foi construída em parte o emprego da força e aí chega então no meu último ponto dessas coisas que não foram à independência que nos ajuda a entender então o que foi a independência ela não foi uma separação pacífica e não é verdade que não houve guerra e que não houve violência na independência fato houve guerra de independência em alguns lugares mais do que outros a província do maranhão por exemplo que era uma província muito importante ela não estou aderir totalmente ao novo império criado em 1822 os
grupos dirigentes do maranhão também do pará em parte da bahia não aderiram o império do brasil eles só fazem parte do brasil porque houve guerras de independência aí e essas guerras terminaram com a derrota dos grupos favoráveis à manutenção dessas províncias como parte do império português e terminou com a vitória então essa guerra toda nessas guerras terminaram com a vitória dos grupos favoráveis à adesão ao império do brasil guerra além disso violência eu não disse agora que o tráfico negreiro subiu eu não quero umas escalá-la termos de quantidade que que é escravidão a escravidão é
um dispositivo jurídico que permite a redução de um ser humano a condição de propriedade privada e além de ser um regime de trabalho claro não existe portanto escravidão sem violência se o brasil nasce no século 19 com base no escravismo ele nasce com base na violência aqui se lembrar finalmente que pouco tempo depois da transferência da corte para o brasil em 1808 transferência em 1807 e instalação 1808 o governo de dom joão dá início a uma política ostensiva de extermínio de populações indígenas que habitavam regiões próximas a corte desde o momento em que receberdes esta
minha carta regia deveis considerar como principiada contra estes índios antropófagos uma guerra ofensiva que continuarei sempre em todos os anos nas estações secas e que não terá fim se não quando tiver diz a felicidade de você em or as suas habitações e dos capacitar da superioridade das minhas reais armas de maneira tal que movidos do justo terror das mesmas peçam a paz e sujeitando-se o doce jugo das leis e prometendo viver em sociedade possam vir a ser vassalos úteis a violência é constitutiva da história da independência é constitutiva da história do brasil isso precisa ser
dito com todas as palavras porque o mito da independência pacífica se confunde muitas vezes alimenta o mito do brasileiro pacífico do brasil como uma nação pacífica como uma sociedade não apenas pacífica mas passiva e isso impede o entendimento de enorme histórico de conflitos de violência que sempre houve inicia nesse país e continua a existir se a gente acredita então que o brasil é desde o seu nascimento uma nação predisposta a não-violência até dou risada quando falo isso quer dizer a gente acredita nisso nós não seremos capazes de entender a violência do dia a dia nesse
país em parte ela é um legado da independência no próximo bloco que ocorre então quando uma parte da nação orientada politicamente toma para si os símbolos de uma nação ou será que temos a percepção do que somos como brasileiros qual é a ideia que temos de nação e do uso de seus símbolos na construção de uma identidade nacional para responder a essas perguntas é preciso ir à raiz da formação do país e compreender os legados da independência o timãozinho então temos um atendimento razoável de algumas das características dessa separação política entre brasil e portugal vamos
pensar nas suas heranças os pensar nos seus legados eu destaco quatro aqui e aí temos então a resposta porque quem tá independência foi tão importante em primeiro lugar aqui a independência criou um estado que não existia antes se refiram a uma ordem constitucional me refiro a códigos me refiro a leis me refiro a poderes poder executivo poder legislativo tinha época também um poder moderador que hoje não existe mais poder judiciário evidentemente e o estado criado foi criado com base em um sistema eleitoral um sistema educativo um sistema militar e definiu a territorialidade de tudo isto
isto é hoje nós sabemos exatamente palmo a palmo qual que é o espaço de aplicação das leis nacionais do brasil assim como das leis estaduais das leis municipais essa territorialidade das leis da soberania nacional brasileira foi criada a partir da independência nada disso existia antes começou a ser criado como parte de um estado nacional com a independência do brasil essa independência então elas fazem presente na nossa vida até hoje o segundo grande legado a criação de uma nação brasileira que não existia antes da independência existe uma nação portuguesa mas não existe uma nação brasileira o
que é uma nação e essa manga discussão complicada terrivelmente atual e pode ser sintetizada na seguinte maneira vamos aceitar aqui que uma nação é uma comunidade de pessoas que se reconhece como parte dessa comunidade que é reconhecida por outra comunidade como ser uma comunidade diferente e uma comunidade que tem que ser suficientemente ampla estável para ser mais abrangente e ser mais poderosa do que outras comunidades que existem dentro da comunidade nacional uma nação ela é mais ampla e era mais regular do que por exemplo uma torcida de um time de futebol oi ou então no
que a comunidade formada por uma igreja específica existem muitas comunidades numa mesma pessoa no entanto a comunidade nacional tende a ser a mais ampla ou então uma das mais amplas e ao mesmo tempo a mais estável e regular de todas essas comunidades a ponto de muitas vezes a maior na maior parte das vezes os integrantes dessa comunidade nem escolheram integrar essa comunidade eles vieram ao mundo e foram jogadas nessa comunidade não é assim quando vocês nasceram vocês puderam responder à questão a fim de outra nacionalidade que você quer não existe isso tá lá brasileiro brasileiro
acabou não se discute portanto se existe então o brasil nacional e ele existe no século 21 ele foi uma criação da o terceiro legado uma identidade nacional no bastante a nação existe é preciso que o pertencimento a essa nação faça sentido para as pessoas a isso nós chamamos de identidade nacional e a exemplo da nação que comporta outras comunidades menores no seu interior nós também como indivíduos que vivemos em sociedade comportamos uma pluralidade de identidades então nós podemos ser uma identidade política nós podemos ser uma identidade étnica nós podemos ter uma identidade ligada à hobbes
a hábitos tem gente que tem identidade de gênero tem gente que tem identidade de time de futebol pode ser uma identidade profissional em cada indivíduo habitam muitas identidades no entanto a identidade nacional costuma ser a mais abrangente é a mais impactante e a mais estável de todas elas digo a vocês se não existe uma nação em uma identidade nacional não já podemos dizer que a independência foi um processo de grande ruptura embora não tenha havido grandes inversões sociais porque um processo de grande ruptura e me dê um exemplo de algo mais revolucionário do que uma
mudança de identidade é só uma mudança muito profunda os homens e mulheres que viveram a independência passaram por isso deixaram de ser portugueses e se tornaram brasileiros então independência no sentido nacional é uma profunda alteração da ordem vigente portanto uma revolução observemos mais um pouquinho essa questão da identidade o que ocorre quando um grupo político um conjunto de pessoas de um mesmo espectro político de uma mesma tendência política e toma para si os símbolos de uma nação por exemplo símbolos nacionais brasileiros que foram sendo criados após a independência com uma bandeira nacional com as cores
nacionais como os nossos hinos o que ocorre então quando uma parte da nação orientada politicamente toma para si o símbolo de uma nação ocorre que está em curso um processo brutal de exclusão por quê porque esse grupo entende que a nação deve corresponder apenas a esse grupo a nação não deve pertencer aqueles de espectro político orientação política diferente só que uma nação nunca é uma completa homogeneidade de pensamento e os membros uma nação sempre comporta o grau considerável de diversidade no entanto essa diversidade ela é organizada em níveis mais essenciais que permitem que essa comunidade
a despeito das suas pluralidades se mantenha minimamente unida como uma nação e é para isso que servem os símbolos os símbolos servem para que as pessoas se sintam parte de uma mesma comunidade assim sendo uma concepção dessas e que a nação deve excluir a diferença por exemplo uma diferença política uma diferença ideológica uma diferença de opinião é uma concepção autoritária da sociedade é a prática dessa concepção existiu em vários momentos do século 20 e também no século 21 geralmente o nome que nós damos para esse tipo de prática é fascismo é a ideia de que
a nação deve ser um bloco homogêneo que pensa igual que age independentemente da pluralidade de opiniões assim assim não é o bicentenário ele é um momento para nós pensarmos o que será feito e o que nós queremos fazer da identidade nacional por quê porque a data também é simbólica como será feita a manipulação quais serão os usos sociais então dessa data é um símbolo a exemplo de uma bandeira a exemplo das cores de um país a exemplos de hinos as datas cívicas os símbolos nacionais eles tem uma característica especi fi é só a símbolos de
outras comunidades é que os símbolos nacionais eles são fortemente emocionalizado seus assim os símbolos nacionais são frequentemente objeto de disputa por quê porque eles têm capacidade de persuasão então se uma pessoa com uma determinada intenção por exemplo determinado espectro político não há manifestação política manipula os símbolos de uma nação para fortalecer e a sua perspectiva política ou a perspectiva política do seu grupo essa manipulação ela tem uma boa capacidade de envolver uma pessoa que não estava convergindo politicamente mas que se deixa tocar emocionalmente pela visão do símbolo nacional manipulamos símbolos o tempo todo no entanto
os símbolos nacionais eles são especialmente persuasivos porque fortemente emocionalizado e muito abrangentes eles são de fácil reconhecimento é por isso que os usos políticos da história preferem símbolos desse tipo eles são mais poderosos pois bem e finalmente o último legado que eu gostaria de destacar a vocês diz respeito pegada da independência diz respeito ao racismo a violência estrutural de nossa sociedade e aí e-social vejo o racismo e o racismo de nossa sociedade ele em grande parte deriva do fato de nossa sociedade ter surgido como nação em um contexto de enorme exclusão social baseada essa exclusão
não exclusivamente mas fortemente essa exclusão num critério racial e nós temos que encarar isso o brasil surge como uma nação num contexto escravista e esse contexto ele é racista na medida em que as pessoas são consideradas melhores ou piores de acordo com a cor da pele porque a cor da pele as associava com o tipo de trabalho desempenhado e o tipo de trabalho desempenhado classificava as pessoas nas hierarquias da época hoje acelerar kia são outras mas o racismo então ele surge como uma herança do nascedouro da nação porque no momento de grande ruptura identitária como
foi o da independência havia possibilidades as pessoas que fizeram a independência optaram por este caminho e a manutenção e do aumento da escravidão logo da perpetuação do racismo só que são racismo baseado no histórico da escravidão ea escravidão é necessariamente uma relação violenta o racismo é violência social assim na história do nascimento do nosso estado da nossa nação da nossa identidade nacional a uma associação íntima entre esses elementos exclusão social violência da dominação do homem pelo homem e um critério de caráter racial que é o racismo no próximo bloco as grandes coisas só com taxa
na história a partir da concepção de que elas podem acontecer e o mundo de hoje globalizado se mostra extremamente plural mas ao mesmo tempo repleto de demonstrações de nacionalismo preconceito e xenofobia como entender tamanhas contradições para entender o presente temos que conhecer o passado e só assim podemos projetar o futuro nós brasileiros tendemos a achar que a independência traduziu aquilo que nós somos de pior é muito frequente os brasileiros eu fiz uma pesquisa acadêmica sobre isso com um grupo de investigação é muito frequente que nós brasileiros desse trazemos não só independência mas a nossa história
que acreditemos que a nossa história é uma história de não transformações de grandes acordos de cima para baixo é uma história de mentirinha que uma história de falsidades e aí surge aquela atitude ou de glorificação dos supostos heróis do passado ou então de ridicularização desses heróis e aí essas interpretações pendulares a independência sofre muito com isso ou é a história de heróis ou história de um bando de imbecis que não merece o mínimo respeito seja numa perspectiva seja em outra nós não entendemos verdadeiramente o que foi essa história e os seus efeitos sobre o nosso
presente a gente não entende então esse passado e se passaram aqui nos impacta diretamente é claro que a gente e o que nós somos hoje pois então o brasileiro tem de achar isso as duas interpretações são muito pobres a glorificação da independência ea ridicularização da independência muito as muitas obras lançadas aí disponíveis no mercado cultural a tendem a endossar a ridicularização da independência e não se dão conta que essa não é uma postura crítica consistente essa é uma postura que tem de simplesmente a depreciar a história e a cortar os nossos laços com o passado
e não é possível entender o presente cortando os laços com esse passado as duas ideias reforçariam a outra ideia a ideia de que a independência seria uma prova de que nós brasileiros não somos capazes de fazer a nossa história porque eu ela já está pronta ou é o resultado então dá ele e do destino de seres humanos elevados especiais ou então nada é possível e aí vem então a crítica via scracho via ridicularizar só grande sociólogo florestan fernandes tinha uma expressão para designar essa interdição do presente em relação ao passado circuito fechado é uma equação
metafórica que daria entender que a história está sempre fechada os circuitos da história então imobilizar iam à ação humana além disso florestan fernandes ilusão o circuito se fashion ou se abre os circuitos da história a depender da ação dos homens homens e mulheres fashion e abrem os circuitos da história não existe história que tenha condenado os homens do presente e as mulheres do presente a viverem daquele jeito isso não existe isso é uma pura ilusão a história nunca se fecha por si mesma e nunca se fecha para sempre são os homens um grupo c confrontando-se
como classes em conflito e fashion ou abrem os circuitos da história américa latina conheceu longos períodos de circuito fechado e curta os momentos de circuito aberto e isso vale então para a independência do brasil e para a formação do estado-nação da identidade e para a suposta perpetuação da sua herança violenta e excludente assista isso não é um circuito fechado esse é um circuito e se for diagnosticado como fechado precisa ser aberto da parte daqueles quem tem nem que essa é uma situação negativa é preciso entender o passado não só para entender como nós chegamos até
aqui mas igualmente para sermos capazes como sociedade de imaginarmos futuros porque as grandes coisas só acontecem na história a partir da concepção de que elas podem acontecer e em toda a história da humanidade as grandes transformações elas estão embasadas em concepções de futuro portanto portanto o estudo da história é um manancial inigualável para o fomento da imaginação do futuro a independência criadora de nossa nação de nosso estado uma identidade nacional e responsável por uma parte dos conflitos estruturais de nossa sociedade segue seguirá nos perseguindo mesmo depois do bicentenário mesmo depois de 2022 e é um
excelente pretexto para pensarmos os circuitos fechados e quem sabe sonharmos com circuitos abertos da história como o senhor observa o retorno de um movimento nacionalista patriótico no brasil hoje e da independência é possível identificar em movimento que chegam a fretar inclusive com separatismos regionais e hostilidades com populações indígenas e de origem africana nacionalismos ideias de separatismo projetos políticos de exclusão étnica de exclusão identitária não são uma novidade no brasil no entanto hoje em 2019 parece que eles têm uma força especial tudo isso é uma mescla de fatores próprios nossos conjunturais específicos do nosso país com
o panorama mundial muito favorável ao fortalecimento desse tipo de atitude hora quando eu comecei a estudar a história lá no os anos 90 primeiro ano da década de 1990 eu entrei no curso de história nacionalismo era um tema meio em desuso não e na ordem do dia não tem um pouco estudado tinha lá grandes obras do passado grandes teóricos grandes observadores que muitos campos das ciências humanas dos fenômenos de nacionalismo mas não parecia ser um fenômeno do dia a dia o que tava na crista da onda lá no começo da daqueles não então era uma
palavrinha mágica chamada globalização e eis que um belo dia eu escutei um debate entre dois grandes intelectuais brasileiros o geógrafo milton santos e o historiador estima jackson qual eles convergiam para o seguinte quanto mais a globalização insistir em ser global mas ela estará fomentando movimentos não globais de reação a ela resultado os nacionalismos parece que ressurgiram no mundo atual isso certamente tem a ver com essa sociabilidade de digitais que criam tantos estragos na arquitetura dos neurônios dos seres humanos hoje nós vivemos em um contexto mundial onde os nacionalismos são sim um tema inescapável é mas
no brasil tudo isso tem uma feição específica e estão aí não apenas historiadores mas um exército de pessoas tentando explicar o nosso momento atual dentre as explicações necessárias queremos aquelas para esse tipo de fenômeno por quê que num país com tanta pluralidade cultural um um país que já foi até me identificado como sendo de democracia racial é uma modificação que também surgiu claro para obliterar o racismo e os conflitos étnicos no brasil mas por que que um país que tem um de seus componentes identitários essa pluralidade é também um país tão violentamente reacionário que evita
esse tipo de pluralidade é uma das grandes questões não tenho dúvida nenhuma o nosso brasil contemporâneo como que o brasil chegou a esse ponto a cecília aqui do e te pergunta se o machismo a impunidade troca de favores e o racismo também todas as suas características que permeiam a sociedade brasileira poderão ser consideradas herança portuguesa e eu não gostaria que vocês saírem daqui acreditando que todas as mazelas do brasil só uma responsabilidade ou da independência ou da colonização portuguesa algumas são nem tanto ela jamais serão mazelas isoladas ou seja nada é a responsabilidade exclusivo da
colonização portuguesa ou da independência do brasil sabem por quê porque essas coisas aconteceram há muito tempo atrás e desde a colonização qualquer marca que vocês quiserem pegar início da colonização meio da colonização fim da colonização ou independência e qualquer um desses marcos até nós já se passou uma quantidade suficiente de anos já se desenvolveu história suficiente para conceder a possibilidade da ação de indivíduos e coletividades assim se determinado as coisas não foram feitas é porque as pessoas decidiram que não seriam feitas se empenharam e não fazer mas não conseguiram fazer de outro jeito ou simplesmente
não deram a mínima para isso tudo porque estavam preocupadas com outras coisas ação humana ela deve ser então observada dadas as condições cronológica das façam a quantidade de tempo disponível para só eu disse aqui racismo conflitos sociais violência é uma das heranças sim da independência e independência por seu turno herdou uma parte disso lá da colonização entanto quantas oportunidades históricas essa sociedade já teve para mudar determinados valores o machismo não é um valor estanque na história uma x mas não construção social ele é criado ele é instinto ele é recriado ele é combatido depende do
contexto vocês acham que todas as sociedades da humanidade sem foram machistas ou que todas as suas descem foram racistas muito maneira nenhuma o que são valores históricos portanto a naturalização dessas dimensões da nossa realidade tomando-os como se ela sempre estivessem estado em essa naturalização é nociva do ponto de vista da nossa tentativa de abrir o circuito da história isto é não consegue essa naturalização que as coisas possam ser de outro modo as heranças se tornam sempre as determinações absolutas do nosso destino nós deixamos de ser responsáveis pela nossa própria vida baixo reflexões no site e
facebook do instituto cpfl e no canal do café filosófico no youtube é muito comum no mundo de hoje o esquecimento dirigido da história então a negação de que certas coisas aconteceram ocorre muito nos estados unidos ocorre muito no brasil ocorre enfim em alguns países da europa e da ásia a políticas oficiais de esquecimento daís bom então é crime falar sem certas coisas o é crime negar se certas coisas e e aí
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