A única forma de relaxar consigo mesmo é abrir o coração. É ser verdadeiro consigo mesmo. Então, você tem a possibilidade de ver quem você é.
O primeiro passo tem que ser dado. Temos que olhar para nós mesmos. Ver a si próprio é o primeiro ponto, é a descoberta de todos os tipos de coisas terríveis que se passam em você.
Encarar as possibilidades e a realidade disso não é tão ruim. Se você começa a agir assim, está sendo uma pessoa honesta. Depois, além disso, você precisa enxergar mais longe.
Sua honestidade vai permitir que você perceba a sua bondade. Você começa a perceber que há algo em você fundamentalmente, essencialmente bom. Algo que transcende a noção do que é bom ou mau.
Há alguma coisa digna, virtuosa e saudável que existe em todos nós. Quando você é autêntico no sentido amplo, você não precisa do julgamento condicionado de bom ou mau, mas você, de fato, é bom. E não se torna bom.
Essa é a nossa natureza búdica. Essa é; A Verdadeira Autenticidade. Chögyam Trungpa.
Somos todos bons em nós mesmos. Já temos tudo o que precisamos. A dúvida é o primeiro obstáculo.
Não estou falando de eliminar as dúvidas que você tem em relação a algo específico. Estou me referindo a superar uma dúvida muito mais fundamental, que consiste em duvidar de si mesmo e sentir que você possui defeitos como ser humano. Você não sente seu corpo e sua mente sincronizados nem trabalhando juntos de modo apropriado.
Você sente, com frequência, que está sendo passado para trás em algum aspecto de sua vida. Mesmo quando achamos que estamos fazendo o melhor que podemos, ainda sentimos que não conseguimos ser plenamente o que deveríamos ser. Sentimos que não fazemos as coisas direito.
Sentimos que nossos pais e os outros não nos aprovam. Existe essa dúvida fundamental, ou medo fundamental, em relação a sermos ou não capazes de realizar algo. Quando nos deparamos com algum desafio, com frequência tentamos fugir da situação em vez de encará-la.
Damos todos os tipos de desculpas para evitar as exigências que sentimos que nos estão sendo colocadas. Isso é o medo. O medo é nervosismo; o medo é ansiedade; o medo é um sentimento de inadequação, uma sensação de que talvez não sejamos de modo algum capazes de lidar com os desafios da vida cotidiana.
Sentimos que a vida é incontrolável. Então, como podemos encontrar a coragem? Quando as pessoas não se sentem bem consigo mesmas, não há coragem nesse caso.
No entanto, quando há a vontade de olhar para si mesmo, investigar e praticar o despertar de forma imediata, então você se torna um guerreiro: isso é coragem. Assim, a coragem não é o simples resultado de superar ou dominar o medo. Para o guerreiro, a coragem é um estado de ser positivo.
É um estado pleno de prazer, alegria e brilho nos olhos. Guerreiro, neste caso, não significa alguém que faz guerra contra os outros. A agressividade é a fonte dos nossos problemas, não a solução.
O guerreiro é, na verdade, a tradição da bravura humana, ou a tradição do destemor. O guerreiro é alguém que é corajoso o suficiente para viver em paz neste mundo. Em última análise, essa é a definição de bravura: não ter medo de si mesmo.
Ser um guerreiro é aprender a ser autêntico, em todos os momentos da vida. É estar simplesmente aqui, sem distração nem preocupação. E quando estamos aqui, ficamos alegres.
Podemos sorrir para o nosso medo. Não precisamos ter vergonha do que somos. Podemos não ser particularmente esclarecidos, pacíficos ou inteligentes.
No entanto, como somos seres sencientes, temos um solo suficientemente bom para cultivarmos qualquer coisa nele. Temos nossa bondade básica, nosso estado inerente de confiança, que é por natureza desprovido de covardia e agressão, livre do mal. A covardia é a qualidade sedutora e perturbadora de nossas mentes errantes e neuróticas, e é o que nos impede de descansarmos em nosso estado natural, o estado de inabalável vigília que chamamos de confiança do guerreiro.
Desse ponto de vista, o propósito do guerreiro é subjugar o mal de nossas mentes covardes, para descobrirmos a nossa bondade básica, a nossa confiança. A perspectiva básica da condição de guerreiro é a consciência de que existe bondade em todas as pessoas. Somos todos bons em nós mesmos.
E já temos tudo o que precisamos para realizar a nossa jornada. Então, qual é a técnica para se fazer essa autodescoberta? Há todo tipo de possibilidade, é claro.
No entanto, há na verdade apenas um caminho para se fazer isso. A única maneira é estar consigo mesmo por um longo período de tempo, passando muitos segundos, minutos e horas consigo mesmo. Nós jamais fazemos isso de modo apropriado e pleno.
Podemos tentar estar conosco lendo uma revista, vendo televisão, bebendo uma cerveja, fumando todo tipo de coisa, tomando remédios, conversando com um amigo ou tirando um cochilo na cama. Mas assim não estamos conosco de modo pleno, apropriado. Sempre buscamos fazer alguma coisa com nós mesmos, em vez de apenas estar com nós mesmos.
Se você não consegue estar consigo mesmo, você não consegue perceber quem você é nem onde você está. Nesse caso, a essência do que você é torna-se impossível de ser encontrada. A técnica recomendada para estar consigo mesmo de modo pleno é a prática da meditação.
Cultivar a atenção plena é a atitude que nos permite ver a nós mesmos e o nosso mundo de modo bastante acurado e preciso. Em meditação, olhamos diretamente para nós mesmos. Ao olhar-se, você pode descobrir que tem sido uma pessoa má, e não se sentir nada bem com isso.
Sua existência pode parecer miserável. Ou talvez você encontre algo bom em você. A ideia é apenas encarar os fatos.
Simplesmente descubra o que existe aí; simplesmente veja! É importante ser simples e direto. Basta olhar, e quando você enxerga a situação em sua plenitude, então você começa a se tornar um guerreiro.
Se tornar um guerreiro e encarar a si mesmo é uma questão de honestidade e não de autocondenação. Olhe para si mesmo, mas não se condene. Ser autêntico significa ser verdadeiro e não agressivo consigo mesmo.
Não podemos nos rejeitar antes de saber o que somos. Portanto, encorajo você a ser corajoso. Por favor, não se acovarde, não se rejeite, e nem se parabenize.
Se relacione com a sua própria consciência, de forma simples e direta. Basta encarar os fatos sobre você e o seu mundo. Se você persistir na prática, e seguir com esforço e paciência, você terá a chance de se compreender.
Você não pode rejeitar sua história. Você não pode dizer que seu cabelo é preto se for loiro. Você tem que aceitar sua história.
Uma pessoa que queira imitar alguém da cultura Oriental pode chegar ao ponto de se tornar 100% hindu ou 100% japonês, ao ponto de se submeter a uma cirurgia plástica. Mas, de alguma forma, negar a sua existência – o seu corpo, a sua constituição, a sua abordagem psicológica – não ajuda. Na verdade, traz mais problemas.
É inútil tentar ser diferente do que você é. Você tem que ser o que você é. Você tem que se relacionar com o seu país, com a sua política, com a sua cultura.
Isto é extremamente importante, já que você não pode se tornar outra pessoa. E isso é uma grande bênção. Se pudéssemos nos tornar outra pessoa, ou metade de outra pessoa, isso nos proporcionaria um enorme número de desvios e possibilidades de fuga.
A espiritualidade não significa se tornar outra pessoa, mas se tornar totalmente você mesmo, e se envolver completamente com a sua própria experiência. Devemos encarar a realidade das nossas vidas. Devemos viver neste mundo, e não no mundo dos nossos sonhos.
Não precisamos adotar a convicção de que finalmente somos bons e bonitos, amorosos e iluminados. Em vez disso, somos o que somos. Devemos estar dispostos a sermos pessoas completamente comuns, o que significa aceitar a nós mesmos da maneira que somos, sem tentar nos tornar maiores, mais puros, mais espirituais, mais intuitivos.
Se pudermos aceitar as nossas imperfeições como elas são, de uma maneira bastante natural, então poderemos usá-las como parte do caminho. Mas se tentarmos nos livrar das nossas imperfeições, então elas serão inimigas, serão obstáculos no caminho para o nosso “autoaperfeiçoamento”. Agora, olhe mais profundamente para dentro de si mesmo.
Pergunte-se: “há algo que vale a pena e é confiável em mim? ” É claro que sim! Mas é algo tão simples que tendemos a ignorá-lo ou desconsiderá-lo.
Quando olhamos para dentro de nós mesmos, tendemos a nos fixar em nossa neurose, inquietação e agressão. Ou podemos nos fixar em quão maravilhosos, realizados e invulneráveis somos, mas esses sentimentos geralmente são superficialidades encobrindo as nossas inseguranças. Dê uma olhada mais profunda.
Há algo mais, há algo além de tudo isso. Se nos olharmos de modo adequado e completo, descobriremos que existe algo mais ali, além do olhar para nós mesmos. Encontramos algo intrinsecamente alegre e fundamentalmente digno de orgulho.
Em outras palavras, não temos que nos enganar. Descobrimos ouro 100% puro. De acordo com a tradição budista, isso é descobrir a nossa natureza búdica.
A prática da meditação é, portanto, um modo de experimentar o nosso ser essencial que está além dos padrões habituais. Estamos fundamentalmente despertos. Nós mesmos já somos bons.
Não é apenas um potencial. É mais que um potencial. É claro que hesitaremos diversas vezes em acreditar nisso.
Talvez você pense que essa bondade seja apenas um mito antigo, um outro truque para nos animar. Mas não é! Sua natureza búdica é real e é boa.
A natureza búdica existe em nós, e por isso, estamos aqui. Foi sua natureza búdica primordial que o trouxe aqui. Aqui está a notícia realmente boa: somos intrinsecamente Buda, ou intrinsecamente despertos, e somos intrinsecamente bons.
Sem exceção, e sem necessidade de estudos analíticos, podemos dizer que automaticamente temos Buda dentro de nós. Isso é conhecido como natureza búdica ou Bodhichitta, o coração do Buda. A ideia da natureza búdica não é puramente um conceito ou uma ideia teórica e metafísica.
É algo extremamente real, e podemos vivenciá-la por nós mesmos. Se colocarmos 100% do nosso coração nesse processo, então nos conectaremos a essa bondade incondicional. Tudo o que precisamos fazer é praticar.