Irmãos e irmãs, ontem, na sexta-feira da primeira semana da Quaresma, nós todos ouvimos o evangelho que nos mandava não odiar, e eu comentava, dizendo que nós precisamos expurgar todo sentimento de ódio do nosso coração, todo o sentimento de raiva, todo o sentimento de aversão a quem quer que seja. Essa, por assim dizer, é a parte negativa da caridade. Mas a caridade também tem uma parte positiva, e é disso que trata o final do comentário do Sermão da Montanha.
Ou melhor, o final do comentário da lei dentro do Sermão da Montanha. Nele, Jesus nos exorta a fazer: “Amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem. ” Ou seja, não nos basta não odiar; nós temos que amar quem nos odeia, nós temos que orar por quem nos persegue.
Não orar como se fôssemos feiticeiros: “Senhor, derruba aquela pessoa que quer me perseguir. ” Não! Orar com amor, como quem diz: “Senhor, tudo aquilo que eu quero de bom para mim, eu quero que o Senhor conceda muito mais para essa pessoa.
” Ou mesmo essa pessoa que tem maldade, tanta malícia: “Senhor, abençoa, traz sobre ela cura, transformação, vitória, bênção. ” A nossa oração não pode ser outra se não essa, porque o nosso sentimento tem que ser um sentimento de amor. Quem são as pessoas de quem você desvia?
Aqueles que você não quer ver na sua frente? Se você puder mudar de calçada, você muda. Se você pudesse não encontrar, você não encontraria.
Pois bem, a essas pessoas nós temos que amar. Você tem que amar! E o que significa amar?
Amar significa querer bem, e precisa ser um exercício ativo. Por exemplo, digamos que você tenha um político de quem você não gosta. Acho que não é uma coisa muito difícil de achar.
Então você pega uma foto dele e começa a amar aquela pessoa. Para você, seria aversivo, no seu natural, sentir vontade de jogar a foto na privada, mas ao invés de fazer isso, você coloca aquela foto e você ama: “Senhor, cobre com o Teu sangue, Deus, cuida da vida dele, traz graça, fé, amor, bondade, misericórdia, olha com amor. ” É isso que nós temos que fazer.
Aquela pessoa que falou mal de você, que te caluniou; ou o outro que você pagou e não fez o serviço; ou aquela outra pessoa que te prejudicou muito, tirando coisas suas. Você busca na memória e cobre aquela pessoa de amor. É esse exercício ativo do amor que agrada a Deus, porque é Ele que vai nos permitir, depois, passar a atos de amor.
Primeiro, esvazio o meu coração do ódio, mas depois eu tenho que enchê-lo de amor, enchê-lo de perdão, enchê-lo de misericórdia, de bondade. É um exercício que nós temos que fazer. Por exemplo, uma lista que nós façamos das pessoas que, digamos assim, fossem as nossas malquerências: todo dia pegar aquela lista, rezar por cada uma daquelas pessoas, puxar na memória, amar aquelas pessoas como se você estivesse dando um abraço nelas, como se estivesse beijando as mãos delas, como se estivesse beijando o rosto daquela pessoa.
É aí que a caridade do evangelho começa realmente a frutificar do nosso coração. É a conversão dos afetos. O cristão, na melhor das hipóteses, se contenta em não odiar, mas o evangelho não é sobre isso; é sobre amar.
Então, eu preciso amar. “Oh, mas é que o senhor não conhece, sei lá, minha sogra, é o diabo, ela me intriga. ” Pega a foto dela e vamos lançar amor sobre ela, cobrindo-a de amor.
Depois, quando você for visitá-la, isso vai ser espontâneo no seu coração, porque é uma realidade dentro de você. Nós não podemos conviver com esses sentimentos negativos dentro de nós que nos emudece, que nos adoecem, que nos transformam em pessoas horríveis. Pelo contrário, nós precisamos trabalhar com o oposto: sentimentos de bondade, amor, e assim encher todas as pessoas que passam por nós, ou até aquelas que nós buscamos com a nossa memória, de caridade.
Vamos pedir ao Senhor que nos conceda essa graça, nessa Quaresma, que nós saiamos amando mais, detestando, não digo menos, mas nada pacificados e que esse exercício seja diário, contínuo. Esse é um verdadeiro exercício de conversão que o Senhor nos conduza por caminhos de caridade. Então, nós provaremos o quanto o amor de Deus é mais doce do que o mel.