Tem pessoas que percebem que são fake news, de fato, e ainda assim reproduzem isso. Para um grupo de pessoas bastante grande não é tão importante que seja mentira ou verdade, desde que faça referência ao seu ponto de vista. Quais as principais características das notícias falsas?
Como é que a gente pode identificá-las? Olha, você tem um, digamos assim, um espaço de diferentes matizes de notícias falsas desde as notícias falsas que são jocosas, são piadas praticamente, que todo mundo acaba rindo, etc ,etc. .
. mas que, de certa forma, percolam na cabeça do indivíduo. Então, elas tem alguma eficacidade também.
Até notícias falsas que são extremamente sofisticadas, que elas são baseadas em fatos e números que até que são reais, mas são colocadas de uma forma que distorce a percepção final sobre a informação que se está tendo. Tem uma linguagem mais jornalística. .
. Exatamente! O sujeito lê e vê um número que eventualmente até é verdadeiro, mas o outro não é tanto e dali se tira uma conclusão que é totalmente errônea da verdade e feita pra levar o cidadão, digamos assim, é uma visão distorcida do que, de fato, seria o que está acontecendo.
Ou que se dá de forma mais objetiva e factual na sociedade. Essa gama é utilizada uma forma muito eficaz, buscando públicos diferenciados e marcando segmentos que transitam pelo mundo das redes de formas distintas. Como é possível fazer com que a gente tenha um retrocesso das fake news existe um problema bastante curioso, porque tem pessoas que percebem que são fake news e ainda assim reproduzem isso.
Porque estão numa lógica, como falei anteriormente, de polarização. Então, para um grupo de pessoas bastante grande não é tão importante que seja mentira ou verdade desde que faça referência ao seu ponto de vista e promova esse ponto de vista, então isso acaba sendo reproduzido, mesmo que se veja que que é uma mentira. Outros, simplesmente o fazem porque não conseguem perceber e aí, é claro que a forma de contrapor isso é você ampliar a informação, e dar transparência ao dado, mas o problema que reside em ampliar e dar transparência ao dado é que as pessoas não querem consumir dados mais complexos ou informações mais bem acabadas.
o tempo das redes faz com que o sujeito político seja mais impaciente, ele lê e já quer passar isso adiante, lê quer passar isso adiante, então ele não gasta um tempo maior de reflexão numa mensagem que seria do twitter, ou do facebook, ou da plataforma que seja. Então isso gera um outro grau problema. A gente tem duas caracterizações o sujeito que passa isso para frente, porque faz referência ao ponto dele e não importa muito se é verdade ou não.
E o outro que simplesmente não tem muito para olhar aquilo, refletir e acaba passando à frente porque, enfim, parece que é uma coisa razoável. E ambos os casos você promove o acirramento dessa polarização, e essa polarização é o que mais preocupa hoje no Brasil. Outros países estão vivendo isso, por exemplo, você vai ver o caso da Inglaterra com BREXIT.
O resultado do BREXIT é público notório que ele foi construído muito em cima da utilização das redes sociais, da distorção da informação e do uso de microtargeting, então esse é um fenômeno que tem se espalhado, os países têm vivido isso e o Brasil tem sofrido com isso também O que tem sido feito para combater essa epidemia de fake news? Que medidas podem ser eficazes, você acha que reduzir o número de pessoas com quem você possa compartilhar as notícias é um caminho, é uma saída? Eu não sei se, de fato, eles vão implementar isso.
O que aconteceu na eleição brasileira, por exemplo, gerou um prejuízo muito grande para a imagem do Whatsapp em específico. O que as plataformas tentam evitar de qualquer maneira é qualquer possibilidade de regulação sobre o uso delas, que parece uma coisa. .
. Eu não sei se é viável regulação, mas eu acho que a gente acaba que está caminhando para esse debate forma bastante forte, porque se você imaginar que a política com as redes se torna cada vez menos um processo episódico de que a cada dois anos, quando se tem eleição aqui no Brasil, a cada 4 quando você tem as eleições presidenciais. Você tem uma situação em que ali você se preocupa com a representação ou quanto ao voto.
E isso muda pelas redes em que a política passa a ser uma coisa permanente e o tempo todo você está discutindo, o tempo todo está disseminando a informação, então essa preocupação que aconteceu, por exemplo, nas eleições, ela deveria ser refletida e que as plataformas, de alguma forma, tentaram responder. Deveria ser refletida no dia a dia o que a gente vê, por exemplo, é que a discussão hoje já não se fala tanto em. .
. Ah, eu vou limitar o número de mensagens que eu posso repassar, você não vê tanta discussão sobre estamos combatendo as fake news. Depois das eleições isso teve uma baixa, então é como se nas eleições isso acontecesse, isso acontece o tempo todo e o processo político tem uma dinâmica, hoje, que é quase que o tempo todo também.
O cidadão não está transferindo só para a representação a responsabilidade no congresso etc. Mas ele ele continua permanentemente debatendo, com auxílio das redes. As redes incentivaram muito isso, que tem um lado positivo, a pessoa começa a se preocupar mais com a discussão da agenda pública, porém o nível de acirramento de polarização e de distorção de informação muito alto, então, no agregado, eu sou bastante pessimista com a possibilidade das plataformas tomarem uma ação decisiva quanto a isso.
Faltam leis que punam rigorosamente e controlem esses mecanismos de notícias falsas? Você acha que precisa esse tipo de regulação e políticas públicas para que tenha este combate? O marco civil quando foi aprovado, quando foi discutido e mesmo depois quando foi aprovado, foi num momento anterior a essa profusão de distorção de informações que se assistiu nas redes.
Naquele momento, daquela da discussão claro que a ideia da expansão utilização das redes, a possibilidade do indivíduo, do cidadão ter acesso também, não ser excluído digitalmente, por exemplo, então tem uma série de questões importantes ali colocadas, mas era dentro de um contexto em que havia uma utopia importante, uma visão toca importantes sobre as redes, que elas promoveriam um maior debate da política e uma expansão do cidadão em interferir nas políticas de Estado de forma positiva, etc. Então era uma visão positiva, era uma utopia positiva, digamos assim. O que acontece é que depois da aprovação do marco é que começou a ocorrer de forma muito mais dramática essas distorções todas que nós assistimos.
Então, de certa forma, o que a gente vivencia é uma distopia Uma percepção de que há uma possibilidade, também, de se afetar negativamente a democracia e a construção mínima de consenso, de que qualquer sociedade precisa, apesar do descenso ser importante também, mas enfim, e isso não estava claramente previsto na época, na época as pessoas não percebiam dessa forma. E eu acho que exige uma, não diria uma revisão do marco, mas eu diria que exige uma uma complementação, exige uma complementação bastante clara de como é que se regula, ou pelo menos como é que se pune a disseminação de notícias falsas e a distorção premeditada a partir de dados, imagens e etc. .
. da política e da própria agenda pública então eu acho que isso aí ainda está para ser discutido o problema todo é o vigor em que se quer discutir isso. Essa discussão toda que a gente teve, essa preocupação toda ela ficou muito concentrado no primeiro período eleitoral e deveria estar sendo discutido neste momento agora, mas parece que não existe muito interesse dos principais players de fazer este debate neste momento, é como se fosse algo que vamos discutir então na próxima eleição, só que o problema que aí é tarde demais.
Então esperar para discutir daqui a dois anos uma coisa que na verdade está todo dia nos afetando é um grande equívoco em que nós estamos incidindo no país. Está ótimo, muito obrigada pela entrevista! Eu agradeço aqui mais uma vez poder colaborar.